ESTUDO DA TRAJETÓRIA DE PROFESSORES FISIOTERAPEUTAS EM UMA INSTITUIÇÃO PRIVADA DO ENSINO SUPERIOR:



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Transcrição:

ESTUDO DA TRAJETÓRIA DE PROFESSORES FISIOTERAPEUTAS EM UMA INSTITUIÇÃO PRIVADA DO ENSINO SUPERIOR: Relações mediadas pela afetividade no processo ensino-aprendizagem Autor: Filipe Augusto Umbelino da Silva Orientadora: Stela Maria Fernandes Marques, PhD Instituição: PUC - MG Eixo Temático: Eixo 2 (Pesquisa e Práticas Educacionais) Categoria: Pôster 1 INTRODUÇÃO Os processos de formação e de constituição docente, necessários para a atuação deste profissional no nível superior de ensino, representam um tema amplamente debatido na literatura científica. Diversos estudos discutem os aspectos fundamentais para o ofício de professor, especialmente referentes aos profissionais formados em cursos de bacharelado, já que estes cursos de graduação, de acordo com o Ministério da Educação (BRASIL, 2012), não habilitam o profissional a lecionar como os cursos de licenciatura o fazem. A aquisição de competências, a construção da identidade docente e os saberes pedagógicos são alguns dos aspectos que merecem destaque neste campo de estudo. A partir destas premissas, vale salientar o ensino em nível superior na área da saúde, que é, predominantemente, uma área composta por cursos de bacharelado. No entanto, os docentes universitários, especificamente na área da saúde, caracterizamse pela ênfase em determinado campo de conhecimento e não necessariamente pela prática pedagógica e pela didática (ROZENDO et al., 1999). Neste cenário educativo encontra-se o Fisioterapeuta, que, de acordo com o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) é: Profissional de Saúde, com formação acadêmica Superior, habilitado à construção do diagnóstico dos distúrbios cinéticos funcionais (Diagnóstico Cinesiológico Funcional), a prescrição das condutas fisioterapêuticas, a sua ordenação e indução no paciente bem como, o acompanhamento da evolução do 1

quadro clínico funcional e as condições para alta do serviço. (COFFITO, 2012). O Fisioterapeuta que se torna docente, de um modo geral, aprende a ser professor formador a partir dos saberes e experiências adquiridas durante sua trajetória de vida, seja durante sua graduação e/ou na atuação na educação superior (OLIVEIRA, 2008). Nota-se, portanto, que a aquisição de competências é propiciada pela própria prática profissional e não pela formação pedagógica durante a graduação. Mesmo com estas lacunas no processo de formação do Fisioterapeuta e dos demais profissionais da saúde, há fatores independentes da formação em nível de graduação que determinam o sucesso destes indivíduos em seu ofício de professor. Determinados aspectos como a afetividade em sala de aula são importantes na mediação do processo ensino-aprendizagem. Como cita Ribeiro (2010), a afetividade é importante na relação entre professor e aluno porque cria um clima favorável à construção dos saberes pelas pessoas em formação. De acordo com Veras e Ferreira (2010), Henri Wallon (filósofo, médico e psicólogo francês do século XX) em sua teoria sobre a constituição da pessoa, caracteriza a dimensão afetiva como um fator fundamental para a construção do indivíduo e do conhecimento durante todo o seu desenvolvimento. Conforme Limongelli (2004, p.59), a teoria walloniana permite a nós, professores(as), não apenas repensar o sentido do movimento de nosso aluno nas diferentes situações pedagógicas vivenciadas, mas, principalmente, instiga-nos a repensar nossos próprios processos de construção de conhecimentos e formação docente (LIMONGELLI, 2004, p.59). Nesse sentido, para os profissionais que não tiveram formação inicial voltada para a docência, a compreensão da afetividade no processo ensino-aprendizagem é importante, pois, conforme afirmam Mahoney e Almeida (2005, p.12), o grande desafio do professor, que teve uma formação na qual sua integração não foi levada em conta, é enxergar seu aluno em sua totalidade e concretude (MAHONEY; ALMEIDA, 2005, p.12). 2

