ETAPAS DO PROCESSO VIVENCIADO NA IMPLANTAÇÃO DA CLASSE HOSPITALAR SEMEAR-RECIFE



Documentos relacionados
PEDAGOGIA HOSPITALAR: as politícas públicas que norteiam à implementação das classes hospitalares.

INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 04/2008

A construção da. Base Nacional Comum. para garantir. Direitos e Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

Anexo II CARGOS DE DCA

Orientações para informação das turmas do Programa Mais Educação/Ensino Médio Inovador

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

PRÁTICA PROFISSIONAL INTEGRADA: Uma estratégia de integração curricular

Escola Superior de Ciências Sociais ESCS

AS NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS E A INCLUSÃO

QUESTIONÁRIO DE SONDAGEM DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO VIÇOSA/ALAGOAS PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGCIO

REGULAMENTO CURSO DESCENTRALIZADO

ANEXO I DESCRIÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DOS CARGOS TABELA A ATRIBUIÇÕES DO CARGO PROFESSOR E PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA 20 HORAS

Instrumento para revisão do Projeto Político Pedagógico

Estado da Arte: Diálogos entre a Educação Física e a Psicologia

2.5 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

UNIVERSIDADE DO PLANALTO CATARINENSE UNIPLAC PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E PÓS-GRADUAÇÃO COORDENAÇÃO DE EXTENSÃO E APOIO COMUNITÁRIO

NÚCLEO DE APOIO DIDÁTICO E METODOLÓGICO (NADIME)

É projeto porque reúne propostas de ação concreta a executar durante determinado período de tempo. É político por considerar a escola como um espaço

A EDUCAÇÃO FÍSICA NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE PONTA GROSSA/PR: ANÁLISE DO ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO DAS AULAS

O ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS: CONTRIBUIÇÕES PARA UM DEBATE

MATRIZES CURRICULARES MUNICIPAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA - MATEMÁTICA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA EM MOGI DAS CRUZES

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Orientações para a elaboração do projeto escolar

GUIA DE SUGESTÕES DE AÇÕES PARA IMPLEMENTAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DO PROGRAMA DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

HISTÓRICO DAS AVALIAÇÕES INSTITUCIONAIS E DOS PROCESSOS DE AVALIAÇÃO DA FACULDADE ATENAS

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

PROJETO ESCOLA DE APOIO A CRIANÇA COM CÂNCER. Denise Soares de Almeida (Pedagoga)

CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE NIVELAMENTO (PIN) DA FACULDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS DE UBERABA UBERABA 2012

Planejamento Estratégico

Sistema de Educação a Distância Publica no Brasil UAB- Universidade Aberta do Brasil. Fernando Jose Spanhol, Dr

Resgate histórico do processo de construção da Educação Profissional integrada ao Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA)

REGULAMENTO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO DO CURSO DE LICENCIATURA EM FÍSICA

Plano de Ação. Colégio Estadual Ana Teixeira. Caculé - Bahia Abril, 2009.

DEMOCRÁTICA NO ENSINO PÚBLICO

CURSO: LICENCIATURA DA MATEMÁTICA DISCIPLINA: PRÁTICA DE ENSINO 4

Faculdade de Alta Floresta - FAF REGULAMENTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSO DE PEDAGOGIA DA FACULDADE DE ALTA FLORESTA - FAF

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS E HUMANAS DE ANÁPOLIS

PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DE BIBLIOTECAS ESCOLARES NA CIDADE DE GOIÂNIA

COORDENADORA: Profa. Herica Maria Castro dos Santos Paixão. Mestre em Letras (Literatura, Artes e Cultura Regional)

Projeto Político-Pedagógico Estudo técnico de seus pressupostos, paradigma e propostas

REGULAMENTO NÚCLEO DE APOIO PEDAGÓGICO/PSICOPEDAGÓGICO NAP/NAPP. Do Núcleo de Apoio Pedagógico/Psicopedagógico

RELATÓRIO DE TRABALHO DOCENTE SETEMBRO DE 2012 EREM LUIZ DELGADO

PLANO DE AÇÃO

(Anexo II) DESCRIÇÃO ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO


Profissionais de Alta Performance

Campus de Franca TÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

REGULAMENTO ESTÁGIO SUPERVISIONADO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA FACULDADE DE APUCARANA FAP

A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DE MATEMÁTICA E FÍSICA NO ENEM: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PRÉ- UNIVERSITÁRIO DA UFPB LITORAL NORTE

V Seminário de Metodologia de Ensino de Educação Física da FEUSP Relato de Experiência INSERINDO A EDUCAÇÃO INFANTIL NO CONTEXTO COPA DO MUNDO.

