UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS - DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO- SENSU GESTÃO DE ENTIDADES SEM FINS LUCRATIVOS 0 HELLIENE SOARES CARVALHO AS PRÁTICAS DA BOA GOVERNANÇA CORPORATIVA NAS EMPRESAS E OS REFLEXOS DESTAS AÇÕES NO TERCEIRO SETOR. VITÓRIA ES 2005
1 HELLIENE SOARES CARVALHO AS PRÁTICAS DA BOA GOVERNANÇA CORPORATIVA NAS EMPRESAS E OS REFLEXOS DESTA GESTÃO NO TERCEIRO SETOR. Trabalho de Conclusão de Curso Pós Graduação Lato-Sensu em Gestão de Entidades Sem Fins Lucrativos, apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Federal do Espírito Santo UFES. Orientador: Profº. Dr. Gilvan Ventura. VITÓRIA 2005
2 HELLIENE SOARES CARVALHO AS PRÁTICAS DA BOA GOVERNANÇA CORPORATIVA NAS EMPRESAS E OS REFLEXOS DESTA GESTÃO NO TERCEIRO SETOR. BANCA EXAMINADORA Orientador Profº. Dr. Gilvan ventura da SilvaVentura. Revisores: Profº. Dr Fernando José Arrigoni Profº. Dr Leopoldino Vieira neto Vitória de Maio de 2005.
3 Ao Professor Dr. Gilvan Ventura pelo apoio e dedicação para o alcance desta importante conquista.
4 No próximo século, à medida que as empresas forem criando um mundo sem fronteiras e de mercados globais, o foco se voltará para assegurar que o poder corporativo seja compatível com novos padrões de responsabilidade para com as pessoas e as sociedades. Monks, Robert; e Minow, Nell. Watching the watchers: Corporate Governance for the 21 st Century Oxford Blackwell, 1996.
5 AGRADECIMENTOS A DEUS pela força, disciplina, direção, companheirismo e sustentação nos momentos difíceis assim como pela alegria de tê-lo, em meu coração,como único, verdadeiro e iluminado Senhor, Amigo e Ajudador. À minha Mãe, querida e amada companheira que com seu exemplo de empresária, mãe, amiga, lutadora e mulher abençoada por DEUS transferiu-me grandes conhecimentos e força para o alcance de todas as importantes conquistas de minha vida. Aos familiares e colegas de trabalho pelo carinho de sempre. Ao namorado pelo apoio nesta jornada. Aos instrutores, Coordenador e demais membros da Equipe da Universidade Federal do Espírito Santo UFES, que tão brilhantemente nos trouxeram a chance de alargarmos nossos horizontes sobre as importantes missões pessoais, profissionais e humanas de construirmos um Terceiro Setor mais respeitável e digno em suas ações. Aos colegas de pós-graduação que em muito contribuíram para a formação e conhecimento de novos prismas, pensamentos e pelas experiências trazidas de suas vivencias práticas do Terceiro Setor compartilhadas em nossas aulas. Ao Presidente da FEAD Fundação Educacional Antônio Dadalto, que sempre apoiou as iniciativas importantes para o meu crescimento pessoal e profissional. Ao Vice-presidente e demais Diretores que também incentivam as jornadas que tragam crescimento para a equipe da FEAD. Em especial ao meu Orientador Professor Gilvan Ventura pela atenção e direcionamento na escolha de temas, apresentação e composição deste trabalho.
