CUSTOS E RECEITAS DE EMBARCAÇÕES ENVOLVIDAS EM PESCARIAS ARTESANAIS MARINHAS NO MUNICÍPIO DE BRAGANÇA, ESTADO DO PARÁ,

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BOLETIM TÉCNICO-CIENTÍFICO DO CEPNOR CUSTOS E RECEITAS DE EMBARCAÇÕES ENVOLVIDAS EM PESCARIAS ARTESANAIS MARINHAS NO MUNICÍPIO DE BRAGANÇA, ESTADO DO PARÁ, 2006-2007 Roberto Cláudio de Almeida Carvalho Carlos Chocron Shelly Jataí Cavalcante Ursula Beatriz Pinheiro Lima Maria de Fátima Santos Raimundo Otávio da Silva Mendes RESUMO Este trabalho teve como objetivo o estudo das condições microeconômicas em que operam embarcações artesanais marinhas no Município de Bragança, Estado do Pará. Ao longo do período de abril de 2006 a janeiro de 2007 foram acompanhadas todas as viagens de14 barcos motorizados de médio e pequeno porte, tendo a rede como arte de pesca de uso quase universal. Foi feita a coleta sistemática dos dados referentes aos gastos com insumos, serviços e mão-de-obra, bem como às produções e receitas obtidas. A partir desses dados, procedeu-se à determinação das composições de produção, receita e despesa, dos resultados líquidos, das remunerações da mão-de-obra envolvida e de vários indicadores econômicos para os dois tipos de barco. Os barcos de médio porte (BMP) apresentaram a serra como o produto mais significativo, com 23,35% do total capturado, contribuindo com 19,16% da receita das pescarias. Outros produtos importantes foram a pescada amarela e a gurijuba. Para os barcos de pequeno porte (BPP), a serra representou um pouco mais da metade da produção e aproximadamente 46% da receita total. A venda de abas e grudes representou um pouco mais de 10% do valor total da produção nos BMP e BPP. O item mão-de-obra foi o mais importante nos BMP, representando 53,38% do total, enquanto armação e manutenção contribuíram com 40,48% e 6,15%, respectivamente. Com relação aos BPP, os gastos com mão-de-obra (49,20%) e armação da viagem (41,78%) são os de maior destaque. A relação benefício/custo foi de 1,28 e 1,37 para os BMP e BPP, respectivamente, apontando a viabilidade econômica da atividade. Apesar de os BMP terem apresentado receitas líquidas, remuneração do pessoal, e capital investido na embarcação e equipamentos maiores do que os BPP, os índices de reposição do capital se mostraram inferiores, o que atribui maior sustentabilidade econômica à pesca com barcos de pequeno porte. Palavras-chave: pesca de pequena e média escalas, custos de captura, análise econômica, Estado do Pará. ABSTRACT Costs and revenues from boats involved in small and medium-scale marine fisheries at Bragança county, Pará State This research work had as main objective to study the microeconomic conditions in which operate the small- and medium-sized boats involved in the catching of several marine fish species off Pará State, having Bragança as home-port. A sample of fourteen boats was monitored in the period from April, 2006 to January, 2007, the small ones operating with nets and the medium-sized ones with nets and, eventually, long-lines as fishing gears. The database consists of information on input costs, services and labor, as well as figures for production, revenue and profit, whence indices of economic efficiency were estimated for the two boat categories. Brazilian mackerel was the most important single fish product in the catch, but croaker and catfish also stood out in the medium-sized boats catch. As by-product, shark fin and catfish bladder gave a relevant monetary contribution because of their high price in the international market. Medium-sized boats accounted for the greater net revenues and economic profits, with a 1.28 benefit/cost ratio, a 21.99% profit margin and a break-even point at 34.45%, so that they provided the highest wages for fishers. The small-sized boats accounted for a 1.37 benefit/cost ratio, a 26.99% profit margin and a break-even point at 22.01%. Despite the medium-sized boats having shown bigger values for net revenues, wages and capital investment on craft and gears, a lesser return rate of the capital was obtained, what ascribes a longer-lasting economic sustainability to the fisheries with small boats. Key words: small- and medium-scale fisheries, catch costs, economic analysis, Pará State. 1 2 3 3 4 4, p. 125-135, 2008 125 quarta-feira, 11 de mar o de 2009 10:12:33