Prefeitura Municipal de Santos

Cartilha Informativa um direito da criança e do adolescente

Projeto de Gestão Compartilhada para o Programa TV Escola. Projeto Básico

CONSELHO DE CLASSE DICIONÁRIO

Prioridades para o PA 2014 Comunidade Externa. Câmpus Restinga Junho, Desenvolvimento Institucional

PROJETO DE LEI N O, DE 2004

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

SAÚDE E EDUCAÇÃO INFANTIL Uma análise sobre as práticas pedagógicas nas escolas.

Srs Diretores, Coordenadores Pedagógicos e Professores

Projeto. Supervisão. Escolar. Adriana Bührer Taques Strassacapa Margarete Zornita

ANÁLISE DOS ASPECTOS TEÓRICO METODOLÓGICOS DO CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE CONSELHEIROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO

Diretrizes: 1. Cumprir as metas do Compromisso Todos Pela Educação- TPE

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 2606 PARA CONTRATAÇÃO DE PESSOA FÍSICA PROCESSO DE SELEÇÃO - EDITAL Nº

PROGRAMA ULBRASOL. Palavras-chave: assistência social, extensão, trabalho comunitário.

Desafios da EJA: flexibilidade, diversidade e profissionalização PNLD 2014

EDITAL nº 04, de 06 de janeiro de 2015

Mostra de Projetos Projovem em Ação

CME BOA VISTA ESTADO DE RORAIMA PREFEITURA MUNIPAL DE BOA VISTA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

MANUAL DE ESTÁGIO Licenciaturas em: - Geografia - História - Informática - Letras

ESCOLA SUPERIOR DE CIENCIAS DA SAUDE COORDENAÇÃO DE PÓS GRADUAÇÃO E EXTENSÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A IMPORTÂNCIA DOS FUNCIONÁRIOS NO PROCESSO EDUCATIVO NAS ESCOLAS

REGULAMENTO DO PROGRAMA DE RESPONSABILIDADE SOCIAL

Programa de Educação Dinâmica Progressiva PEDP

DOCUMENTO TÉCNICO DO PROJETO

PREFEITURA MUNICIPAL DE BARRA DO JACARÉ ESTADO DO PARANÁ

CARGO: PROFESSOR Síntese de Deveres: Exemplo de Atribuições: Condições de Trabalho: Requisitos para preenchimento do cargo: b.1) -

Mostra de Projetos Terceira Idade e Movimento

CAPÍTULO I Das Disposições Preliminares

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, ALFABETIZAÇÃO, DIVERSIDADE E INCLUSÃO DIRETORIA DE POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO ESPECIAL

EDUCAÇÃO ESPECIAL. Estratégias

NÚCLEO DE APOIO AO ACADÊMICO Projeto de Funcionamento

QUALIFICAÇÃO DA ÁREA DE ENSINO E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: FORMAÇÃO PEDAGÓGICA PARA PROFISSIONAIS DE SERVIÇOS DE SAÚDE

O ORIENTADOR FRENTE À INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIENCIA NA ESCOLA REGULAR DE ENSINO

Dimensão 1 - Organização Didático-Pedagógica do Curso

AÇÕES DE EXTENSÃO E CUTURA 2010 UNIDADE: FOP ÁREA TEMÁTICA: EDUCAÇÃO REPRESENTANTE: CLEIDE RODRIGUES

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UMA BARREIRA ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA

ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO

SISTEMA DE AVALIAÇÃO DO PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM. Coerência do sistema de avaliação

