VI-030 - EDUCAÇÃO PARA GESTÃO AMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES DA EDUCAÇÃO BÁSICA Monica Maria Pereira da Silva (1) Bióloga. Especialista em Educação Ambiental. Mestra em Desenvolvimento e Meio Ambiente /PRODEMA /UFPB/UEPB. Doutoranda em Recursos Naturais / UFCG. Professora do Departamento de Biologia UEPB Ana Nívea Batista Aurino Graduanda em Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas/UEPB Danielle Araújo de Sousa Graduada em Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas/UEPB Josileide Marques Benício Franco Graduada em Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas/UEPB Ângela Carolina de Medeiros Graduanda em Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas/UEPB Endereço (1) : Rua. Maria Barbosa de Albuquerque. 690. Bodocongó II. Cep. 58108320. Campina Grande/PB. Fone: 83 333 1436. email. monicaea@terra.com.br RESUMO Educação Ambiental apresenta papel indispensável para mudança de percepção, de valores e de atitudes, por motivar um novo olhar, haja vista que a maioria dos problemas ambientais é decorrente da percepção ambiental inadequada. Todavia, requer a inserção da dimensão ambiental no currículo escolar. Logo, os objetivos deste trabalho consistiram em avaliar a realização de Educação Ambiental, enquanto instrumento de gestão ambiental na escola e averiguar as possíveis mudanças ocorridas a partir do processo de Gestão e Educação Ambiental. O trabalho retrata uma pesquisa participante realizada no período de março de 1998 a abril de 2005 na Escola Municipal Lafayete Cavalcanti, em Campina Grande/PB. Os dados foram coletados através do MEDICC- Modelo Dinâmico de Construção e Reconstrução do saber voltado para as questões ambientais durante a realização de encontros semanais e/ou mensais. Este compreende um conjunto de estratégias metodológicas que permite a realização do processo educativo para meio ambiente de forma dinâmica, criativa, crítica e coleta dos dados simultaneamente ao processo de sensibilização. Os dados revelaram mudança de percepção ambiental da maioria das educadoras, educandos e educandas, pois atualmente a maioria compreende que meio ambiente não se limita à natureza e que o ser humano também a constitui. A escola conta com a gestão integrada de resíduos sólidos, o qual consiste em um conjunto de alternativas que visam reduzir e /ou eliminar os impactos ambientais decorrentes da falta de gestão: coleta seletiva, compostagem, horta escolar e Educação Ambiental. Fatos que possibilitaram a inserção da dimensão ambiental no currículo escolar, mudanças de atitudes e de valores e melhoria da qualidade de vida do ambiente, escola e contribuíram para o alcance dos 5 Rs: Reduzir a produção de resíduos, conseqüentemente os impactos ambientais negativos; Reutilizar e/ou Reciclar; Repensar as atitudes que promovem a degradação ambiental e social e Realizar Educação Ambiental de forma contínua e permanente. Portanto, a realização de Educação Ambiental de forma permanente e contínua e distante da pedagogia tradicional permite mudanças de percepção ambiental, a inserção da dimensão ambiental no currículo escolar e representa instrumento indispensável à gestão ambiental na escola. Iniciá-la através dos resíduos sólidos permite a redução de diversos impactos ambientais negativos, uma vez que os resíduos estão relacionados com vários recursos ambientais. Além de promover mudanças de atitudes e de valores e o cuidado com o meio ambiente, escola, o qual se estende ao entorno, à família e ao bairro. PALAVRA-CHAVE: Gestão ambiental; Educação Ambiental e resíduos sólidos. INTRODUÇÃO A evolução histórica da capacidade das sociedades humanas em transformar o meio ambiente, assinalado pelas revoluções agrícola e industrial, tem sido marcada cada vez mais por desequilíbrios ambientais, requerendo da espécie Homo sapiens mudanças de percepção, de atitudes e de valores. Educação Ambiental surge neste contexto, como importante instrumento de Gestão Ambiental e, por conseguinte de mudança social, para a qual é indispensável à implementação da Política Nacional de Educação Ambiental, Lei 9795/99 (BRASIL, 1999) e a consolidação das deliberações da 1ª Conferência Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 2003). ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1
