ASPECTOS CONCEITUAIS



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Transcrição:

ASPECTOS CONCEITUAIS Um evento adverso pode ser definido como o fenômeno que produz mudanças desfavoráveis nas pessoas, na economia, nos sistemas sociais ou no meio ambiente; pode ser de origem natural, gerado pela atividade humana ou de origem mista e pode causar uma emergência ou um desastre. Numa emergência, as ações-resposta podem ser gerenciadas com os recursos localmente disponíveis; em contrapartida, um desastre supera a capacidade de resposta da comunidade afetada. Para que um dano de qualquer magnitude se apresente, é preciso que haja interação entre a ameaça e a vulnerabilidade num contexto específico, o qual configura o risco de se produzir efetivamente o dano num determinado nível afetado. A ameaça é definida como o fator externo de risco, representado pela possibilidade de que ocorra um fenômeno ou um evento adverso que poderia gerar dano nas pessoas ou em seu entorno. Esse fenômeno ou evento adverso pode ser derivado da natureza, da atividade humana ou de uma combinação de ambos e pode se manifestar num momento e lugar específicos, com uma determinada magnitude. As ameaças são classificadas, conforme sua origem, em três categorias: Ameaças de origem natural. A maioria das ameaças se encontra nesta categoria e são as que geralmente ocasionam danos de grande magnitude e intensidade. Entre outros, temos os terremotos, os maremotos, as erupções vulcânicas, os furacões, os tornados e os deslizamentos espontâneos, que não requerem a ação do homem para que se apresentem. Ameaças derivadas da atividade humana. São aquelas relacionadas com atividades de desenvolvimento, urbanização, gerenciamento do meio ambiente e de recursos. Nesta categoria incluem-se os acidentes de trânsito, aéreos e aquáticos, o desabamento de obras civis, o derramamento de substâncias químicas, as guerras, a contaminação ambiental, os incêndios, as explosões, etc. Ameaças derivadas da interação da atividade humana e da natureza. São provocadas pelo abuso e descuido da ação humana em sua relação com o meio ambiente, por exemplo, deslizamentos, secas e inundações. A vulnerabilidade é definida como a suscetibilidade ou a predisposição intrínseca de um elemento ou de um sistema de ser afetado gravemente. É o fator interno do risco, dado que esta situação depende da atividade humana. A vulnerabilidade não é geral, mas deve ser considerada em função de cada tipo de ameaça. Por exemplo, uma moradia ou qualquer outro tipo de construção podem ser vulneráveis aos terremotos se não contam com um projeto adequado ou podem ser vulneráveis aos deslizamentos se sua localização é inadequada, etc. A interação da ameaça e da vulnerabilidade em determinado momento e circunstância gera um risco, isto é, a probabilidade da ocorrência de danos pela apresentação do fenômeno esperado, num lugar específico e com uma determinada magnitude. R f (ameaça x vulnerabilidade)

O risco é uma probabilidade calculada de ocorrência de danos, cujos fatores intervêm em diferentes graus e que pode ser estimado se forem conhecidas as características da ameaça (a magnitude da apresentação) e as características da vulnerabilidade (de infraestrutura, social, econômica, de liderança etc.), o que se poderia controlar de acordo com os interesses da comunidade. Existe o risco aceitável, que implica que a comunidade conhece o dano que pode gerar a apresentação deste ou daquele fenômeno esperado e se prepara para a resposta no caso de este se apresentar. Esta aceitação do risco está relacionada com a análise custo-benefício ou custo-oportunidade que tiver sido feita. No entanto existe um risco de desastre que implica que os danos que se apresentam podem exceder as possibilidades de a comunidade solucioná-los e assumi-los, já que demandariam uma resposta superior aos recursos existentes e alterariam significativamente seu desenvolvimento. 1. GESTÃO DO RISCO 1 Os desastres não são mais do que a materialização de algumas condições de risco existentes, que dependem não só da possibilidade de que se apresentem eventos ou fenômenos intensos, mas também de que existam condições de vulnerabilidade, que são os agentes que favorecem ou facilitam a manifestação do desastre diante da presença dos fenômenos. A vulnerabilidade em suas diferentes modalidades implica falta de desenvolvimento e fragilidades ambientais, razão pela qual se devem dirigir os esforços do planejamento do desenvolvimento, com o fim de reduzir ou evitar as conseqüências sociais, econômicas e ambientais. A degradação do meio ambiente, o empobrecimento e a apresentação de desastres estão intimamente ligados. Paulatinamente se chegou à conclusão de que o problema fundamental é o risco em si e que o desastre é um problema derivado. O risco e os fatores de risco se transformaram nos conceitos e as noções fundamentais no estudo e na prática em torno da problemática dos desastres. Entende-se por gestão do risco o processo eficiente de planejamento, organização, direção e controle dirigido à redução de riscos, o gerenciamento de desastre e a recuperação de eventos já ocorridos. Redução do risco As atividades realizadas nesta área destinam-se a eliminar ou reduzir o risco, num esforço claro e explícito de se evitar a apresentação de desastres. A redução dos riscos não pode ficar exclusivamente sob a responsabilidade de alguns poucos especialistas, ao contrário, deve-se abordar o tema de uma maneira pró-ativa e integral. 1 Esta seção foi elaborada a partir de Gestión de riesgo, Conferência hemisférica para a redução de riscos: contribuição para o acompanhamento da Terceira Cúpula das Américas, pág. 1-9.