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais/ NÚCLEO DE APOIO À INCLUSÃO DO ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS

PROJETO. A inserção das Famílias no CAMP

ESTADO DE MATO GROSSO SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO PORTARIA Nº 586/10/GS/SEDUC/MT

CUIDAR, EDUCAR E BRINCAR: REFLETINDO SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

TERMO DE REFERÊNCIA (TOR)

MANUAL ATRIBUIÇÕES E ROTINAS PSICOLOGIA HOSPITALAR

PLANO DE EDUCAÇÃO DA CIDADE DE SÃO PAULO: processo, participação e desafios. Seminário dos/as Trabalhadores/as da Educação Sindsep 24/09/2015

Documento orientador de um curso que traduz as políticas acadêmicas institucionais

DOCUMENTO ORIENTADOR DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE FLORIANÓPOLIS

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO FACIHUS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Educação de qualidade ao seu alcance SUBPROJETO: PEDAGOGIA

Transcrição:

ETAPAS DO PROCESSO VIVENCIADO NA IMPLANTAÇÃO DA CLASSE HOSPITALAR SEMEAR-RECIFE Resumo Cristiane Rose de Lima Pedrosa 1 - PCR/ GAC-PE Grupo de trabalho: Educação, Saúde e Pedagogia hospitalar Agências Financiadoras: Prefeitura de Recife e Instituto Ronald McDonald O presente documento apresenta as etapas da implantação da Classe Hospitalar Semear em Recife - Pernambuco, modalidade de ensino inexistente até então no estado, a produção de instrumentos e a metodologia a serem utilizados nesta classe. A construção dessa modalidade de ensino aconteceu seguindo um contexto cíclico com diversas ações executadas simultaneamente. Foi iniciada pelo Grupo de Ajuda à Criança Carente com Câncer de Pernambuco, responsável pela implementação do Projeto Girassol, aprovado com aporte financeiro do Instituto Ronald McDonald, que promoveu a parceria com o poder público para que o mesmo pudesse garantir o acesso à educação dos pacientes internados em idade escolar (anos iniciais) em tratamento de câncer assegurando a continuidade da escolaridade desses estudantes. Foi identificado que os pacientes em sua grande maioria provinham de municípios e/ou estados distantes de Recife, e durante o tratamento precisavam passar longos períodos internados, ocasionando a ausência da escola e prejuízos na aprendizagem. O projeto em sua concepção propunha um espaço com atividades pedagógicas para atender aos estudantes hospitalizados, contudo se transformou em política da Secretaria Municipal de Educação de Recife, que implementou mais que um espaço pedagógico e algumas atividades, assegurou de forma contínua, o direito à escolarização, através da implantação, da inauguração da classe hospitalar e do desenvolvimento diário da ação pedagógica com suas características e especificidades garantidas pela legislação nacional. Favorecendo os alunos em estado de adoecimento internados nesta Unidade de Saúde, que tiveram suas vidas escolares momentaneamente interrompidas assegurando o direito à saúde e à educação, com igualdade de condições de estudo e permanência na escola, contribuindo ainda para a manutenção da auto-estima, dos vínculos afetivos e cognitivos dos estudantes/ pacientes com a escola, reduzindo os índices de reprovação e evasão escolar no contexto local. Palavras-chave: Instrumentos. Leito. Classe Hospitalar. 1 Especialista em Psicopedagogia: Universidade Salgado de Oliveira - Recife. Assistente Social/ Professora da Prefeitura de Recife (PCR) E-mail: crisrose.pedrosa@bol.com.br ISSN 2176-1396

