Produção científica referente à orientação profissional com jovens de classe popular: período de 1987 a 2012



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Transcrição:

Produção científica referente à orientação profissional com jovens de classe popular: período de 1987 a 2012 Thaisa Tótollo Faculdade de Psicologia Centro de Ciência da Vida thaisatllo@yahoo.com Raquel Souza Lobo Guzzo Avaliação e Intervenção Psicossocial: Prevenção, Comunidade e Libertação Centro de Ciências da Vida rguzzo@puc-campinas.edu.br RESUMO Este trabalho tem por objetivo realizar um levantamento das dissertações e teses, defendidas no período de 1987 a 2012, no Estado de São Paulo, indexadas pela base de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), disponíveis na internet, contendo expressões relacionadas à orientação profissional com jovens de classe popular. Para tanto, buscou-se no resumo do Banco de Teses, os seguintes conjuntos de palavras-chave: 1) Juventude e Trabalho; 2) Orientação Profissional; 3) Orientação Vocacional; 4) Trajetória Profissional; e 5) Trabalho e Jovens de Classe Popular. Foram utilizados os seguintes critérios de exclusão: a) resumos cuja pesquisa (integral) de campo não ocorreu no Estado de São Paulo; b) quando a amostra não foi constituída por jovens da classe popular; e c) quando a pesquisa ocorreu em instituição privada, sendo evidenciada no resumo ou em suas palavras-chave. Do total de 1.502 resumos, apenas 19 relacionam-se à orientação profissional com jovens de classe popular, o que revela a pouquíssima realização de pesquisas na pós-graduação, concernentes à referida temática com jovens pertencentes à classe popular no estado de São Paulo. Palavras-Chave: Orientação Profissional; Trabalho e Juventude; Classe Popular. Área do Conhecimento: Ciências Humanas, Psicologia Escolar, Orientação Profissional 1. INTRODUÇÃO O ingresso e a permanência no mundo do trabalho tornam-se cada vez mais difícil para a juventude. Tal situação se agrava, especialmente, a partir da recente configuração do mundo do trabalho, na qual impera a precariedade estrutural, que abrange os sistemas de produção, econômico, social, educacional e o ideológico o que desencadeia para a má qualidade de vida da maioria dos jovens, trabalhadores brasileiros, que constituem a classe popular 1. A literatura relacionada à juventude e trabalho revela a junção de distintas questões referentes ao emprego e desemprego na juventude. Entre as quais, enfatizase a dificuldade do jovem para conseguir o primeiro emprego, superficialmente justificada na sociedade pela falta de experiência. Em adição a essa situação, a despeito da universalização da educação formal, a escola tem se mostrado despreparada para conviver com a diversidade dos estudantes, especificamente, no que concerne à preparação para enfrentar o mundo do trabalho isso gera e preserva não somente a desigualdade de classe social, mas igualmente, a desigualdade quanto à aprendizagem IPEA, [10]. Apresentam-se em síntese, aspectos caóticos, que revelam as condições pelas quais a juventude brasileira de classe popular, enfrenta no mercado de trabalho, segundo a Agenda Nacional de Trabalho Decente 2 para a Juventude [1]. Em 2009, mais de 34 milhões de jovens na faixa etária de 15 a 29 anos, trabalhavam ou procuravam trabalho. A juven- 1 [13] A expressão classe popular é aqui utilizada, no sentido de um grupo social que, em oposição à elite nacional, apresenta carência nos aspectos político, econômico, educacional, cultural e ideológico, na medida em que é excluído da tomada de decisões e tem privações quanto ao desenvolvimento das potencialidades humanas (Montaño, 1994). 2 [1] De acordo com a Agenda Nacional de Trabalho Decente para Juventude (2011), o Trabalho Decente (TD) é uma condição básica que tem como objetivo superar a pobreza e a diminuição das desigualdades sociais, auxiliar o governo democrático e o desenvolvimento sustentável. O TD é considerado um trabalho produtivo e apropriadamente remunerado.

