GESTÃO AMBIENTAL EM CEMITÉRIOS

Documentos relacionados
Raoni de Paula Fernandes

Renata Aparecida Costa, Antônio Roberto Saad, Regina de Oliveira Moraes Arruda e Reinaldo Romero Vargas

PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA DE ENGENHARIA CURSOS DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL HIDROLOGIA APLICADA

Semana de Estudos da Engenharia Ambiental UNESP Rio Claro, SP. ISSN

POLUIÇÃO AMBIENTAL: DIAGNÓSTICO DAS FONTES CONTAMINANTES DO CÓRREGO DE TANQUES

SALUBRIDADE AMBIENTAL DA PRAIA DO TOMBO, MUNICÍPIO DE GUARUJÁ-SP: REFLEXOS NA QUALIDADE DE SUAS ÁGUAS BALNEARES

Roteiro Orientativo para Licença Prévia

ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA NO CÓRREGO ÁGUA BRANCA, ITIRAPINA-SP.

Caracterização físico-química de efluente de indústria de laticínios tratado por sistema de lagoas de estabilização

DETERMINAÇÃO DO IQA DO ARROIO CLARIMUNDO NA CIDADE DE CERRO LARGO/RS 1 DETERMINATION OF THE IQA OF CLARIMUNDO RIVER IN THE CITY OF CERRO LARGO/RS

CARACTERIZAÇÃO QUALITATIVA DO ESGOTO

TÍTULO: VERIFICAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO BIOLÓGICO DE EFLUENTE INDUSTRIAL, UTILIZANDO COMO BIOINDICADOR A PLANÁRIA DUGESIA TIGRINA.

sólidos - a incineração, mostrada nas figuras 15 e 16. Muitos proprietários queimam seus lixos

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA E FÍSICO-QUÍMICA DA ÁGUA: UMA ANÁLISE DETALHADA DO AÇUDE ARAÇAGI

Programa Analítico de Disciplina CIV442 Qualidade da Água

Eixo Temático ET Recursos Hídricos

ÍNDICE DE QUALIDADE DA ÁGUA NO CÓRREGO ANDRÉ, MIRASSOL D OESTE MT 1

MONITORAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO BENFICA COM VISTAS À SUA PRESERVAÇÃO

Métodos de disposição final de resíduos sólidos no solo. Disposição final AVALIAÇÃO. Impactos ambientais. Lixão. Aterro Sanitário DOMICILIAR

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RESERVATÓRIO BANANEIRAS, ALEXANDRIA /RN

1. Documentos Administrativos (original ou fotocópia autenticada)

feam FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE

Qualidade da Água em Rios e Lagos Urbanos

O Papel da Gestora Ambiental no Empreendimento Rodoviário UFV/DNIT

Diagnóstico da qualidade química das águas superficiais e subterrâneas do Campus Carreiros/FURG.

II-173 A FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO COMO ORIGEM DA POLUIÇÃO DOS CORPOS RECEPTORES: UM ESTUDO DE CASO.

MONITORAMENTO EDÁFICO HÍDRICO

SECRETARIA MUNICIPAL DA AGRICULTURA, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E MEIO AMBIENTE

Roteiro de Solicitação

Documento Assinado Digitalmente

CARACTERIZAÇÃO DE CURSOS DE ÁGUA SITUADOS NA ÁREA INTERNA DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR.

QUALIDADE DA ÁGUA SUPERFICIAL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS EM APARECIDA DE GOIÂNIA/GO

ANÁLISE DA QUALIDADE DAS ÁGUAS DO AÇUDE VELHO EM CAMPINA GRANDE/PB

TERMO DE REFERÊNCIA PARA LICENCIAMENTO AMBIENTAL DO PROGRAMA MUNICIPAL DE AÇUDAGEM

CONTROLE DA QUALIDADE DE EFLUENTES - CONAMA, LIMITES ESPECIFICADOS E CONTROLES ANALÍTICOS E INDICADORES DE CONTAMINAÇÃO: SITUAÇÃO ATUAL E TENDÊNCIAS

Documento Assinado Digitalmente

Esgoto Doméstico: Coleta e Transporte

03 - EFLUENTES LÍQUIDOS

do acúmulo de resíduos (sobretudo os orgânicos, animais mortos, borrachas, plásticos, papeis, etc.), causando desconforto socioambiental.

Título: Autores: Filiação: ( INTRODUÇÃO

Redução da Poluição em Rios do Semiárido Mediante a Aplicação de Efluentes Domésticos Urbanos na Agricultura Estudo de Caso no Rio Jacuípe

liberada por se tratar de um documento não aprovado pela PUC Goiás.