2300 Introdução Esse documento é resultado da experiência no processo de implantação da primeira classe hospitalar de Pernambuco no Hospital Universitário Oswaldo Cruz - Centro de Oncohematologia Pediátrica (HUOC/CEONHPE), localizado no Campus da Universidade de Pernambuco - UPE, no bairro de Santo Amaro, em Recife. A implantação dessa classe hospitalar exigiu mais que um espaço pedagógico de uma sala de aula inserida num ambiente hospitalar. Exigiu a implementação de uma política pública de atendimento pedagógico especializado, caracterizado pela diversidade de ações pedagógicas e atividades, numa turma multisseriada para as crianças e adolescentes internados nas enfermarias pediátricas dos 4º e 5º andares. Nesse sentido, Oliveira (2008) argumenta que a classe hospitalar tem a finalidade de recuperar a socialização da criança por um processo de inclusão, dando continuidade a sua aprendizagem. Dessa forma, todas as ações desenvolvidas apontaram para a necessidade de documentar essa trajetória durante todo o processo vivenciado na busca pela implementação do direito à escolarização desses alunos internados, desde a lotação da professora até a inauguração e publicação do decreto de implantação da primeira Classe Hospitalar em Recife Pernambuco. Para materializar tal contexto fui registrando os fatos vivenciados ao longo de todo o processo histórico da criação dessa primeira Classe Hospitalar em Recife, bem como descrevendo as etapas vivenciadas, construindo e elencando instrumentais e metodologia produzidos ao tempo que utilizava na classe, num processo de avaliação contínua a fim de aferir se toda produção correspondia ou não às necessidades para esta nova modalidade de ensino que estava sendo construída. Nesta trajetória consideramos que a Classe Hospitalar é um serviço muito recente que vem sendo oferecido no Brasil, desde a década de 1950 e no contexto mundial desde o pósguerra. O acesso ainda é bastante restrito, e que poucos estados oferecem e mesmo neste poucos estados que é oferecido, não é efetivado em todos os municípios e hospitais onde ocorrem os internamentos das crianças e dos adolescentes, fato este que prejudica o desenvolvimento não só cognitivo dos mesmos, uma vez que, nesse ínterin há a interrupção da vida escolar e todo o benefício que a mesma trás nesse período específico do desenvolvimento humano.

2301 A classe hospitalar é um serviço que vem sendo ofertado no Brasil, desde 1950, no Hospital Municipal Bom Jesus, no Rio de Janeiro com a professora Lecy Rittmeyer, que cursava Serviço Social, para atender às crianças internadas no período de internamento e após a alta hospitalar retornassem às escolas regulares e continuando seus estudos. Em Pernambuco este trabalho inexistia até agosto de 2014, período que Recife implantou essa primeira classe hospitalar no estado, hoje denominada de Classe Hospitalar Semear. Não por iniciativa própria do poder público, mas pela provocação do GAC PE, que fez toda a intermediação com o Poder Público Municipal e o Poder Público Estadual, ou seja, entre Secretaria de Educação de Recife e Hospital Universitário Osvaldo Cruz de Pernambuco para que fosse regularizada esta primeira classe hospitalar em Recife. O desafio foi grande, envolveu diversos atores e instituições concomitantemente. Criar e manter uma política de oferta e continuidade do serviço de escolarização para esses alunos internados. O projeto propunha ter no âmbito do hospital um atendimento pedagógico ao estudante/ paciente internado, que momentaneamente, impossibilitado de frequentar a escola e estabelecer as relações e interação com toda a comunidade escolar, garantisse o direito à escolarização através das legislações vigentes. Todo o esforço despendido ocorreu no sentido de evitar, mesmo que parcialmente, a esses estudantes, a interrupção do processo de escolaridade, para que posteriormente, quando da alta hospitalar pudessem dar continuidade aos seus estudos na escola de origem, sem grandes perdas no seu processo de ensino-aprendizagem, ou se durante a frequência na Classe Hospitalar não estivessem matriculados fossem motivados a fazê-lo, gerando no estudante uma expectativa de futuro, que muitas vezes se perde ao longo do tratamento, em virtude das dores e dos sofrimentos impostos, por esta doença, pela carga de preconceito, o estigma da pena de morte, ou muitas vezes no retorno à escola de origem enfrentar os amigos e toda a comunidade escolar com o corpo diferente, careca, mutilado e/ou usando prótese. Para Menezes (2009, p. 32), essa ação busca garantir o processo de democratização e universalização do ensino, o acesso e a permanência dos educandos no processo de escolarização e a aprendizagem efetiva dos alunos. Foram necessárias para a construção dessa trajetória e para a efetivação do serviço diversas articulações, reuniões e discussões com os representantes dos poderes públicos: municipal e estadual, e a cada encontro, reflexões, avaliações e produções do grupo sistemático de trabalho da Classe Hospitalar, redirecionamento, bem como estudos, pesquisas