6 SUMARIO INTRODUÇÃO... 9 1. TERCEIRO SETOR UMA VISÃO CONCEITUAL... 11 1.1 FORMA ORGANIZACIONAL DAS ENTIDADES DO TERCEIRO SETOR... 13 1.2 UMA BREVE PERSPECTIVA HISTÓRICA SOBRE O TERCEIRO SETOR... 16 1.3.CICLOS DE EVOLUÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS.. 20 2. GOVERNANÇA CORPORATIVA NAS EMPRESAS... 23 2.1 A DIVERSIDADE DE CONCEITOS... 25 2.2 GOVERNANÇA CORPORATIVA ABORDAGENS ALTERNATIVAS... 28 2.3 OS TRÊS MARCOS HISTÓRICOS DA GOVERNANÇA CORPORATIVA MUNDIAL... 31 3. GOVERNANÇA CORPORATIVA NO BRASIL... 34 3.1 AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS DE GOVERNANÇA NO BRASIL: CONVERGÊNCIA, ADESÃO, DIFERENCIAÇÃO E ABRANGÊNCIA.... 36 4. A INFLUÊNCIA DA GOVERNANÇA CORPORATIVA NO TERCEIRO SETOR...39 5. CONCLUSÃO... 42 6. BIBLIOGRAFIA... 45
7 RESUMO Neste trabalho dedica-se a conhecer e relatar alguns dados sobre as práticas da boa governança corporativa nas empresas e os reflexos desta gestão nas entidades do Terceiro Setor. Sobre o Terceiro Setor uma breve conceituação sobre a evolução deste Setor no Brasil e as principais mudanças que influenciaram seu desenvolvimento no Brasil. Em relação a Governança Corporativa o trabalho relata textos de alguns mestres e pensadores, marcos históricos, este conceito e suas influências mundiais trazendo o foco dos relatos para uma perspectiva no mercado brasileiro empresarial e a interrelação entre a Governança Corporativa e os reflexos deste processo de gestão empresarial nas Entidades do Terceiro Setor. O objetivo central está direcionado para uma amostragem conceitual de que o processo de gestão com base nos conceitos de Governança Corporativa traz soluções eficientes e inovadoras tanto para as corporações, pois não se desvia dos objetivos de lucro, crescimento e desenvolvimento, assim como beneficia as entidades do Terceiro Setor pois torna as ações empreendidas por este setor em ativos sociais de relevante importância para a sociedade assim como agrega valores aos ativos das corporações a exemplo do ágio de governança para o valor das ações que comprovam, de forma eficaz e satisfatória sua responsabilidade corporativa. No desenvolvimento deste trabalho o foco inicial, tratado no primeiro capítulo, será sobre uma visão global direcionada para a visão conceitual do que é o Terceiro Setor, sua influência na sociedade civil organizada, sua preconização histórica. O segundo Capítulo trata também da visão conceitual do que é Governança Corporativa, sua importância como ferramenta de gestão e as vantagens que podem ser alcançadas pela empresa se estes conceitos forem aplicados e desenvolvidos
por seus gestores em parceria com colaboradores, investidores, fornecedores e demais interessados em se tratando da esfera de ambientação da empresa. 8 No capítulo três vamos conhecer as performances das Ferramentas de Gestão oferecidas pela Governança já adaptadas ao mercado Brasileiro e suas expectativas de crescimento e expansão. O quarto e último capítulo há considerações atuais sobre os ativos financeiros e sociais que a governança corporativa trouxe para o terceiro setor no panorama financeiro do Brasil. Este trabalho está constituído em forma de estudo do estado da questão e traz relatos interessantes sobre as práticas da boa governança corporativa nas empresas e os reflexos desta gestão no Terceiro Setor
9 INTRODUÇÃO As demandas sociais existem é uma realidade a ser enfrentada com a máxima urgência por todos os países do mundo. Em parcelas diferenciadas e conflitos eqüidistantes, cada nação enfrenta um desequilíbrio social ora exagerado, ora moderado, mais sempre demandando ações que possam diminuir a POBREZA Hoje uma questão inadiável. São milhões de pessoas que dependem de ações concretas, políticas públicas eficientes, eficazes e inovadoras para a construção de uma nova ordem social com parâmetros melhor definidos sobre saúde, saneamento básico, alimentação, educação, etc. Para alcançarmos estes patamares toda a ajuda, ferramentas, experiências e experimentações, assim como possíveis soluções precisam ser pensadas, discutidas, adaptadas e empregadas. O ideal é a conciliação entre interesses e grupos interessados tais como governo, iniciativa privada e o terceiro setor para que soluções sejam pensadas e trabalhadas em prol da construção de uma sociedade mais justa e equilibrada para melhor atender às demandas da sociedade em geral. Dentre as soluções mais modernas e de resultados comprovados, apontados por estudiosos e especialistas em gestão, está a Governança Corporativa que em si soma a união de interesses dos acionistas das corporações e os grupos de interesse diretamente ligados a estas empresas. É importante pontuar que este sistema organizacional abrange processos de gestão de responsabilidade social, responsabilidade corporativa e contempla ainda, a necessidade de subsistência, crescimento e geração de lucro das incorporações. É um processo de gestão muito interessante do ponto de vista teórico.
