HABITAÇÃO SAUDÁVEL, UM CONCEITO INTEGRANDO PROJETOS, AÇÕES E A COMUNIDADE. Arq. Izabelle Vianna. Coordenadora do Projeto Fazer Fazer. Coordenadora da RAHS / UNAMA. A EXPERIÊNCIA DO MUNICÍPIO DE JACAREACANGA/PA. A inversão do foco tradicional dos Programas de Renda Mínima, com o trabalho a partir de uma atividade econômica auto-sustentável, atuando em campos distintos dentro de uma visão holística do indivíduo, levando a integração de várias áreas que, atuando de forma conjunta, vem proporcionando melhor qualidade de vida aos povos da NAÇÃO MUNDURUKÚ. Trabalho executado: Articulação de ações de saneamento, educação e saúde de maneira a gerar como resultado profissionalização e alternativas de trabalho e renda às populações beneficiadas, mais especificamente populações indígenas pertencentes a nação Munduruku. O povo indígena Munduruku pertence ao tronco lingüístico Tupi, família lingüistica Mundurukú e tradicionalmente ocupa territórios situados nos municípios de Jacareacanga e Itaituba, na região do alto Tapajós, oeste do Pará. Conta com uma população de 7.000 pessoas, distribuídas em 87 aldeias, com um território de 2.642.000 hectares de terra sendo a maior parte localizada na área de abrangência da Prefeitura Municipal de Jacareacanga. Justificativa: Os problemas apresentados pela comunidade indígena Mundurukú são semelhantes aos de outras etnias, como a desnutrição, a impossibilidade econômica de auto-sustentação, a saúde, o saneamento básico, a habitação, a educação entre outros. Como agravante, a intensa exploração garimpeira que ocorreu nos últimos trinta anos, poluindo o rio Tapajós com mercúrio, resultando em imensos prejuízos ao meio ambiente, sem qualquer medida de proteção ou correção dos estragos realizados. A atividade encontra-se em declínio porém, para os indígenas, ficaram como seqüelas doenças como um alto índice de diarréia, malária, hepatite, tuberculose entre outras. A Prefeitura de Jacareacanga tendo em mãos um problema dessa magnitude, com grande parte da população composta de indígenas, e os desaldeiados crescendo de forma alarmante, em função do êxodo para a cidade à procura de oportunidades de trabalho (TERRA SEM MALES), precisava de uma solução imediata para amenizar o problema, pois o alcoolismo e a prostituição de menores estava tomando proporções anormais. Com o agravante de que os índios desaldeiados não tinham uma profissão e eram as maiores vítimas do desemprego e da exclusão social. Quanto ao problema das habitações, alem do desconhecimento sobre a utilização da casa como promotor de saúde, o não direcionamento quanto a coleta de lixo ou a utilização de equipamentos sanitários (na maioria das vezes inexistentes ).
No intuito de interferir nesse quadro, a Prefeitura implantou o PROJETO FAZER, que tem por objetivo a profissionalização do indígena, para que se torne um cidadão incluso no processo econômico, político e social dentro do município, valorizando o realdeiamento dos indígenas já profissionalizados, para que funcionem como multiplicadores de conhecimento dentro das áreas em que foram treinados, como habitação saúde, saneamento e a produção de insumos e artefatos, primando pela fixação do cidadão em seu lugar de origem. Visando ampliar os benefícios do projeto e com apoio da FUNASA, o mesmo está sendo estendido às aldeias, na construção de micro-sistemas de abastecimento de água e construção de melhorias sanitárias comunitárias. Seguindo uma metodologia adotada, foram contratados instrutores e sob a supervisão de engenheiros, estão sendo construindo em 18 aldeias da Etnia Mundurukú. O projeto das melhorias sanitárias foi elaborado de forma participativa entre a comunidade indígena a PMJ e a FUNASA, tentando eliminar todos os pontos de rejeição, e estando os indígenas inclusos no processo construtivo alem de serem profissionalizados, o trabalho está sendo utilizado como forma de valorização, preservação e manutenção do equipamento. Com a atuação do indígena em diversos setores dentro da economia municipal, o índio passou a ser visto como um profissional competente dentro da sociedade, sendo incluso e visto como um cidadão economicamente ativo no Município. Objetivos: A operacionalizção do PROJETO FAZER, implicou na efetivação de ações adequadas à obtenção dos resultados pretendidos, as quais passamos a detalhar: Ação Período Local Procedimento Implantação da fábrica de pré-moldados 2001 Sede do Município Criada com recursos próprios da PMJ Implantação da fábrica de 2000 Aldeia Caroçal do Criada com recursos próprios da mosquiteiros Rio das Tropas PMJ Projeto Obra Escola 2000 Sede do Município Formação de mão de obra indígena para construção do hospital, financiado por convênio com a SESPA. Implantação de casas de 2000-2001 26 aldeias Treinamento de pessoal em padrões farinha de higienização para a merenda escolar. Comercialização da produção diretamente com a Merenda escolar Formação de Técnico 2000-2002 Sede do Município Treinamento de pessoal e apoio ao Agrícolas agricultor Formação de professores 2000-2002 Sede do Município Treinamento de pessoal bilingües Formação auxiliar de 2000-2002 Todo o Município Treinamento de Pessoal enfermagem, laboratorista e agente de Saúde