2302 bibliográficas, levantamentos documentais em livros, artigos, monografias, teses e também pela internet na busca de informações relativas ao serviço a ser implantado e de experiências exitosas que contribuíssem. Processo Histórico da implantação da primeira Classe Hospitalar de Recife O Projeto Girassol, aprovado com a vigência de um ano, ou seja, prazo correspondente para início, implantação e implementação da legislação vigente, contou com a participação do poder público, ampliando o trabalho desenvolvido para os estudantes, ou seja, ao longo de doze meses, entre 2014 e 2015, Poder Público e Sociedade Civil foram avançando e modificando a proposta que inicialmente seria apenas um espaço pedagógico em uma sala de aula dentro do hospital, para ser política pública de educação inclusiva, assegurando aos estudantes/ pacientes, nesse período de internamento, toda a documentação oficial, bem como fortalecendo a relação de responsabilidade entre educação e saúde. Conforme Matos e Mugiatti (2012, p.49), a Hospitalização Escolarizada apontou soluções, que representa a conciliação de interesses das políticas públicas de saúde e educação: trazendo ela, em seu contexto, o sentido da superação das contradições mantenedoras do problema em evidência. É importante considerar que ao longo dos meses de vigência do Projeto Girassol para a implantação dessa modalidade de ensino no estado de Pernambuco, o grupo sistemático da Classe Hospitalar ficou responsável por diversas ações, dentre as quais se destacam: as articulações em relação ao processo vivenciado, configuração da proposta, retornos aos diversos atores e instituições, encaminhamentos das diversas ações, registros e auxílio na elaboração de documentações. O grupo em questão ficou responsável pelos encaminhamentos para concretização da proposta em política municipal e foi composto por: Ana Carolina de Paiva Costa - Gerente Institucional do GAC-PE e Coordenadora Técnica do Projeto Girassol, articuladora e facilitadora desse processo; Walnéa Virgínia Mangueira Lima - Coordenadora Científica do Projeto Girassol; Fernanda Cristina Feitosa Loiola - Coordenadora Pedagógica do Projeto Girassol e Cristiane Rose de Lima Pedrosa - professora da Rede Municipal do Recife, regente da Classe Hospitalar. A incumbência desse grupo foi pautada na necessidade de desvendar como fazer acontecer a Classe Hospitalar, temática desconhecida até então na localidade, e traçar um

2303 caminho pertinente. Debruçaram-se sobre a legislação vigente e a literatura acerca da Educação Especial, mais precisamente em relação às questões relacionadas à implantação e funcionamento da Classe Hospitalar, a fim de municiar a Prefeitura de Recife e o Hospital Universitário Oswaldo Cruz com as informações necessárias para efetivar o processo de implantação da Classe Hospitalar. Outros sujeitos, representantes dos diversos departamentos, divisões e gerências dessas instituições durante o desenvolvimento dessas etapas foram se agregando e trazendo a especificidade de seu espaço funcional municipal ou estadual para compor a referida política. Esta política educacional, a princípio, foi implementada no CEONHPE/ HOUC, mas a prefeitura contribuiu no processo com indicativos para posterior expansão a fim de garantir o direito para atender a estudantes/pacientes que fazem tratamento em outras unidades hospitalares de Recife. Importante pontuar que a construção desse trajeto não aconteceu seguindo uma simples seqüencia de fatos, ao mesmo tempo em que se articulou com as instituições que demandaram esforço nessa empreitada, envolvendo os diversos atores para implantar a classe hospitalar e implementar a legislação existente, assegurando a escolaridade dos estudantes hospitalizados, concomitantemente criou-se metodologia e os instrumentais próprios para serem utilizados nesta modalidade de ensino que iniciava no município, sensibilizou-se pacientes, pais e equipe multidisciplinar de saúde do hospital para acolher essa nova proposta, desenvolveu-se ações pedagógicas planejadas com os alunos tanto na classe hospitalar quanto no leito e articulou-se com a escola de origem para que ao mesmo tempo que solicitava informações curriculares de cada aluno/a, orientava os profissionais da unidade de ensino desta nova demanda. Todas as ações voltadas para assegurar a implantação da classe hospitalar, implementação da ação pedagógica com os estudantes, garantir a continuidade da vida escolar dos estudantes internados e bem estar dos mesmos. A minha participação, enquanto professora garantiu a contribuição efetiva da prefeitura em toda a construção dessa nova modalidade de ensino em Recife, ou seja, participação no processo da implantação da classe hospitalar desde o início, em todas as etapas: criação de instrumentais e metodologias, implementação da legislação vigente e o desenvolvimento das ações pedagógicas, uma vez que passou a compor o grupo sistemático da Classe Hospitalar responsável pelo processo e por todos os desdobramentos.