Eixo Temático ET Recursos Hídricos

DZ-215.R-3 - DIRETRIZ DE CONTROLE DE CARGA ORGÂNICA BIODEGRADÁVEL EM EFLUENTES LÍQUIDOS DE ORIGEM NÃO INDUSTRIAL.

Gestão de Recursos Hídricos

Documento Assinado Digitalmente

Avaliacao do Corrego Campestre Apos a Implantacao da ETE do Municipio de Lins-SP. Ferreira Rina, Carlos

TRATAMENTO DOS RESERVATÓRIOS DE ÁGUA DO PERÍMETRO RURAL DA CIDADE DE PINHALZINHO/SC

IT-1302.R-1 - INSTRUÇÃO TÉCNICA PARA REQUERIMENTO DE LICENÇAS PARA ATERROS SANITÁRIOS

Acadêmicas 2 ano do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Goiás Unidade de Morrinhos.

ANÁLISE DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DO ATERRO SANITÁRIO DO MUNICÍPIO DE CUIABÁ, SOBRE A QUALIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS NO SEU ENTORNO

RELATÓRIO DE PROJETO DE PESQUISA - CEPIC INICIAÇÃO CIENTÍFICA

TERMO DE REFERÊNCIA PARA A ELABORAÇÃO DE ESTUDOS E RELATÓRIOS AMBIENTAIS; INSTRUÇÃO PROCESSUAL PARA O LICENCIAMENTO DA ATIVIDADE DRAGUEIRA;

MONITORAMENTO EDÁFICO HÍDRICO

GABARITO PROVA DE QUALIDADE DA ÁGUA E DO AR SELEÇÃO PPGRHS

ESTUDO PRELIMINAR DE COLIFORMES TERMOTOLERANTES NA ÁGUA DOS ARROIOS PEREZ E BAGÉ. 1. INTRODUÇÃO

Ciências do Ambiente

II DISPOSIÇÃO DE LODO DE ESGOTO NO SOLO AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS SANITÁRIOS

Decisão de Diretoria 038/2017/C Aspectos Técnicos e Administrativos

AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DA CODISPOSIÇÃO DE LODO SÉPTICO EM LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO NO TRATAMENTO DE LIXIVIADO DE ATERROS SANITÁRIOS

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE ÁGUA DE CORPO HÍDRICO E DE EFLUENTE TRATADO DE ABATEDOURO DE BOVINOS

Documento Assinado Digitalmente

ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS DETERMINADOS PELA SUDEMA DO RIO JAGUARIBE COM PADRÕES CONAMA 357/05

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS DO RIO PARAGUAÇU E AFLUENTES, BAHIA, BRASIL

Documento Assinado Digitalmente

I APLICAÇÃO DE MICROORGANISMOS EM ESGOTOS SANITÁRIOS PARA AUXILIAR NA DEPURAÇÃO DE CURSOS D ÁGUA

Ambientes de água doce. Esses se dividem em ambientes: -Lóticos: água corrente -Lênticos: água parada

ANEXO I. Condicionantes para Licença de Operação (LO) da Ambientec Incineração de Resíduos Ltda.

QUALIDADE MICROBIOLOGICA DA AGUA DA MINA SUCUPIRA NA CIDADE DE BOA ESPERANÇA MG

ESTUDOS DA ÁGUA PRODUZIDA ATRAVÉS DOS PARAMETROS TOG, CONDUTIVIDADE, PH, TURBIDEZ E SALINIDADE

ESTUDO DE CASO: DESPERDÍCIO DE ÁGUA, NO USO DO DESTILADOR DO LABORATÓRIO DE APOIO DA UNESC

ANA LÚCIA MASTRASCUSA RODRIGUES Serviço da Região do Uruguai Departamento de Qualidade Ambiental FEPAM

9º ENTEC Encontro de Tecnologia: 23 a 28 de novembro de 2015

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA DE POÇO ARTESIANO DE UMA ESCOLA RURAL EM BAGÉ/RS

Prefeitura Municipal de Arroio do Meio - Departamento do Meio Ambiente/DMA Formulário para Licenciamento Ambiental

ASPECTOS FÍSICO-QUÍMICOS DA ÁGUA SUBTERRÂNEA CONSUMIDA NO MUNICÍPIO DE TAPEROÁ-PB

Documento Assinado Digitalmente

Poluição & Controle Ambiental Aula 2 Poluição Aquática

Documento Assinado Digitalmente

Diálogo das Águas com a Indústria

GESTÃO AMBIENTAL NA INDÚSTRIA. Renato das Chagas e Silva Engenheiro Químico Divisão de Controle da Poluição Industrial FEPAM

Procedimentos para apresentação de documentação para licenciamento municipal ambiental.

