Documentário: Lembrança Do idoso ao abrigo 1



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Transcrição:

Documentário: Lembrança Do idoso ao abrigo 1 Murilo Ferreira Santos SILVA 2 Alexandre Pereira da FONSECA 3 Isaiana Carla Pereira dos SANTOS 4 Johnatan Pereira da CRUZ 5 Esdra Marchezan SALES 6 William Robson Cordeiro SILVA 7 Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, RN RESUMO O documentário Lembranças tem como proposta unir histórias de idosos residentes no Abrigo Amantino Câmara (Mossoró - RN) e contá-las através de suas próprias perspectivas. Durante as visitas, a equipe registrou a situação dos mais velhos, como vivem, o que sentem, e principalmente, como eles chegaram àquela instituição acolhedora. Uma das maiores preocupações do projeto está concentrada na busca pelo resgate de memória tanto dos que habitam, como também daqueles que trabalham no local, e tem como propósito, pontuar a responsabilidade ou falta dela, por parte dos familiares dos idosos. PALAVRAS-CHAVE: Amantino Câmara, documentário, lembranças 1 INTRODUÇÃO A idade é algo temido por muitas pessoas, em qualquer parte do mundo. Para os mais vividos, essa preocupação chega a ser constante, pois, envelhecer não é fácil, afinal de contas, é a parte da vida em que, na maioria dos casos, a dependência se torna um hábito involuntário, principalmente na realização de diversas atividades corriqueiras, que antes eram exercidas sem nenhuma dificuldade. A palavra reciprocidade contém um peso que nem sempre as pessoas conseguem carregar. Há quem suporte, há quem nem sinta esse peso. O ciclo da vida se constitui, em primeiro, com os pais cuidando de seus filhos e, com o passar dos anos, os filhos cuidando de seus pais, retribuindo todo o afeto compartilhado. Mas esse não é tipo de configuração que se permeia entre todas as famílias. 1 Trabalho submetido ao XXII Prêmio Expocom, na Categoria Cinema e Audiovisual, na Modalidade CA 02 Filme de não ficção/ documentário/ docudrama (avulso). 2 Aluno líder do grupo e estudante do 4º período de Comunicação Social - Publicidade e Propagada, email: murilo_fsanttos@hotmail.com. 33 Estudante do 6º período de Comunicação Social Jornalismo, email: alexandrefonseca19@hotmail.com. 4 Estudante do 6º período de Comunicação Social Jornalismo, email: isaiana.carla@hotmail.com. 5 Estudante do 8º período de Comunicação Social Jornalismo, email: natanjornalismo20@gmail.com. 6 Orientador do projeto, Professor de Comunicação Social Jornalismo, email: esdrasmarchezan@gmail.com. 7 Orientador do projeto, Professor de Comunicação Social Jornalismo, email: williamdefato@gmail.com.

Por inúmeros motivos, seja, alegando não ter condições físicas ou psicológicas, falta de relação, ou até mesmo, o abandono, centenas de idosos são deixados aos cuidados de pessoas que nunca viram na vida, sendo obrigados a se adaptarem a um novo contexto de vida e criarem novos laços com outros idosos, que serão a partir daí, sua nova família. O papel de qualquer abrigo se estende ao de acolher e abrigar mais um. O sistema funciona com muitas vias de fatos e mãos de dezenas de funcionários e até voluntários, voltados para o bem estar desses pacientes. Que por sua vez, carregam consigo mesmos, a saudade daqueles que eles dedicaram a vida, e que hoje não estão mais perto. Toda essa situação nos faz pensar em um ponto chave para entender talvez a tristeza contida nos olhos de cada personagem dessas instituições. Um filho quando perde o pai vira órfão. E o pai quando perde o filho? O que vira? De acordo com o Artigo 3.º do Estatuto do Idoso: É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Todos esses direitos, tornam-se deveres, quando olhamos pelo lado de quem tem a obrigação de fazê-los acontecer, os familiares em primeiro plano. Logo descumprida essa etapa, o Estado intervém e toma para si de certa forma a responsabilidade de cuidar desse indivíduo. E é aí que vem todo o problema. Quando uma máquina administrativa exerce a função de um ser humano. Deixando assim em segundo plano, aquilo que nos mantém vivos, as relações interpessoais, e tudo que nelas são contidas. Com os recursos necessários, a equipe então estabeleceu uma meta em usar da interdisciplinaridade para mostrar essas histórias de idosos que não conhecíamos, de resgatar lembranças que jamais seriam compartilhadas sem o devido cuidado, e de mostrar os vários lados da vida daqueles idosos que vivem em um abrigo. Nesta perspectiva, foi escolhido então, o Instituto Amantino Câmara, inaugurado em 8 de Julho de 1941 e que acolhe atualmente cerca de 68 idosos. A instituição sem fins lucrativos vive por meio de doações, ações sociais e dos salários dos pacientes aposentados. Além da solidariedade de pessoas voluntárias, que por mais até de 10 anos já fazem parte da história do local. Com o pensamento claro de trazer uma visão mais ampla de todos os lados, entrevistamos não só seus moradores, como também, cuidadores, assistentes sociais e funcionários em geral.