2304 Buscamos descrever todas as etapas vivenciadas nesse processo histórico de implantação da primeira classe hospitalar do estado, registrando o cotidiano do processo, divulgando os fundamentos teórico-metodológicos desta nova práxis, que ora se delineia e ainda é desconhecido para muitos profissionais, inclusive os da própria Secretaria de Educação, a fim de também concretizar essa política de ensino. Construção de metodologia e instrumentais para utilizar na educação hospitalizada do CEONHPE / HUOC A construção dos instrumentos foi se efetivando a partir das demandas impostas na dinâmica diária da Classe Hospitalar, enquanto espaço escolar, consensuando com a dinâmica e o aparato legal da escola regular e com as leituras de artigos e documentos referentes a esta modalidade de ensino. Vale salientar que o processo de construção da metodologia e dos instrumentais utilizados atualmente na Classe Hospitalar Semear no CEONHPE/HOUC foram conjuntamente elaborados pelos participantes da equipe sistemática da Classe Hospitalar descrita no capítulo anterior, num movimento de ir e vir, experienciar e refazer para melhor se adequar a realidade vivenciada. A metodologia e os instrumentos foram construídos considerando duas perspectivas nesse período de implantação da classe hospitalar e implementação da lei para efetivação do atendimento aos estudantes internados: o pedagógico e o organizacional. Ambas com intuito de, ao tempo que fortalece a rotina do atendimento pedagógico-educativo, subsidia os documentos próprios para serem utilizados no dia-a-dia, necessários para a consolidação do trabalho e registros do atendimento pedagógico-educacional no leito e na classe, registrando a vida escolar do aluno/a no hospital. Vale salientar que estes documentos até então inexistiam no estado. Todo o material produzido está sendo aplicado, pois ainda se encontra em fase de avaliação e reestruturação. À medida que se utiliza na classe hospitalar se faz as adequações cabíveis. Simultaneamente o grupo sistemático define se os mesmos correspondem às finalidades para as quais foram elaborados e contemplam as necessidades cotidianas do fazer pedagógico dos/as estudantes/pacientes em tratamento de câncer da classe hospitalar do CEONHPE/ HOUC.