Anais do Simpósio de Iniciação Científica FACLEPP UNOESTE 1 RESUMOS DE PROJETOS...2 RESUMOS COM RESULTADOS...5 RESUMOS DE ARTIGOS COMPLETOS...

Documento Assinado Digitalmente

para as Micro e Pequenas Empresas Agosto/2009

PREFEITURA MUNICIPAL DE MORRO REDONDO

Licenciamento Ambiental Suinocultura

Plano de Gestão Ambiental

ANEXO I DOCUMENTAÇÃO SOLICITADA PARA O PROCEDIMENTO SIMPLIFICADO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL

SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM QUALIDADE DA ÁGUA

ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA DAS ÁGUAS DO CÓRREGO MOSCADOS EM MARINGÁ-PR

PHD-5004 Qualidade da Água

ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA, NO ENTORNO DE UM CEMITÉRIO NO MUNICÍPIO DE MARITUBA (PA), BRASIL.

QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO BURANHÉM, PORTO SEGURO BAHIA, DE 2008 A 2014

TIM-1. Proposta de Diretrizes de Engenharia para o Planejamento da Ocupação da Área da Bacia do Córrego Navio

2 - Sistema de Esgotamento Sanitário

REUSO DE EFLUENTE TRATADO EM SOLO DE ÁREA DEGRADADA VISANDO A MELHORIA DE SEUS ATRIBUTOS

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS DE ILHA SOLTEIRA FACULDADE DE ENGENHARIA DE ILHA SOLTEIRA

Procedimentos para apresentação de documentação para licenciamento municipal ambiental.

Transcrição:

GESTÃO AMBIENTAL EM CEMITÉRIOS Gerenciamento de Resíduos Sólidos e Líquidos Mônica Lopes MOREIRA 1 Carolina Leite de MORAES 2 Fernanda Medeiros GONÇALVES 3 RESUMO Os cemitérios são atividades de alto grau de degradação ambiental, pela própria natureza da atividade, mas fazem parte da história da humanidade a séculos. O município de Pelotas no interior do Rio Grande do Sul, tem dois cemitérios atuantes na área urbana, sendo o objeto desta pesquisa o cemitério, administrado pela Prefeitura municipal. O objetivo desse trabalho é mostrar as condições ambientais deste cemitério, através de revisão bibliográfica, visitas ao local e conversas informais com um funcionário do cemitério. Os resultados obtidos mostram que há uma má gestão no empreendimento e uma carência quanto a fiscalização do órgão ambiental municipal, para que se faça a aplicação da legislação existente, além da necessidade de uma gestão ambiental adequada. Palavras-chave: Contaminação, Necrochorume, Necrópodes, Resíduos Sólidos. INTRODUÇÃO A história dos cemitérios ao longo dos séculos está atrelada aos impactos ambientais negativos ao meio ambiente e a população. No séc. XVIII, os mortos eram enterrados no entorno das igrejas e nas divisas das cidades, causando mau cheiro pela decomposição dos corpos, contaminando o solo e as águas subterrâneas (PALMA; SILVEIRA, 2011). Os cemitérios vêm sendo alvos de estudos, devido à grande repercussão que o empreendimento reflete frente as questões ambientais, além da escolha da área adequada para a implantação do empreendimento e os impactos, em sua maioria negativos, que se refletem na sociedade e no meio ambiente (PALMA; SILVEIRA, 2011). Objetiva-se com esta pesquisa mostrar as condições ambientais de um cemitério no município de Pelotas, RS, através de revisão bibliográfica, visitas ao local e conversas informais com os funcionários do cemitério. METODOLOGIA 1 Gestora Ambiental, Técnica de Meio Ambiente, SBS Engenharia e Construções Ltda, moniicalopes@hotmail.com 2 Aluna do Curso de mestrado em Análise Geoambiental, Universidade Univeritas Guarulhos, Laboratório de Águas, carolinaleitedemoraes@gmail.com 3 Professora Dr a. do Curso de Gestão Ambiental da Universidade Federal de Pelotas, fmgvet@gmail.com 1