2 OBJETIVO 2.1 Objetivo Geral - Produzir um documentário com tempo definido entre 20 (vinte) a 40 (quarenta) minutos, sobre o Instituto Amantino Câmara, pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, para em seguida, passar pela banca de aprovação e ser veiculado em Congressos, tal como ser apresentado em exibições para os alunos e principalmente para os protagonistas da história, os idosos. (canal do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=a42sj342h5e). 2.2 Objetivos específicos - Mostrar a rotina dos idosos residentes do abrigo, compreender seus anseios, seus sonhos não realizados, o passado, as consequências da vida em um instituto como esse, e o que os levaram a morar no local. Além de ouvir funcionários, coordenadores e cuidadores, para legitimar a veracidade dos relatos capturados e entender como funciona a relação e o tratamento dado aos pacientes, seja por parte da instituição ou da própria família. 3 JUSTIFICATIVA É válido quando há uma proposta de através do jornalismo, expor a realidade cotidiana em que vivemos da forma como ela é, ou pelo menos como à vimos, com a maior veracidade possível e com o acompanhamento preciso de professores e alunos, preocupados em passar aquela mensagem ali captada para seu receptor, de modo que não agrida, mas que faça refletir os temas abordados no projeto. Essa é a justificativa que norteia a produção do Lembrança Do idoso ao abrigo, visando deixar claro para o meio acadêmico e a sociedade, todos os caminhos percorridos pelos idosos abandonados ou não, e como se sentem, tendo a vida concentrada em um único lugar, por um grande período de tempo (ou até para sempre), sendo cuidados por pessoas que até então desconheciam. E ao mesmo tempo dando voz a esses seres acolhedores, para que seu ponto de vista em relação ao abandono, a vida do idoso em um abrigo e como a própria instituição permanece viva nos dias de hoje, seja também exposto, almejando a compreensão do tema, de maneira abrangente. Jean Louis Comolli 2011 nos fala em realidade quando relaciona o cinema documentário a uma parte excluída. Esta parte excluída refere-se ao daquilo que resiste, daquilo que resta, a escória, o resíduo, a parte maldita (COMOLLI, 2011, pg.11) da sociedade. Em alguns casos, os

idosos são vistos como uma fissura e, por isso, são colocados em abrigos. Como se aquele lugar fosse um depósito de pessoas que não servem mais para uma sociedade produtora. O autor trata do real, no cinema documentário, como aquilo que deve fugir do roteiro. Este vê no roteiro a possibilidade de não ficção com o real, pois, os personagens que preenchem as fissuras da parte excluída não têm muita representatividade no roteiro cinematográfico. Já o cinema documentário abre espaço e reconhece esses personagens e se engaja com o mundo, visto que, filmar os homens reais no mundo real representa estar tomado pela desordem dos modos de vida, pelo indizível das vicissitudes do mundo, aquilo que do real se obstina a enganar as previsões. Impossibilidade do roteiro (COMOLLI, 2011, pg.99), é tornar tudo menos enquadrado e programático e trazer mais para o lado humano, deixando o projeto, completamente exposto para o risco do real. Há uma preocupação entre os participantes do projeto, de entender a dinâmica da instituição, como conseguem manter o espaço mais confortável possível, para que se pareça mais com uma casa e menos com um hospital. E de como ocorre à inclusão dos pacientes, na rotina do local. Com um projeto como esse, a equipe consegue ir muito além de conseguir somente relatar como viveram e como vivem esses personagens. Precisávamos justificar e pontuar, como eles se enxergam, o que ainda não conseguiram realizar, o carinho que restou da família, as memórias dos dias passados, o que temem e como estão suas mentes nos dias atuais. São esses os poréns, que o Lembrança Do idoso ao abrigo se sente no dever de mostrar, pois é preciso agregar uma importância ao abrigo, de um ângulo que ainda não havia sido feito. Expondo toda essa situação e como é realizada a missão dos trabalhadores da instituição para mascarar de alguma forma a falta que a verdadeira família faz. 4 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS Durante o segundo semestre do ano de 2014, a equipe visitou o local, projetou sua estrutura para os dias de gravações posteriores e conversou a com coordenação e diretoria do Amantino Câmara. Em quase um mês de preparação, agendamentos e cuidamos da produção de um roteiro prévio, discutimos como iríamos retratar a vida daquelas pessoas e como daríamos voz a cada história ali relatada. Falamos previamente com a diretoria do local, sobre a gravação e o que pretendíamos fazer com aquele material, pois a negociação que ocorre antes, durante e depois da filmagem é uma negociação de desejo (COUTINHO, FURTADO, XAVIER, 2005, p. 131). E essa conversa serve principalmente para que o documentário não tenha nenhum juízo de favor, induzido