Roberto Cláudio de Almeida Carvalho / Carlos Chocron / Shelly Jataí Cavalcante / Ursula Beatriz Pinheiro Lima / Maria de Fátima Santos / Raimundo Otávio da Silva Mende INTRODUÇÃO A produção pesqueira no Brasil foi de 1.009.073 t no ano de 2005 (IBAMA, 2007). Deste total, a produção oriunda da pesca extrativa, marinha e continental, contribuiu com 751.293 t (74,45%), tendo as pescarias artesanais e industriais extrativas representado 51,4% e 23,0%, respectivamente. Os setores extrativos marinho e estuarino produziram 507.868 t, significando 67,59% da produção extrativa e 50,33% da produção pesqueira nacional. A região Norte do Brasil produziu, naquele ano, 89.683 t no setor extrativo marinho (17,66% do total do país), onde o Estado do Pará foi responsável por 93,32% do total (83.682 t), sendo que 79.692 t (95,22%) vieram das pescarias artesanais, o que evidencia a importância desse sub-setor na produção estadual de pescado. Estudo da SUDEPE (1988) aponta que No Pará, o setor pesqueiro é constituído por subsetores significativos, como a pesca artesanal e industrial, a pesca marítima e em águas interiores, e seus respectivos subsistemas de produção e comercialização. De acordo com Diegues (1995), a pesca artesanal é praticada por pescadores autônomos, sozinhos ou em parceria, que participam diretamente das capturas com o uso de instrumentos relativamente simples. A remuneração do trabalho é feita pelo sistema de partilha da produção e não por salário, o produto é destinado principalmente ao mercado interno, e o pescador artesanal é totalmente dependente da cadeia de intermediação. No Estado do Pará, em 2005, os municípios mais importantes foram Vigia, Belém e Bragança com, respectivamente, 21.722,9 t, 19.671,8 t e 11.375,0 t de produção extrativa marinha (SEAP/PROZEE/IBAMA, 2006). Com base em dados de 2003 e 2004, verifica-se uma mudança nos municípios quanto à ordem de importância: Belém (25.417, 9 t e 25.490,1 t,), Vigia (23.039,6 t e 22.222,5) e Bragança (14.167,5 t. e 11.281,4 t. Houve, portanto, uma estabilização das capturas em Vigia,, um pequeno decréscimo em Bragança e uma queda mais acentuada em Belém, em relação a 2005. Se tomarmos em consideração os dados de 1998, pode-se observar que, naquele ano Bragança era o segundo município em volume de produção no Estado com 20.300,23 t, enquanto Vigia mostrava um resultado total de 10.330, 27 t e Belém produzia 27.819,42 t. A análise dos dados desse intervalo de tempo evidencia que a pesca marinha e estuarina em Vigia mais do que dobrou, enquanto a de Bragança caiu quase à metade. Os dados do cadastro de 1998 apontavam a seguinte quantificação de frota operando em Bragança: 119 canoas-montarias (CAN-MON), 205 canoas motorizadas (CAM), 193 barcos de pequeno porte (BPP), 95 barcos de médio porte (BMP) e 42 barcos industriais (BIN). Já o cadastro referente a 2005, de acordo com o relatório de monitoramento do litoral do Brasil (PROZEE/IBAMA, 2006), mostra a seguinte composição: 124 CAN-MON, 122 CAM, 358 BPP, 162 BMP e nenhum BIN. Como se pode observar, houve um expressivo aumento da frota artesanal e um grande decréscimo dos barcos industriais. Quanto à produção por tipo de barco em Bragança, em 2005, os BMP contribuíram com 5.308,7 t, enquanto os BPP foram responsáveis por 4.078,4 