A PRÁTICA DO REGISTRO REFLEXIVO EM SALAS DE AULA PRESENCIAL/VIRTUAL



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Transcrição:

A PRÁTICA DO REGISTRO REFLEXIVO EM SALAS DE AULA PRESENCIAL/VIRTUAL ARAÚJO, Lucicleide SEE/DF e UCB lucicleide.ead@gmail.com RESUMO O registro reflexivo é uma das estratégias didático-transdisciplinares que o professor pode utilizar durante os processos de ensino-aprendizagem e que muito pode ajudar no acompanhamento do processo evolutivo da aprendizagem dos estudantes. Instrumento capaz de possibilitar ao sujeito/aprendiz ampliação de olhares quanto às formas de percepção e de conhecimento, ao mesmo tempo em que reflete sobre o próprio processo de desenvolvimento da aprendizagem. O presente artigo aborda sobre a importância dessa prática em espaços educativos bem como aponta caminhos para sua utilização tanto na modalidade de educação presencial quanto virtual. Além disso, reflete sobre sua relevante contribuição no processo autoformativo dos estudantes universitários de modo integral e integrado. O registro reflexivo integrado com outras práticas didáticopedagógicas atua como atrator didático que pode possibilitar possivelmente maior dinamismo aos processos construtivos e reconstrutivos de conhecimentos e mais sentido tanto à vida pessoal, quanto profissional dos sujeitos/aprendizes e garantia de processos de aprendizagens contínuos e com mais qualidade de vida. Palavras-chave: Didática transdisciplinar; Estratégia; Aprendizagem; Registro; Autoformação; Avaliação. INTRODUÇÃO As estratégias docentes, segundo Torre (2002) são processos que podem facilitar a ação formativa, a capacitação, a reflexão crítica, o ensino criativo, a interrogação didática, o debate, a discussão dirigida, bem como a aprendizagem compartilhada, a metacognição, a utilização didática do erro, e outras. Essas estratégias de ensino delineiam os processos de ensino e aprendizagem. Segundo o autor (ibidem, p. 93) estratégia é a organização seqüenciada da ação que pressupõe atividade consciente, intencional e planejada de aprendizagem a ser seguida, tendo em vista a busca pela eficácia ou bom resultado da ação. 1

Em complemento a ideia de Torre (2002), Morin (2007) informa que em toda ação implica-se decisão, escolha e desafio. E, diante de desafios, há a consciência dos riscos assumidos e das incertezas inerentes. Portanto, para esse autor, ação é estratégia. Porém, ele não define como programa predeterminado, pronto para ser aplicado de modo rígido, mas como uma tomada de decisão inicial em que são previstas várias possibilidades de cenários integradores, permeados por estratégias didáticotransdisciplinares (ARAÚJO, 2011) para uma possível concretude da ação. Até porque algo programado, formatado, impede inovação. Ao contrário, permite construções e reconstruções para se navegar por novas rotas, anteriormente não imaginadas durante o planejamento de ensino, o que pressupõe encontros com novos movimentos no próprio decurso das ações intencionadas. A estratégia funcionaria, nesse sentido, como ponto de partida, como o que possibilita o movimento. Apontando-se para esse sentido, o registro reflexivo pode ser considerado como uma das estratégias didático-transdisciplinares que educador e educando podem fazer uso nos processos de ensino e aprendizagem, pois sua prática em contextos educativos muito pode facilitar tanto ao educador no acompanhamento do processo de desenvolvimento da aprendizagem dos seus estudantes, bem como possibilitar aos estudantes acompanharem o próprio processo de construção de conhecimentos. Além disso, de possibilitar a ascensão, possivelmente, para outros níveis de consciência em relação aos conhecimentos construídos durante o decurso do desenvolvimento dos conteúdos curriculares programados, indo-se além deles. A reflexão em sala de aula, após cada conteúdo colocado a serviço dos estudantes ou por complexos temáticos, abre canais para novos olhares sobre si mesmos, sobre os outros e sobre o contexto em que estão inseridos, favorecendo-se processos de autoconhecimento por parte dos sujeitos envolvidos nessa dinâmica pedagógica que envolve processos de aprendizagem. O presente artigo reflete e reforça sobre a importância dessa prática em sala de aula, tanto na modalidade de educação presencial bem como virtual e aponta o registro reflexivo como um dos possíveis caminhos capazes de melhorias no desempenho e qualidade da aprendizagem do estudante e de sua inclusão e permanência em contextos educativos apoiados por espaços mais abertos e plurais, de autonomia e autoria de pensamento. Uma prática de cidadania, mediante uma mudança de ótica que requer, 2