tude de classe popular, tenta conciliar trabalho e estudo, contudo, os jovens dizem que há dificuldade na realização desta proposta, especialmente, pelas longas jornadas de trabalho. Esta situação torna-se mais grave, no caso de jovens pobres do sexo feminino, uma vez que ainda tem as responsabilidades referentes aos afazeres domésticos. Nota-se que o ingresso no mundo de trabalho é intensamente afetado pelas desigualdades sociais. Há mais oportunidades de trabalho para os jovens de classe média ou alta, tanto no que se refere a encontrar trabalho, quanto ao tipo de trabalho - entre outros critérios dessa seleção, encontra-se a maior escolaridade da juventude com renda elevada. Essa condição sinaliza a necessidade de políticas que funcionem efetivamente no sentido de apoiar a inserção e permanência de jovens de classe popular, na escola e no trabalho digno. Sabe-se que esses jovens são privados de usufruírem de direitos fundamentais. A despeito do crescimento econômico, o desemprego entre os jovens continua alto, se comparado ao desemprego do adulto, particularmente para a juventude que pertence à classe popular, com reduzida renda, pouca escolaridade, mulheres, negros e residentes em metrópoles urbanas. Assim, como o número de jovens no trabalho informal. Entre a população juvenil, o trabalho informal atinge em maior proporção aqueles que pertencem à classe popular, as mulheres e os negros de ambos os sexos. Ademais, as condições de trabalho por vezes são precárias para os jovens, particularmente, quando se trata de posição ocupacional jovens desempenham atividades que apresentam condições incertas, desde a atividade não remunerada até a falta de carteira assinada nesta última precariedade, enfatizam-se os casos das mulheres negras. Apesar das mulheres terem atingido maior escolaridade, em todas as faixas etárias, no segmento juventude, de modo contraditório, elas, tem menor inserção no mercado de trabalho com carteira assinada, se comparadas aos jovens do sexo masculino. 1.1 A luta pelo trabalho no Sistema Capitalista Embora a nova caracterização do mundo do trabalho tenha sido assinalada a partir da crise estrutural do capitalismo, na década de 1970, os acontecimentos que a precederam demarcaram peculiaridades no desenvolvimento do capitalismo brasileiro, que duraram por todo o século XX, como a acumulação industrial, no governo de Getúlio Vargas. Após amplo período de 1930 até a primeira metade da década de 1960 - de políticas populistas, como o getulismo, no Brasil, que atraia a classe trabalhadora para a indústria estatal, politizando a questão social, e usava a repressão e a prática de fragmentação no cerne do movimento operário, Alves, [2]; Antunes, [6]. As lutas populares, advindas da insatisfação dos trabalhadores em relação ao governo, foram enfraquecidas com os golpes militares, iniciados em 1960 no continente latino-americano, apresentando como consequência, um conjunto de circunstâncias críticas para a vida da classe trabalhadora, assim como para diversos movimentos sociais, como os sindicatos Alves, [2]; Antunes, [6]. Segundo Antunes [4], na América Latina, junto ao crescimento da indústria, foi organizado um complexo processo de caráter social e político, evidenciado por duas grandes contradições: capital e trabalho, e nacionalização e internacionalização da economia. Além de, partidos políticos e os sindicados terem sido decretados ilegais pelos governos totalitários. Movimentos foram fundamentais para a organização da classe trabalhadora no período ditatorial. A partir da década de 1970, o mundo sofreu conflitos no sistema de produção capitalista, que veio após alguns acontecimentos como, a fase de êxito de acumulação do capital, o apogeu do fordismo em duas décadas anteriores, a sinalização do capital num panorama crítico, que pode ser ilustrado por alguns aspectos como: a propensão quanto à redução da taxa de lucro, que se originou a partir do excesso de produção; a exaustão do modelo de acumulação taylorista/fordista de produção; a depreciação do dólar; o desequilíbrio do Welfare State ou do Estado de Bem-Estar Social ; a frequência de manifestações sociais nas ruas e a crise do petróleo foram aspectos impulsionadores da referida tensão na economia. Conforme Antunes [6], no que concerne à vida cotidiana, a crise dos anos 70, afetou tanto a materialidade da classe trabalhadora, quanto à esfera subjetiva, política, ideológica, dos valores e do ideário que pautavam ações práticas e concretas. O efeito, advindo dos movimentos sindicais, resultou em um novo sindicalismo, criado dentro da estrutura sindical, em combate à subordinação ligada à verticalização do trabalho, especificamente, na década de 1980, quando o sindicalismo na América Latina experimenta inicialmente, as consequências do neoliberalismo, o retrocesso da reestruturação produtiva do capital, juntamente com seus artifícios ideológicos e políticos Alves [2]; Santana [15]. Entretanto, houve um período que antecedeu a vigência do neoliberalismo no Brasil, em que ocorreu um ciclo de greves, por vários segmentos de trabalhadores como os operários da indústria, assalaria-