por parte da direção do documentário. E tomando muito cuidado para que tanto a edição, como as falas dos entrevistados não agridam a terceiros. Utilizando assim no vídeo o chamado jump cut, cortes de um mesmo plano formando uma só linha de raciocínio. E tornando em algum momento o áudio mudo, para que aquela mensagem não seja discriminatória, de alguma forma. A fotografia pensada por nós traz vários elementos contidos em uma só cena. Como a angulação mais intimista, em primeiro plano (Close-up do personagem) DANCYGER, 2007, da altura do peito a cabeça, tirando como referência os documentários de Eduardo Coutinho, As canções de 2011, e Cabra marcado para morrer de 1984. Imagem 1: Cena do documentário Imagem 2: Cena do documentário Imagem 3: Cena do documentário As Canções Cabra marcado para morrer As canções Utilizamos também a ferramenta do desfoque em quase todas as tomadas, para dar ao espectador um direcionamento de atenção, já que o foco da câmera está todo voltado para o entrevistado, o ponto alvo naquele momento. E complementando com a visão semiótica das cores ali retratadas. Já que, o branco de uma maca da que vemos pelo local, não terá a mesma interpretação em primeiridade, secundidade e terceiridade, que o branco de um céu cheio de núvens como aparece nas cenas. Logo não era a intenção do projeto passar para seu receptor, uma mensagem ainda mais melancólica de como é a vida em um abrigo. Para isso utilizamos locações claras e arborizadas, dando ao personagem e a cena um ar mais humanizado. A construção do Lembrança Do idoso ao abrigo busca o efeito em que as cores causam na concepção do produto final. Desta forma, enquanto um idoso está falando de sua vida, dos momentos pesados em que passou e como veio parar em um abrigo, não podemos colocar, seja na gravação, seja na edição, elementos que destoam da história ali relatada. Pois feito isso, a atenção de quem assiste é direcionada automaticamente para esse objeto, perceptível ou não (como a cor utilizada), e não para o que interessa, no caso o entrevistado e suas memórias. O método por nós utilizado para compor essa função quase de modo invisível, foi à manipulação das cores dos vídeos originais captados, para tons mais frios como o azul. E tirando a luz das extremidades para que a

evidência esteja toda em quem está falando. Imagem 4: efeito utilizado para deixar a cena com tons frios. Imagem 5: Efeito utilizado para escurecer as bordas dos vídeos (vinheta). Com esse tratamento, as cenas por nós captadas ganharam um ar mais cinematográfico, mesclando a estrutura tradicional do documentário, a de um filme de ficção. Imagem 6: Captação natural da câmera. Imagem 7: Cena com edição de cores e colocação de barras. Imagem 8: Captação natural da câmera. Imagem 9: Cena com edição de cores e colocação de barras. Além das histórias e vivências das pessoas que moram e trabalham ali, o projeto aborda também como uma passagem atemporal, a ida de uma senhora para o abrigo, e traz consigo os

vários questionamentos, tanto por parte do idoso, quanto por parte da família. Nela é fundamentada a linha de raciocínio geral da edição do produto final. Que por sua vez faz conexão com outras duas fases do documentário, onde o subjetivo tem seu papel predominante. Cenas que trazem consigo, como antes citadas, a importância da cor (no caso o azul) e da música, para compor um sentido e passar uma mensagem sem que haja uma palavra sequer. Nesses pequenos clipes são empregados o mesmo significado que podemos observar no filme Abril Despedaçado de 2001, dirigido por Walter Salles. Onde essa cor representava as cenas de melancolia do audiovisual. Tratamos então nesses dois trechos citados, da linha ténue entre o que é ficção, e o que de fato é real. Buscando referencia no documentário Eu, um negro de Jean Rouch, para compor desde a gravação até a edição. Montando uma história dentro de outra, que assim serviria como coluna de sustentação dos acontecimentos reais. Como aborda Bazin: [ ] o realismo em arte só poderia, é evidente, proceder de artifícios. Toda a estética escolhe forçosamente entre o que vale ser salvo, perdido e recusado, mas quando se propõe essencialmente como faz o cinema, a criar a ilusão do real, tal escolha constitui uma contradição fundamental (BAZIN, 1948). Imagem 10: Cena do filme Abril despedaçado Imagem 11: Cena do documentário Lembrança do idoso ao abrigo Ressaltamos a relevância da cor nesses fragmentos, pois se na mesma cena colocássemos um vermelho ou até mesmo um verde, o sentido final seria diferente. E com isso a mensagem que a produção do documentário quis passar não seria bem compreendida. Isso tudo se deve não só a edição do produto. Mas também como a fotografia da cena foi feita, dando suporte para que ideias como essa sejam colocadas em prática. Outra parte essencial na composição da história do Lembrança Do idoso ao abrigo, é a música e seu papel de emocionar e de chamar atenção para o que está sendo falado. Contamos com a participação do pianista Joabe Willamys, professor do Conservatório de Música da Universidade