Nesta fase podem-se distinguir dois componentes: - Prevenção. Compreende as ações destinadas a eliminar ou reduzir o risco, evitando a apresentação do evento ou impedindo os danos, por exemplo, ao evitar ou limitar a exposição do sujeito à ameaça. É difícil implementar medidas que neutralizem completamente um risco, principalmente se for uma ameaça de origem natural, como furacões, terremotos, erupções vulcânicas e tsunamis. A prevenção adquire sua maior importância e máxima aplicação nos processos de desenvolvimento futuro, quando se planeja, por exemplo, uma área de expansão de uma cidade ou uma mudança no uso da terra, circunstâncias nas quais pode-se incluir o conceito de prevenção como uma variável a mais nos critérios para a tomada de decisões. - Mitigação. É o conjunto de ações destinadas a reduzir os efeitos gerados pela apresentação de um evento. Tem o propósito de implementar ações que diminuam a magnitude do evento e, por conseqüência, reduzir os danos ao máximo. Algumas de suas atividades são a instrumentação e a investigação de fenômenos potencialmente perigosos, a identificação de zonas de risco, a identificação dos elementos em perigo, a elaboração de normas sobre o manejo dos recursos naturais e normas de construção e a implementação de medidas para reforçar as estruturas e melhorar a proteção dos bens. Gerenciamento de Desastres Nesta etapa se prevê como enfrentar da melhor maneira o impacto dos desastres e seus efeitos; engloba também a execução daquelas ações necessárias para uma resposta oportuna, como o atendimento da população afetada, a evacuação e a redução das perdas nas propriedades. O gerenciamento de desastres contempla três componentes, a saber: - Preparação. É o conjunto de medidas e ações destinadas a reduzir ao mínimo a perda de vidas humanas e outros danos. Compreende atividades tais como a elaboração de planos para a busca, resgate, socorro e assistência às vítimas, bem como o desenvolvimento de planos de contingências ou de procedimentos segundo a natureza do risco e seu grau de incidência. - Alerta. É o estado gerado pela declaração formal da apresentação próxima ou iminente de um desastre. Não se divulga apenas a proximidade do desastre, mas também se determinam as ações que tanto as instituições quanto a população devem empreender. - Resposta. Compreende as ações empreendidas diante de um evento adverso e que têm por objeto salvar vidas, reduzir o sofrimento humano e diminuir as perdas na propriedade. Alguns exemplos de atividades típicas dessa etapa são a busca e o resgate de pessoas afetadas, a assistência médica, a avaliação dos danos, o alojamento temporário e o fornecimento de roupas e alimentos. Recuperação. Nesta etapa implantam-se as medidas que iniciam o processo de restabelecimento das condições de vida normais de uma comunidade afetada por um desastre. Engloba dois grandes aspectos: o primeiro tende a