dos rurais, funcionários públicos, e diferentes setores constituídos por assalariados médios Antunes, [4]. Concomitante a repressão sindical, a alta taxa de desemprego, a concentração de renda para uma minoria, a privatização de bens públicos, a liberalização do capital e a não participação do Estado na economia intensificou-se nos anos 80, com a ampliação da dívida externa, pois, houve uma reorganização no mundo do trabalho, alicerçada nas bases da globalização e do neoliberalismo ocasionando em várias mudanças no cotidiano do trabalhador. O processo de globalização, enquanto processo de aceleração da economia capitalista, torna possível o exercício da enorme desigualdade, pois agrava as condições das populações da periferia mundial. O neoliberalismo é uma prática político-econômica que surgiu a partir de ideais monetaristas, onde os lucros favorecem as potências econômicas e as empresas de grande porte. O neoliberalismo é um modo de ver e julgar o mundo nas dimensões social, política e econômica a partir dos ditames capitalista. Essa teoria econômica advoga, entre outras questões, que ocorra privatização das empresas estatais, que seja livre a circulação do capital internacional, que haja destaque para a globalização, que políticas sejam implementadas com vistas ao aumento da produtividade, que o governo quanto reduza sua intervenção no mercado de trabalho e que ocorra a indicação para a melhoria da economia local e global, cuja proposição sustenta-se na diminuição dos preços e dos salários Anderson [3]. No Brasil, o processo neoliberal ocorre com a evolução da industrialização, que foi organizada a partir da exportação da produção, possibilitando, a acumulação industrial. Esse movimento, de cunho estatal intenso e de aspecto nacionalista, correspondeu à ampliação da classe trabalhadora, e teve como consequência, o ressurgimento de um novo sindicalismo, considerado positivo e negociador. Dadas as graves condições do trabalho - exploração da força de trabalho, baixos salários, excessiva jornada de trabalho e árduos ritmos. A desorganização do trabalho, alicerçada nas políticas de ampliação do neoliberalismo e no Consenso de Washington, acarretou na reorganização da produção acarretando na redução da produção industrial, definida pela intensa política de privatização do setor produtivo estatal, que aprofundou ainda mais a subordinação do continente latino-americano aos interesses financeiros e hegemônicos dos Estados Unidos. Processo denominado desertificação neoliberal - fazendo alusão à fase de intensas mudanças estruturais, informalidades e devastação social em todas as dimensões, inclusive, no mundo do trabalho Antunes [4]. A nova morfologia do trabalho resulta ainda, na penosa exploração do trabalho, somada ao baixo nível salarial. A redução salarial é uma situação na qual o capital produtivo (atuante na América Latina), atrelado à força de trabalho com pouca qualificação - interpretação que parece suficiente para o sistema capitalista permite que o trabalho nesta região do continente, tenha valores inferiores aos dos países em que se encontram as sedes empresariais Antunes [4]. Os governos que se seguiram no Brasil demonstraram o quanto os moldes do capital, pela estrutura ideológica e governamental, fundamentaram a nova morfologia do trabalho, constituindo e permeando a realidade concreta da vida cotidiana das pessoas. Apesar da primeira vitória na história do Brasil, de um presidente, de origem operária - a estrutura neoliberal continuou, destacando-se o não atendimento às reformas, como as de cunho político e agrário, entre outras. Além disso, houve corrosão social das bases de organização popular e operária, como a base sindical Antunes [6]. OBJETIVOS Objetivo Geral Realizar um levantamento das dissertações e teses defendidas no período de 1987 a 2012, no Estado de São Paulo, indexadas pela base de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Objetivo Específico a) Analisar a produção científica da área, através das bases de dados online (CAPES); MÉTODO Metodologia Este estudo de cunho documental se baseou na técnica de pesquisa da bibliometria em junção com a metaciência. Utilizou-se a primeira pelo suporte relacionado à quantificação, e a segunda, pelo auxílio à análise qualitativa. A importância da técnica bibliométrica, segundo Bufrem & Prates [7], está na contribuição para a caracterização de registros de investigações, principalmente quanto à organização e sistematização de informações. A metaciência por sua vez, possibilita a análise qualitativa das informações organizadas Witter [16]. Ambas as técnicas são relevantes para a disseminação da pesquisa.