Portanto, a afetividade pode representar um diferencial para o professor bacharel, mais especificamente o Fisioterapeuta em sua atuação como docente a nível superior. Apesar de que o enfoque da teoria de Wallon seja destinado até a adolescência, o processo de construção do indivíduo é contínuo e inacabado, sendo, então, aplicável no contexto adulto e universitário. Para este estudo, a escolha pela ótica de Henri Wallon justifica-se pela sua percepção integral do indivíduo e pela construção deste a partir das relações estabelecidas com outros indivíduos. Tal percepção vai de encontro à atuação docente e à atuação na área de Fisioterapia, pois tais ocupações são permeadas por relações humanas e vínculos entre os indivíduos. Diante do exposto, o presente estudo em andamento é importante, pois possibilitará a investigação do peso do elemento afetividade em Fisioterapeutas docentes que atuam no nível superior de ensino. Assim, serão fornecidos elementos consideráveis para estes profissionais no processo ensino-aprendizagem, visando uma associação efetiva entre educação e saúde. 2 REVISÃO TEÓRICA: A AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO A afetividade é um fenômeno que compreende aspectos como ações, estados e sentimentos que se convertem em expressões humanas de respeito, ternura, solidariedade, cuidado, amor, amizade, proteção, companheirismo, aceitação e afeição entre indivíduos (RIBEIRO; JUTRAS, 2006). Na perspectiva de Henri Wallon, a afetividade representa a capacidade e a disposição do ser humano em ser afetado internamente (nível orgânico) ou externamente (nível social) a partir de sensações e vivências agradáveis ou desagradáveis (MAHONEY; ALMEIDA, 2005). Nesse sentido, a afetividade está organicamente associada ao processo de conhecimento, orientação e atuação do indivíduo, estando este inserido no complexo contexto social (MOSQUERA; STOBÄUS, 2006). Nos âmbitos do ensino e da aprendizagem, a afetividade é um fator considerável na medida em que propicia confiança, motivação, respeito e compreensão entre professores e alunos (RIBEIRO; JUTRAS, 2006). Assim, as práticas pedagógicas estabelecidas na relação professor-aluno possibilitam a edificação do conhecimento mediante uma relação afetiva com o objeto a ser desvendado (LEITE; TAGLIAFERRO, 2005). Toda aprendizagem está imbuída de 3

afetividade, pois esta ocorre mediante interações sociais, num processo baseado em vínculos (TASSONI, 2000). O profissional docente que é dotado de competência afetiva percebe seu aluno em toda sua complexidade e em suas múltiplas dimensões. Consequentemente, os alunos participam de forma efetiva das atividades indicadas pelo professor, contribuindo para a obtenção dos objetivos educativos (RIBEIRO; JUTRAS, 2006). Porém, se não há uma relação mediada pela afetividade, ocorre uma rejeição entre o aluno, o professor e a disciplina por ele ministrada. Portanto, a afetividade é um fator digno de consideração no processo de desenvolvimento do sujeito e nas interações que este estabelece com outros indivíduos, pois dessa forma, o sujeito se constituirá como pessoa em permanente processo de construção (VERAS; FERREIRA, 2010). Assim sendo, o profissional docente, especificamente do Ensino Superior, precisa estar engajado neste processo de construção do indivíduo, refletindo e considerando a afetividade como elemento do desenvolvimento integral dos estudantes universitários. 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo geral Investigar a trajetória de Fisioterapeutas docentes e o peso do elemento afetividade na interação com os seus alunos, de acordo com a teoria de Henri Wallon. 3.2 Objetivos específicos verificar quais são os impactos das interações sociais afetivas estabelecidas no ambiente educacional, em nível superior, na construção da identidade do Fisioterapeuta-professor; investigar os significados que o Fisioterapeuta-professor atribui à afetividade na Docência e na Área da Saúde; verificar os significados do termo Humanização na Saúde e sua abordagem no processo de ensino-aprendizagem, durante a graduação; 4