Na compreensão de Romeiro (2003) a magnitude da escala atual das atividades humanas, levanta o problema do limite da capacidade de suporte do planeta Terra, uma vez que os sistemas naturais são organizados de modo que os subsistemas respondam por suas necessidades e objetivos específicos, mas simultaneamente sirvam as necessidades do sistema maior ao qual estão interligados. Este equilíbrio entre os subsistemas e o sistema total cria estabilidade, flexibilidade e conseqüentemente eficiência no aproveitamento energético e na ciclagem da matéria. No entanto, os sistemas podem funcionar mal se o equilíbrio entre o bem estar do subsistema e do sistema total for perturbado. Porquanto, todo sistema natural apresenta um âmbito de resistência e/ou elasticidade, dentro do qual a vida permanece estável e além do qual ela não resiste esfacelando-se, o que é denominado de capacidade de suporte. Apesar dos sistemas naturais possuírem uma quase infinita capacidade de auto-regulação, o que lhe permite resistir e se adaptar a grandes variações ambientais, não conseguem neutralizar os impactos ambientais negativos provocados pela espécie Homo sapiens. Uma vez que os sistemas artificiais, como as cidades, são planejados e organizados desconsiderando as leis naturais, as interconexões existentes no planeta Terra e a capacidade de suporte; pois a relação ser humano meio ambiente tem sido influenciada pelo paradigma cartesiano-newtoniano, economia neoclássica e keynesiana, antropocentrismo e percepção ambiental inadequada. Todavia, tomando por base a Hipótese de Gaia, compreendemos que a Terra enquanto ser vivo em evolução é capaz de tirar de circulação aquela espécie que ameaça a sua continuidade. Desse modo, corroborar para manutenção da capacidade de suporte do planeta Terra, significa manter a sustentabilidade das várias formas de vida, inclusive da Homo sapiens. Repensar o sistema educacional é um dos pontos de partida para a transformação. Destacamos, porém, que a educação sozinha não será capaz de fomentar mudanças. Entendendo que a educação deve ter como ponto de partida, a realidade do educando e educanda, e que esta realidade compreende o meio ambiente, toda educação deve ser Ambiental e portanto, todo conhecimento deve ser construído a partir do ambiente e para ele deve retornar. Compreendemos educação, enquanto processo em que o ser humano é motivado a crescer em todos os seus aspectos, construindo conceitos, reformulando pensamentos e percepções, criando e recriando e acima de tudo intervindo em sua realidade. Os autores Demo (1996), Freire (1983), Silva A (2000), Morin (2001), comungam da afirmativa que a educação promove mudanças, todavia, fora do processo educacional tradicional, porque a educação bancária vê o educando e a educanda apenas como um depósito de informações e o educador e educadora donos do saber acabado e empacotado. Todavia, é preciso que o ser humano se reencontre com a natureza, sentindo-se parte integrante. Para Silva D (1998) Educação Ambiental é a estratégia de capacitação das pessoas para o desenvolvimento sustentável. Pedrini (1997) aponta Educação Ambiental como uma das possibilidades de reconstrução multifacetada não cartesiana do saber humano. Medina (1997), por sua vez afirma que o aprofundamento dos processos educativos ambientais é uma condição para uma nova racionalidade ambiental, a qual possibilita modalidades de relações entre a sociedade e a natureza, entre o conhecimento científico e as intervenções técnicas no mundo, nas relações entre os grupos sociais diversos e entre os diferentes países em novo modelo ético, centrado no respeito e no direito à vida em todos os aspectos. E por fim, Silva A (2000) assinala que Educação Ambiental é um dos poucos instrumentos de mudanças, mas requer aplicação de estratégias e mudanças na formação de educadores ambientais nos seus diversos níveis: técnico, superior e na formação continuada. Logo, os objetivos deste trabalho consistiram em avaliar a realização de Educação Ambiental, enquanto instrumento de gestão ambiental na escola e averiguar as possíveis mudanças ocorridas a partir do processo de gestão e educação ambiental. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2
