Contrarrazões ao agravo regimental

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Reis Friede Relator. TRF2 Fls 356

Transcrição:

N.º 1662/2018 LJ/PGR Sistema Único n.º 301111/2018 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PETIÇÃO Nº 6827 AGRAVANTE: Luiz Inácio Lula da Silva AGRAVADO: Ministério Público Federal RELATOR: Min. Edson Fachin Excelentíssimo Senhor Ministro Edson Fachin, Egrégia Segunda Turma, apresenta A Procuradora-Geral da República, no uso de suas atribuições constitucionais, Contrarrazões ao agravo regimental interposto por LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA contra a decisão na qual o Ministro Relator determinou a remessa do material investigativo acostado aos autos à Seção Judiciária do Distrito Federal e não mais à Seção Judiciária do Paraná insurgindo no ponto específico do decisum que consignou que a alteração na competência não importa na impossibilidade de utilização dos elementos de informação encartados nestes autos como prova emprestada. Gabinete da Procuradora-Geral da República Brasília/DF

I Trata-se de agravo regimental interposto por LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA contra decisão proferida pelo Ministro Relator que determinou a remessa do material investigativo acostado aos autos à Seção Judiciária do Distrito Federal e não mais à Seção Judiciária do Paraná insurgindo no ponto específico do decisum que consignou que a alteração na competência não importa na impossibilidade de utilização dos elementos de informação encartados nestes autos como prova emprestada. Alega o agravante, em síntese, que (i) a colaboração é meio de obtenção de prova, não sendo possível a utilização dos termos de depoimentos como meios de prova aptos a servir ao convencimento do juiz sobre os fatos narrados em um dado processo, impedindo a utilização dos elementos de informação como prova emprestada; (ii) os elementos de prova colhidos não foram submetidos ao contraditório; (iii) o compartilhamento dos termos de depoimento afrontam a garantia da vedação ao bis in idem; e, (iv) essa determinação esvazia a efetividade da parte dispositiva do decisum, pois a determinação do foro competente constitui garantia do delatado. Vieram, os autos, a esta Procuradoria-Geral da República para ofertar contrarrazões ao recurso. Não merece prosperar a alegação do agravante. II O acordo de colaboração premiada é uma técnica especial de investigação, meio de obtenção de prova advindo de um negócio jurídico-processual personalíssimo que gera direitos e obrigações entre as partes celebrantes. Por meio desta técnica investigativa, o colaborador releva os atos criminosos que praticou, participou ou que teve conhecimento, além de auxiliar na compreensão do funcionamento da estrutura criminosa. Nesse sentido, a colaboração premiada é um meio de obtenção de indícios, fornecidos pelo colaborador, para subsidiar uma investigação. O colaborador apresenta anexos, re- PETIÇÃO Nº 6827 2

latando por escrito as condutas ilícitas, presta depoimento, para esclarecer e corroborar as informações, e fornece documentos que comprovam os fatos narrados. O colaborador deve ser tratado como um informante, pois há uma força probatória de indícios em suas palavras. Portanto, o acordo de colaboração premiada é uma técnica que permite a abertura de linhas investigativas com base nos elementos fornecidos pelo colaborador, participe da organização criminosa. Bem por isso, o acordo de colaboração, por si só, não é considerado prova para o processo penal. Nada obstante, os depoimentos colhidos e os documentos apresentados possuem força probatória, dentro de um contexto guiado pela livre persuasão racional. Conforme jurisprudência dessa e. Corte, não é possível condenação fundada unicamente nas declarações do colaborador. Porém, isso não as desqualificam como elementos de prova, apenas impõe a exigência de que as informações colhidas por meio desse instrumento, para gerar condenação, sejam confirmadas por um amplo conjunto probatório. Assim, não há como negar que as informações fornecidas no âmbito da colaboração premiada são meios de provas. Nesse sentido, é o entendimento dessa Suprema Corte: EMENTA Agravo regimental. Petição. Colaboração premiada. Fatos que envolvem senadores da República e investigado sem prerrogativa de foro junto à Suprema Corte. Compartilhamento de termos de depoimento do colaborador premiado com juízo de primeiro grau. Medida que importou em cisão das investigações relativamente ao agravante. Inadmissibilidade. Imbricação de condutas. Indícios da existência de um liame probatório entre os fatos, ou mesmo de continência (art. 77, I. CPP). Necessidade de se preservarem a racionalidade e a higidez das investigações. Recurso provido para se determinar que o agravante permaneça sob a jurisdição direta do Supremo Tribunal Federal, sem prejuízo de posterior reanálise pelo Relator da possibilidade de desmembramento. 1. Como já decidido pelo Supremo Tribunal Federal, o desmembramento do feito em relação a imputados que não possuam prerrogativa de foro deve ser a regra, diante da manifesta excepcionalidade do foro por prerrogativa de função, ressalvadas as hipóteses em que a separação possa causar prejuízo relevante (Inq nº 2.903/AC-AgR, Pleno, Relator o Ministro Teori Zavascki, DJe de 1º/7/14). 2. O agravante foi mencionado pelo colaborador premiado, em quatro termos de colaboração, por fatos supostamente ilícitos que também envolvem titulares de prerrogativa de foro junto ao Supremo Tribunal Federal. PETIÇÃO Nº 6827 3