analisar os significados e as interpretações que os alunos estagiários (8º, 9º e/ou 10º períodos do curso de Fisioterapia) possuem em relação aos profissionais bacharéis que são seus professores; compreender como foi a atuação dos Fisioterapeutas, como docentes do Ensino Superior, assim que obtiveram o título de Mestre em qualquer área; reconhecer os estados de satisfação, preparação e realização profissionais dos Fisioterapeutas que atuam na área Docente; analisar o impacto do tempo de prática fisioterapêutica na experiência docente. 4 METODOLOGIA A pesquisa desenvolve-se a partir da abordagem qualitativa com caráter descritivo, pois busca compreender as relações mediadas e estabelecidas pela afetividade, entre o Fisioterapeuta-docente e seus alunos. Portanto, permite a compreensão das subjetividades envolvidas na constituição docente do Fisioterapeuta que atua no ensino superior, via relações afetivas de acordo com a Teoria Walloniana. Este trabalho contempla o estudo de caso, analisando docentes e discentes do curso de Fisioterapia da instituição privada em estudo. A relação professor-aluno no ensino superior requer uma análise minuciosa e uma exposição circunstanciada das particularidades envolvidas nos processos e nas relações mediadas pela afetividade no ensino superior, sendo que os professores investigados não possuem formação inicial destinada à docência. O estudo de caso facilita a compreensão do desenvolvimento e da constituição do Fisioterapeuta como docente de forma singular, levando em consideração também a perspectiva dos alunos estagiários sobre estes profissionais que se tornaram docentes. Dentro deste universo, são selecionados dois objetos de estudo distintos a partir da aplicação de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), mediante os seguintes critérios: - os professores deverão: ser exclusivamente graduados em Fisioterapia; ter, no mínimo, título de mestre em qualquer área de concentração; ter vínculo empregatício com a instituição privada de ensino superior de Belo Horizonte em estudo; ter atuação no estágio supervisionado do curso de Fisioterapia no segundo semestre de 2013. 5

- os alunos deverão: estar cursando a graduação em Fisioterapia na instituição privada de ensino superior de Belo Horizonte; deverão estar regularmente matriculados no 8º, 9º ou 10º períodos do curso de Fisioterapia, referentes ao estágio supervisionado no segundo semestre de 2013. A coleta de dados nesta pesquisa qualitativa é executada via aplicações de questionários (para professores e alunos) e da realização de entrevistas semiestruturadas (apenas para professores), com o intuito de se conhecer a trajetória dos participantes deste trabalho. 5 DESENVOLVIMENTO (RESULTADOS PARCIAIS) 5.1 Indivíduos participantes Toda a coleta de dados foi facilitada pela contribuição da coordenação do curso de Fisioterapia, da coordenação de Pesquisa e da coordenação de Estágio do departamento de Fisioterapia da referida instituição. Antes da pesquisa de campo, as coordenações foram consultadas e tomaram conhecimento da proposta deste estudo. Em seguida, as coordenadoras forneceram informações sobre o corpo docente e o corpo discente, auxiliando na divulgação da pesquisa e direcionando para determinados indivíduos que poderiam colaborar como participantes. 5.1.1 Participantes Docentes Foram realizadas 14 entrevistas com professores, dentre os 20 docentes que atuaram no estágio supervisionado no segundo semestre de 2013 na referida instituição e que contemplavam todos os critérios de seleção das amostras. Todos os profissionais que aceitaram participar desta pesquisa eram do gênero feminino. As entrevistas tiveram duração aproximada de 30 minutos e todas foram realizadas na própria instituição, em local e horário combinados com os entrevistados. Antes desta coleta de dados, os entrevistados concordaram com o TCLE e as respectivas assinaturas foram coletadas. Previamente ao início das entrevistas, todos os docentes responderam aos questionários que abordaram questões relacionadas à formação profissional e à ocupação atual dos mesmos, com o intuito de otimizar a entrevista semiestruturada. 6