METODOLOGIA Este trabalho retrata uma pesquisa participante de acordo com Thiollent (1998), realizada no período de março de 1998 a abril de 2005 na Escola Municipal Lafayete Cavalcanti, no Bairro das Malvinas, em Campina Grande/PB. A cidade de Campina Grande está situada a 120 km da capital do Estado da Paraíba, João Pessoa (7 13 11 sul, 35 52 31 oeste, a 550m acima do nível do mar), na Serra da Borborema, o que lhe confere um clima agradável durante todo o ano. Apresenta área urbana de 140 km 2. Sua população corresponde a 360 mil habitantes. Atualmente, dispõe de amplas, diversificadas e sólidas bases em suas atividades econômicas, agropecuárias, industriais e comerciais, sendo um dos mais importantes pólos comerciais das cidades de porte médio da região Nordeste do país. E possui um pioneiro e sofisticado parque educacional e tecnológico. Conta com cinco universidades, destacando-se como principal centro educacional do interior do Nordeste. O bairro das Malvinas apresenta uma população de 40 mil habitantes, cerca de 12% da população do município e a média salarial encontra-se em torno de um a cinco salários mínimos nacional. Conta com apenas duas escolas públicas municipais, uma das quais foi selecionada como campo de pesquisa para a realização desse trabalho. A escola escolhida para a realização do nosso trabalho conta com uma estrutura formada por 11 salas de aula, cantina, sala de vídeo e de leitura, secretaria, sala de professores, oito sanitários, centro odontológico, sala de computação, sala de dispensa, jardim e ampla área de recreação. Conta com um quadro profissional de 40 educadores, cerca de 12 funcionários e cerca 700 educandos nos três turnos. A amostragem utilizada neste trabalho correspondeu as educadoras, educandos e educandas do 1 e 2º ciclos do Ensino Fundamental. O 3º ciclo só foi instituído em 2003. Os dados foram coletados através do MEDICC- Modelo Dinâmico de Construção e Reconstrução do saber voltado para as questões ambientais (SILVA, 2000; 2001; 2002) durante a realização de encontros semanais e/ou mensais com a comunidade escolar. O MEDICC compreende um conjunto de estratégias metodológicas que permite a realização do processo educativo para meio ambiente de forma dinâmica, criativa, crítica e que os dados sejam coletados simultaneamente ao processo de sensibilização. A partir do MEDICC, os instrumentos de pesquisa utilizados possibilitam a realização de pesquisa simultaneamente ao processo de sensibilização (SILVA M, 2002a). Destacamos que os dados à medida que foram coletados, foram apresentados ao grupo envolvido, servindo de base para o delineamento de novas estratégias. Os dados foram analisados de forma quantitativa e qualitativa, utilizando-se da triangulação (THIOLLENT, 1998). RESULTADOS E DISCUSSÃO Através da técnica de produção de desenho foi possível investigar a compreensão de meio ambiente das educadoras, tanto no início, como no final do trabalho. Inicialmente, 81% das educadoras representaram o meio ambiente natural e deste total apenas 42% inseriram o ser humano. A partir do processo de sensibilização esta concepção foi evoluindo, de modo que atualmente 100% das educadoras vêem o meio ambiente construído, expresso através de casa, antena parabólica, carro, barco, fábrica, escola, estrada, igreja e praça. Todavia, nestas representações predominam os elementos naturais, ressaltando um ambiente construído em harmonia com os elementos naturais. Enunciando um ambiente em equilíbrio, distante da realidade do grupo em estudo. O que confirma a pesquisa de Silva (2002), a qual detectou