sobretudo mudança de atitude por parte dos principais protagonistas envolvidos na dinâmica do ensinar e do aprender. O REGISTRO REFLEXIVO A prática do registro reflexivo em sala de aula é um tanto quanto provocativa, pois instiga estudantes e professores à busca pela própria autonomia e autoria em relação aos processos construtivos de conhecimento; a uma tomada de consciência dos próprios limites, tendo em vista caminhar ao encontro por conhecimentos que sejam mais significativos e que possibilitem maior sentido à vida pessoal e profissional tanto por parte de quem media o processo de ensino e aprendizagem (o educador) bem como por parte dos educandos. A fim de garantir maior êxito em relação a essa situação didático-transdisciplinar é necessário a constante inserção de outras várias estratégias tanto do velho cenário didático (Paradigma Tradicional) quanto do novo cenário didático-transdisciplinar (Paradigma da complexidade), conforme ensina Araújo (2011), pois esse diálogo permite uma maior integração entre as mais variadas possibilidades de combinação e construção de inovadores cenários a partir do que já se tem. A utilização de vídeos em associação com textos e uso de metáforas, finalizando-se a aula com a prática do registro, por exemplo, funcionam como atratores que possivelmente podem captar a atenção dos estudantes para o que se pretende ensinar e aproximá-los do seu objeto desejante. Além de torná-los sujeitos mais presentes, e participantes ativos durante as atividades permanentes de diálogos subjetivos e intersubjetivos constituídos em sala de aula. Esses caminhos podem levar possivelmente educadores à construção de uma prática docente significativa e à apropriação, por partes dos estudantes, de um conhecimento mais significativo, a partir de uma visão complexa e transdisciplinar que permite abertura para novos conhecimentos e relações de significados entre os fatos e realidade. Esse constante movimento possibilita a reconstrução de conhecimentos individuais e na coletividade mediante a constante inserção de inovadoras situações didático-transdisciplinares provocadoras que despertem no educando a vontade e curiosidade para o que se está buscando construir em termos de conhecimento e seu 3

resgate enquanto sujeito responsável pela construção da própria história ao mesmo tempo em que se busca transformá-la. A prática do registro reflexivo em sala de aula funciona como uma estratégia didático-transdisciplinar que pode possibilitar o constante movimento do processo aprendente, constituído pela abertura para novos conhecimentos e o fechar-se para novas organizações, como Edgar Morin (2007) assim ensina. Um processo de construção de ideias e pensamentos em constantes mudanças, que se cria e recria a todo o momento, que sofre modificações e que pode possivelmente transcender o sujeito para outros níveis de realidade e percepção, pelo conhecimento em profundidade e o despertar para ir à busca por seu sentido mais elaborado. Como ensina Moraes (2008), as estratégias didáticas funcionam como pontos de convergência para os quais pensamentos, olhares e falas são atraídos, criando-se campos energéticos favoráveis à construção de ambientes de aprendizagem. Visto que, quanto mais estratégias forem criadas para ativação dos processos cognitivos, emocionais, intuitivos, imaginativos, espirituais, mais haverá possibilidades para uma aprendizagem significativa, integrada e em processo evolutivo. Quanto mais ambientes de aprendizagem emocionalmente saudáveis forem criados, tanto no modo presencial como virtual, mais existirão possibilidades para a ocorrência de possíveis transformações nesses contextos. E quanto mais forem ativados processos neurocerebrais, mais possibilidades de o educando construir conhecimentos com mais sentido para sua vida pelo processo triádico da prática: da leitura, reflexão e registro. Essa mudança de postura possivelmente é capaz de transformar espaços educativos em campos energéticos e vibracionais, em oficinas de aprendizagem emocionalmente saudáveis para a construção de conhecimentos pertinentes (MORIN, 2004), que permitam aos sujeitos da práxis se envolverem mais intensamente nos processos de ensino e aprendizagem com alegria, autonomia e prazer, sem bloqueios. Estratégias didáticas atuam como fonte para o fluir do pensamento, do sentir para em seguida se colocar o agir, como ensina Saturnino (2004). Tudo isso corrobora para processos constantes de análise e síntese sobre as reflexões suscitadas em sala de aula pela experiência vivida e que tenham feito sentido. Esse movimento de abertura e fechamento é capaz de possibilitar aos estudantes a materialização do vivido, sabendo dizer, como podemos encontrar em D Ambrósio (apud Araújo, 2011), de realizarem o registro reflexivo em sala de aula não por obrigação, mas porque se sentiram tocados, religados com os conhecimentos já, anteriormente, apreendidos por eles durante o viver. 4