2305 Com o desenvolvimento das etapas da implantação da classe hospitalar, a Secretaria de Educação identificou que além do trabalho pedagógico, esta modalidade de ensino carecia também de uma sistemática de atendimento, que mais se aproximasse das práticas oficiais e contemplasse instrumentos e metodologia específica, diferenciada da organização da escola regular. Por isso elaboramos os instrumentos a ser validados pelo poder público municipal, assegurando assim, o direito garantido pela legislação nacional, a escolarização desses alunos hospitalizados. A pesquisa subsidiando a implantação da Classe Hospitalar de Recife No processo de implantação da classe hospitalar, em decorrência das questões cotidianas, da realidade vivenciada no hospital e das questões teóricas e práticas, próprias dos profissionais da educação e da saúde, do convívio com a realidade dos estudantes hospitalizados, diversos questionamentos e desafios foram emergindo para o enfrentamento e a organização desse dia-a-dia presente na sala de aula e no cotidiano específico do ambiente hospitalar. Tais situações implicaram na necessidade de revisitar as orientações curriculares em voga, os instrumentos de registro didático e a literatura acerca da oferta da educação em hospitais, resultando num projeto com a finalidade de criar instrumentos mais eficientes a fim de colaborar na organização da dinâmica do trabalho da classe hospitalar e na especificidade do atendimento pedagógico de crianças em tratamento com câncer. Para posteriormente, com a ampliação das Classes Hospitalares no estado de Pernambuco servir de referência, destacando a preocupação de sempre considerar as especificidades de cada enfermidade e dinâmicas dos hospitais que por ventura venham a utilizar dessas metodologias, instrumentos e rotinas produzidas. Observou-se a dinamicidade dos processos e procedimentos tendo em vista que os contextos de ensino e de aprendizagem são por demais complexos, especialmente nos hospitais, requerendo constantemente pesquisa e o lançar-se aos desafios de atender a escolarização das crianças e jovens hospitalizados na busca de alternativas metodológicas capazes de favorecer o sucesso escolar dessa clientela. O processo foi organizado com os objetivos de estruturar procedimentos, instrumentos de acompanhamentos e rotinas didáticas para a classe hospitalar para o atendimento pedagógico escolar no Centro de Oncohematologia Pediátrica (CEONHPE/ HUOC); criar

2306 rotinas para desenvolver as atividades pedagógicas no âmbito da Classe Hospitalar e produzir documentação de acompanhamento da dinâmica de sala aula, registro de desempenho escolar dos estudantes hospitalizados e validar os instrumentos junto aos órgãos normativos. Realizamos ainda no período diversas pesquisas documentais como as Diretrizes Nacionais da Educação Básica, documentos norteadores da Política de Educação Municipal e outros relativos à temática de educação. Nesse processo, foram levantados dados que apontassem os caminhos para a construção do material necessário, objetivando subsidiar o trabalho que estava sendo desenvolvido, fundamentando o estudo proposto numa metodologia que respeitasse as limitações que os problemas de saúde causam nestes alunos ao mesmo tempo em que favoreçam as aprendizagens visando posteriormente o retorno destes a escola regular. Considerações Finais Diante do exposto constatamos a importância da implantação da Classe Hospitalar Semear não só para Recife, mas também para Pernambuco que passou a fazer parte da lista de estados que oferecem esse serviço e implementam a legislação desta modalidade de ensino, destacamos a relevância na construção de uma nova visão educacional, embasada cientificamente, beneficiando aos alunos excluídos do processo regular de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, os alunos em estado de adoecimento, internados, com suas vidas escolares interrompidas, para que tenham direito à saúde e também direito à educação com igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. A garantia da continuidade de seus estudos e após a alta hospitalar, ter condições de dar continuidade ao processo de escolarização e aprendizado na escola de origem. Essa nova perspectiva contribui ainda para a manutenção da auto-estima alta, dos vínculos afetivos e cognitivos dos alunos com a escola, reduzindo os índices de reprovação e evasão escolar no contexto local. A transferência da professora no início do processo foi reconhecida enquanto ganho político para o estado e para o município, na medida em que foi publicada no Diário Oficial do Município com a denominação de professora da classe hospitalar, quando ainda não havia sido implantada a mesma. Levando em consideração todas estas questões, foram elaborados no período, os seguintes instrumentos para utilizar na classe hospitalar e no leito: Política de Avaliação