restabelecer num curto prazo e de forma transitória os serviços básicos indispensáveis, e o segundo orienta-se no sentido de uma solução permanente e de longo prazo, com a qual se busca restituir as condições de vida normais da comunidade afetada. Nesta etapa identificam-se claramente dois componentes: Reabilitação. Compreende o período de transição que se inicia ao final da resposta, no qual se restabelecem, em curto prazo, os serviços básicos indispensáveis. Reconstrução. É o processo mediante o qual se repara a infra-estrutura, se restaura o sistema de produção e se recupera o padrão de vida da população. A fase de recuperação é uma oportunidade para superar o nível de desenvolvimento existente antes do desastre, com a incorporação e a adoção de medidas de prevenção e mitigação. CARACTERÍSTICAS DOS EVENTOS ADVERSOS E SEUS EFEITOS SOBRE A SAÚDE Existe uma relação direta entre o tipo de evento que ocasiona um desastre e seus efeitos sobre a saúde. Alguns efeitos são mais potenciais que reais e nem sempre constituem ameaças inevitáveis para a saúde, pois um trabalho educativo feito previamente ao desastre pode evitá-los ou mitigá-los. Os danos à saúde não ocorrem ao mesmo tempo, mas dependem das condições sanitárias do entorno, o que significa que podem ser evitados com ações de prevenção. Os danos diretos à saúde das pessoas demandam uma resposta imediata que não pode esperar a chegada de ajuda externa; devem ser assumidos pela comunidade, usando-se de forma ideal os recursos disponíveis. As necessidades de alimentos, moradia e atendimento primário da saúde em caso de desastres diferem conforme o tipo de ameaça e o cenário em que se apresenta. A comunidade afetada geralmente mantém sua capacidade, ainda que mínima, de mobilizar recursos para uma primeira resposta. Efeitos comuns dos eventos adversos na saúde Entre os efeitos comuns temos os seguintes: Reações sociais positivas. Gera-se um espírito de colaboração e apoio mútuo na comunidade. Aumento das doenças transmissíveis relacionadas às condições prévias ao evento. As doenças transmissíveis aumentam se as condições de saúde ambiental se deterioram e se já existiam na comunidade antes de se produzir o evento adverso. Impacto na saúde mental individual e coletiva. Após uma situação adversa, sempre se produz uma repercussão negativa sobre a saúde mental individual e

coletiva. Freqüentemente, os preparativos e os planos de resposta estão focados nos danos físicos e não nos de saúde mental. Desequilíbrio entre a oferta de serviços e a demanda gerada pelo evento. O bloqueio das vias e linhas vitais gera a perda ou a redução da capacidade funcional hospitalar, por redução dos serviços públicos ou por perda do acesso à instituição. Os eventos adversos demandam ações de controle e atenção aos danos. Para tanto, são necessários recursos e serviços adicionais aos que normalmente se encontram disponíveis. Na maioria dos eventos adversos, a maior demanda dos serviços de saúde se dá nas primeiras 24 a 48 horas. Após as 72 horas e dependendo das condições sanitárias, podem se apresentar outras doenças originadas do consumo de água contaminada, do agrupamento de pessoas em locais fechados, da exposição climática, do aumento de vetores, etc. De modo geral, os desastres podem ser considerados como um problema de saúde pública por várias razões: Números inesperados de mortes, feridos e enfermos na comunidade afetada, que podem exceder suas capacidades terapêuticas e fazer com que os serviços locais entrem em colapso, do ponto de vista funcional. Destruição da infra-estrutura local de saúde, inclusive os hospitais, que não serão capazes de responder à emergência, fato que altera a prestação rotineira de serviços e as atividades preventivas e pode incrementar a mortalidade e a morbidade a médio e longo prazo. Efeitos sobre o meio ambiente e aumento do risco potencial de perigos ambientais. Comprometimento do comportamento psicológico e social das comunidades. Escassez de alimentos com graves conseqüências nutricionais. Deslocamentos espontâneos e organizados da população para áreas em que os serviços de saúde não podem chegar. O deslocamento de grandes grupos pode acarretar o risco epidemiológico de transição de uma comunidade para outra. Terremotos São abalos da superfície terrestre produzidos pela liberação súbita em forma de ondas da energia acumulada gerada por deformações da crosta terrestre. Pode-se medir um terremoto em magnitude e intensidade. A magnitude mede a energia liberada no foco que é o ponto dentro da terra, de onde provém o movimento que é a causa do abalo sísmico. A escala de magnitude mais conhecida é a de Ritcher. A magnitude dos abalos sísmicos mais leves é próxima de zero e aquela correspondente aos maiores abalos sísmicos registrados é de 8,9. A intensidade é o grau dos efeitos destrutivos no lugar em que se avalia. A escala de intensidade mais conhecida é a de doze graus, denominada escala modificada de Mercalli. É ordenada de menor a maior, de acordo com o grau de destruição; vai desde I (detectável por instrumentos de medição muito sensíveis) até XII (catástrofe ou destruição quase total).