que a percepção ambiental envolve acima de tudo o imaginário, os sonhos, as necessidades individuais e coletivas. Por meio da técnica de elaboração de frases, verificamos que a princípio predominava a visão de meio ambiente como lugar para se viver. Esta visão foi ao longo do trabalho reconstruída. Atualmente, há o entendimento de meio ambiente como uma rede de inter-relações biológicas, econômicas, sociais, políticas e culturais. Quando da aplicação da matriz cromática, no início do trabalho, as educadoras citaram apenas os problemas de cunho ecológico e não evidenciaram a existência de problemas ambientais na escola. No decorrer do trabalho, elas passaram a compreender que a escola é um ambiente, e, por conseguinte, apresenta vários problemas. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3
Além dos problemas citados no começo do trabalho: desmatamento, poluição e lixo, elas apontaram saúde, comportamento do ser humano, irresponsabilidade política e falta de educação, número de educando por sala de aula, falta de espaço adequado para a recreação das crianças, falhas na estrutura física da escola. Verificamos que aquela compreensão de problemas ambientais, centrada na vertente ecológica, foi ampliada, incorporando as vertentes políticas, sociais, econômicas e de saúde. Em relação ao conceito de Educação Ambiental: 76% apresentavam uma abordagem ecológica preservacionista e fora do contexto educacional (SILVA, 2000). Atualmente, há o entendimento que Educação Ambiental é um processo educativo e que meio ambiente deve ser um tema transversal e não disciplina. Conforme determina a Lei 9795/99 no Artigo 10: a educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino e sim integrada a todas as disciplinas. Compreensão já apresentada na Conferência de Tbilisi em 1977. O que também é previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2001). A Agenda 21 aponta que a questão ambiental jamais deverá ser tratada como algo separado das dimensões sócio-econômicas, não devendo ser limitada apenas as questões ecológicas. O tema meio ambiente não pode ser considerado como um objeto de uma disciplina, isolado de outros fatores. Ele deve ser trazido à tona, em uma dimensão que sustenta todas as atividades e impulsiona os aspectos físicos, biológicos, sociais, éticos e culturais dos seres humanos. Deve permear em todas as disciplinas do currículo escolar, gerando uma rede entrelaçada, na qual todas as áreas do conhecimento são imprescindíveis para promover a compreensão das leis naturais, da relação sociedade-natureza e sociedade-sociedade. Na realidade, é a necessidade de olhar o mundo através da visão sistêmica. Afinal, já sabemos que os sistemas vivos compreendem sistemas complexos, que estão interconectados. No que diz respeito à compreensão de resíduos sólidos, a princípio as educadoras concebiam como aquilo que não presta mais (93%). No momento, a maioria entende resíduos sólidos como materiais que podem ser reutilizados e/ou reciclados e que esta problemática decorre principalmente do crescimento populacional, consumismo, falta de saneamento, e da falta de educação. Mas, o entendimento da gravidade desta problemática ainda é incipiente, pois não relacionam resíduos sólidos com recursos ambientais e as conseqüências apontadas limitam-se à saúde humana. Para as soluções a maioria aponta que os resíduos devem receber acondicionamento e destino corretos (81%). Citam: coleta seletiva, reciclagem e reutilização, conscientização e educação. Estas sugestões, assim como as causas que promovem a problemática dos resíduos sólidos estão de acordo com a literatura, o que reflete o conhecimento do grupo estudado e a importância de investir na formação do educador e educadora. No que se refere à evolução da percepção ambiental dos estudantes, ao averiguar os desenhos produzidos no começo deste trabalho, constatamos que 61% percebiam meio ambiente natural e o ser humano apareceu incluso em 60% das representações. Estes dados revelam que à medida que as educadoras foram sensibilizadas