Este estudo ocorreu em um Cemitério do município de Pelotas no Estado do Rio Grande do Sul, no ano de 2012, sendo parte de um trabalho de conclusão de curso do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental da Universidade Federal de Pelotas/RS. O estudo envolveu visitas ao local, análise do parecer técnico das análises de água, registros fotográficos, conversa informal com um funcionário do empreendimento. A coleta de amostras de água ocorreu em dois córregos circunvizinhos ao cemitério, de classe 2 conforme classificação CONAMA 357/05 (BRASIL, 2005), sendo denominados como sanga 1 (S1) e sanga 2 (S2), com quatro pontos de coleta em cada sanga (Figura 1). As amostras foram encaminhadas para o Laboratório de Qualidade Ambiental (LQA) da UCPel para análise de parâmetros físico-químicos e microbiológicos da água. Figura 1- Mapa com a localização da área do cemitério municipal (ponto amarelo) e pontos de coleta (P) de amostras de água e sangas (S1 e S2). Fonte: Adaptado de IBGE (2018), Google Maps (2018) e Google Earth Pro (2018). Vale ressaltar que os resultados da análise das amostras de água subsidiaram a elaboração de um parecer técnico o qual foi encaminhado ao Ministério Público Federal, para ação de intervenção. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na visita ao cemitério, foi possível observar a presença de resíduos sólidos dispersos em alguns pontos (figura 2). É possível conjecturar que, na tentativa de eliminar os resíduos resultantes da exumação dos corpos, estes foram lançados a céu aberto e queimados, estando 2

em desconformidade com o Art. 9º da Resolução 335 do CONAMA (BRASIL, 2003). Na observação do local e conversa informal com funcionário, foi possível perceber que, além da deficiência referente a estrutura física do cemitério para a coleta e tratamento de resíduos sólidos, também inexiste a coleta e tratamento dos gases gerados do processo de decomposição dos corpos, haja visto que as sepulturas mais antigas não foram preparadas para tal (figura 3). Figura 2- Resíduos Sólidos dispostos à céu aberto no entorno do cemitério. Fonte: Moreira (2012). Figura 3-Vista geral da edificação das sepulturas. Fonte: Moreira (2012). Os indicadores de qualidade das águas das sangas circunvizinhas ao cemitério apontaram altas concentrações de fósforo e nitrogênio bem como uma elevada demanda química de oxigênio (tabela 1), extrapolando o máximo estabelecido pela Resolução CONAMA 357/05 (BRASIL, 2005). A lixiviação da matéria orgânica das sepulturas associadas as chuvas e a decomposição natural dos corpos sepultados contribuem para o aumento desses parâmetros (CIRNE et al., 2011), sendo o necrochorume, uma possível explicação para os altos níveis de fósforo e nitrogênio observados no corpo hídrico do entorno, haja visto que estes elementos compõem um corpo humano (ALMEIDA; MACÊDO, 2005). Tabela 1- Resultado das análises físico-químicas obtidas no Laudo Técnico enviado ao Ministério Público em outubro de 2011 Parâmetros Físicos-químicos OD (mg/l) ph NT (mg/l) PO 4 - (mg/l) DQO (mg/l) Sanga 1 Sanga 2 Sanga 1 Sanga 2 Sanga 1 Sanga 2 Sanga 1 Sanga 2 Sanga 1 Sanga 2 Ponto 1 1,81 5,07 7,19 7,16 23,56 15,25 2,42 5,12 157,5 315,01 Ponto 2 3,44 5,61 7,3 7,15 19,4 13,86 3,5 4,72 354,38 157,5 Ponto 3 4,16 3,98 7,27 7,19 19,4 18,02 3,36 4,99 236,26 157,5 Ponto 4 4,53 5,07 7,33 7,15 19,4 16,63 2,82 3,23 275,63 196,88 CONAMA 357/05 - Classe 2- água doce < 5 mg/l 6,0 a 9,0 < 2,18 mg/l - Lótico < 0,1 mg/l - Lótico - - OD: Oxigênio Dissolvido, ph: Potencial Hidrogeniônico, NT: Nitrogênio Total, PO 4 : Fósforo Total, DQO: Demanda Química de Oxigênio. Fonte: Cirne et al. (2011). Embora fósforo e nitrogênio sejam elementos importantes para a manutenção da vida aquática, em concentrações elevadas nos corpos d água causam eutrofização e, por 3

