EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA ÚNICA DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE GUANAMBI,



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Transcrição:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA VARA ÚNICA DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE GUANAMBI, Ref.: PIC nº 1.14.009.000642/2014-91 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelos Procuradores da República abaixo subscritos, com base no material probatório colhido no Procedimento Investigatório Criminal em epígrafe, vem propor AÇÃO PENAL contra EVILÁCIO MIRANDA SILVA* IGOR THIAGO DE SANTANA MOREIRA PASSOS* ADEMIR DE OLIVEIRA PASSOS* MAGDA FERNANDES PINTO VEIGA* * Dados pessoais foram retirados da peça. 1/9

pela prática dos seguintes crimes: ESCLARECIMENTO PRELIMINAR DO CONTEXTO DA PRÁTICA DAS CONDUTAS CRIMINOSAS Os crimes a seguir narrados foram praticados no contexto da execução do convênio nº 4.244/2004 (f. 22-29), destinado à construção de unidade de saúde no povoado do UMBUZEIRO DOS SANTOS, no Município de Rio de Contas/BA. No bojo de tal convênio, a União, por intermédio do Ministério da Saúde (concedente), repassou o montante de R$88.000,00 ao Município de Rio de Contas (convenente), por meio de transferência bancária realizada em 03.01.2006, na conta específica do convênio (Banco do Brasil, Agência 2540-2, Conta nº 11.835-4). O Município, a seu turno, se obrigou a destinar R$7.040,00, a título de contrapartida. A realização de tal obra restou licitada por meio do Convite nº 17/2005, cujo direcionamento resultou na contratação da INCONSEC LTDA. (f. 53-54). Ressalta-se que, no final de dezembro de 2005, a mencionada empresa, especialmente envolvida em ardiloso esquema de corrupção montado no Município de Rio de Contas para propiciar o desvio e a apropriação de recursos públicos federais, sagrou-se vencedora em mais 2 certames licitatórios, comprometendo-se, a executar objetos com expressões econômicas quase 190 vezes superiores ao seu capital social (f. 19). Destaca-se, ainda, que os gravíssimos atos de corrupção praticados na gestão do denunciado EVILÁCIO MIRANDA SILVA foram noticiados por um dos sócios da INCONSEC LTDA., o senhor ROBERTO FERNANDEZ VEIGA - importante integrante do esquema ora tratado -, que, após prestar declarações na Câmara Municipal de Rio de Contas (f. 128-132) e no Ministério Público Estadual (f. 121-127), fora assassinado, em maio de 2007. O esquema criminoso que se instalou na gestão municipal de Rio de Contas restou desvendado pela CGU, o que resultou na elaboração do Relatório de Demandas Especiais nº 00190.003508/2005-92, cujos excertos pertinentes encontram-se juntados aos autos (f. 4-21). 2/9

Acrescenta-se, ainda, que, sob a perspectiva do combate aos atos de improbidade administrativa, tais fatos constituem objeto dos processos judiciais nº 4491-95.2013.4.01.3309 e 2008.33.09.001285-1, em trâmite nesta Subseção Judiciária. FATO 1 Desvio de recursos em favor da empresa EMCOSEL: 1. No ano de 2007, EVILACIO MIRANDA SILVA, na qualidade de Prefeito Municipal de Rio de Contas/BA, desviou recursos públicos federais repassados pelo Ministério da Saúde à municipalidade no bojo do convênio nº 4.244/2004, em proveito da empresa EMCOSEL EMPREENDIMENTOS, CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA. (CNPJ n 05.058.835/00 01-16). 2. A Prefeitura de Rio de Contas realizou licitação (Convite nº 017/2005) para a construção do posto de saúde de Umbuzeiro dos Santos, tendo sagrado-se vencedora, após sucessivas fraudes no certame, a pessoa jurídica INCONSEC LTDA. (CNPJ n 00.503.495/0001-71), cujos sócios à época eram ROBERTO FERNANDEZ VEIGA e MAGDA FERNANDES PINTO VEIGA. 3. Em meio aos pagamentos efetuados em razão da obra, foi emitido o cheque nº 850003, subscrito pelo ex-gestor municipal EVILÁCIO, relativo à conta corrente específica do convênio e nominal à Prefeitura Municipal, no valor de R$7.424,23 (sete mil, quatrocentos e vinte e quatro mil e vinte e três centavos). 4. Contudo, o referido valor não se reverteu em favor da sociedade empresária INCONSEC LTDA., vencedora da licitação e especificada como credora do pagamento na Nota de Empenho nº 81/2007. Também não ingressou nos cofres públicos municipais, muito embora, como dito acima, o cheque tenha sido nominal à Prefeitura. 5. A real beneficiária dos recursos despendidos foi a EMCOSEL EMPREENDIMENTOS, CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA., empresa de propriedade de IGOR THIAGO DE SANTANA MOREIRA PASSOS, filho de ADEMIR OLIVEIRA DE PASSOS, advogado do município. 3/9