Logicamente não são os fatores teóricos que exclusivamente constroem as boas práticas de governança corporativa. 10 A ciência necessita ser trabalhada por mãos humanas e estas têm os mais diversos interesses, entendimentos e paradigmas para interagir com este sistema de gestão. Ou melhor, esta forma de gestão atende aos diversos interesses porque apresenta vantagens para as empresas agregando valores a seus ativos financeiros, além de apoiar iniciativas sociais que contribuem para a execução das ações sociais empreendidas pelo terceiro setor. A tendência destas proposições caminha a partir da premissa de beneficência ou filantropia casual das corporações para o emprego de técnicas profissionais de transparência, de compromissos sociais da empresa com seus consumidores, fornecedores, trazendo resultados financeiros e ágios de governança para os ativos da empresa, buscando, ainda envolver fornecedores com credenciais e certificações como a S.A 8000 ( Social Acountability), além de apoio, financiamento e gestão compartilhada para as Entidades do Terceiro Setor.
11 1. TERCEIRO SETOR UMA VISÃO CONCEITUAL Quando é que uma sociedade progride? A pergunta parece óbvia. No entanto, durante muito tempo foram confundidos indicadores abstratos, que escondem desigualdades, com bem-estar das pessoas. Existe progresso quando as condições de vida das pessoas melhoram, quando se avança no Desenvolvimento Humano. FERNANDO ZUMBADO Diretor para a América Latina e Caribe do programa das Nações Unidas para o desenvolvimento - 1994 O Terceiro Setor traz em sua trajetória o conhecido desejo humano de ajuda ao próximo sem que, necessariamente, se exija deste próximo algo em troca a não ser benefícios como a confraternização, o amor, a integração social, etc. A palavra caridade tem origem latina caritas e significa o amor ao próximo. Outros similares também trazem o significado de boa vontade para com os outros, a exemplo: filantropia, de origem grega. Enquanto a sociedade era organizada em pequenos nichos, tribos ou clãs, este tipo de apoio mútuo era bastante eficaz na resolução das demandas sociais existentes nesta época. Com o passar do tempo as famílias foram se dissipando, imigrando, formando grupos maiores e as formas de convivência geraram novos e mais difíceis desafios sociais.
Há relatos históricos importantes a serem analisados tais como a forma de organização social da primeira civilização conhecida - Mesopotâmia e também sobre os egípcios que desenvolveram um severo código moral de convivência com base na justiça social. Este código encorajou as pessoas a ajudarem os outros em suas necessidades. 12 Na índia antiga, o imperador Budista Asoka (aproximadamente 274-232 a.c.) proporcionou instalações médicas e também realizou medidas preventivas para a proteção do meio ambiente. Os gregos, nos primórdios de sua civilização, ofereciam abrigo e comida aos viajantes que por suas cidades estavam de passagem, entre outros tantos exemplos. O ser humano tem em si a necessidade de fraternidade embora esta tarefa seja bastante abrangente quando as demandas sociais estão muito além do controle exercido pela sociedade e pelo governo. Os conflitos gerados pelo desequilíbrio social, má distribuição de renda, fome, miséria, analfabetismo, desinformação e exclusão social não são de simples resolução. As soluções precisam ser estudadas e cenários diferenciados precisam ser construídos para a busca de soluções que possibilitem a construção de uma nova ordem social mundial. Estas questões e conflitos também estão presentes nas organizações sem fins lucrativos que têm a sua fundamentação descrita na necessidade de suprir as demandas sociais não resolvidas no seio da sociedade. Enfatizando o tema, Drucker ( 2001,p.15) mostra que: [...] As instituições do terceiro setor são o grande sucesso corporativo nos últimos 50 anos. Elas são essenciais à qualidade de vida, à cidadania e, na verdade, trazem consigo os valores e a tradição da sociedade como um todo. A pressão por um serviço comunitário eficaz só aumentará, conforme a
13 sociedade atravessa um período de acentuada transformação. A partir de uma necessidade de envolvimento pessoal, o número de voluntários também aumentará. A organização do terceiro setor está se tornando rapidamente o novo centro de ação social, de compromisso ativo e de contribuição significativa. [...] [...] O século XXl é um período de mudanças agudas. As pessoas nascidas há 50 anos não conseguem imaginar o mundo no qual seus próprios avós nasceram. A sociedade está reorganizando sua visão de mundo, seus valores básicos, sua estrutura social e política, suas artes, suas principais instituições. As organizações do terceiro setor serão ainda mais importantes nas próximas décadas, conforme as necessidades aumentam. [...] 1.1 FORMA ORGANIZACIONAL DAS ENTIDADES DO TERCEIRO SETOR As organizações do Terceiro Setor, que tem a possibilidade de instituir sua forma de organização, prestação de contas e política de atuação encontram, historicamente complexos dilemas organizacionais. Na história das civilizações existem alguns exemplos de instituições que trabalharam com estas situações de risco social, conforme citação abaixo. Hudson ( 2004,p.2) nos apresenta que : [...] Os mosteiros medievais britânicos tendiam a distribuir donativos indiscriminadamente. Conseqüentemente, fomentavam uma classe de mendigos profissionais que acabou contribuindo para a derrocada desse sistema de ajuda. Problemas similares ocorreram quando hospitais destinados a pobres foram colocados a serviço de ricos. A questão de testar os recursos demonstra claramente que essas questões preocupavam as organizações antigas assim como preocupa as instituições de caridade modernas.