passaram a trabalhar com os estudantes, influenciando de forma positiva na percepção ambiental. Porém, atualmente, identificamos a evolução desta, haja vista que apenas 10% percebem meio ambiente, enquanto natural. E o meio ambiente construído exemplifica a ação humana no ambiente. Esta percepção de que o ser humano faz parte do meio ambiente é importante no processo de sensibilização, pois quando o ser humano se percebe a parte, tem a visão que é seu dono e pode utiliza-lo sem limites. Os estudantes apresentaram uma visão que ultrapassa, e muito a ecológica. Eles percebem o ser humano não apenas fazendo parte do meio ambiente, mas como desencadeadores do processo de degradação ambiental. Em relação à compreensão dos problemas ambientais, os estudantes apresentaram uma concepção ampliada do que as educadoras já no início do trabalho. As questões sociais foram bastante destacadas: fome, crianças fora da escola, prostituição de menores, palavras não cumpridas pelos políticos, faltas de emprego, falta de respeito no trânsito, gente sofrendo, mortes e assaltos, revelando a construção de visão crítica. Os dados referentes aos resíduos sólidos mostram que na percepção dos estudantes, o lixo é algo imprestável, que causa sujeira, doenças, mau cheiro e poluição. Atualmente, eles entendem que os resíduos sólidos podem ser reciclados, reaproveitados, compostados e reduzidos. As Figuras 01 e 02 mostram a evolução da concepção de resíduos sólidos. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4
FIGURA 01: 1º logotipo elaborado pelas crianças da Escola Municipal Lafayete Cavalcanti, em Campina Grande/PB FIGURA 02: 2 logotipo elaborado pelas crianças da Escola Municipal Lafayete Cavalcanti, em Campina Grande/PB, no decorrer do processo de sensibilização. Conhecendo os vários impactos negativos provocados pela falta de gestão dos resíduos sólidos; compreendendo que a escola objeto de estudo contribuía para esta problemática, encaminhando mensalmente ao lixão da cidade 166 Kg de resíduos, sendo que deste total 56% correspondia a matéria orgânica, 16% a resíduos de papel, 13% de plástico e apenas 15% de resíduos não recicláveis; entendendo que o tema resíduo sólido poderia ser inserido no processo ensino-aprendizagem e dessa forma, facilitaria a inserção da dimensão ambiental no currículo escolar e ainda com a convicção que a coleta seletiva é uma alternativa viável, foi implantada a gestão integrada de resíduos sólidos na escola, seguindo as etapas: formação dos educadores e educadoras; envolvimento de toda comunidade escolar; identificação da percepção ambiental; realização do diagnóstico da escola e do entorno; verificação dos conceitos referentes aos resíduos sólidos; inserção da dimensão ambiental no currículo escolar; delineamento de estratégias para implantação do modelo de gestão de resíduos sólidos; destinação correta dos resíduos selecionados; amplo processo de sensibilização e Educação Ambiental realizada de forma permanente, contínua, criativa, crítica e dinâmica. A princípio, os resíduos sólidos foram selecionados utilizando a classificação de seco, orgânico e não reciclável, sendo distribuídos coletores nas cores azul resíduos de papel, marrom - resíduo orgânico e cinza - resíduo não reciclável, seguindo a Resolução 275 do CONAMA (BRASIL, 2001). Entretanto, nas análises realizadas foi verificado que o modelo utilizado, apesar de ser a forma mais fácil e de baixo custo de separar os resíduos, é menos eficaz. E a própria comunidade escolar indicou a utilização de outros coletores para os resíduos de madeira e plástico, nas cores preta e vermelha respectivamente. O novo modelo foi implantado em 2004 (SILVA e AURINO, 2004) e compreende um conjunto de alternativas que visam reduzir e/ou extinguir os impactos ambientais e sociais decorrentes da produção dos resíduos na escola. Entre as alternativas, destacam-se: a coleta seletiva, compostagem, horta escolar, oficinas e mobilização da comunidade escolar. Para o acondicionamento dos resíduos gerados em salas de