6. Tem-se, assim, que EVILÁCIO MIRANDA SILVA, na condição de gestor municipal, de forma deliberada, efetuou o pagamento de R$ 7.424,23 (sete mil, quatrocentos e vinte e quatro reais e vinte e três centavos) à sociedade empresária EMCOSEL EMPREENDIMENTOS, CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA, que não possuía qualquer vínculo jurídico-contratual com a Prefeitura Municipal de Rio de Contas. 7. Registra-se que o único vínculo existente entre tal empresa (EMCOSEL) e a Prefeitura consistia no fato de seu sócio, IGOR THIAGO DE SANTANA MOREIRA PASSOS, ser filho do advogado da Prefeitura, ADEMIR DE OLIVEIRA PASSOS, o que caracteriza típico episódio de desvio de dinheiro público em proveito de particular. 8. Desse modo, mediante ajuste fraudulento com o sócio administrador da pessoa jurídica EMCOSEL, IGOR THIAGO DE SANTANA MOREIRA PASSOS, com o intermédio do advogado da Prefeitura ADEMIR OLIVEIRA PASSOS, o ex-gestor municipal EVILÁCIO MIRANDA SILVA desviou recursos públicos federais diretamente da conta específica do convênio mencionado mais acima. 9. Autoria e materialidade restam comprovadas pela simples análise dos respectivos processos de pagamentos relacionado ao convênio e dos extratos bancários da conta específica do convênio, que corroboram as imputações trazidas na presente peça acusatória. 10. Dessarte, EVILÁCIO MIRANDA SILVA, ADEMIR OLIVEIRA PASSOS e IGOR THIAGO DE SANTANA MOREIRA PASSOS desviaram recursos públicos federais em favor da sociedade empresária EMCOSEL, titularizada por este último, por meio do pagamento direto, o que caracteriza crime descrito no art. 1º, inciso I, do Decreto-Lei nº 201/67, mediante concurso de pessoas (art. 29 do Código Penal) 1. 1 APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE RESPONSABILIDADE PRATICADO POR EX-PREFEITO. DESVIO DE VERBA PÚBLICA. ART. 1º, I, DO DECRETO-LEI 201/67. ( ) 4. O desvio de verba pública se caracteriza quando o agente, na qualidade de prefeito municipal, repassa verba do Fundo de Participação dos Municípios a particular, sem qualquer amparo legal, causando prejuízo ao erário municipal. ( ) (TJPR - 2ª Câmara Criminal - AC - 552501-5 - Rel: Noeval de Quadros - Unânime - J. 06.05.2009) 4/9

FATO 2 Adulteração de Extratos Bancários da conta específica, com sua posterior utilização no processo de prestação de contas do convênio: 11. O denunciado EVILACIO MIRANDA SILVA, na condição de gestor municipal, falsificou extratos bancários da conta específica do convênio n 4.244/04, celebrado entre Prefeitura Municipal de Rio de Contas e Ministério da Saúde. Os documentos adulterados foram utilizados pelo acusado EVILÁCIO no momento da prestação de contas por ele apresentada ao Ministério da Saúde, em 22 de fevereiro de 2007 (f. 36). 12. Com efeito, houve adulteração do extrato bancário relativo ao mês de fevereiro/2006, que acompanhou a prestação de contas do convênio, haja vista que dele foram suprimidos os dados referentes ao crédito de R$ 14.674,98 (quatorze mil, seiscentos e setenta e quatro reais e noventa e oito centavos), recurso este oriundo da conta de movimentação geral do município, e que posteriormente foi utilizado para realizar pagamento irregular à pessoa jurídica INCONSEC LTDA. 13. Para chegar-se a tal conclusão basta comparar o extrato bancário disposto à folha 46 (adulterado) com aquele encartado na f. 107. 14. Mas o empreendimento criminoso aí não se encerrou, haja vista que o extrato bancário do mês de dezembro/2006 também foi contrafeito, mediante a inserção de lançamentos não ocorridos naquele mês, quais sejam o crédito de R$7.040,00 (f. 50: simulação de depósito da contrapartida municipal, o que só viria a ocorrer no dia 10.01.2007) e o débito de R$7.424,18 (f. 50: simulação de pagamento à INCONSEC LTDA., o que só viria a ocorrer no dia 11.01.2007). 15. Observa-se que a utilização, por parte do então gestor municipal EVILACIO MIRANDA SILVA, dos documentos públicos adulterados (extratos bancários originados do Banco do Brasil), teve por escopo ludibriar a União, por meio do Ministério da Saúde, no processo de análise da prestação de contas, o que não pode ser olvidado no momento da dosimetria da pena. 16. Autoria e materialidade encontram-se devidamente comprovadas pelos extratos bancários relativos à conta especifica do convênio (dos quais consta expressamente que as transações haviam sido realizadas por EVILÁCIO MIRANDA SILVA), pelos documentos da prestação de contas do Convênio MS n 4.244/04, além do próprio Relatório da CGU. 5/9