14 Discussões sobre papeis conflitantes entre o setor público e o setor da filantropia foram tumultuadas durante século XVI, quando Henrique VIII e Eduardo VI confiscaram hospitais e propriedades de associações. Na época, a Reforma minou o sistema de bem-estar social centrado na igreja e a lacuna foi preenchida por uma interferência maior do Estado por meio do aumento de impostos. Esse processo incluiu dinheiro doado a instituições de caridade, hospitais, universidades e esquemas de empréstimos para ajudar as pessoas começarem um negócio próprio, assim como o capital para construção de pontes e reparo de estradas. De fato o papel do Estado era uma questão de discussão na época tanto quanto é hoje. Por exemplo, em 1572, Elizabeth I aprovou uma lei que permita às paróquias importarem uma taxa de pobreza para ajudar na manutenção de instituições de caridade e dos locais de trabalho, subsidiando efetivamente a provisão caritativa com dinheiro público.[...] Ainda citando Hudson ( 2004,p.21) : [...] Este setor consiste em organizações cujos objetivos principais são sociais, em vez de econômicos. A essência do setor engloba instituições de caridade, organizações religiosas, entidades voltadas para as artes, organizações comunitárias, sindicatos, associações profissionais e outras organizações voluntárias. O termo Terceiro Setor diferencia essas organizações do setor privado e do setor público. O traço comum que une todas essas organizações é que são orientadas por valores: são criadas e mantidas por pessoas que acreditam que mudanças são necessárias e que desejam, elas mesmas, tomar providencias nesse sentido. [...] Essas organizações tem duas características principais. Ao contrário de organizações do setor privado. Não distribuem lucros a seus proprietários e, diferente das organizações do setor público, não estão sujeitas a controle político direto. Essas organizações têm independência para determinar seu próprio futuro. [...] Continua Mike Hudson, em sua obra supramencionada, falando sobre a importância da administração nas organizações sem fins lucrativos, conforme exarado na página 13 da referida obra:
15 [...] Entretanto, administração é igualmente importante para o sucesso dessas organizações. Até a metade da década de 70, administração não era uma palavra muito usada pelas pessoas ao referirem-se a organizações do terceiro setor. A administração era vista como parte da cultura do mundo dos negócios e não parecia ser apropriada para organizações orientadas por outros valores. O grande crescimento e a abordagem cada vez mais profissional dessas organizações mudaram completamente esse ponto de vista. Hoje em dia, a administração está sendo adaptada para organizações orientadas por valores. Sua linguagem e seus conceitos estão começando a brotar da língua das pessoas tão eloqüentemente quanto os discursos sobre a causa. [...] Tais informações são demonstradas, dentro de uma visão otimista e também pessimista, sobre a tendência para as modificações nas estruturas organizacionais do terceiro setor. Conforme Ancona-Lopes (2001, p.09), é possível observar que: [...] Há mais de três décadas sociólogos e pesquisadores de megatendências apontam modificações nas estruturas das organizações sociais de trabalho. Anunciam a auto dissolução da sociedade industrial e das instituições paternalistas. O discurso de alguns destes cientistas, grande parte das vezes, vem carregado de um tom pessimista que salienta o aumento do desemprego, o encerramento dos benefícios trabalhistas e a falta de segurança e garantia das condições de trabalho. Tais modificações refletiriam individualmente na quebra de projetos de vida que prometem uma velhice tranqüila e protegida após anos de atividade junto a alguma empresa de bom porte cuja imagem assume características de perenidade. O rompimento de projeções alimentadas social e individualmente por gerações gera crises individuais e familiares, marcadas pela perda dos significados antes atribuídos aos atos do cotidiano com a conseqüente desestrutura das relações, desânimos e depressões ou violências e agressões gratuitas e generalizadas, patologias essas características de nossa época.[...]