aula foram distribuídos 33 coletores de 15 litros na cor azul para os resíduos de papel, marrom para o orgânico e vermelha para o plástico. No pátio foram dispostos quatro coletores de 60 litros nas cores: azul, vermelha, marrom e cinza. Este último para os resíduos não recicláveis. O mesmo acontece na entrada da escola. Na cantina foram dispostos três coletores de 30 litros nas cores azul, marrom e vermelha. Ao lado da cantina estão localizados três coletores de 60 litros nas cores azul, vermelha e cinza. E um coletor de borracha convencional, na cor cinza para receber os resíduos que têm como destino o lixão, pois o município não conta com aterro sanitário. As secretarias, sala de vídeo e de leitura e sala dos educadores e/ou educadoras receberam dois coletores de 15 litros nas cores azul e vermelha. Nos sanitários foram dispostos coletores de 15 litros de cor cinza. Para o centro odontológico foram disponibilizados coletores de 15 litros em pedal nas cores azul e branca. Nas salas de aula e na cantina foram colocadas caixas de cor preta para acondicionar resíduos de madeira: palitos de fósforo e pontas de lápis. Os resíduos previamente selecionados de papel e de plásticos são coletados duas vezes por semana e armazenados em coletores de cor azul e vermelha numa sala de dispensa. Os resíduos orgânicos, devido as suas características são coletados diariamente e encaminhados ao processo de compostagem e o adubo produzido é aproveitado na horta escolar. Os resíduos não recicláveis são coletados três vezes por semana, obedecendo ao calendário da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana. Em relação aos resíduos gerados no centro odontológico, estão sendo identificadas soluções, uma vez que no município está problemática ainda está sendo estudada. De imediato, os resíduos perfurante ou cortante estão sendo armazenados em um caixa metálica recebendo uma coleta diferenciada. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5
Os resíduos selecionados apresentam quatro destinos: compostagem, oficina de reciclagem e/ou reutilização, comercialização e lixão da cidade. Os resíduos orgânicos selecionados são encaminhados a composteira para serem submetidos ao processo de compostagem. A composteira foi construída com tijolos e cimento formando oito unidades de compostagem com 0,5 m2 cada, as quais são organizadas de forma a originar duas longas cadeias, por meio das quais os resíduos são tratados e transformados em adubo. O processo de compostagem ocorre pelo método aeróbio, através do qual a matéria orgânica é disposta em pilhas e a aeração necessária para o desenvolvimento do processo de decomposição biológica ocorre por meio de reviramentos periódicos, de três em três dias e os resíduos orgânicos são transferidos mensalmente para o compartimento subseqüente, de forma que no quarto compartimento, os resíduos já estão transformados em adubo e pronto para sua utilização na horta. Parte dos resíduos de papel e de plástico é usada em oficinas de reciclagem e de reutilização, outra parte é armazenada para a comercialização. Os resíduos de madeira, aqueles decorrentes do ato do estudante de fazer a ponta do lápis, e os fósforos utilizados na cantina são aproveitados como recursos técnico-pedagógicos. Por quanto, através do processo de Educação Ambiental, a comunidade escolar mudou a percepção ambiental, tornando-se sensível às questões ambientais e buscando solucionar os problemas ambientais locais. No entanto, a preocupação ainda não se estendeu para o entorno. Dentre os problemas solucionados, destaca-se a falta de gestão de resíduos sólidos. A qual foi resolvida a partir da implantação da gestão integrada de resíduos de resíduos, propiciando a assim, o alcance dos cinco Rs propostos por Silva et (2004): Reduzir a produção de resíduos; Reutilizar e/ou Reciclar; Repensar as atitudes que promovem a degradação ambiental e social e Realizar Educação Ambiental de forma contínua e permanente A concretização dos 5Rs proporcionou a obtenção de vários benefícios: diminuição