t, portanto, 85,52% da produção pesqueira neste município provêm das pescarias com esses dois tipos de barco. Quanto às artes de pesca usadas nas pescarias artesanais em Bragança, sem considerar as embarcações pargueiras, as mais importantes são a rede de emalhar e o espinhel. Considerando as redes conhecidas como serreira, pescadeira e gozeira, as capturas totais atingiram 5.093,4 t (43,40%) do total no município, em 2005. Um levantamento de aspectos socioeconômicos dos pescadores artesanais foi realizado, tentando-se avaliar seu nível de renda, condições de vida e nível educacional, recomendações para que outros estudos sejam feito com aprofundamento dos aspectos econômicos da atividade, dos custos de captura e da renda gerada por ela (GOVERNO DO PARÁ, 2003). A literatura científica sobre a rentabilidade de embarcações pesqueiras de pequena escala é escassa no Brasil, podendo-se citar os estudos feitos sobre embarcações envolvidas na pesca de lagosta (CARVALHO et al., 1996,1995) no litoral da região Nordeste, bem como sobre pesca de camarão na região da foz do Rio S. Francisco (CARVALHO et al., 1998). No Estado do Pará, foi feito um estudo detalhado dos custos e receitas das capturas e da rentabilidade de embarcações 126

CUSTOS E RECEITAS DE EMBARCAÇÕES ENVOLVIDAS EM PESCARIAS ARTESANAIS MARINHAS NO MUNICÍPIO DE BRAGANÇA, ESTADO DO PARÁ, 2006-2007 artesanais no importante Município de Vigia (CARVALHO et al., 2005), apontando aquelas que mostraram viabilidade econômica (relação benefício/custo maior que um). O presente artigo pretende realizar um estudo semelhante para o Município de Bragança, analisando a rentabilidade econômica das embarcações de pequena escala, com os seguintes objetivos: a) Estudar a composição da produção e receita, por tipo de barco e petrecho de pesca. b) Estudar a composição das despesas operacionais das pescarias, por tipo de barco e petrecho de pesca. c) Estudar as formas de partilha da renda entre os participantes da atividade pesqueira, por tipo de barco e petrecho de pesca. d) Analisar a rentabilidade das pescarias artesanais, por tipo de barco e petrecho de pesca. MATERIAL E MÉTODOS Neste trabalho foram controlados os desembarques de 14 barcos que operam no porto de Bragança, constituindo um universo amostral inferior ao desejável em termos de abrangência devido a dificuldades operacionais e disponibilidade da frota. O período de realização da pesquisa estendeuse de abril/2006 a janeiro/2007, iniciando-se com uma visita às localidades de desembarque, onde foi feita uma avaliação dos dados disponíveis, número de embarcações em operação, captura por espécie e número de viagens. As unidades selecionadas da frota apresentam as seguintes características: Barcos de Médio Porte (BMP) em número de cinco, operam com rede; casco de madeira, comprimento entre 12 e 17,5 m; potência do motor entre 49 e 180 HP; não há câmara frigorífica a bordo, utilizando-se gelo para a conservação do pescado; tripulação composta por um mestre, um geleiro, um motorista e um cozinheiro, com média de 4,55 pescadores por barco. Em nenhum dos casos ocorreu a utilização de embarcações auxiliares. Barcos de Pequeno Porte (BPP) em número de nove, operam com rede; casco de madeira; comprimento entre 8 e 11,80 m; potência do motor entre 14 e 69 HP; conservação com gelo; tripulação composta por um mestre e 2,44 pescadores, em média. A composição das tripulações variou entre as viagens, com as atribuições do geleiro, cozinheiro e motorista aparecendo em algumas delas. Foram elaboradas fichas cadastrais das embarcações bem como formulários preenchidos por pesquisadores do IBAMA/CEPNOR, para coleta dos seguintes dados sobre produção, custos e receitas nas viagens: a) Gastos com combustível, óleo lubrificante, rancho, redes de pesca, armação, e reparos diversos