Mas, em contrapartida, no mesmo volume supramencionado (2001, p.09), estão demonstradas visões mais otimistas para o surgimento de novos paradigmas para os rumos das estruturas organizacionais do Terceiro Setor, a saber: 16 Outras falas, no entanto mais otimistas, dizem dos benefícios das mudanças sociais. Apontam o surgimento de um novo paradigma, ou seja, de novos valores e pressupostos que constituem o modo de ser e de compreender o mundo e suas relações. [...] É esse outro paradigma que permite afirmar que vivemos, hoje, em uma sociedade pós-industrial. Nela emergem novas formas de organização do trabalho que atravessem as vidas pessoais e, de modo inicialmente sutil, vão alterando rotinas e cotidianos. Modos de viver que vão se instalando no dia-a-dia e que são objeto de estudo dos cientistas sociais. É nesse sentido que as falas mais otimistas oferecem esperança e apontam para um novo futuro, possibilitando a cada pessoa a reorganização de seus planos e projetos e a criação de uma nova rede de significados para a sua existência. [...] 1.2 UMA BREVE PERSPECTIVA HISTÓRICA SOBRE O TERCEIRO SETOR O Terceiro Setor hoje está muito bem representado pelas organizações não governamentais, sem fins lucrativos, que trabalham para o bem social. A consultora Tanya Linda Rothgiesser 1,muito bem evidencia as fases e a evolução histórica do Terceiro Setor no Brasil: Terceiro Setor: iniciativas privadas que não visam ao lucro, iniciativas na esfera pública que não são feitas pelo Estado. Nem empresa nem governo, cidadãos participando, de modo espontâneo e voluntário, em um sem-número de ações que visam ao interesse comum: ONGs, organizações comunitárias, entidades beneficentes, braços sociais de empresas, como fundações e institutos, e outras organizações que nascem na Sociedade Civil. E que nos fazem pensar em uma nova experiência de democracia tecida no cotidiano, através de um novo padrão de atuação. 1 Tanya Linda Rothgiesser, Administradora de Empresas pela Universidade Cândido Mendes, Analista de Organização & Métodos Furnas Centrais Elétricas, Construtora Norberto Odebrecht e Rede Globo de Televisão, em texto publicado na Internet, através de seu Site: http://www.terceirosetor.adm.br/ts_asociedadecivil.htm, na data de Data 07 de janeiro de 2005-02-06.
17 Um fenômeno de dimensões globais e fator potencial de democratização nas relações sociais. Emergência de tal relevância, que se pode falar de uma virtual revolução a implicar mudanças gerais nos modos de agir e pensar. Alguns dados conceituais são importantes para que o Terceiro Setor seja mais facilmente entendido quanto a sua atuação, conforme demonstrado na segunda parte do texto supramencionado: [...] A expressão Sociedade Civil saiu dos livros de história européia e começou, efetivamente, a penetrar o vocabulário dos ativistas sociais latino-americanos apenas ao final dos anos 70. Após estudos nas principais bibliotecas do Rio de Janeiro, a pesquisadora Leilah Landim, do Instituto Superior de Estudos da Religião (Iser) relata que os fichários, em 1993, organizados por assunto, não incluíam palavras como filantropia, não-governamental, sem fins lucrativos, fundações ou voluntário. Entretanto, uma longa lista de títulos poderia ser encontrada sob a categoria caridade e serviço social, este último quase sempre ligado a programas governamentais. Não se pretende que a vida associativa autônoma seja um fenômeno novo. A novidade estaria nos números - em expansão geométrica - e nos padrões de relacionamento. Mais do que a informações e idéias referenciadas ao Terceiro Setor, números e padrões nos remetem, sobretudo, a acontecimentos das últimas duas décadas. Rigorosamente não se fez, ainda, uma história. A filantropia sim, marca em termos de Brasil uma antecedência lógica e histórica. Não é um fenômeno recente. Remonta à colonização portuguesa; ao domínio da Igreja Católica até o século XIX; ao Estado Novo de Vargas; e mantêm-se vigorosa ao longo da ditadura militar brasileira. Se fortalece e expande, vinculada a ações de defesa da cidadania, nos movimentos sociais da década de 70 e nos anos 80 - já agora inserida no segmento mais amplo do Terceiro Setor. [...]
