Alfabetização na musicalização infantil Cristiane Baroni Alleoni, Escola Harmonia,escolaharmonia@terra.com.br Resumo: Este texto apresenta um relato de experiência de um trabalho realizado com alunos do curso de musicalização infantil com idade de 4 a 7 anos. Através de simbologias que as crianças possam compreender, é iniciada a identificação da grafia e da leitura musical. Esse processo antecede aos símbolos usados universalmente para a identificação da linguagem musical e tem como objetivo a alfabetização em música. Para a criança absorver esses conceitos, é necessário que ela já tenha vivenciado a música em movimentos corporais (andar, marchar, pular, correr), em exercícios de percepção auditiva na classificação e execução de sons (iguais e diferentes, longos e curtos, agudos, médios e graves), e os automatismos de base (ordem das notas ascendente e descendente e das figuras musicais). O trabalho tem como fundamentação teórica a obra do educador musical belga Edgar Willems, na grafia da duração e da altura dos sons e na leitura relativa. A proposta pedagógica será a confecção de um caderno que terá o processo de compreensão da linguagem musical. Palavras-chave: Escrita e leitura musical. linguagem musical. alfabetização musical. educação musical. 1. Introdução Este trabalho visa apresentar o processo de introdução e compreensão de uma linguagem musical desenvolvida para trabalhar com crianças de 4 a 7 anos, no curso de musicalização infantil na Escola Harmonia, localizada na cidade de Piracicaba, interior de São Paulo, nos anos de 2010 a 2012. Com base na confecção de um caderno individual, os alunos tiveram a oportunidade de compreender os exercícios transmitidos em aula e não apenas estudar informações prontas. Nesse processo foram adquiridos conceitos básicos para se entender a escrita e a leitura musical, tais como duração e altura do som e sua representação, pauta e a clave de sol. Para o início da alfabetização, temos o auxílio das cores na escrita que no decorrer do processo é deixado de lado. Para a criança ser introduzida na leitura e escrita musical é necessário que ela já tenha exercitado o ouvido sensorial (ouvir, reconhecer, reproduzir, classificar e ordenar material sonoro variado), tenha adquirido o sentido do movimento sonoro (ascendência e descendência do som) e os diversos automatismos (dos sons, dos nomes e das notas). (ROCHA, 1990, p. 48) O desafio de se ensinar música na primeira infância é unir o lúdico aos conteúdos formais. Podemos apresentar às crianças a aprendizagem em música como a formação de novas conexões entre os neurônios, surgindo as sinapses. Essas ligações feitas pelo cérebro podem ter causa genética como informações que chegam através do meio ambiente, como imagens, sons, cheiros, etc. Um elemento importante para ampliar essa conexão do cérebro é 8 P ágina
a presença do prazer na atividade. Se a criança ou o adulto mostrar interesse, curiosidade, prazer no que faz, se a aula não for cansativa, por exemplo, a aprendizagem ocorrerá. 2. Relato da Experiência. O ensino da grafia musical O trabalho teve início com exercícios de ditado de som longo e som curto. Para a representação desses sons foi utilizado traços grandes para o som longo e traços pequenos para os sons curtos. Som Longo Som Curto _ O próximo passo foi acrescentar a esse ditado a altura do som, tendo o cuidado de sempre iniciar com os sons extremos, ou muito agudo ou muito grave ainda variando com muito agudo e longo, muito agudo e curto e também muito grave e longo e muito grave e curto, aumentando sucessivamente as indicações. Ditado do Som: Agudo e Longo Agudo e Curto Grave e Longo Grave e Curto Para a criança, toda grafia é um desenho e neste caso, todo desenho é uma representação de algo que ela está ouvindo, sendo assim ficou fácil substituir os gráficos pelas figuras musicais. 9 P ágina