17. Dessarte, EVILÁCIO MIRANDA SILVA, ao adulterar extratos bancários utilizados para instruir a prestação de contas do Convênio n 4.244/04, na tentativa de ludibriar a Administração Pública quanto à ocorrência de movimentação irregular em favor da empresa INCONSEC LTDA., praticou os delitos previstos nos art. 297, 1º, c/c 304, ambos do Código Penal, por duas vezes. FATO 3 Desvio de recursos em favor da INCONSEC LTDA. e inserção de informação falsa quando da prestação de contas ao Ministério da Saúde, para alterar verdade juridicamente relevante: 18. O denunciado EVILACIO MIRANDA SILVA, na condição de gestor municipal de Rio de Contas, desviou R$ 9.518,08 do montante dos recursos públicos federais repassados pelo Ministério da Saúde no bojo do convênio nº 4.244/2004, em proveito da empresa INCONSEC LTDA. (CNPJ n 00.503.495/0001-71), então de propriedade de ROBERTO FERNANDEZ VEIGA e MAGDA FERNANDES PINTO VEIGA. 19. Em que pese a empresa INCONSEC LTDA. ter vencido a licitação nº 017/2005, a CGU constatou, em visita técnica realizada em 11.07.2007, que inúmeros serviços constantes da planilha apresentada pela empresa na ocasião da licitação não haviam sido executados. 20. Embora o acusado EVILÁCIO tivesse promovido o pagamento do valor integral do contrato (R$95.211,20) à INCONSEC LTDA., não houve a execução da obra de construção do posto em sua integralidade, haja vista que não foram prestados os serviços/obras correspondentes ao montante de R$9.518,08, consoante o levantamento técnico realizado pela CGU. 21. Vejamos abaixo tabela com os serviços não executados, bem como os seus respectivos impactos financeiros, que representam os valores indevidamente faturados contra a Prefeitura, em proveito da empresa: SERVIÇO NÃO EXECUTADO QUANTIDADE NÃO EXECUTADA PREÇO UNITÁRIO (R$) IMPACTO FINANCEIRO (R$) Impermeabilização Interna de 18,02 m² 69,70 271,92 Reservatório Disjuntor Monopolar 5 unidades 20,01 100,05 6/9

Termomagnético em quadro de distribuição Bancada de Mármore 8,60 m 41,66 358,28 Lajotão Colonial 33,35 m² 44,63 1.488,41 Soleira em Granito Natural 10,60 m 41,67 441,70 Barra de Apoio para Deficiente 5,20 m 49,03 254,96 Físico Grama em Tapete 52,00 m² 29,38 1.527,76 Portão de Ferro 2,00 x 2,00 m 2,00 m² 300,03 600,06 Cerca em Estacas de 54,00 m 25,78 1.392,12 Concreto e Arame Esmalte Sintético em 32,64 m² 15,89 518,65 Esquadrias de Ferro Cerâmica Interna 30x30 48,80 m² 30,09 1468,39 Pontos elétricos 17 unid. 7,1 120,7 Peitoril em Granito Natural 23,40 m 41,67 975,08 Total (R$) 9518,08 Valor da Obra (R$) 95211,2 % Não executado 10,00% 22. Nessa quadra, ao realizar o pagamento integral do valor do contrato, o acusado EVILÁCIO desviou dos cofres públicos o montante de R$9.518,08, em proveito alheio (INCONSEC LTDA. e MAGDA FERNANDES PINTO VEIGA, que efetivamente não prestou os serviços/obras correspondentes ao volume financeiro recebido). 23. Mas não é só. 24. Quando da prestação de contas junto ao Ministério da Saúde, ocorrida em 22.02.2007 (f. 36), EVILÁCIO, prevalecendo-se do seu cargo, encaminhou documentos nos quais declarou falsamente que as obras de construção da unidade de saúde do povoado de Umbuzeiro dos Santos teriam sido concluídas, estando tudo dentro das especificações exigidas e de acordo com o Plano de Trabalho (f. 47). Trata-se dos seguintes documentos: relatório de cumprimento do objeto (f. 37); relatório de execução físico-financeira (f. 38); e termo de aceitação definitiva da obra (f. 47). 25. Ao fazê-lo, esteve imbuído da intenção de alterar verdade juridicamente relevante (conclusão ou não das obras para as quais houve a transferência de recursos federais no bojo de convênio com o Ministério da Saúde), para ludibriar o Poder Público concedente. O denunciado tinha em mira tanto assegurar o desvio de recursos em favor da empresa que não concluíra os serviços em sua integralidade, quanto o intuito de esvair-se das responsabilidades 7/9