Visto que, o que se viveu a partir da aula vale a pena ser rememorado e registrado como marca na construção e reconstrução da história da humanidade em relação aos processos de conhecimentos apreendidos pela experiência viva em contextos educativos, pois como assegura Freire (2008, p.54-55) mediados pelo registro, deixamos nossa marca no mundo. [...] tecemos o processo de apropriação de nossa história, individual e coletiva. A PRÁTICA DO REGISTRO E O RESGATE DO SUJEITO REFLEXIVO O processo da palavra só tem sentido se for ressignificado, do contrário atua como mera reprodução do já falado. Portanto, escrever é reescrever, dando novos sentidos, ressignificando o já dito. Ao escrever, o sujeito se reinsere em seu próprio processo de construção de conhecimento, desvelando-se enquanto pessoa que sente, pensa, cria, outorga significados, significações, à medida que aprende pondo em jogo toda a sua corporeidade, inteligência, pelo desejo inconsciente, pelo seu querer de sua máquina desejante-imaginativa-pensante (FERNÁNDEZ, 1994). Visto que, ao escrever o sujeito elege, decide e se mostra. Ressurge do silêncio, atribuindo voz ao pensamento articulado. Ao dizer, expõe a própria imagem em evidência, mostra-se ao outro e a si mesmo o próprio pensamento, pois escrita é marca, marca que mostra e me mostra o caminho percorrido e deixa ver o caminho a percorrer. (FERNÁNDEZ, 1994, p. 153). Nesse sentido, em contextos educativos, como fazer visível a produção invisível dos sujeitos, pela escrita, enunciando a própria palavra? É preciso que educadores invistam em processos de ensino e aprendizagem a fim de que o registro da palavra traduza a expressão simbiótica entre o corpo, a alma e o espírito. Visto que, a gênese do escrever em seu sentido mais amplo aporta-se para a gênese do falar, ou seja, como assegura Araújo (2011) para o saber teorizar, dizer, fundamentando o próprio fazer. Pelo processo da escrita, pode-se materializar, dá concretude ao pensamento, dando condições assim, de voltar ao passado, enquanto se está construindo a marca do presente (FREIRE, 2008, p. 55). Lacan apud Fernández (1994) acrescenta que a voz se ouve, o significante se escuta e o que se lê do que se escuta é o significado. Assim, vale dizer, segundo Morin (2007) que a reflexão sobre o conhecimento organizado, em associação com o próprio processo de vida do sujeito, gera, 5

