21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

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1 VI- 051 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL REALIZADO SEGUNDO A PERCEPÇÃO DE EDUCADORAS DO ENSINO FUNDAMENTAL DE DUAS ESCOLAS DO ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE CAMPINA GRANDE - PB Monica Maria Pereira da Silva (1) Bióloga pela Universidade Estadual da Paraíba; Especialista em Educação Ambiental/UEPB; Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo PRODEMA/UFPB/UEPB; Professora da UEPB/CCBS/DFB-NEEA. Valderi Duarte Leite Engenheiro Civil/UFPB; Mestre em Engenharia Civil; Doutor em Engenharia Civil EESC/USP; Professor da UEPB/CCT/DQ FOTO NÃO DISPONÍVEL Endereço: (1) Rua Maria Barbosa de Albuquerque, 690 Bodocongó II Campina Grande - PB - CEP: Brasil - Tel: (083) monicaea@terra.com.br RESUMO A medida que há o avanço econômico e tecnológico, o ser humano vai se desvinculando da natureza e do próprio ser humano, em consequência aumenta a degradação social e ambiental. Enfrentamos uma crise em todos os sentidos, inclusive na própria ciência, a qual resulta das interações dos diversos sistemas que regem a sociedade: sistemas políticos, de valores, educacional e econômico. Estes sistemas falidos provocam rupturas ecológicas, distanciamento do ser humano da natureza, crise de paradigma e ambiental. A Educação Ambiental aparece neste cenário como um dos principais instrumentos de mudança, porém é necessário que seja identificado a percepção ambiental dos atores e atrizes, pois esse processo não deve excluir os aspectos sociais, econômicos, culturais e biológicos. Porquanto, a forma pela qual os seres humanos participam de qualquer ecossistema, depende não só da estrutura e composição do ecossistema, como também da bagagem cultural dos que entram nele, daquilo que eles e seus descendentes recebem, em seguida difundem. Existindo pois, disparidades entre as imagens que eles têm e a estrutura real dos ecossistemas. O presente trabalho consistiu uma pesquisa participante e teve por objetivos realizar um diagnóstico ambiental a partir da visão do grupo envolvido, avaliar a percepção das educadoras referentes as causas e consequências dos problemas para em seguida promover a sensibilização da amostra pesquisada referentes as questões ambientais. A mostra correspondeu a 100% das educadoras dos turnos manhã e tarde, de duas unidades de ensino da rede pública municipal de Campina Grande/PB, totalizando 42 (quarenta e duas) educadoras. Os dados foram coletados através de observação participante, matriz cromática, diagrama de causas e efeitos. E os resultados foram analisados de forma quanti e qualitativamente. Os dados revelaram que a maior parte das educadoras se preocupava com o desmatamento (73%), problema mais veiculado na mídia. Na época da pesquisa o maior problema enfrentado era a falta de água; a cidade de Campina Grande só contava com água nas torneiras duas vezes por semana. Em relação as causas e aos efeitos dos problemas ambientais, a maioria apontou como causa a falta de conscientização e como consequências desequilírios sociais, ambientais econômicos. Através dessa técnica elas verificaram que os elementos que formam o meio ambiente não estão isolados, há uma contínua e ampla inter-relação entre eles. Por isso, todos os seres humanos são responsáveis pelo meio ambiente, não devendo então, o tema meio ambiente ser estudado em uma única disciplina. Todo nós devemos ser agente transformador e multiplicador. Educação Ambiental é um caminho que leva a transformações!!!! PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental, diagnóstico, causa e efeito, percepção INTRODUÇÃO A medida que há o avanço econômico e tecnológico, o ser humano vai se desvinculando da natureza e do próprio ser humano, em consequência aumenta a degradação social e ambiental. ABES Trabalhos Técnicos 1