Desenvolvimento Metodológico Foi realizada uma busca no Banco de Teses 3 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, o qual é constituído por teses e dissertações defendidas a partir de 1987 até 2012. Com vistas a construir um aporte metodológico, foram selecionados resumos que se identificassem com cinco conjuntos de palavras-chaves, a saber: 1) Juventude e Trabalho; 2) Orientação Profissional; 3) Orientação Vocacional; 4) Trajetória Profissional; e 5) Trabalho e Jovens de Classe Popular. Quanto aos critérios utilizados, ressalta-se que todos os resumos advindos das buscas foram considerados, com exceção daqueles que, embora fizessem uso das mencionadas palavras-chaves, não se relacionavam à temática nos seguintes critérios de exclusão: a) resumos cuja pesquisa de campo (integral) não ocorreu no Estado de São Paulo; b) quando a amostra não foi constituída por jovens de classe popular; e c) quando a pesquisa ocorreu em instituição privada, sendo evidenciada no corpo do resumo ou em suas palavras-chave. RESULTADOS Assim, no primeiro conjunto de palavras-chave juventude e trabalho, foram encontrados 441 (quatrocentos e quarenta e um) resumos. Destes, somente 10 (dez) resumos encaixaram-se nos critérios citados. Para o conjunto de palavra-chave orientação profissional, foram encontrados 443 (quatrocentos e quarenta e três) registros, mas, apenas 3 (três) são concernentes à temática da pesquisa. Quanto ao conjunto de palavra-chave orientação vocacional, do total de 14 (quatorze) resumos, apenas 1 (um) se encaixa na temática desta pesquisa. No que tange ao conjunto de palavra-chave trajetória profissional, foram encontrados 590 (quinhentos e noventa) registros, dos quais, 5 (cinco) são pertinentes à temática adotada na presente pesquisa. Por fim, para o conjunto de palavra-chave trabalho e jovens de classe popular, foram encontrados 14 (quatorze) resultados, sendo que nenhum resumo relacionou-se aos critérios adotados nesta pesquisa. Como nota-se no gráfico abaixo. 3 O Banco de Teses é uma ferramenta que faz parte do Portal de Periódicos da CAPES/MEC, e que possibilita o acesso à informação busca e consulta sobre as dissertações e teses defendidas pelos programas de pós-graduação do Brasil (http://www.capes.gov.br/servicos/banco-de-teses). Gráfico 1- Resultados encontrados por palavraschave Dessa forma, de um total de 1.502 (mil quinhentos e dois) registros, apenas 19 (dezenove) foram selecionados conforme os critérios assinalados. Esses dezenove resumos tiveram seus conteúdos criteriosamente lidos e analisados com a finalidade de verificar os assuntos que têm sido investigadas. Em caso dúvidas, os resumos foram relidos e algumas vezes, buscou-se o trabalho completo, onde foram lidas as introduções. Gráfico 2- Porcentagem de resumos totais e condizentes com o tema. DISCUSSÃO A condição de jovem de classe popular, possivelmente produz incertezas, angústias, sofrimentos e novos desafios no mundo do trabalho, especialmente, por afetarem toda a vida cotidiana, causando impactos na subjetividade humana. Há a propensão em separarmos o trabalho da subjetividade - ideia oriunda do sistema capitalista - para que ocorra maior alienação. Desse modo, as pessoas são privadas na construção de subjetividades autênticas, e de se