possivelmente, conhecimento imbricado com o processo de viver. Ou seja, um conhecimento pertinente e uma prática pedagógica em congruência com a identidade docente. Nesse sentido, é importante reforçar sobre a necessidade dos processos de construção de conhecimentos tanto na modalidade de educação presencial como a distância serem acompanhados por momentos reflexivos e de registros, pois são momentos únicos e oportunos para os sujeitos aprendizes voltarem-se para si mesmos, a reconhecerem as próprias cegueiras, incertezas e do inacabamento e incompletude perante os conhecimentos a serem construídos a partir de relações dialógicas consigo, com o outro e com a vida. A PRÁTICA DO REGISTRO REFLEXIVO EM SALA DE AULA PRESENCIAL/VIRTUAL A prática do registro reflexivo enquanto estratégia didático-transdisciplinar (ARAÚJO, 2011) a ser vivenciada em contextos educativos presenciais/virtuais é um desafio tanto para os professores quanto para os estudantes, pois requer o seu constante exercício à medida que são colocados em diálogos os conteúdos da disciplina com os conteúdos do sujeito. Ao final de cada aula ou após um complexo didático de situações de aprendizagem propostas pelo professor sugere-se aos estudantes ao final o registro reflexivo, como síntese das experiências vivenciadas e meio de verificação por parte dos aprendizes sobre os conhecimentos apreendidos. Esta estratégia de natureza transdisciplinar, segundo Araújo (2011) tem como objetivo levar os estudantes a tomarem consciência sobre o próprio processo de aprendizagem, a se auto-avaliarem constantemente para estarem em constante movimento de construção, desconstrução e reconstrução do conhecimento e assim ascenderem para outros níveis de conhecimento à medida que aprendem a aprender. Esta prática necessita ser concebida em um espaço permeado por clima favorável, harmônico e respeitoso, pois esse cuidado pressupõe construções de saberes e desenvolvimento de processos de ensino e aprendizagem saudáveis e mais pertinentes, bem como possibilita a reintrodução do sujeito cognoscitivo como ator e autor de sua história de vida, pelo construir e reconstruir de seu processo, mediado pela estratégia do 6

registro reflexivo em sala de aula em consonância com outros procedimentos de natureza didático-transdisciplinares. É importante lembrar que o registro reflexivo é um instrumento pedagógico que requer escuta sensível (Barbier, apud MORAES, 2008), por parte do educador, capaz de possibilitar o redimensionamento no próprio decurso da prática educativa. Para tanto, faz-se necessário o seu constante exercício, considerando o estudante enquanto sujeito único, inteligente, que se auto-gere por si mesmo, pois enquanto ser pensante é capaz de intervir na própria realidade com consciência, competência e autoridade. Quando o professor faz uso dessa estratégia didático-transdisciplinar em sua sala de aula, pode-se assegurar possivelmente uma maior aproximação dos conteúdos da disciplina com os conteúdos construídos por parte do estudante durante sua vida em contextos formais e informais. O registro atua nesse sentido como conector, ou seja, elo entre o que é dito em sala de aula e o que aluno é capaz de dizer em relação ao que foi dito e o que ele agrega ao conhecimento apreendido com o já anteriormente por ele conhecido e já estruturalmente acoplado em seu ser. Quando ocorre essa interconexão tudo concorre para a ocorrência, possivelmente, do encontro entre os saberes formais com os saberes informais e uma maior fluência na hora do registro. Reconhecer este momento de encontro exige por parte do educador sensibilidade para com a linguagem escrita do estudante, um olhar atento para o que o estudante consegue dizer, durante o processo de produção de seus textos, pois cada estudante encontra-se em um nível de realidade em relação ao conhecimento e isso precisa ser considerado em prol de seu próprio desenvolvimento. Nesse sentido, requer uma escuta em profundidade tanto no momento em que o estudante se expressa pela palavra bem como quando a materializa mediante a prática do registro descrevendo o próprio processo de conhecimentos sob as mais diversas formas de expressão, além da razão. Essa visão extrapola o olhar puramente tradicional do texto pelo texto. Saber fazer a leitura do texto para além do escrito exige pensamento complexo, exige sensibilidade para compreender o que se encontra na ordem implicada, o que o atravessa e o que é preciso de fato ser revisto, reconsiderado para ser revisto novamente tanto no aspecto epistemológico bem como nos aspectos emocionais e metodológicos. Tudo isso, a fim de que o professor possa encontrar as melhores formas de intervir, no sentido de levar o estudante a ascender para outros níveis de percepção e conhecimento, bem como provocar transformações em seu próprio ser. 7