2 Enfrentamos uma crise em todos os sentidos, inclusive na própria ciência, a qual resulta das interações dos diversos sistemas que regem a sociedade: sistemas políticos, de valores, educacional e econômico. Estes sistemas falidos provocam rupturas ecológicas, distanciamento do ser humano da natureza, crise de paradigma e ambiental. A Educação Ambiental surge neste cenário como um dos principais instrumentos de mudança, porém é necessário que seja identificado a percepção ambiental dos atores e atrizes, pois esse processo não deve excluir os aspectos sociais, econômicos, culturais e biológicos. Porquanto, a forma pela qual os seres humanos participam de qualquer ecossistema, depende não só da estrutura e composição do ecossistema, como também da bagagem cultural dos que entram nele, daquilo que eles e seus descendentes recebem, em seguida difundem. Segundo RAPPAPORT (1982) para compreender a relação do ser humano com a natureza é necessário considerar o conhecimento, as crenças, pois há disparidades entre as imagens que eles têm e a estrutura real dos ecossistemas, por isso tantos problemas ambientais. Constituindo uma crise em vários aspectos. Neste contexto, para a realização do processo educativo para o meio ambiente é necessário conhecer a percepção ambiental dos atores e das atrizes. O presente trabalho, então visou prioritariamente realizar um diagnóstico ambiental a partir da visão do grupo envolvido, além de avaliar a percepção das educadoras referentes as causas e consequências dos problemas para em seguida promover a sensibilização da amostra pesquisada referentes as questões ambientais. METODOLOGIA Este trabalho correspondeu a uma pesquisa participante. No entender de THIOLLENT (1998) na pesquisa participativa, os pesquisadores estabelecem relações comunicativas com pessoas ou grupos da situação investigada com intuito de serem melhor aceitos, enquanto desempenham um papel ativo no equacionamento dos problemas encontrados, no acompanhamento e na avaliação das ações desencadeadas. Ainda de acordo com HAGUETTE (1997) na pesquisa participante o problema se origina na comunidade em estudo e a última finalidade da pesquisa é a transformação estrutural fundamental e melhoria da qualidade de vida dos envolvidos. A pesquisa foi realizada com 42 educadoras de duas unidades de ensino da rede pública municipal de Campina Grande/PB, localizadas no bairro das Malvinas, no período de março a julho de 1999, com faixa etária de 20 a 50 anos e com 51% das educadoras de nível superior completo, conforme os dados apresentados na Tabela 1 e 2. TABELA 1: Faixa Etária das Educadoras Faixa etária Percentual(%) 20 a 30 anos 3 31 a 40 anos a 50 anos 37 Acima de 50 anos 6 TABELA 2: Nível de Escolaridade das Educadoras Escolaridade Percentual(%) Logos 4 Médio 34 Superior incompleto 11 Superior completo 51 Pós-graduação 6 2 ABES Trabalhos Técnicos

3 A cidade de Campina Grande está situada a 120 km da capital do Estado da Paraíba, João Pessoa ( sul, oeste, a 550m acima do nível do mar), na Serra da Borborema, o que lhe confere um clima agradável durante todo o ano. Apresenta área urbana de 140 km 2. Sua população corresponde a trezentos e quarenta mil habitantes. Atualmente dispõe de amplas, diversificadas e sólidas bases em suas atividades econômicas, agropecuárias, industriais e comerciais, sendo atualmente o maior polo comercial das cidades de porte médio da região Nordeste do país. A cidade possui um pioneiro e sofisticado parque educacional e tecnológico. Conta com duas universidades, destacando-se como principal centro educacional do interior do Nordeste. Campina Grande sedia vários eventos científicos, culturais e artísticos, que são integrantes do calendário regional e nacional: Maior São João do Mundo, Micarande (carnaval fora de época), Festival de Inverno, Encontro para Nova Consciência. O sistema educacional público municipal possui 165 escolas, divididas em 15 polos, sendo 03 na zona rural e 12 na zona urbana, congregando em média 11 escolas por polo. A exemplo de outras cidades apresenta vários problemas de infra-estrutura, dentre os quais pode-se destacar: destino inadequado dos resíduos sólidos, que termina num lixão da cidade, onde misturam-se ao lixo homens, mulheres e crianças; falta d água, insegurança, desemprego e tantos outros. O bairro das Malvinas apresenta uma população de quarenta mil habitantes, cerca de 12% da população do município e a média salarial encontra-se em torno de 1 a 5 salários mínimos nacional. E conta com apenas duas escolas municipais, as quais foram selecionadas como campo de pesquisa para a realização desse trabalho. Os dados foram coletados através de observação participante, matriz cromática, diagrama de causas e efeitos. E o s resultados por sua vez, foram analisados de forma quanti e qualitativamente. RESULTADOS Através da aplicação de questionário em forma de trilha, observação participante e da matriz cromática foi possível realizar um diagnóstico ambiental segundo a visão