Para melhor compreensão dos acontecimentos que nortearam, historicamente, as transformações do Terceiro Setor no Brasil, a Professora Tanya Linda Rothgiesser 2, apresenta em estudo definido em seis fases os principais acontecimentos: 18 1ª fase - Império até a Iª República: Data de 1543, a primeira entidade do país criada para atender desamparados, a Irmandade da Misericórdia, instalada na Capitania de São Vicente. O Brasil era constitucionalmente vinculado à Igreja Católica e a utilização dos recursos, principalmente os privados, passavam por seu crivo. Era a época das Ordens Terceiras, das Santas Casas, das Benemerências atuando, principalmente, nas áreas de saúde e previdência. A rigor, o que o Estado não provia, os líderes das principais comunidades portuguesas e espanholas de imigrantes proviam. Com esmolas se constituíam pequenos dotes para órfãos e se compravam caixões para os pobres. Beneditinos, franciscanos e carmelitas, assim como a Santa Casa, foram exemplos expressivos da ação social das ordens religiosas predominantes. Vinculam-se às ações sociais desenvolvidas, à época, expressões tais como mutualismo, benemerência e outras ainda hoje utilizadas, tais como, assistencialismo, caridade etc. A fase de 1930 a 1960 traz como ícone a industrialização. O Presidente Getúlio Vargas editou em 1935 a primeira lei brasileira que regulamentava as regras para a declaração de Utilidade Pública Federal. Em 1938, formalizou-se a relação do Estado com a assistência social com a criação do Conselho Nacional do Serviço Social. Já nos idos de 1960 a 1970, a presença da ditadura militar bloqueava a participação popular na esfera pública, micro-iniciativas na base da sociedade foram inventando novos espaços de liberdade e reivindicação. A partir dos anos 70, multiplicam-se as ONGs. Com o fortalecimento da sociedade civil, o Brasil dava início à transição de uma ditadura militar para um regime democrático. 2 Tanya Linda Rothgiesser, Administradora de Empresas pela Universidade Cândido Mendes, Analista de Organização & Métodos Furnas Centrais Elétricas, Construtora Norberto Odebrecht e Rede Globo de Televisão, em texto Publicado na Internet, através de seu Site: http://www.terceirosetor.adm.br/ts_asociedadecivil.htm, na data de Data 07 de janeiro de 2005-02-06.
19 Nos anos 90 surge um novo padrão de relacionamento entre os três setores da sociedade. O Estado começa a reconhecer que as organizações não governamentais têm um diferencial importante a oferecer: elas acumularam um capital de recursos, experiências e conhecimentos, sob formas inovadoras de enfrentamento das questões sociais, que as qualificam como parceiros e interlocutores das políticas governamentais. Marcam-se, portanto, nesse período, as palavras parceria, cidadania corporativa, responsabilidade social, investimento social privado. Formas de expressão deste novo movimento de encontro dos três setores da economia brasileira. Com propriedade, a Consultora Tanya Linda Rothgiesser 3 relata de forma resumida a história dos anos 90 sob o enfoque social: [...] Amplia-se, fortemente, o conceito de Terceiro Setor: para além do círculo das ONGs, valorizam-se outros atores sociais como as fundações e institutos (os braços sociais das empresas), as associações beneficentes e recreativas, também as iniciativas assistenciais das igrejas e o trabalho voluntário de maneira geral. A ampliação das áreas de convergência não implicando no apagamento das diferenças entre os setores. Ao contrário, por serem diferentes, canalizando recursos e competências específicas e complementares. Cria-se, no governo de Fernando Henrique Cardoso, o Programa Comunidade Solidária com o propósito de articular trabalhos sociais em vários ministérios. E, em 1998, é regulamentada a Lei do Voluntariado. A ONU - Organização das Nações Unidas decreta 2001 como o "Ano Internacional do Voluntário". Acontecem, no Brasil, o I e II Fórum Social Mundial, implementadores de idéias alternativas de ação econômica e social. Promove-se o desenvolvimento social a partir do incentivo a projetos auto-sustentáveis - em oposição às tradicionais práticas de caráter assistencialista geradoras de dependência - e em propostas de superação de padrões injustos de desigualdade social e econômica. [...] (Grifos adicionados) 3 Tanya Linda Rothgiesser, Administradora de Empresas pela Universidade Cândido Mendes, Analista de Organização & Métodos Furnas Centrais Elétricas, Construtora Norberto Odebrecht e Rede Globo de Televisão, em texto publicado na Internet, através de seu Site: http://www.terceirosetor.adm.br/ts_asociedadecivil.htm, na data de Data 07 de janeiro de 2005-02-06.