3. Como assentado no voto condutor do HC nº 127.483/PR, Pleno, de relatoria do Ministro Dias Toffoli, DJe de 4/2/16, [a] colaboração premiada é um negócio jurídico processual, uma vez que, além de ser qualificada expressamente pela lei como meio de obtenção de prova, seu objeto é a cooperação do imputado para a investigação e para o processo criminal, atividade de natureza processual, ainda que se agregue a esse negócio jurídico o efeito substancial (de direito material) concernente à sanção premial a ser atribuída a essa colaboração. 4. A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova, destina-se à aquisição de entes (coisas materiais, traços [no sentido de vestígios ou indícios] ou declarações) dotados de capacidade probatória, razão por que não constitui meio de prova propriamente dito. 5. Enquanto o acordo de colaboração é meio de obtenção de prova, os depoimentos propriamente ditos do colaborador constituem meios de prova, os quais somente se mostrarão hábeis à formação do convencimento judicial se vierem a ser corroborados por outros meios idôneos de prova. 6. Logo, uma investigação deflagrada por um acordo de colaboração tem por escopo a obtenção de meios idôneos de prova que possam corroborá-lo. 7. Na espécie, presente a imbricação de condutas, diante da existência de indícios de um liame probatório entre os fatos, ou mesmo de continência (art. 77, I, CPP), não há como se cindir, por ora, uma investigação em fase embrionária, inclusive pelo risco de o juízo de primeiro grau, ainda que de forma indireta, promover a investigação de detentores de prerrogativa de foro, em usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal. 8. Recurso provido para se determinar que o agravante permaneça sob a jurisdição do Supremo Tribunal Federal, sem prejuízo de posterior reanálise pelo Relator da possibilidade de desmembramento, vedando-se ao juízo de primeiro grau a deflagração, em desfavor do agravante, de investigações lastreadas nos termos de colaboração em questão. (Pet 6138 AgR-segundo, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 21/02/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-200 DIVULG 04-09-2017 PUBLIC 05-09-2017) grifo acrescido. É com base nessa diferenciação que se permite a prova emprestada advinda de colaboração premiada, pois ela não visa o compartilhamento do acordo de colaboração em si, mas sim dos depoimentos e das provas de corroboração apresentadas pelo colaborador. Ademais, o direito processual penal não admite o compartilhamento em abstrato. Portanto, é imprescindível que exista uma investigação ou ação penal em curso que o justifique. PETIÇÃO Nº 6827 4