das educadoras, isto é verificar quais os problemas ambientais que as preocupavam e qual a abordagem predominante. Esse conhecimento, possibilitou o delineamento de estratégias para realização do Projeto Estratégias em Educação Ambiental (SILVA & LEITE,2000; SILVA, 2000; ROSA & SILVA, 2000). Além de permitir averiguar que o meio ambiente não era visto em sua totalidade. Os dados apresentados na da Tabela 3, mostram que a maior parte das educadoras se preocupa com o desmatamento (73%), principalmente a nível mundial, esse resultado, porém não foi muito diferente da pesquisa realizada pelo IBAMA (1992), onde os problemas do meio ambiente de forma geral, mais citados foram derrubadas de árvores e queimadas, o que revela a influência da mídia na percepção ambiental das educadoras e o distanciamento da realidade, pois um dos problemas mais sério vivenciado na época da pesquisa era a falta de água, Campina Grande, a exemplo de outras cidades, enfrentava um racionamento de água. TABELA 3: Problemas Ambientais que mais preocupam as educadoras Mundiais % Nacionais % Municipais % Desmatamento 73 Desmatamento 36 Lixo Saneamento básico 21 Queimadas 18 Queimadas 12 Falta d água 18 Lixo 12 Lixo 18 Falta de Arborização 18 Seca 12 Seca É importante destacar que problemas ambientais como: desperdício de água e energia, extinção de animais e de plantas, discriminação, conservação das escolas, falta de amor ao próximo foi citado por apenas 3% das ABES Trabalhos Técnicos 3

4 educadoras. Entende-se que as educadoras apresentavam no início desse trabalho uma visão ecológica de meio ambiente, desprezando as questões sociais e até econômica. puramente Mediante o resultado da percepção ambiental das educadoras (SILVA,2000) e deste diagnóstico prévio, foram aplicadas estratégias para realização de Educação Ambiental, conforme SILVA & LEITE (2000a). Entre as estratégias, foi aplicada a técnica de matriz cromática (SILVA & LEITE,2000 a) no intuito de ampliar o diagnóstico. Percebeu-se então, a ampliação da visão das educadoras quanto aos problemas ambientais, pelo fato das mesmas apontarem outros aspectos não vistos inicialmente: desperdício de água, falta de amor, prostituição, no entanto, observando-se as escolas, foram detectados ainda vários problemas não citados pelas educadoras: torneiras quebradas, falta de água tratada para beber, falta de materiais didáticos, carteiras quebradas e sujas, fossa estourada, canos estourados, excesso de educandos em sala de aula, número de turmas maior do que o número de sala de aula, caixa d água suja e outros, o que demonstra a necessidade de realização de Educação Ambiental de forma permanente e contínua e com a construção do conhecimento sendo realizada a partir da realidade dos atores e atrizes. Um dos princípios da Educação Ambiental proposto em Tbilisi (1977) afirma que se deve pensar globalmente, mas agir localmente, o que requer despertar para a realidade. Durante o desenvolvimento do projeto Estratégias em Educação Ambiental, ficou clara a visão reducionista de meio ambiente, sentindo-se a necessidade de ampliar e avaliar, por que surgem os problemas ambientais e quais as consequências. Aplicou-se a técnica denominada diagrama de causas e efeitos ou espinha de peixe. Esta permitiu uma ampla discussão sobre os problemas ambientais, motivando as educadoras a perceberem meio ambiente em sua totalidade. Discutindo e identificando as causas e efeitos, elas verificaram que os elementos que formam o meio ambiente não estão isolados, há uma contínua e ampla inter-relação entre eles. Por isso, todos os seres humanos são responsáveis pelo meio ambiente, não devendo então, o tema meio ambiente ser estudado em uma única disciplina. Todo ser humano deve ser agente transformador e multiplicador. Segundo RAPPAPORT (1982) os homens são animais e, como animais estão indissoluvelmente ligados aos ambientes compostos de outros organismos e de substâncias não viva, dos quais devem retirar matéria e energia para se sustentarem, e aos quais devem se adaptar e não perecer. Daí, a importância de refletir e ampliar o conceito de meio ambiente. Fato importante observado pelas educadoras é que muitos dos problemas são decorrentes do comportamento inadequado do ser humano em relação ao meio ambiente, conforme pode ser verificado no Quadro 1. Em quase todos os problemas, foi apontada como causa a falta de conscientização. Mas, em alguns problemas elas indicaram a falta de vontade política como uma das causas. Isto mostra que a educação através do método tradicional não cumpre o papel de formação para cidadania e de transformação. Em relação à água, elas verificaram que o uso inadequado da água, pode acarretar a diminuição da água de beber, percebendo que é falsa a cultura de abundância de água. A compreensão das causas e dos efeitos dos problemas ambientais possibilitou reflexões referentes às atitudes, os hábitos e os comportamentos do ser humano em relação ao meio ambiente, as quais podem desencadear mudanças significativas, permitindo uma relação mais responsável do ser humano com o meio ambiente. 4 ABES Trabalhos Técnicos