no barco e no motor; b) Composição das capturas em cada viagem; c) Gastos com a mão-de-obra, tendo em vista os métodos de partilha da produção utilizados; d) Preços dos produtos e receitas obtidas com sua comercialização; e) Investimentos (capital empatado nas embarcações). Os formulários preenchidos pelos pesquisadores do IBAMA/CEPNOR passaram por uma análise e foram condensados em tabelas padronizadas, por tipos de embarcação e petrecho de pesca. Foram coletados dados mensais referentes a todas as viagens realizadas durante o ano. Por investimento, entende-se o capital empatado nos bens duráveis de produção (barco, motor, redes de pesca, equipamentos, etc). Os custos foram divididos em fixos e variáveis. Como custos fixos foram considerados as depreciações e o custo de oportunidade do capital empatado a uma taxa real anual de 6%. No cálculo da depreciação, foi utilizado um tempo de 25 anos de vida útil dos barcos (casco, motor). Os custos variáveis referem-se às despesas operacionais: pessoal, matéria-prima, insumos, serviços etc. A remuneração da mão-de-obra (mestre, geleiro, motorista, cozinheiro e pescadores) consiste de um pagamento baseado numa partilha proporcional à produção, 127

Roberto Cláudio de Almeida Carvalho / Carlos Chocron / Shelly Jataí Cavalcante / Ursula Beatriz Pinheiro Lima / Maria de Fátima Santos / Raimundo Otávio da Silva Mende diferenciado por componente da tripulação, a maior remuneração sendo do mestre e a menor cabendo ao pescador individual. A receita total corresponde ao valor total de venda da produção pesqueira. Para a avaliação econômica foram estimados os seguintes indicadores: a) Lucro puro ou lucro econômico receita menos custos totais. É o excedente econômico puro gerado na atividade de captura; b) Lucro líquido receita menos despesas e depreciação. É uma medida do retorno ao capital e ao trabalho do produtor; c) Lucro bruto ou receita líquida receita menos despesas efetivas. É o saldo monetário, do qual devem ser retirados as depreciações e o custo de oportunidade do capital empatado. As despesas efetivas representem os custos variáveis. d) Taxa de retorno ao investimento (TRI) relação entre o lucro e o investimento inicial, mede o tempo necessário para sua reposição; e) Taxa de remuneração do capital (TRK) relação entre o lucro líquido e o capital investido; f) Tempo de recuperação do capital (TRC) anos necessários à reposição do capital empatado; g) Ponto de nivelamento (PN) limite mínimo de produção para que não ocorra prejuízo, é calculado pela relação entre o custo fixo e o excedente da receita sobre os custos variáveis; h) Margem de lucro (ML) determina o percentual de receita que significa lucro; i) Relação benefício/custo (B/C) relação entre receita e custo total, indicando o que é obtido a partir de cada unidade monetária de custo. Para maiores detalhes sobre a metodologia ver Hoffman et al. (1992), Shang e Merola (1987), Pedrosa e Carvalho (2000), e Carvalho et al. (1996, 2000, 2003, 2004 e 2005), RESULTADOS E DISCUSSÃO Composição da produção e receitas A Tabela 1 mostra a composição de produção e receita para os barcos de médio porte, que usam redes como petrechos de pesca. São dados referentes à operação de cinco embarcações durante 10 meses, de abril/2006 a janeiro/2007, num total de 37 viagens e média de 7,4 viagens por barco. A produção está dividida entre peixes e abas/grudes. As grudes correspondem às bexigas natatórias dos peixes e têm valor econômico considerável pois, apesar de representarem apenas 0,45% da produção total, contribuíram com 10,83% da receita das pescarias. Dentre as espécies produtoras da grude, a pescada amarela foi mais importante do que a gurijuba, como mostram os valores de 7,37% e 3,38% da receita total, respectivamente. Os peixes representaram 99,55% da produção