Para o fornecimento dos depoimentos e respectivos documentos é necessário que haja fundadas razões para tanto. O requerente deverá fundamentar o pedido delimitando o nexo com a investigação em curso bem como qual a documentação a ser compartilhada, além da pertinência das peças informativas requeridas com o objeto das apurações em curso no órgão solicitante. Desse modo, a decisão agravada não teve o condão de permitir, de forma abstrata, o compartilhamento dos elementos de informação colhidos nesses autos. Ademais, é assente na jurisprudência a inexistência de óbice ao compartilhamento de elementos informativos colhidos no âmbito de inquérito penal para fins de instruir outro procedimento criminal 1. EMENTA: INQUÉRITO. DENÚNCIA. DEPUTADO FEDERAL. CRIMES DE RESPONSABILIDADE, DISPENSA ILEGAL DE LICITAÇÃO E FALSIDADE IDEOLÓGICA. PROVA EMPRESTADA: POSSIBILIDADE. TRANSCRIÇÃO INTEGRAL DE GRAVAÇÕES: DESNECESSIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA AFASTADO. INÉPCIA: INOCORRÊNCIA. OBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS DO ART. 41 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. INEXIS- TÊNCIA DAS HIPÓTESES DO ART. 395 DO CÓDIGO DE PROCESSO PE- NAL. INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA E MATERIALIDADE DAS CONDUTAS. DENÚNCIA RECEBIDA. 1. Inexiste nulidade na utilização de prova emprestada em processo criminal, notadamente fundamentada em decisão judicial deferindo o seu compartilhamento. 2. Este Supremo Tribunal afirmou a desnecessidade de transcrição integral dos diálogos gravados, quando irrelevantes para o embasamento da denúncia: Precedentes. 3. É apta a denúncia que preenche os requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal, individualiza as condutas do denunciado no contexto fático da fase pré-processual, expõe pormenorizadamente os elementos indispensáveis à ocorrência, em tese, dos crimes nela mencionados, permitido o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa. 4. Para o recebimento da denúncia, analisa-se a presença de indícios suficientes da materialidade e da autoria dos delitos imputados ao Denunciado. 5. A denúncia é proposta da demonstração de prática de fatos típicos e antijurídicos imputados à determinada pessoa, sujeita à efetiva comprovação e à contradita. 6. Ausência de situação prevista no art. 395 do Código de Processo Penal. 7. Denúncia recebida. (Inq 4023, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 23/08/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-185 DIVULG 31-08-2016 PU- BLIC 01-09-2016) 1 Inq 3.014 AgR, Relator(a): Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 13.12.2012, DJe de 23.9.2013; HC 102293, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Segunda Turma, julgado em 24.05.2011, DJe de 19.12.2011 e RHC 122.806/AM, Relator(a): Min. CARMEM LÚCIA,Segunda Turma, julgado em 24.02.2015, DJe de 10.03.2015. PETIÇÃO Nº 6827 5

As provas e os depoimentos prestados pelo colaborador são desmembrados da Petição de homologação e podem ser autuados em Petições autônomas ou integrar investigações já existentes acerca dos fatos revelados. Ao integrarem uma investigação, em conformidade com o Enunciado da Súmula Vinculante nº 14, será dado à defesa acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão de competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. Nesse momento, será assegurado ao delatado o exercício do contraditório e da ampla defesa quanto aos fatos ali investigados, dando efetividade ao princípio do devido processo legal, não havendo, portanto, violação à referida garantia constitucional. No julgamento do HC 127.483, essa e. Corte entendeu ainda que nos procedimentos em que figurarem como imputados, os coautores ou partícipes delatados no exercício do contraditório poderão confrontar, em juízo, as declarações do colaborador e as provas por ele indicadas, bem como impugnar, a qualquer tempo, as medidas restritivas de direitos fundamentais eventualmente adotadas em seu desfavor 2. Ademais, o valor probatório da prova emprestada permanece inalterado. Dessa forma, não será possível condenação com base apenas nos depoimentos prestados pelo colaborador. No tocante à possível violação ao princípio da vedação ao bis in idem, conforme exposto acima, o direito processual penal não admite o compartilhamento em abstrato de elementos de informação. Portanto, caberá ao juízo competente analisar, em cada caso, a fundamentação do pedido a fim de avaliar o deferimento ou não do compartilhamento. Aliás, decisão que determina a remessa do material investigativo a um determinado foro que, em uma análise primária dos depoimentos, aparenta ser o competente, não importa em fixação da competência. Dessa forma, o compartilhamento, em uma reflexão abstrata sobre o tema, não precisa se restringir às investigações relacionadas apenas ao agravante, podendo servir de elemento de corroboração para fatos outros que, apesar de se relacionarem ao delatado ou a um 2 HC 127483, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 27/08/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-021 DIVULG 03-02-2016 PUBLIC 04-02-2016 PETIÇÃO Nº 6827 6

termo de depoimento específico, não possuem o condão de caracterizar uma dupla imputação pelo mesmo fato. O desmembramento de uma investigação fundamentado no fato de um dos investigados possuir prerrogativa de foro em razão da função é um claro exemplo da utilização do mesmo elemento probatório, produzido em sede de colaboração premiada, para investigações diversas sem que haja violação a qualquer garantia constitucional. A viabilidade e a necessidade de compartilhamento dos termos de depoimentos e documentos encartados nos autos deverá feito conforme o caso concreto, portanto. III Pelo exposto, requeiro o conhecimento e desprovimento do agravo regimental. Raquel Elias Ferreira Dodge Procuradora-Geral da República PETIÇÃO Nº 6827 7 Brasília, 15 de outubro de 2018.