O registro reflexivo apresenta-se como um instrumento que possivelmente possibilitará o acolhimento dos diferentes saberes dos estudantes, resgatando-os de uma situação de passividade para uma proposta de participação mais ativa em seus mais diferentes espaços da vida cotidiana, tornando-os agentes participativos e participantes na dinâmica do aprender em sinergia com a diversidade de olhares sobre um mesmo objeto de estudo presentes em um mesmo espaço de interações, constituído tanto no espaço presencial como no da virtualidade. O registro reflexivo não atua como remédio que dará conta de todos os problemas da educação, mas um possível caminho para a reintrodução do ser frente ao seu próprio processo de construção de conhecimento. Uma mudança de ótica que requer, sobretudo, atitude e ousadia por parte do educador e educandos. CONCLUSÕES PROVISÓRIAS Por meio do registro reflexivo é possível o sujeito/aprendiz compreender o próprio processo de construção de conhecimentos, pelo emergir de sua aprendizagem. Instrumental valioso que reinsere o sujeito, devolvendo-lhe a direção de seu protagonismo frente aos processos construtivos do conhecimento, possibilitando participação ativa na tomada de decisões, organização de ideias e escolhas. O registro reflexivo é uma estratégia didático-transdisciplinar de acolhimento dos saberes dos estudantes, que permite aos sujeitos da práxis pedagógica sentirem-se partes constitutivas da realidade, com possibilidades para construírem juntos, movidos pelo dinâmico processo de ensino e aprendizagem. Ou seja, sendo produtos e produtores ao mesmo tempo do próprio processo de construção de conhecimento, além, de coparticipantes na vida de uns dos outros. Esse dinamismo alimentado constantemente pela tríade constitutiva e interdependente: da leitura, da reflexão e do registro sinergicamente atuando para o constante construir, desconstruir e reconstruir em relação ao conhecimento. A prática do registro reflexivo em congruência com outras estratégias didáticotransdisciplinares é um dos possíveis caminhos capazes de permitir abertura ao conhecimento, ao novo, ao emergente, ao incerto, aos sujeitos assumirem-se como autores e co-construtores, na com-vivência subjetiva e intersubjetiva. Ora assumindo a condição de sujeitos/leitores, mediante o acesso aos conteúdos propostos pela disciplina 8

e outros complementares, a partir do próprio protagonismo, ora como sujeitos/autores revelados pela prática do registro reflexivo. O registro reflexivo enquanto estratégia didática permanente a ser utilizada em qualquer disciplina, acolhe a diversidade de olhares, as multirreferencialidades presentes em uma sala de aula, pela troca de ideias e reflexões. Funciona como elo de comunicação entre o que foi dito em sala de aula, o que se pôde dizer sobre o que se disse e o que ainda é necessário a se dizer sobre o não dito. Instrumento neste sentido, em constante movimento que não se encerra em uma aula, mas elo para novos direcionamentos por parte do educador/mediador da práxis pedagógica. É uma prática a se construir a partir da criação de ambientes emocionalmente saudáveis e prazerosos para processos de construção de conhecimentos mais abertos e plurais, flexíveis, contextualizados, desafiadores, diversos, polifônicos. A prática do registro reflexivo pressupõe caminho e possibilidade para a construção de conhecimentos mais elaborados, interconectados e com mais sentido tanto a vida pessoal quanto profissional do educador e estudantes, bem como a vivenciarem, possivelmente, experiências ótimas de fluxo em relação aos processos produtivos de conhecimento. Tudo isso pode conspirar em favor da inteireza humana e garantia de processos de aprendizagens contínuos e com mais qualidade de vida. REFERÊNCIAS ARAÚJO, L. (2011). Didática transdisciplinar: um pensar complexo sobre a prática docente. Brasília: Ex Libris. FERNÁNDEZ, A. (1994). A mulher escondida na professora: uma leitura psicopedagógica do ser mulher, da corporalidade e da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed. FREIRE, M. (2008). Educador, educa a dor. São Paulo: Paz e Terra. MORAES, M. C. e TORRE, S. de la. (2004). Sentipensar: fundamentos e estratégias para reencantar a educação. Petrópolis: Vozes. MORAES, M. C. (2008). Ecologia dos saberes: complexidade, transdisciplinaridade e educação: novos fundamentos para iluminar novas práticas educacionais. São Paulo: Antakarana/WHH Willis Harman House. MORIN, E. (2007). Introdução ao pensamento complexo. 3. ed. Porto Alegre: Sulina. 9

MORIN, E. (2004). Os sete saberes necessários à educação do futuro. 8. ed. São Paulo: Cortez, Brasília: UNESCO. TORRE, S. de la e BARRIOS O. (2002). Curso de Formação para Educadores: Estratégias didáticas inovadoras. Ed. Madras, 2002. 10