total e 89,17% das receitas. O produto mais significativo em peso de biomassa capturada foi a serra, com 23,35% do total, seguida da gurijuba e pescada amarela, com participações relativas de 17,40% e 16,93%. Quanto à receita, a pescada amarela aparece como o produto mais relevante, contribuindo com 23,34% do valor total das vendas, seguida da serra (19,16%) e da gurijuba (15,67%). Essas três espécies juntas foram responsáveis por 57,68% da produção total e 58,17% do valor da receita (Figura 1). A Tabela 2 mostra os resultados da produção e receita para os nove barcos de pequeno porte em operação durante 10 meses, de abril/2006 a janeiro/2007, realizando um total de 121 viagens e média de 13,4 viagens/barco. Pode-se verificar que mais da metade da produção (51,15%) deveu-se à serra, representando 46,31% da receita total das pescarias. Vêm a seguir a pescada amarela e a gurijuba, com 8,66% e 7,11% da produção total. Juntas, essas três espécies contribuíram com 66,92% da biomassa capturada e 65,66% do valor das receitas obtidas, e as abas e grudes, com 11,77% do valor da receita (Figura 2). 128

CUSTOS E RECEITAS DE EMBARCAÇÕES ENVOLVIDAS EM PESCARIAS ARTESANAIS MARINHAS NO MUNICÍPIO DE BRAGANÇA, ESTADO DO PARÁ, 2006-2007 Tabela 1 Composição anual da produção e receita totais obtidas por barcos de médio porte operando com rede (BMP-rede), no município de Bragança, Estado do Pará. Valores Produtos produção receita Kg % Kg % Peixes 191482,9 99,55 683754,27 89,17 acará-açu 29,0 0,02 72,5 0,01 acarachimbó 47,0 0,02 164,5 0,02 bandeirado 1200,0 0,62 3000,0 0,39 bijupirá 3245,0 1,69 18453,0 2,41 bonito 744,2 0,39 1897,0 0,25 bragalhão 2500,0 1,30 5000,0 0,65 cações 15911,0 8,27 37663,8 4,91 cambeua 837,0 0,44 669,6 0,09 camurim 5824,9 3,03 43276,7 5,64 canguira 3269,0 1,70 9679,6 1,26 cavala 2303,0 1,20 10193,0 1,33 corvina 18313,0 9,52 52207,8 6,81 dourada 81,0 0,04 206,9 0,03 enchova 76,0 0,04 380,0 0,05 espardarte 300,0 0,16 570,0 0,07 guaiuba 1500,0 0,78 4950,0 0,65 gurijuba 33463,0 17,40 120137,1 15,67 pescada amarela 32562,0 16,93 179006,5 23,34 pargo 143,0 0,07 858,0 0,11 pescada cururuca 363,0 0,19 623,5 0,08 pirapema 858,0 0,45 2501,0 0,33 serra 44904,0 23,35 146883,3 19,16 timbira 7124,0 3,70 10962,1 1,43 tubarão 500,0 0,26 1250,0 0,16 uricica 70,0 0,04 154,0 0,02 uritinga 6297,8 3,27 13309,9 1,74 xaréu 1265,0 0,66 2061,5 0,27 outros 7753,0 4,03 17623,1 2,30 abas e grudes 861,2 0,45 83058,5 10,83 aba de tubarão 6,9 0,00 645,0 0,08 grude de gurijuba 470,8 0,24 25894,0 3,38 grude de pescada amarela 383,5 0,20 56519,5 7,37 Total 192344,1 100,00 766812,8 100,00 250. Produção (Kg x 1000) 200 150 100 50 0 gurijuba pescada amarela serra outros total Espécies Figura 1 Composição da produção pesqueira, com destaque para as espécies mais importantes, capturada por barcos de médio porte (BMP) no Estado do Pará, no período de abril/2006 a janeiro/2007 129

Roberto Cláudio de Almeida Carvalho / Carlos Chocron / Shelly Jataí Cavalcante / Ursula Beatriz Pinheiro Lima / Maria de Fátima Santos / Raimundo Otávio da Silva Mende Tabela 2 - Composição anual da produção e receita totais obtidas por barcos de pequeno porte operando com rede (BPP-rede), no Município de Bragança,Estado do Pará. Valores Produtos Produção Receita Kg % Kg % Peixes 159896,0 99,66 500263,8 88,23 acará-açú 200,0 0,12 628,0 0,11 acarachimbó 845,0 0,53 1118,2 0,20 agulhão 217,0 0,14 448,5 0,08 arraia 120,0 0,07 191,8 0,03 bandeirado 3573,0 2,23 7298,2 1,29 bijupirá 5892,0 3,67 21629,4 3,81 bonito 7552,0 4,71 16995,2 3,00 cações 4871,0 3,04 10753,1 1,90 cambeua 111,0 0,07 66,6 0,01 camurim 1233,0 0,77 5739,0 1,01 cangatá 275,0 0,17 687,5 0,12 canguira 1161,0 0,72 2485,6 0,44 cavala 333,0 0,21 1103,0 0,19 cioba 79,0 0,05 318,6 0,06 corvina 512,0 0,32 1319,4 0,23 courada 1210,0 0,75 4343,0 