administrativas pela inexecução parcial do contrato administrativo e do convênio que lhe deu suporte. 26. Desse modo, EVILÁCIO MIRANDA SILVA desviou recursos públicos federais em favor da sociedade empresária INCONSEC, titularizada por MAGDA FERNANDES PINTO VEIGA (para cujo crime concorreu), por meio de pagamento por serviços não prestados, acarretando prejuízo de R$ 9.518,08, o que caracteriza o crime descrito no art. 1º, inciso I, do Decreto-Lei nº 201/67, mediante concurso de pessoas (art. 29 do Código Penal). 27. EVILÁCIO MIRANDA SILVA, ainda, ao inserir em documento público declaração falsa e diversa da que devia ser escrita, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, incorreu também nas penas do art. 299, caput e parágrafo único, do Código Penal. SÍNTESE DAS IMPUTAÇÕES TÍPICAS: 28. Numa síntese das imputações típicas atribuídas a EVILÁCIO MIRANDA SILVA, conclui-se que este, no exercício das funções de Prefeito Municipal de Rio de Contas, coordenou um esquema criminoso desenvolvido naquela municipalidade, tendo sido responsável pela prática de desvios de recursos públicos federais relativas à construção da unidade de saúde de Umbuzeiro dos Santos e adulteração de extratos bancários, com posterior utilização em sua prestação de contas. Além disso, atestou falsamente a conclusão das obras, tanto com o objetivo de assegurar o desvio de recursos em favor da empresa que não concluíra os serviços, quanto para esvair-se das responsabilidades pela inexecução parcial do contrato. As condutas por ele praticadas correspondem à figura típica do art. 1º, inciso I, do Decreto-Lei nº 201/1967 (duas vezes), do art. 297, 1º, c/c 304, do Código Penal (duas vezes), e do art. 299, caput e parágrafo único, do Código Penal. 29. ADEMIR DE OLIVEIRA PASSOS, advogado da Prefeitura, e o seu filho IGOR THIAGO DE SANTANA MOREIRA PASSOS, sócio da empresa EMCOSEL EMPREENDIMENTOS, CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA., praticaram o delito do art. 1º, inciso I, do Decreto-lei 201/67, tipo penal no qual 8/9

também incorreu MAGDA FERNANDES PINTO VEIGA, sócia da empresa INCONSEC LTDA. e beneficiária de montante desviado pelo ex-gestor municipal. 30. Ante o exposto, considerando as condutas criminosas praticadas pelos denunciados, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer: a) a autuação, registro e recebimento da presente denúncia; b) citação dos denunciados para responderem à acusação ou, não apresentada resposta no prazo legal, seja nomeado defensor dativo para oferecê-la, designando, ato contínuo, dia e hora para audiência única de instrução e julgamento, com a oitiva das testemunhas abaixo arroladas; c) ao final, a condenação de EVILÁCIO MIRANDA SILVA, ADEMIR DE OLIVEIRA PASSOS, IGOR THIAGO DE SANTANA MOREIRA PASSOS e MAGDA FERNANDES PINTO VEIGA, nas penas dos crimes imputados a cada um dos agentes, inclusive à reparação dos danos causados pelas infrações penais, na forma do art. 387, IV, do CPP. Guanambi, 17 de dezembro de 2014 Paulo Rubens Carvalho Marques PROCURADOR DA REPÚBLICA Vitor Souza Cunha PROCURADOR DA REPÚBLICA Rol de Testemunhas* *Dados foram retirados da peça. 9/9