tornarem aptas à vida beneficiada de sentidos Sennett [15]. A nova morfologia do trabalho dificulta e intensifica a tomada de consciência dos jovens e, consequentemente, o questionamento do papel social e político do trabalho. Esse quadro desigual advindo do capitalismo produz inquietações em várias vertentes do conhecimento, como na Psicologia Crítica, a qual, em constante luta, busca a emancipação humana em que a expressão Crítica junto à Psicologia. A Psicologia Crítica adota uma oposição teórica diante das desigualdades, mas assume em seu modo de fazer Ciência, uma postura de constante luta pela garantia do direito à equidade e à autonomia das pessoas em processo educacional, inclusive, na orientação profissional de jovens de classe popular Martin-Baró [12]. Segundo Paulo Freire [8], a construção autônoma da escola e da educação é formadora de cidadãos críticos, que podem promover as mudanças sociais. O autor [8], afirma que sem a localização concreta do opressor e o ser consciência para si do oprimido, a tendência será de atitudes fatalistas em plena situação concreta de opressão em relação aos próprios oprimidos, ressaltando que este fatalismo, é fruto de uma situação histórica e social. é uma luta constante do oprimido para a Libertação, nessa conjuntura permeada de desigualdade em que se misturam a historia das pessoas, as diferentes compreensões da realidade, os interesses dos grupos, das classes sociais, os preconceitos e as ideologias. Para Martín-Baró [13] o processo de conscientização é uma luta constante do oprimido para a Libertação, nessa conjuntura permeada de desigualdade em que se misturam a história das pessoas, as diferentes compreensões da realidade, os interesses dos grupos, das classes sociais, os preconceitos e as ideologias que baseia-se em três aspectos, o primeiro, é o processo dialético que acontece somente pelo dialogo através de um processo ativo e dialético; o segundo é a percepção da pessoa dos mecanismos que a oprime e a desumaniza, de modo a superar a consciência que naturaliza o meio, para que possibilite uma nova práxis e uma consciência concreta; E por fim, a terceira, que ocorre a partir do saber da pessoa sobre a realidade de seu mundo, formula um novo saber sobre si e o seu modo de ser social. De modo que, a conscientização constitui a mudança da pessoa em si mesma, na relação com as outras pessoas e com o meio em que convive cotidianamente. O entendimento da Escola só se faz possível a partir da análise de conjuntura social que a constitui. A Escola não é autônoma da sociedade, pelo contrário, historicamente desempenha o papel de manutenção da sociedade de classes, assim, para Freire (2005) o movimento em busca do ser mais parte das relações homens - mundo, estando nos homens no aqui e no agora diante da conjuntura da situação em que se encontram ora imersos, ora emersos, ora inseridos de modo a constituírem a própria percepção autentica quando a mesma não é acompanhada de um fatalismo, algo intransponível e movem-se por considerar a situação como algo desafiadora, que apenas os limitam. O papel do Psicólogo na orientação profissional dos jovens, para Martin-Baró [13] diante do exposto, deve assumir a conscientização dos jovens e do próprio profissional como horizonte, buscando, portanto, a desalienalização das pessoas, supondo um esforço para propor esquemas sociais alternativos, que fomentem a capacidade critica e criativa dos alunos frente ao que a escola e o mercado de trabalho impõem. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Ciência Psicológica, historicamente, não está implicada com a maioria da população brasileira. Neste estudo foi evidenciado que em um intervalo de vinte e cinco anos (1987 a 2012), os estudos realizados por intermédio de teses e dissertações, relacionadas à orientação profissional/vocacional, pouquíssimas vezes contemplaram com reflexões e análises a juventude de classe popular. Ademais, a precariedade crítica em cursos de pós-graduação em nosso país por desconsiderar a realidade da maioria da população, ao oferecer seus serviços possivelmente, adequados à minoria, pertencente à classe média ou alta em espaços frequentados por pessoas de classe popular. Considera-se o prejuízo ao desenvolvimento humano durante o processo de orientação profissional em que o psicólogo omite-se de fazer a discussão do mundo do trabalho no interior do referido sistema. Essa negligência torna-se elemento alienante para todos os que buscam esse tipo de serviço psicológico, particularmente, para os jovens de classe popular, que mais uma vez é privado do usufruto de direitos básicos, uma vez que o trabalho é fundamental na vida do homem. Faz-se preciso considerar a existência de outro modo de fazer psicologia, diferentemente da psicologia hegemônica que conhecemos. Trata-se da Psicologia Crítica, e nessa perspectiva, a Psicologia Escolar pode focalizar com refle-

xões e análises que consideram as condições materiais de vida, focalizando o processo de construção da trajetória profissional de jovens de classe popular, tendo em vista a melhoria da orientação para a escolha profissional, que deve conhecer a realidade social e as estruturas econômicas, sociais, entre outras, além dos comportamentos naturalizados ao longo da história, que influenciam a consciência dos homens e mulheres sobre a situação desigual e injusta na qual vivem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Agenda Nacional de Trabalho Decente para a Juventude (2011). Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego e Secretaria-Geral da Presidência da República. p. 6-16. [2] Alves, G. (2000). O Novo (e precário) Mundo do Trabalho: reestruturação produtiva e crise do sindicalismo. São Paulo: Boitempo. p. 356-365. [3] Anderson, P. (2008). Balanço do Neoliberalismo. [4] Antunes, R. (2005). O Caracol e sua Concha: ensaios sobre a nova morfologia do trabalho. São Paulo: Boitempo. p. 137-153. [5] Antunes, R. (2011). A Nova Morfologia do Trabalho no Brasil na década de 2000. Perspectiva: São Paulo, v. 39, p. 155-177. [6] Antunes, R. (2011). O Continente do Labor. São Paulo: Boitempo. p. 17-118. [7] Bufrem, L. S.; Prates, Y. (2005). O saber científico e as práticas de mensuração da informação. Ciência da Informação, 34(2), p. 9-25. [8] Freire, P. (2005). Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra: Rio de Janeiro. [9] Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra a Domicílio PNAD (2012). Aspectos complementares de educação, afazeres domésticos e trabalho infantil. [10] Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPEA (2008). Trabalho e Renda. Políticas Sociais acompanhamento e análise, nº 15, p. 141-159. Sociais. Buenos Aires, Revista Serviço Social & Sociedade, nº 45, São Paulo: Cortez. [14] Santana, M. A. (2011). O sindicalismo brasileiro nos anos 1980-2000: do ressurgimento à reorientação. Revista Eletrônica da RET Rede de Estudos do Trabalho. Ano V (8). http://www.estudosdotrabalho.org/revistaret08.htm l. [15] Sennett, R. (2012). A corrosão do caráter: o desaparecimento das virtudes com o novo capitalismo. 1. ed. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: BestBolso. [16] Witter, G. P. (1999). Metaciência e leitura. Em: G. P. Witter (Org.), Leitura: Textos e pesquisas. Campinas-SP: Alínea. p. 13-22. [11] Martin-Baró, I. (1996). O papel do Psicólogo. Revista: Estudos de Psicologia, 2 (1), 7-27. [12] Martin-Baró (1998). El papel desenmascarador del psicólogo. Em A. Blanco. Psicología de laliberación. Madrid: Trotta. [13] Montaño, C. R. (1994). Políticas Sociais para quem? Conceituação do popular. Conferência pronunciada no XI Simpósio Mundial de Trabalhadores