0,77 enchova 739,0 0,46 3018,6 0,53 gurijuba 11403,0 7,11 37505,8 6,61 pescada amarela 13896,0 8,66 72231,4 12,74 pedra 2000,0 1,25 10000,0 1,76 pirapema 1063,0 0,66 2133,0 0,38 serra 82069,0 51,15 262600,5 46,31 timbira 6189,0 3,86 6602,4 1,16 uricica 60,0 0,04 108,0 0,02 uritinga 8214,0 5,12 17508,3 3,09 xaréu 993,0 0,62 1897,1 0,33 Outros 5086,0 3,17 11533,6 2,03 abas e grudes 538,8 0,34 66750,0 11,77 abinha 1,0 0,00 80,0 0,01 aba de arirus 1,7 0,00 238,0 0,04 aba de tubarão 6,1 0,00 362,0 0,06 grude de gurijuba 139,4 0,09 7372,0 1,30 grude de pescada amarela 390,6 0,24 58698,0 10,35 Total 160434,8 100,00 567013,8 100,00 Produção (Kg x 1000) 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 gurijuba pescada amarela serra outros total Espécies Figura 2 Composição da produção pesqueira, com destaque para as espécies de maior importância, capturada por barcos de pequeno porte (BPP), no período de abril/2006 a janeiro/2007. 130

CUSTOS E RECEITAS DE EMBARCAÇÕES ENVOLVIDAS EM PESCARIAS ARTESANAIS MARINHAS NO MUNICÍPIO DE BRAGANÇA, ESTADO DO PARÁ, 2006-2007 Composição das despesas operacionais A Tabela 3 e as Figuras 3-4 mostram a discriminação das despesas das pescarias entre os diferentes componentes, distribuídas em gastos com armação, manutenção e pessoal. Pode-se verificar que os gastos com pessoal foram os mais significativos (53,38% e 49,20% dos custos totais para os BMP e BPP, respectivamente). Os gastos com armação representaram um montante em torno de 40% nos dois tipos de embarcação. Individualmente, o item mais oneroso foi o custo do combustível, que atingiu 24,23% do total para os BMP e 19,88% nos BPP. O pagamento dos pescadores representou 19,40% e 15,66% do gasto total para os barcos de médio e pequeno portes, respectivamente. Outro item relevante dos gastos com pessoal foi a remuneração dos mestres (16,09% e 17,65% do total para os BMP e BPP, respectivamente). Tabela 3 - Composição das despesas anuais (R$) das pescarias de rede por barcos de médio (BMP) e pequeno (BPP) portes, no Município de Bragança,Estado do Pará. Itens Despesas BMP % BPP % Gastos de manutenção 31075,00 6,15 33461,0 9,02 aquisição de equipamentos 485,00 0,10 8110,0 2,19 aquisição de petrechos 13000,00 2,57 6832,0 1,84 conserto de casco 4100,00 0,81 3114,0 0,84 conserto de equipamentos 5800,00 1,15 6590,0 1,78 concerto de motor 6650,00 1,32 7430,0 2,00 concerto de pretechos 1040,00 0,21 1385,0 0,37 Gastos de armação 204661,00 40,48 154944,6 41,78 combustivel 122517,00 24,23 73743,0 19,88 gelo 37292,00 7,38 38105,0 10,27 lubrificantes 8289,00 1,64 7250,6 1,96 sal 577,00 0,11 1551,0 0,42 rancho 35986,00 7,12 31938,0 8,61 outras despesas - - 2357,0 0,64 Gastos de mão-de-obra 269883,55 53,38 182453,9 49,20 cozinheiro 22382,16 4,43 6153,1 1,66 geleiro 24708,80 4,89 21182,5 5,71 mestre 81334,73 16,09 65463,7 17,65 motorista 43386,74 8,58 31575,4 8,51 pescador 98071,12 19,40 58079,2 15,66 Total 505619,55 100,00 370859,5 100,00 Despesas (R$ 1000) 600 500 400 300 200 100 0 gastos de manutenção gastos de armação gastos de mão-de-obra Itens de gastos gastos totais Figura 3 Composição das despesas,para barcos de médio porte no Município de Bragança, Estado do Pará, no período de abril/2006 a janeiro/ 2007. 131