MEDIÇÃO DA INTENSIDADE DE UM TERREMOTO CATEGORIAS DA ESCALA MODIFICADA DE MERCALLI Categoria I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII Descrição Percebido por poucas pessoas, em circunstâncias especialmente favoráveis. Percebido por poucas pessoas em repouso, especialmente em andares altos dos edifícios. Objetos suspensos podem balançar. É percebido muito notoriamente quando se está na parte interna. Pode-se balançar levemente quando se está num veículo automotor. A vibração é sentida como se se estivesse num caminhão em movimento. É percebido internamente por muitos e fora por poucos. À noite, alguns despertam. A louça, os cristais, as janelas e as portas batem. É percebido por quase todos; o dano dos conteúdos e das estruturas é raro, mas possível. É percebido por todos; muitos se assustam e correm para fora; danos leves. Todos correm para fora; danos sem importância para as edificações resistentes aos abalos sísmicos bem projetadas e construídas; danos leves a moderados para estruturas comuns; consideráveis danos para estruturas pobremente projetadas ou construídas. Danos leves em estruturas bem projetadas, consideráveis nas estruturas comuns e grandes nas estruturas pobres; caem chaminés, monumentos, muros, etc. Dano considerável para as estruturas bem projetadas e dano imenso (inclusive queda parcial ou total) em outras edificações; estas se deslocam de seu alicerce; as tubulações subterrâneas se rompem. Algumas estruturas de madeira bem construídas são destruídas; a maior parte da alvenaria e das estruturas comuns é destruída; as estradas de ferro se torcem, são comuns os deslizamentos, a água inunda os bancos de diques e lagos, etc. Poucas, ou nenhuma, estruturas de alvenaria permanecem em pé; as pontes são destruídas, abrem-se grandes fendas no terreno; a tubulação subterrânea fica completamente sem funcionamento; a terra afunda. O dano é total, vê-se a propagação das ondas ao longo da superfície do terreno; é quase impossível permanecer em pé; os objetos são arremessados ao ar. Extraído de: Noji E. Impacto de los desastres en la salud pública. Bogotá: OPS; 2000. Efeitos sobre a saúde 1. Mortalidade. O número de mortos é significativo em razão da rapidez e da violência do impacto e da destruição da infra-estrutura, basicamente em áreas urbanas e de alta densidade populacional. 2. Morbidade. Também se registra um elevado número de feridos pelas causas mencionadas acima. As principais condições encontradas são: politraumatismos, ferimentos, queimaduras, intoxicações e seqüelas de saúde mental. Para efeitos de planejamento dos insumos logísticos e da ajuda humanitária, a experiência nos indica que aproximadamente 10% da população afetada pode ser considerada de feridos e, entre estes, de 10% a 15% pode requerer apoio institucional de menor ou de maior complexidade, ou seja, hospitalização, cirurgia, anestesia e outros. 3. Infra-estrutura de saúde. Os danos nos estabelecimentos de saúde afetam, além de sua infra-estrutura, os recursos humanos, o equipamento, os serviços básicos

e o mobiliário. É importante destacar que muitas vezes os serviços de saúde, pela perda de função, são interrompidos justamente quando têm maior demanda da população. 4. Escassez de alimentos. Contrariamente ao que se pensa, não deveria haver escassez de alimentos. Quando ocorre, isto se dever à dificuldade no acesso, monopólio e ocultação por parte dos fornecedores. 5. Movimentos populacionais. Segundo a magnitude do evento, a população afetada tende a ficar próxima de suas moradias ou pertences e se interessam rapidamente em iniciar a recuperação. Tsunami É uma série de grandes ondas marinhas geradas pelo deslocamento repentino de massas de água como conseqüência de terremotos, erupções vulcânicas ou deslizamentos submarinos, capazes de propagar-se a milhares de quilômetros. Efeitos sobre a saúde: 1. Mortalidade. O número de mortos é significativamente alto se previamente não houver um aviso de alerta, pela destruição da infra-estrutura ou por inundação, e depende da vulnerabilidade das comunidades. 2. Morbidade. Podem-se apresentar politraumatizados, feridos e vítimas de afogamento. 3. Infra-estrutura de saúde. Conforme o tipo de materiais empregados, os estabelecimentos de saúde das zonas costeiras são afetados, suas funções normais são interrompidas e ficam prejudicados principalmente o recurso humano, o equipamento e o mobiliário. 4. Escassez de alimentos. Pode haver escassez de alimentos por danos nos depósitos e perda de culturas, contaminação e dificuldades de acesso. 5. Movimentos populacionais. Conforme a magnitude do evento, a população afetada pode ocupar outro espaço provisoriamente; no entanto geralmente tende a ficar próxima de suas moradias ou pertences, interessando-se rapidamente em iniciar a reconstrução. Erupções vulcânicas É a saída de material (magma), cinzas e gases do interior da terra para a superfície. Uma erupção vulcânica é um processo muito complexo que gera diversos elementos: chuva de cinzas, que pode perfazer um raio de vários quilômetros; fluxo piroclástico, que é material incandescente que cai encosta abaixo a grande velocidade, fluxos de lodo, se o cume contiver gelo; rios de lava, de diferentes densidades e em diferentes velocidades, bem como gases tóxicos.