consequência, comprometem a qualidade de vida aquática por reduzirem os níveis de oxigênio disponível nesses ambientes (BRAGA, et al. 2005). Paralelamente, os níveis de oxigênio dissolvido apresentaram-se abaixo daqueles determinados na Resolução CONAMA 357/05 (BRASIL, 2005), em quase todos os pontos de coleta das amostras de água, influenciando na manutenção de condições aeróbias nas sangas. Em relação aos parâmetros microbiológicos, foi possível observar contagem de coliformes totais registrados em todos os pontos de coleta (>2.420 UFC/100mL) e fecais (sanga 1 >2.420 UFC/100mL e na Sanga 2 variou entre 1.300 a 1.987 UFC/100mL), todos acima do limite estabelecido (<1.000 UFC/100mL) pela Resolução CONAMA 357/2005 para Classe 2 - água doce (CIRNE et al., 2011). A contaminação por coliformes fecais relaciona-se a exposição a microrganismos patogênicos, sendo estes passíveis de causar enfermidades aqueles que entrarem em contato com essas águas (COSTA, et al., 2016). O funcionário do cemitério quando questionado sobre a aplicação da Resolução CONAMA 355/2003 (BRASIL, 2003), que dispõe sobre licenciamento ambiental de cemitérios e práticas de gerenciamento, alegou não ter conhecimento da resolução e tão pouco aplicar suas diretrizes, relatando que o cemitério é desprovido de alvará de funcionamento e licença de operação. Tanto o alvará de funcionamento quanto a licença de operação são instrumentos de gestão ambiental que autorizam um determinado empreendimento a exercer suas atividades no endereço estipulado aos órgãos públicos, bem como, cumprir com as devidas exigências impostas nestes documentos. Devido ao ajuizamento de ação no Ministério Público Federal pela população do entorno, em janeiro de 2017 as atividades de sepultamento foram interditadas no local devido ao possível comprometimento das águas subterrâneas e do solo (TRADIÇÃO, 2017). Em fevereiro de 2017, o cemitério retornou, parcialmente, as atividades, haja visto o início do processo de licenciamento ambiental junto à Secretaria de Qualidade Ambiental (SQA) do município (DIÁRIO DA MANHÃ, 2017). Contudo, após seis anos das primeiras denúncias de danos ambientais relacionados as atividades do cemitério, ainda não foi possível ter acesso a licença de operação do empreendimento, refletindo em obscuridade e não transparência dos processos licenciatórios. CONCLUSÕES 4

As práticas de gerenciamento ambiental em cemitérios são fundamentais para assegurar a manutenção da qualidade ambiental e social em seu entorno, sendo possível constatar os reflexos da ingerência no cemitério objeto de estudo. Sugere-se a aplicação do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) como instrumento de gestão ambiental em cemitérios, bem como a inclusão das diretrizes estabelecidas nas resoluções 355/03 e 357/05 CONAMA para efetivo controle dos processos relacionados a manutenção da qualidade ambiental nestes locais. REFERÊNCIAS ALMEIDA, A.M.; MACÊDO, J.A.B. Parâmetros físico-químicos de caracterização da contaminação do lençol freático por necrochorume. In: Seminário de Gestão Ambiental, 2005. Anais do Seminário de Gestão Ambiental. Juiz de Fora: Faculdades Integradas Vianna Jr., 2005. V. 1. BRAGA, Benedito, et al. Introdução à engenharia ambiental. 2 a. Ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. BRASIL. Resolução CONAMA. Resolução nº 335 de 3 de abril de 2003. Seção 1, páginas 98-99. Dispões do Licenciamento Ambiental de Cemitérios. BRASIL. Resolução CONAMA. Resolução nº 357 de 17 de março de 2005. DOU nº 053, páginas 58-63. Define a classificação dos corpos de água e diretrizes para seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. CIRNE, M. P.; MONKS, J. L. F., MEDINA, L. B. Verificação da Contaminação do Solo e da Água por Necrochorume. Ofício nº 334/11 2º PJE IC. 1029359518. Laudo Técnico do Escritório de Perícias Ambientais da Universidade Católica de Pelotas (2011). COSTA, R. A.; SAAD, A. R.; VARGAS, R. R.; DALMAS, F.B. A gestão ambiental aplicada ao condomínio Riviera de São Lourenço, município de Bertioga-SP, e seus reflexos no índice de balneabilidade na praia de São Lourenço. Revista Geociências-UNG, v.15, n.1, p. 94-109, 2016. DIÁRIO DA MANHÃ, 2017. Jornal Diário da Manhã. Disponível em: http://diariodamanhapelotas.com.br/site/cemiterio-boa-vista-e-liberado-parcialmente/. Acesso em: 7 jun. 2018. PALMA, R. S., SILVEIRA, D. D., A Saudade ecologicamente correta: A educação ambiental e os problemas ambientais em cemitérios. Monografias Ambientais. Revista Eletrônica do PPGEAmb- CCR/UFSM. Vol.(2), nº2, p. 262-274, 2011. TRADIÇÃO. Jornal Tradição. Disponível em: http://www.jornaltradicao.com.br/site/content/variedades/index.php?noticia=20538. Acesso em: 7 jun. 2018. 5