Roberto Cláudio de Almeida Carvalho / Carlos Chocron / Shelly Jataí Cavalcante / Ursula Beatriz Pinheiro Lima / Maria de Fátima Santos / Raimundo Otávio da Silva Mende Despesas (R$ 1000) 400 350 300 250 200 150 100 50 0 gastos de manutenção gastos de armação gastos de mão-de-obra gastos totais Itens de gasto Figura 4 Composição das despesas para barcos de pequeno porte no Município de Bragança, Estado do Pará, no período de abril/2006 a janeiro/2007. Remuneração do trabalho nas pescarias A Tabela 4 mostra as remunerações médias mensais e por viagem para o mestre e os pescadores, tipo de atribuição de mão-de-obra verificada em todas as viagens. Quanto a geleiro, cozinheiro e motorista, estas atribuições apareceram em algumas viagens, quando havia um diferencial de pagamento pelo desempenho dessa função. Em muitas das viagens, todas ou uma parte dessas funções eram realizadas pelos pescadores, recebendo cada um o mesmo pagamento, de modo que não foi possível estimar um valor médio mensal de ganho para esse tipo de mão-de-obra. Tabela 4 - Remuneração média mensal (R$) do mestre e dos pescadores em pescarias artesanais, por tipo de barco, no Município de Bragança, Estado do Pará, 2006-2007. Remuneração Discriminação BMP BPP mensal por viagem mensal por viagem Mestre 1626,69 2198,23 727,37 542,81 Pescador 431,08 582,54 264,47 197,37 No sistema de partilha, geralmente 50%, ficam para o proprietário (barco + petrecho), sendo o restante dividido entre os participantes da pescaria. A função principal é a do mestre e, em seguida por ordem de importância, do geleiro, motorista, cozinheiro e pescador individual. Nos barcos analisados, as funções específicas de geleiro, cozinheiro e motorista algumas vezes eram tarefas dos pescadores, não havendo, nesses casos, uma remuneração específica para cada uma delas. Calculando-se as rendas médias por barco de cada categoria e dividindo pelo número de meses, obtém-se a remuneração média mensal que, como era esperado, foi maior para os barcos de médio porte com rede. Análise da rentabilidade A Tabela 5 apresenta os investimentos, custos totais, receitas totais e resultados líquidos, bem como os resultados relativos aos custos fixos e variáveis, e excedentes econômicos médios por tipo de barco. Observa-se que o maior capital investido nos barcos de médio porte resultou em valores da receita líquida e do lucro também maiores do que para os barcos de pequeno porte. Os custos fixos e variáveis representaram 15,48% e 84,52% nos BMPs, e 10,43% e 89,57% nos BPPs, respectivamente. 132

CUSTOS E RECEITAS DE EMBARCAÇÕES ENVOLVIDAS EM PESCARIAS ARTESANAIS MARINHAS NO MUNICÍPIO DE BRAGANÇA, ESTADO DO PARÁ, 2006-2007 A Tabela 6 mostra alguns indicadores de desempenho econômico para os tipos de barco do setor pesqueiro artesanal de Bragança, podendo-se observar que a relação benefício/custo é B/C > 1 nos dois tipos de barco, indicando a rentabilidade econômica das pescarias. A relação benefício/custos variáveis mostra que, para os dois tipos de barco, cada R$ 1 gasto nas operações de pesca gera uma receita de R$ 1,50. Os barcos de médio porte, embora apresentando resultados operacionais líquidos superiores, mostraram taxas de retorno ao investimento (TRI) e de remuneração do capital (TRK) inferiores aos barcos de pequeno porte. O período de recuperação do capital é de 6,18 anos (BMP) e 2,78 anos (BPP), ou seja, o barco de pequeno porte, embora gerando menos receita, tem uma maior sustentabilidade econômica do que o barco de médio porte. Isto se reflete no ponto de nivelamento que, para os BMPs e BPPs, deve ocorrer em 34,45% e 22,0% dos níveis de produção, respectivamente, para não se incorrer em prejuízo. Tabela 5 - Investimentos, custos, receitas e excedentes econômicos de embarcações envolvidas em pescarias artesanais, por tipo de barco e de apetrecho, no Município de Bragança, Estado do Pará, 2006-2007. Discriminação Valores 1 2 BMP BPP Capital investido 208370,00 47253,33 barco (casco) 104000,00 21222,22 barco (motor) 24000,00 9111,11 petrecho 47000,00 9500,00 equipamentos 33370,00 7420,00 Custo total 119643,10 46002,87 custo fixo 18519,19 4796,26 juros 12502,20 2835,20 depreciação 6016,99 1961,06 barco (casco) 4922,51 1356,10 motor 1094,48 604,95 custo variável 101123,91 41206,61 Receita total 153362,55 63001,53 Receitalíquida 52238,64 21794,92 Lucro líquido 46221,66 19833,87 Lucro 33719,46 16998,67 1 = média de cinco embarcações; 2 = média de nove embarcações Tabela 6 - Indicadores de desempenho econômico, por tipo de barco, em pescarias artesanais do Município de Bragança, Estado do Pará, 2006-2007. Barco Indicadores B/C B/CVT IRI TRK TRC (anos) BMP 1,28 1,52 16,18 22,18 6,18 21,99 34,45 BPP 1,37 1,53 35,97 41,97 2,78 26,69 22,01 ML PN 133