Problemas encontrados: O principal problema enfrentado é a resistência dos órgãos de controle externo em aceitar as peculiaridades da modalidade de execução direta de obras necessária ao sucesso do PROJETO FAZER. Desenvolvimento da atividade: Dentro do PROJETO FAZER, foram alocados vários sub-projetos e atividades dentro dos quais contamos com parceiros valiosos como a FUNASA, o GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ e o GOVERNO FEDERAL. A Secretaria do Trabalho e Promoção Social, trabalhando junto a comunidades indígenas já organizadas, montou fábricas de mosqueteiros, que confeccionados pelos indígenas treinados por instrutores, são vendidos a prefeitura que utiliza no combate ao vetor da malária, que é um dos grandes problemas da região. A construção e o apoio as casas de farinha, com treinamento quanto a higiene a armazenamento, foi estimulada através da compra do excedente pela prefeitura, para inclusão na merenda escolar. Com a venda do produto garantida, os indígenas passaram a plantar mais mandioca, obtendo orientações e informações por parte da Secretaria de Agricultura, que capacitou indígenas como técnicos agrícolas, para um perfeito entrosamento com a comunidade. A Secretaria de Saúde vem trabalhando na formação de auxiliar de enfermagem indígena, para um trabalho mais interligado a comunidade, inclusive na pesquisa de plantas medicinais, com o trabalho do Frei Amarildo que vem catalogando plantas e tratamentos praticados tradicionalmente, montando uma horta medicinal na Aldeia Missão Cururu. A Secretaria de Educação está trabalhando na formação de professores bilíngües, que já estão atuando nas escolas das aldeias e replicando conhecimento. Como ação especial do PROJETO FAZER, foi montado o PROJETO OBRA ESCOLA onde os recursos oriundos de convênios foram utilizados em forma de ADMINISTRAÇÃO DIRETA, retendo-os no Município e aumentando a atividade econômica e a receita pública, o que reverte em prol da comunidade como um todo. Aplicando o conceito de Habitação Saudável, integrando projetos ações e a comunidade a REDE AMAZÔNICA DE HABITAÇÃO SAUDÁVEL, vem atuando com as seguintes ações: Transferencia de tecnologia. Conscientização da população das aldeias quanto a importância da habitação como forma de promoção de saúde. Conscientização da população sobre hábitos de higiene. Transferencia de Tecnologia em Construção Civil. Experiência da ALDEIA CAROÇAL DO RIO DAS TROPAS / NAÇÃO INDÍGENA MUNDURUKÚ.
Usando a metodologia do projeto OBRA ESCOLA, durante a construção da MELHORIA SANITÁRIA COMUNITÁRIA (projeto desenvolvido em conjunto com a FUNASA ), foram treinados 6 indígenas pertencentes a aldeia dentro das técnicas de construção civil, os quais replicaram o conhecimento dentro da comunidade, proporcionando melhoramentos das habitações de forma expontânea. Conscientização da população sobre a salubridade da habitação. Palestras sobre malária e outros vetores (como agir, evitando a entrada de vetores bem como a proliferação dos mesmos ). Informações sobre técnicas de telamento e fechamento de frestas. Possibilidade da comunidade indígena de obter os materiais de construção adequados, através de outras obras da prefeitura atreladas ao projeto fazer. Conscientização da população quanto a Hábitos de Higiene. -Projeto elaborado em conjunto com a FUNASA. -Trabalho desenvolvido pelos AISANS. Projeto de recolhimento de lixo. -Trabalho desenvolvido em conjunto com o Chefe de Posto da FUNAI. Projeto de melhoria alimentar e higiene na preparação dos alimentos. -Trabalho desenvolvido pela Prefeitura de Jacareacanga e pela Pastoral. Conclusão: O PROJETO FAZER é entendido como uma política pública, voltada para a geração de trabalho e renda; entretanto, quando atrelado ao conceito de HABITAÇÃO SAUDÁVEL, mostrouse um instrumento valioso de promoção da saúde. Acreditamos que se aplicado a realidades análogas o conceito se transformara em um instrumento mobilizável em políticas públicas de saúde e saneamento mais abrangentes. Com as técnicas de construção replicadas dentro da comunidade, e com a possibilidade de aquisição de materiais adequados, se da uma melhoria expontânea nas habitações, refletindo diretamente na saúde, como podemos observar na tabela abaixo que são, dados consolidados das aldeias Kato, Warõ Apompo, Teles Pirez e Caroçal do Rio das Tropas durante os anos de 2000 a 2002. Pop.Geral Nascidos Óbitos Hepatite Parasitose Hanseníase DST Prénatal Imunização Atend/Consul. De Enfermagem 2000 1775 63 11 2 532 0 12 0 41% 3422 2001 1883 110 21 9 985 0 10 65 49% 4559 2002 1941 114 20 1 722 0 13 370 68% 4523
Como ganho político a Administração Municipal de Jacareacanga, em pesquisa realizada dentre 3.569 municípios foi tida como uma das melhores do Brasil com 89% de aprovação dos munícipes e recebendo o troféu Melhores Prefeitos do Brasil (UBD). PARCEIROS : Prefeitura Municipal de Jacareacanga /Adm. Eduardo Azevedo. FUNASA. Pastoral da Criança. Rede Amazônica de Habitação Saudável / UNAMA(Universidade da Amazônia ). Governo do Estado do Pará. Governo Federal / Caixa Econômica Federal. Izabelle Vianna. Arquiteta e Urbanista. Coordenadora do PROJETO FAZER. Coordenadora da Rede Amazônica de Habitação Saudável / RAHS / UNAMA.