da quantidade de resíduos que chega ao lixão da cidade; redução dos impactos ambientais e sociais negativos; sensibilização da comunidade escolar para necessidade de mudanças de postura e de hábitos em relação ao meio ambiente; motivação para a incorporação da temática ambiental em todas as disciplinas e conteúdos; elaboração de estratégias de ensino e recursos técnico-pedagógicos; incentivo ao desenvolvimento de múltiplas inteligências; fomento à organização do jardim; futura construção da farmácia viva e concretização do projeto de horta escolar; contribuição ao Programa Letramento, adotado pela Secretaria Municipal de Educação; produção de recursos técnicos metodológicos que possibilitam utilizar o tema gerador Meio Ambiente e Saúde nas várias áreas do conhecimento; fomento à participação dos pais e mães na escola; geração de recursos financeiros para as escolas; estímulo a mudanças na prática pedagógica. Em virtude destes benefícios, a gestão de resíduos sólidos na Escola Municipal Lafayete Cavalcanti, é vista atualmente como modelo para as demais escolas do município e permitiu a incorporação de outros aspectos ambientais à gestão, tais como: redução do consumo de água, arborização da escola, cuidado com os livros, diminuição do consumo de energia e melhor relação entre os constituintes da comunidade escolar. Motivou ainda o desejo de ampliar a gestão integrada de resíduos sólidos para as demais escolas da cidade de Campina Grande, o que contribuirá para sua extensão aos demais segmentos da sociedade, uma vez que segundo Silva (1995) a gestão de resíduos deve ter inicio nas instituições de ensino, para posteriormente atingir os demais segmentos da sociedade. A implantação da Gestão Integrada de Resíduos sólidos nas escolas do município permitirá a concretização de um sonho de todos aqueles que apresentam preocupação com as gerações atuais e futuras e que desejam que a cidade de Campina Grande tenha no futuro, um cenário diferenciado do atual, haja vista que a falta de gestão dos resíduos sólidos nas escolas e nos demais segmentos da cidade, é refletida através dos lixões formados nos arredores das escolas, nos terrenos baldios e no próprio lixão de Campina Grande, que inclusive já não tem mais espaço para receber tanto resíduos. Desse modo, constatamos que através da realização de Educação Ambiental de forma permanente e contínua, é possível propiciar a gestão ambiental na escola; motivar a formação de atitudes sustentáveis e contribuir para a formação de escola ambientalmente correta e socialmente justa. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6
CONSIDERAÇÕES FINAIS Portanto, a realização de Educação Ambiental de forma permanente e contínua e distante da pedagogia tradicional permite mudanças de percepção ambiental, a inserção da dimensão ambiental no currículo escolar e representa instrumento indispensável à gestão ambiental na escola. Iniciá-la através dos resíduos sólidos permite a redução de diversos impactos ambientais negativos, uma vez que os resíduos estão relacionados com vários recursos ambientais. Além de promover mudanças de atitudes e de valores e o cuidado com o meio ambiente, escola, o qual se estende ao entorno, a família e ao bairro. Ressaltamos que ao longo deste trabalho vários graduandos e pós-graduandos participaram deste processo, mas previamente foram sensibilizados para as questões ambientais, através do curso de agentes multiplicadores em Educação Ambiental, o qual compreende três etapas, cada uma de 40 horas, além de seminários, encontros, congressos, trilhas e fóruns. O que demonstra a importância de investir na formação inicial e continuada e que sem sensibilização não há Educação Ambiental REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BRASIL. Conferência Nacional do Meio Ambiente, Conferência Infanto-Juvenil para o Meio ambiente; Deliberações 2003. Ministério do Meio Ambiente. Brasília, 2004 2. BRASIL, Parâmetros em Ação Meio Ambiente na Escola. Brasília, 2001 3. BRASIL. Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA. Resolução Nº 275, 2001 4. BRASIL. Política Nacional de Educação Ambiental. Brasília, 1999 5. DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. Campinas. Autores associados, 1996 6. FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 8ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983 7. MEDINA, Naná Minini. Breve histórico da educação ambiental. In PÁDUA, Suzana Machado e TABANEZ, Marlene Francisca (org). Educação ambiental caminhos trilhados no Brasil. Brasília: Instituto de Pesquisas Ecológicas, 1997 8. MORIN, Edgar. Os setes saberes necessários à educação do futuro. 3ªed. São Paulo: Cortez, 2001 9. PEDRINI, Alexandre de Gusmão et al. Educação Ambiental: Reflexões e práticas contemporâneas. Petrópolis: Vozes, 1997 10. RAPPAPORT, Roy. A Natureza, cultura e antropologia ecológica. In Shapiro, Harry L. Homem, Cultura e sociedade. São Paulo: Martins Pontes, 1982 11. ROMEIRO, Ademar Ribeiro. Economia ou economia política da sustentabilidade. In MARY, Peter H. e LUSTOSA, Maria Cecília e Vinha, Valéria da. In Economia do meio ambiente; teoria e prática. Rio de Janeiro: El Sevier, 2003 12. SILVA, Monica Maria Pereira da e AURINO, Ana Nívea Batista e SILVA, Alana Maria Soares e ARAÙJO, Edna Gomes de e FERREIRA, Sânzia Viviane de Farias. Etapas que antecedem e sucedem a implantação da coleta seletiva em escola do Ensino Fundamental I. In Anais do IX Simpósio Luso- Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Natal, 2004 13. SILVA, Daniel José. Uma abordagem cognitiva ao planejamento estratégico do desenvolvimento sustentável. Tese. (Doutorado em Engenharia de Produção/UFSC). UFSC. Florianópolis, 1998 14. SILVA, Alana Maria Soares e SILVA, Mônica Maria Pereira da. Concepção de resíduos sólidos dos educandos da Escola Lafayete Cavalcanti, em Campina Grande/PB. In Anais Eletrônico do 22 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Joinville, 2003 15. SILVA, Monica Maria Pereira da e AURINO, Ana Nívea Batista e AURINO, Ana Nery Batista e Análise da viabilidade de implantação de coleta seletiva na escola. Relatório Final. 2003. Iniciação Científica (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica -PIBIC/CNPq/UEPB).Campina Grande: UEPB 16. SILVA, Monica Maria Pereira da. Meio ambiente na visão de educadores do sertão paraibano. In Anais impresso do IV Simpósio de Etnobiologia e Etnoecologia. Recife, 2002 17. SILVA, Monica Maria Pereira da. Instrumentos de pesquisa para identificação da percepção ambiental. In Anais impresso do IV Simpósio de Etnobiologia e Etnoecologia. Recife, 2002 18. SILVA, Monica Maria Pereira da e AURINO, Ana Nívea Batista e MEDEIROS, Ângela Carolina de. Delineamento e análise de estratégias para implementação da coleta seletiva na escola municipal Lafayete Cavalcante em Campina Grande/PB. Relatório final. 2004. Iniciação Científica (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC/CNPq/UEPB).Campina Grande: UEPB 19. SILVA, Monica Maria Pereira da e SOUSA, Danielle Araújo de. Avaliação de procedimentos metodológicos para implantação e implementação do processo de compostagem na escola municipal ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7
Lafayete Cavalcante, em Campina Grande/PB. Relatório Final. 2004. Iniciação Científica (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica- PROINCI/CNPq/UEPB).Campina Grande: UEPB 20. SILVA, Monica Maria Pereira da e FRANCO, Josileide Marques Benício. Análise da utilização de horta escolar como laboratório de estudo das ciências naturais na escola municipal Lafayete Cavalcante, em Campina Grande/PB. Relatório Final. 2004. Iniciação Científica (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica- PROINCI/CNPq/UEPB).Campina Grande: UEPB 21. SILVA, Monica Maria Pereira da. Estratégias em Educação Ambiental. 2000. Dissertação. (Mestrado em desenvolvimento e Meio Ambiente/ PRODEMA). UFPB/UEPB. Campina Grande 22. THIOLLENT, Michael. Metodologia da pesquisa ação. 8ªed. São Paulo: Cortez, 1998 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 8