5.1.2 Participantes Discentes Em relação ao corpo discente, dos aproximados 120 alunos regularmente matriculados no estágio supervisionado (aproximadamente 40 alunos em cada um dos três períodos analisados), de acordo com as informações da coordenação de estágio, 61 responderam aos questionários aplicados logo após concordarem e assinarem o TCLE. Dos 61 participantes, apenas 5 eram do gênero masculino. 5.2 Percepção sobre Afetividade alguns dados coletados 5.2.1 Percepção dos docentes em relação à Afetividade As entrevistas realizadas com as 14 professoras evidenciaram, de uma forma geral, aspectos similares à concepção de Henri Wallon sobre a afetividade. Para a presente pesquisa em andamento, algumas entrevistas foram selecionadas. Como, por exemplo, têm-se os trechos a seguir de algumas entrevistas, quando as professoras foram questionadas sobre o que é afetividade: - PROFESSORA 1: o que eu entendo por afetividade é aquilo o que me afeta mesmo. O que comove, o que move, o que me estimula a fazer ou o que me faz afastar de algo, que me afeta pro mal. Eu entendo que afetividade é isso, que afeta a gente de qualquer maneira, tanto pro bem quanto pro mal. - PROFESSORA 2: Afetividade... pergunta difícil, né? Porque a gente sente. Afetividade eu acho que é uma coisa que você sente, né? Não é uma coisa que você talvez consiga colocar em palavras. Mas, vamos lá. Pra mim, afetividade está muito relacionada à sua relação com o outro não só do ponto de vista profissional. Você saber enxergar o outro como ser humano, como uma pessoa, que você é, aquela pessoa também é, né? Entender um pouquinho o seu comportamento perante o outro e perante você. Eu acho que afetividade é uma coisa mais complexa. É difícil esta pergunta. - PROFESSORA 3: Afetividade? O próprio nome fala: você afetar alguém. Você causar emoções, mexer com as emoções. Então o afeto, você afetar, tocar aquela pessoa, tocar (entre aspas) de alguma forma. E nesse caso, afeto a gente pensa em uma coisa positiva, uma coisa boa. Então eu acho que é o despertar de emoções, boas e positivas naquele outro. Nos três discursos, percebe-se a atenção com o outro e a capacidade de se ter algum sentimento, alguma sensação na interação entre indivíduos. Tais colocações 7

permeiam a compreensão do outro e a afetividade se transforma em um mediador das relações humanas. Nesse sentido, quando questionadas sobre a aplicabilidade na relação professor-aluno e na relação terapeuta-paciente, as duas professoras a seguir argumentaram que: - PROFESSORA 1: sim. Eu acho que sim porque é um termo muito pouco explorado, né? Tanto na didática quanto na terapêutica (...) Se tem vergonha, se tem orgulho, se acha bom. Tem a questão da alegria, de algo que dá prazer, né? Eu penso um pouco num conceito na literatura, mas eu acho que afeta sim. Se você tá afetando para o bem ou para o mal. A saúde entra neste aspecto de uma certa forma. - PROFESSORA 2: Com certeza! Não tem como, né? Quando eu comecei a dar aula, eu comecei com uma postura mais rígida. Afinal, como professora recémformada, que acabou de fazer uma pós-graduação, especialização, tendo o primeiro contato sem ter ainda vivenciado a didática do ensino superior. Então acaba que você acha que é tudo muito certinho, você quer que aquele aluno aprenda daquele jeito e acaba que a postura fica um pouco mais rígida. E você acaba afastando esse aluno de você e afastando ele do aprendizado da disciplina que você tá tendo. E a partir do momento que você se permite ser você mesmo em sala de aula e não se vestir como professor, eu acho que esta relação de afetividade fica mais palpável e seu relacionamento com o aluno, com a disciplina, com o aprendizado dele muda completamente. Eu posso perceber, eu, como professora, que quando comecei a dar aula em 2001 e hoje eu me vejo uma pessoa muito mais afetiva com os meus alunos do que inicialmente. Então eu fui aprendendo a ser mais afetuosa ao longo do caminho. Então, este aprendizado foi na prática (...). Antes de ser profissional da saúde, a gente é humano e a afetividade faz parte da essência do ser humano. A partir destes dois discursos, nota-se que as professoras afirmam a presença da afetividade nas relações profissionais, seja entre professor-aluno, seja terapeutapaciente/cliente. Vale destacar no discurso da Professora 2 a presença do componente experiência. Segundo a mesma, o tempo de prática interferiu consideravelmente na construção da afetividade. 5.2.2 Percepção dos discentes em relação à Afetividade Os questionários aplicados aos alunos estagiários do curso de Fisioterapia evidenciaram aspectos que relacionam afetividade com o bem-estar e o respeito em relação com o outro, especialmente na relação professor-aluno. Quando questionados 8