5 QUADRO 1: Causas e efeitos dos problemas ambientais na percepção das educadoras Problema Ambiental Causas Efeitos Escassez de água Prostituição de menores Droga Lixo Saneamento básico Aumento da população Indústria da seca Falta de vontade política Pouca água no Nordeste Má distribuição da água Falta de verbas Falta de orientação sexual Estrutura familiar Curiosidade Medo Fuga Falta de diálogo Falta de respeito ao próximo Descompromisso Queimadas Lixo Derramamento de óleo Falta de saneamento básico Descaso dos órgãos públicos Altas taxas d água Lixo Desemprego Fechamento de indústrias Desnutrição Conflito familiar devido ao desemprego Violência Doenças Mortes de animais e vegetais Falta de moradia Prejuízos para o desenvolvimento do Estado Meninos de ruas Adolescentes grávidas Vestuário não formal Agressão na família Prostituição Linguagem vulgar Furto Morte Vício Mudança no comportamento Rebeldia do ar, do solo, da água, sonora e visual Problemas de saúdes: verminose, depressão, stress, insônia, loucura, doenças respiratórias Diminuição da fertilidade do solo Diminuição de água para o consumo Destruição de habitats de animais Desequilíbrio na cadeia alimentar Interdição de praias Doenças Canais entupidos Proliferação de insetos Lixo em terrenos baldios Esgotos estourados Contaminação Desordem no bairro Doenças Água de má Qualidade CONCLUSÕES Logo, os resultados permitem verificar que é necessário conhecer a origem dos problemas para se encontrar soluções. Do contrário, as soluções propostas terão efeitos apenas paliativo. Em se tratando da educação, uma das causas reside na formação profissional. É importante realizar mudanças urgentes na formação profissional de nível técnico, nível superior e na formação continuada. É indispensável fazer valer o artigo 225 da Constituição Federal, promover Educação Ambiental em todos os níveis de ensino. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BRASIL, Política Nacional de Educação Ambiental. Brasília, HAGUETTE, Teresa Maria Frota. Metodologias qualitativas na sociologia. 5ª ed. Petropólis, 1997 ABES Trabalhos Técnicos 5

6 3. LIMA, Maria José de Araújo. Curso de educação ambiental. PRODEMA/UFPB/UEPB. João Pessoa, QUINTAS, J. S. Seminário sobre a formação do educador para atuar no processo de gestão ambiental. Brasília: Série Meio ambiente em Debate, IBAMA, RAPPAPORT, Roy. A Natureza, cultura e antropologia ecológica. In Shapiro, Harry L. Homem, Cultura e sociedade. São Paulo: Martins Pontes, SILVA, Monica Maria Pereira da & LEITE, Valderi Duarte. Estratégias metodológicas para formação de educadores ambientais do ensino fundamental. In Anais XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental. Porto Alegre, SILVA, Monica Maria Pereira da & LEITE, Valderi Duarte. Percepção ambiental de educadores de escolas do ensino fundamental da rede pública municipal de campina grande. Anais XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental. Porto Alegre, SILVA, Monica Maria Pereira da & LEITE, Valderi Duarte. Percepção ambiental dos educandos das escolas públicas municipais de campina grande. In Anais XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental. Porto Alegre, SILVA, Monica Maria Pereira da & LEITE, Valderi Duarte. Percepção ambiental dos educadores de biologia. In Anais XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental. Porto Alegre, SILVA, Monica Maria Pereira da & ANDRADE, Leonaldo Alves. Capacitação de professores em Educação Ambiental; uma proposta em avaliação. In Anais XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental. Porto Alegre, THIOLLENT, Michael. Metodologia da pesquisa ação. 8ªed. São Paulo: Cortez, TORNISIELO et al. Análise ambiental; estratégias e ações. São Paulo: Fundação Salim Maluf, ABES Trabalhos Técnicos