do Estado do Rio Grande do Norte, e do violinista Gabriel Rosário, aluno da instituição, como também do idealizador do projeto, Murilo Santos, para gravar a trilha sonora do audiovisual, com peças de W.A. Mozart, Frédéric Chopin, Claude Debussy, e Villa Lobos. Imagem 12: Gravação da trilha sonora ao piano, na rádio universitária. Imagem 13: Gravação da trilha sonora ao violino, na rádio universitária. A música vem para complementar as cenas que fazem parte do documentário, tento real direcionamento ao sentimento da história, seja por nós, seja pelos idosos, contada. 5 DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO O processo de idealização do documentário se deu através de diversas visitas ao local, conversas iniciais com os responsáveis, apresentação de documentação para direito de imagens e entrevistas, e a concepção das cenas que pretendíamos gravar. Logo após esse primeiro contato, um roteiro prévio de como iríamos agir desde as captações de imagens até a finalização da edição, foi feito para nortear toda a equipe. Entre cinco meses de pesquisa, gravação e edição, todos os participantes do projeto puderam vivenciar o dia a dia em um abrigo de idosos. Fortalecendo desta maneira as visões éticas que queríamos passar para os nossos receptores. E eliminamos, por exemplo, as imagens de idosos acamados, em situações deploráveis. Justamente para não tornar pior a estadia deles naquele local. Tentamos humanizar o máximo possível os entrevistados que ainda permaneciam lúcidos, usando elementos já citados anteriormente. O produto final reúne cenas dos personagens e dos funcionários, seus depoimentos, momentos de descontração, como também uma ação feita por universitários com doações para a instituição. Todas as imagens foram captadas pelas câmeras: Canon T5i lente 18-135. Nikon

D3100 lente 50mm. Nikon D3200 lente 18-55 e 35mm. 6 CONSIDERAÇÕES O Lembrança Do idoso ao abrigo, tem sua importância justamente na voz que é dada para aqueles que muitas vezes não são escutados nem mesmo pela sua família. Pelo resgate de memórias e pela mensagem de cunho social que quisemos passar. Onde mostramos um lugar muito bem equipado, com pessoas qualificadas para sua manutenção, mas que mesmo assim permanecia com a estrutura física e imagética de de um hospital, e não de uma casa. Depois de passar por essa experiência, a equipe de fato se encontra mais madura e sensibilizada com a realidade vivida pelos idosos do Instituto Amantino Câmara. Temos a consciência, de que os objetivos da produção, com certeza foram alcançados e esperamos que esse projeto possa trazer uma história, da qual carrega o peso, de como bem disse umas das entrevistadas: abrigo, não é lugar de idoso. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUMONT, Jacques. BERGALA, Alain. MARIE, Michel e VERNET, Marc. A estética do filme. Papirus Editora. Campinas SP, pg.22 282. 1995. CANNALONGA, Francisco. Doméstica, Pacífic Elogio à Bazin. Cinetoscópio. Disponível em: <http://cinetoscopio.com.br/2014/09/17/domestica-pacific-elogio-a-bazin/> Acesso em: 10.abr.2015. COMOLLI, Jean-Louis. Sob o Risco do Real. Catálogo do forumdoc.bh.2001 V Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte. Belo Horizonte: Filmes de Quintal, 2001, p. 99-108 e 109-116. DANCYGER, Ken. Técnicas de edição para cinema e vídeo. Corpus. Rio de Janeiro, pg. 399 486. 2007. FRANCO, Thiago Soares. ABRIL DESPEDAÇADO FILME COMPLETO. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wqzx1fwf2cy>. Acesso em 12 de Nov. 2014. IDOSO, Legislação sobre o. 3º edição. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/responsabilidade-social/acessibilidade/legislacao-

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