sobre o que é afetividade e qual seria a aplicabilidade nas relações professor-aluno e terapeuta-paciente/cliente, alguns alunos responderam que: - Aluno 1: é uma demonstração de respeito, carinho e educação. É sim aplicável e em todas as relações interpessoais, inclusive professor-aluno e fisioterapeuta-paciente/cliente. - Aluno 2: entendo como a capacidade de se interagir com o próximo. Em algumas matérias, dependendo do professor, é aplicável, mas deveria ser sempre. Acredito que na relação fisioterapeuta e paciente existe, porém também é relativo. Nem sempre há. - Aluno 3: afetividade seria carinho, atenção, cuidado. É aplicável em qualquer situação envolvendo pessoas. - Aluno 4: dar atenção, respeito, carinho, acolhimento. É aplicável nas duas relações, pois a afetividade ajuda a deixar o ambiente mais tranquilo, dando a oportunidade para discutir assuntos mais complexos. - Aluno 5: quando há troca de carinho, atenção, quando um se preocupa com o outro. Eu acho que pode até ter na relação de professor com aluno, porém eu não tenho essa relação com eles. Já com os pacientes há sim uma afetividade minha com eles, pois demonstram uma carência e um apego grande por nós. De acordo com as respostas acima, vale destacar a mutualidade e as relações envolvendo o que há no orgânico com o que há no social, apesar de que alguns alunos citaram a ausência da afetividade nas relações com os docentes. É interessante o discurso do Aluno 5 quando relata a maior demonstração de afetividade com os pacientes, fato justificado pela carência e pelo apego dos mesmos aos terapeutas. O estabelecimento do vínculo é um fator fundamental para o desenvolvimento de qualquer terapêutica na área de Fisioterapia. 5 CONCLUSÕES SOBRE A PESQUISA EM ANDAMENTO Os resultados deste estudo em andamento tem-se mostrado promissores, ricos e, ao mesmo tempo, dotados de complexidade. Vários aspectos relatados pelos participantes do estudo se aproximam da perspectiva de Wallon a respeito da afetividade, como o olhar para o outro, como a projeção do orgânico para o social e como fator favorável para o processo ensino-aprendizagem no contexto universitário. 9

Desse modo, o presente estudo pode contribuir para a compreensão do impacto da afetividade na atuação de Fisioterapeutas Docentes, evidenciando elementos que possam ser fundamentais na trajetória destes como professores no ensino superior. REFERÊNCIAS BRASIL. MEC Ministério da Educação. Disponível em: <http://sejaumprofessor.mec.gov.br/internas.php?area=como&id=formacao> Acesso em: setembro de 2012. COFFITO. Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Disponível em: <www.coffito.org.br>. Acesso: 01/04/12. LEITE, S.A.S; TAGLIAFERRO, A.R. A afetividade na sala de aula: um professor inesquecível. Psicol. Esc. Educ. (Impr.), Campinas, v. 9, n. 2, dez. 2005. LIMONGELLI, A.M.A. A constituição da pessoa: dimensão motora. In: MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. (orgs). A constituição da pessoa na proposta de Henri Wallon. São Paulo: Loyola, 2004, p.47. MAHONEY, A. A.; ALMEIDA. L. R. Afetividade e processo ensino-aprendizagem: contribuições de Henri Wallon. Psi. da Ed., São Paulo, 20, p. 11-30, 1 sem. de 2005. MOSQUERA, J.J.M.; STOBÄUS, C.D. Afetividade: a manifestação de sentimentos na educação. Educação. Porto Alegre RS, ano XXIX, n. 1 (58), p. 123 133, Jan./Abr. 2006. OLIVEIRA, A.L.L. Saberes profissionais docentes no curso de Fisioterapia. Dissertação de Mestrado. Cuiabá/MT 2008. RIBEIRO, M.L. A afetividade na relação educativa. Estudos de Psicologia. Campinas 27(3) 403-412 julho - setembro 2010. RIBEIRO, M.L.; JUTRAS, F. Representações sociais de professores sobre afetividade. Estud. psicol. (Campinas), Campinas, v. 23, n. 1, Mar. 2006. ROSENDO, C.A.; CASAGRANDE, L.D.R.; SCHNEIDER, J.F.; PARDINI, L.C. Uma análise das práticas docentes de professores universitários da área de saúde. Rev.latino-am. enfermagem - Ribeirão Preto - v. 7 - n. 2 - p. 15-23 - abril 1999. TASSONI, E.C.M. Afetividade e aprendizagem: a relação professor -aluno. Reunião anual da ANPED, 2000. VERAS, R.S; FERREIRA, S.P.A. A afetividade na relação professor-aluno e suas implicações na aprendizagem, em contexto universitário. Educ. rev., Curitiba, n. 38, dez. 2010. 10