Automatismo de base Em nossa vida escolar, somos levados a conhecer muitos automatismos de base como: a ordem dos números ascendentes e descendentes, a ordem alfabética, e também na música a ordem das notas. Falar e/ou cantar no modo ascendente e descente, faz com que se adquira esse automatismo que será usado em todo o estudo de música. Dentro desse projeto proponho que o processo de assimilação da ordem das notas seja visualizado no exercício da subida e descida do som. Como exemplo de ferramenta para esse aprendizado, foi usado uma escadinha de degraus onde é colocada uma bolinha de gude para subir manualmente e como os degraus são inclinados, a descida é feita com a gravidade soltando a bolinha do último degrau até chegar ao primeiro. Ao subir e descer, as notas musicais foram cantadas ou faladas, ajudando no processo de memorização da sua ordem. A flauta doce Como primeiro instrumento melódico a ser usado pelas crianças, a flauta doce visualiza bem a ordem das notas no modo descendente, pois iniciamos seu estudo com a nota SI LÁ SOL e depois voltamos para o modo ascendente trabalhando SOL LÁ SI DÓ RÉ. Neste momento, já podemos fazer a junção das informações exercitadas no ensino da grafia musical e o automatismo de base, ainda buscando o lúdico dentro da técnica. Para Willems (In FONTERRADA, 2005, p. 126), [...] toda criança pode ser preparada auditivamente, de modo a aprender a ouvir os materiais sonoros básicos que compõem a música e a organizá-los como experiência musical. Nessa perspectiva, introduzimos o estudo da flauta doce. A cor de cada traço foi escolhida aleatoriamente para cada nota musical, com o intuito de chamar a atenção das crianças à altura do som. O exemplo abaixo representa os sons subindo, ou seja, notas ascendentes. Ver exemplo: Para cada gráfico de som curto foi dado uma figura que o substitui. 10 P ágina
A leitura relativa na pauta musical foi de grande importância antes da chegada da clave musical, que trabalha a relação sonora da subida e descida do som. No primeiro exemplo, a leitura relativa parte da segunda linha da pauta. No segundo exemplo, a leitura inicia na primeira linha da pauta e poder-se-á apresentar variações o quanto necessário, para se obter a compreensão da leitura relativa. Com a chegada da escrita e da leitura absoluta, já com a utilização da clave de sol, foi dado o momento em que não se muda mais o lugar da nota na pauta, fixando a leitura de acordo com a clave escolhida. 3. Considerações Finais Diversos exercícios foram praticados para a compreensão da alfabetização musical, baseados em autores como Krieger (2007). Utilizando essas cinco notas musicais, 11 Página
SOL LÁ SI DÓ RÉ, variamos as figuras entre mínimas, semínimas e colcheias, formando pequenas melodias que foram escritas num caderno, com o cuidado de se ter uma pauta de tamanho bem ampliado, visto que estamos trabalhando com crianças que estão, muitas vezes, tendo o primeiro contato com a escrita e a linguagem musical. O último passo foi deixar de colorir as notas, já que o processo de observação de que o som tem alturas diferentes foi bem exercitado, as crianças concluíram que o som é colocado em níveis de subida ou descida na pauta representando sua altura, ou seja, do som grave para o agudo e do agudo para o grave. As notas podem ser desenhadas agora em grafite. O objetivo desse trabalho foi alcançado visando iniciar a leitura e a escrita musical às crianças. Considerando o retorno da maioria com o conteúdo absorvido, vejo o método como uma forma positiva e lúdica de se trabalhar com a idade proposta. O prazer das crianças em fazer cada atividade também foi observado, assim como a alegria e disposição na elaboração de cada processo. Segundo Willems (In MATEIRO, 2011, p. 103), com relação à vivência musical, [...] é muito importante que a criança viva os fatos musicais antes de tomar consciência deles. Após o término do curso de musicalização, as crianças que escolheram estudar um instrumento, tiveram facilidade e rapidez em compreender o desenvolvimento do estudo. Referências: ROCHA, Carmen Maria Mettig. Educação musical método Willems ; minha experiência pessoal. Salvador, Faculdade de Educação da Bahia, 1990. FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios: um ensaio sobre música e educação. São Paulo: Editora UNESP, 2005. KRIEGER, Elisabeth. Descobrindo a música idéias para a sala de aula. Porto Alegre: Sulina, 2007. MATEIRO, Teresa; ILARI, Beatriz (orgazizadoras); PAREJO, Enny. Pedagogias em educação musical. Curitiba: Ibpex, 2011. 12 P ágina