2307 Diagnóstica; Rotina Pedagógica do Atendimento Pedagógico-Educacional no hospital; Encaminhamento à Escola de Origem; Levantamento de Pacientes por Leito; Ficha Individual do/a Aluno/a; Ficha de Frequência do/a Aluno/a; Acompanhamento Diário do Conteúdo; Relatório de Desempenho do Aluno/a; Normas e Rotinas da Classe Hospitalar Semear; bem como, criamos uma metodogia para desenvolver o atendimento aos estudantes hospitalizados no leito ou na classe e um documento referente ao conceito e atuação da Classe Hospitalar para compor o Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Cidadão Herbert de Souza. A implantação da classe hospitalar exigiu além do desejo, a determinação em galgar espaços no campo do hospital, no tempo do tratamento e no tempo dos estudantes hospitalizados alinhado a construção de caminhos pedagógicos que diferem do cotidiano e das práticas consolidadas nas escolas regulares. A Classe Hospitalar Semear, fruto do Projeto Girassol foi inaugurada oficialmente no dia 02/03/2015 numa solenidade no auditório no 7º andar no CEONHPE/ HOUC de acordo com o decreto publicado no Diário Oficial Municipal nº 28.622 em 06 de março de 2015, instituindo a partir desta data, essa modalidade de ensino em todo o Estado. Na oportunidade houve grande repercussão em Pernambuco, pois o estado deu início a implementação desse serviço, criando uma nova fase, de ampliação do processo de inclusão, ofertando atenção integral, saúde e educação, aos pacientes/estudantes internados no CEONHPE/ HUOC. Recife com este decreto passou também a assegurar, na condição de município o atendimento pedagógico-educacional no hospital, enquanto política de educação municipal, com as mesmas condições da escola regular, vislumbrando uma ampliação do serviço posteriormente. REFERÊNCIAS AZEVEDO, Ricardo. Não Existe Dor Gostosa, São Paulo, Companhia das Letrinhas, 2010. BRASIL. Constituição, 1988. BRASIL. Conselho Nacional de Direitos da Criança e Adolescentes, CONDICA, Resolução nº 41, 1995 BRASIL. Lei de Diretrizes e Base, MEC, 1996. BRASIL. Política Nacional na Perspectiva de uma Educação Inclusiva, MEC, 1997.

2308 BRASIL. Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica, MEC, 2001. BRASIL. Programa Nacional de Humanização no Atendimento Hospitalar, PNHAH, 2002. BRASIL. Classe Hospitalar e Atendimento Domiciliar Estratégias e Orientações, 2002. CARNEIRO, Moacir Alves. LDB fácil, Rio de Janeiro: Editora Vozes Ltda, 1997. FONSECA, Eneida Simões da. O Atendimento Escolar no Ambiente Hospitalar, São Paulo, Edições Científicas MEMNON, 2ª Edição, 2008. FONTANA, Maria Iolanda, SALAMINES, MATOS, Elizete Lúcia Moreira (org.). Nara Luz Chicarighni, Menezes, Cintya Vernizi Adachi de, Escolarização Hospitalar, Educação e Saúde de Mãos Dadas para Humanizar, Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2009. FREIRE, Paulo, Pedagogia da Autonomia Saberes Necessários à Prática Educativa, São Paulo: Paz e Terra, 1996. FREITAS, Soraia Napoleão, ORTIZ, Leodi Conceição Meireles. Classe Hospitalar: Caminhos Pedagógicos entre Saúde e Educação, Santa Maria: Editora UFSM, 2005. MATOS, Elizete Lúcia Moreira, MUGIATTI, Margarida Maria Teixeira de Freitas. Pedagogia Hospitalar A Humanização Integrando Saúde e Educação, Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2012. FONSECA, Eneida Simões (org.). Atendimento Escolar Hospitalar, Rio de Janeiro, UERJ, 2000. OLIVEIRA, Linda Marques. FILHO, Vanessa Cristiane de Souza, GONÇALVES, Adriana Garcia, Classe Hospitalar e a Prática da Pedagogia, Artigo da Revista Científica Eletrônica de Pedagogia, Ano IV, Número 11, Janeiro / 2008, Periódico Semestral. PORTO, Olívia. Psicopedagogia Hospitalar Intermediando a Humanização na Saúde, Rio de Janeiro: Wak Editora, 2008. SALOMÉ, Jacque. Cativando a Ternura, Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2ª Edição, 1997 RODRIGUES, David. O que é a inclusão? 17/03/2014. Disponível em: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/o-que-e-a-inclusao-1628577. Acesso em 04. mai. 2015.