1.3.CICLOS DE EVOLUÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS 20 A administração das organizações sem fins lucrativos, quanto ao aspecto evolução, compreende diferentes estágios. Este conceito sobre o desenvolvimento das organizações através de estágios foi aludido, inicialmente, há cerca de 20 anos num artigo da Harvard Business Review, intitulado Evolução e Revolução nas Organizações. Este conceito evidencia o principio de que nas organizações, períodos uniformes de crescimento evolutivo e desenvolvimento são seguidos de períodos de desenvolvimento revolucionário. É lógico que a idéia de um ciclo perfeito de evolução não pode ser comum a todas as organizações do terceiro setor até porque o componente humano, através das decisões dos conselhos, dos líderes em tempos diferentes é que vão conduzir seus padrões de comportamento, missões, etc. Mas este estudo é interessante porque a pesquisa sobre as entidades sem fins lucrativos, nos últimos quinze anos, mostra que a idéia do ciclo de evolução pode ser uma ferramenta importante para o estudo de questões comuns no enfrentamento de contextos amplos vivenciados pelas entidades, numa visão global por exemplo, de providencias que precisam ser adotadas para ajudar a organização a progredir na direção de sua próxima fase de desenvolvimento. O processo de evolução é importante para que possamos estabelecer um liame entre as fases de evolução da organização e as vantagens oferecidas como ferramentas neste processo através do conceito e prática da Governança Corporativa. É oportuno salientar que o conceito apresentado estabelece uma visão ampla sobre cada fase e que características individualizadas ao se estabelecer este estudo sobre uma única organização ou sobre esta e sua rede de apoiadores, stakeholders, etc., poderá apresentar mais detalhamentos em cada fase estudada.
Alguns aspectos são importantes neste processo. Pontuados os detalhes estratégicos de cada fase, é possível visualizar melhor a transição de cada fase. 21 Na primeira fase o fundador é vital para o desenvolvimento da organização. Ele tem a visão geral de objetivos, o carisma para que a entidade possa definir suas estratégias de atuação em busca da realização da missão a que se predestina esta organização. Normalmente estes líderes são persistentes em suas metas e não querem ser vencidos pelos obstáculos interpostos em suas trajetórias. O lado desfavorável desta liderança está na dificuldade de delegação, a postura de não dividir opiniões, consensos e informações para a busca da capacitação da equipe de colaboradores, etc. Durante a juventude, o líder normalmente, envolvido em outras questões ou mesmo as novas lideranças insurgidas trazem um perfil diferenciado e os novos colaboradores desenham um cenário diferenciado do modelo de gestão da entidade em sua fase de nascimento. Novas experimentações criam a necessidade de aperfeiçoar o planejamento, de formalizar processos de tomada de decisões, de criar melhores sistemas de informações e de uma administração mais estruturada. Por fim as organizações acabam entrando na fase adulta, muitas vezes após uma mudança de liderança. Nesta fase o ideal seria que as organizações separassem governo e administração, estabelecessem missão e estratégias claras, sistemas de tomadas de decisões eficientes, capacitação e qualificação profissional voltadas para o melhor desenvolvimento e produção dos colaboradores da entidade. É importante lembrar, ainda, que há retrocessos. Algumas entidades voltam ao estágio da juventude e, mais tarde, já retornando para a fase adulta, precisam trabalhar seus pontos frágeis para que se mantenham neste estágio. Quando as organizações atingem a maturidade, o ideal é que as causas: missão e objetivos estejam bem definidos para que a organização possa estar centrada em