Roberto Cláudio de Almeida Carvalho / Carlos Chocron / Shelly Jataí Cavalcante / Ursula Beatriz Pinheiro Lima / Maria de Fátima Santos / Raimundo Otávio da Silva Mende CONCLUSÃO Os dois tipos de embarcação, analisados nesse trabalho, e operando no Município de Bragança, mostraram viabilidade econômica. Os barcos de médio porte apresentaram relação benefício/ custo maior do que um (1,28) e período de recuperação do capital em torno de 6 anos, resultados inferiores aos alcançados pelos de pequeno porte, que mostraram uma relação B/C de 1,37 e recuperação do capital em período de 3 anos. Por outro lado, em termos de produção, receitas líquidas e remunerações do pessoal envolvido, os resultados dos barcos de médio porte foram bem superiores. Porém, o capital empatado nessas embarcações estava muito superior ao observado nos barcos de pequeno porte. Finalmente, sugere-se que mais pesquisas sejam feitas sobre o tema, abrangendo um maior numero de embarcações, e analisando outras localidades e municípios importantes no setor pesqueiro artesanal do Estado, para se ter uma idéia mais precisa sobre sua produção, custos e rentabilidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, R.C.A; CHAVES, R.A; CINTRA, I.H.A. Análise de custo e rentabilidade de embarcações industriais envolvidas na captura de camarão rosa no litoral Norte do Brasil. Bol. Téc. Cient. CEPNOR, Belém, v. 3, n. 01, p.179-190. 2003. CARVALHO, R.C.A.; CHAVES, R.A.; CINTRA,I.H.A. Análise de custos e rentabilidade de embarcações industriais envolvidas na captura de piramutaba, no estuário do rio Amazonas, Litoral Norte do Brasil. Bol. Téc. Cient. CEPNOR, Belém, v.4, n.1, p.45-56, 2004. CARVALHO, R.C.A.; CHOCRON, C.; FRAGOSO, H. Custos e rentabilidade de embarcações envolvidas em pescarias artesanais marinhas e estuarinas, Município de Vigia, Estado do Pará, 2004-2005. Bol. Téc. Cient. CEPNOR, Belém, v.5, n.1, p.155-172. 2005. CARVALHO, R.C.A.; FERREIRA, C.R.C.; VASCONCELOS, J.A.; OLIVEIRA, M.Y.S.; CAMPOS, L.M.A. Custos e rentabilidade de embarcações envolvidas na pesca da lagosta no Nordeste do Brasil, 1995. Bol. Téc. Cient. CEPENE, Tamandaré, v.4, n.1, p.233-261, 1996. CARVALHO, R.C.A.; FERREIRA, C.R.C.; VASCONCELOS, J.A.; OLIVEIRA, M.Y.S.; CAMPOS, L.M.A. Custos e rentabilidade da captura de lagosta em embarcações de pequeno e médio porte, Nordeste do Brasil,1996. Bol. Téc. Cient. CEPENE, Tamandaré, v.5, n.1, p.115-134. 1997. CARVALHO, R.C.A.; OLIVEIRA, M.Y.S.; CAMPOS, L.M.A.; FREITAS, S,W. ; SILVA, C.S.Análise de custo e rentabilidade da captura e beneficiamento de camarão, Estados de Pernambuco e Alagoas, Nordeste do Brasil, 1997-1998. Bol. Téc. Cient. CEPENE, Tamandaré, v.8, n.1, p.279-296. 2000. HOFFMANN, R; ENGLER, J. J. C.; SERRANO, O.; THAME, A. C. M.; NEVES, E. M. Administração da empresa agrícola. Pioneira, 7ª edição, 325 p., São Paulo, 1992. GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ. A pesca artesanal no Estado do Pará: perfil socioeconômico e organizacional dos pescadores filiados às colônias. Belém, 154 p., 2003. IBAMA. Estatística da Pesca 2005: grandes regiões e unidades da Federação. Brasília, 143 p., 2007. IBAMA/CEPENE. Relatório da reunião do Grupo Permanente de Estudos do camarão Nordeste. Período: 12 a 15 de Abril de 1994. Centro de Pesquisa e Extensão Pesqueira do Nordeste, 28 p., Tamandaré, 1994 134

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quarta-feira, 11 de mar o de 2009 10:12:35