A chuva de cinzas pode formar uma capa de alguns centímetros de espessura sobre o solo e nos telhados das construções, o que provoca um peso extra que pode causar sua queda; o fluxo piroclástico é considerado o fenômeno mais perigoso e pode afetar os centros povoados pelos quais passa; os fluxos de lodo, em vulcões com cume nevado, têm o efeito destruidor de um deslizamento; os fluxos de lava podem deslizarse pela encosta do vulcão e recorrer vários quilômetros, destruindo tudo o que encontram pelo caminho. Efeitos sobre a saúde: 1. Mortalidade. Quando não há previamente um aviso de alerta, é alta a mortalidade quando se apresentam fluxos piroclásticos e, em caso de fluxos de lava, a mortalidade se dá em menor escala. 2. Morbidade. As cinzas cujas partículas pequenas são inaláveis podem ocasionar graves doenças respiratórias, dérmicas e oftálmicas. A contaminação da água que se acidifica com a cinza pode causar doenças do sistema digestivo. Os fluxos piroclásticos e a lava produzem lesões de tipo traumático e queimaduras, os gases podem gerar graves quadros respiratórios e de intoxicação. 3. Infra-estrutura de saúde. Os estabelecimentos de saúde podem chegar a sofrer um colapso em conseqüência dos fluxos e das cinzas. Se as linhas vitais da comunidade forem afetadas, o estabelecimento também sofrerá deficiências, a menos que conte com sistemas alternativos para um funcionamento adequado. O peso das cinzas pode provocar o colapso de algumas estruturas, efeito que se agrava quando existem chuvas simultâneas. 4. Escassez de alimentos. Os depósitos de alimentos não são afetados, a menos que estejam localizados na zona de influência direta dos fluxos; no entanto as culturas podem ser danificadas pela chuva de cinza. Pode haver escassez de alimentos se as vias de acesso forem interrompidas. 5. Movimentos populacionais. Conforme os sistemas de alerta, as populações sob risco podem ser assentadas nas zonas de segurança previamente identificadas. Deslizamentos Refere-se ao movimento descendente de terra, água, fluxos de lodo e outros componentes num terreno em declive, com desprendimentos de pedras e outros materiais. Costuma ser o resultado de mudanças repentinas ou graduais na composição e na estrutura do solo, da hidrologia ou da vegetação. Este fenômeno é freqüente nas correntes de água entre os Andes, em razão do aumento sazonal das chuvas que arrastam os sólidos que encontram pelo caminho, bem como pelo desmatamento e pelo manejo inadequado dos corpos d água, pelo uso indevido dos solos, pelas escavações e sobrecarga do terreno produzida pelo peso da água, do gelo, da neve ou do granizo e pelo acúmulo de pedras ou material vulcânico. Efeitos sobre a saúde: 1. Mortalidade. Conforme as características do fenômeno, o número de mortes é elevado ante a ocorrência súbita, basicamente em zonas de alta densidade populacional e pelo efeito direto sobre a infra-estrutura.

2. Morbidade. Os efeitos são limitados, produzem-se politraumatismos e ferimentos leves, que é o mais comum. 3. Infra-estrutura de saúde. Os estabelecimentos sofrem integralmente quando se encontram na zona de passagem do deslizamento; produzem-se graves danos na infra-estrutura, no equipamento e no mobiliário. 4. Escassez de alimentos. Sendo limitado o evento, geralmente não se apresentam problemas com a produção e o abastecimento dos alimentos. 5. Movimentos de população. Segundo as características do evento, a população afetada pode ser transferida para outro local, inclusive de maneira definitiva. Inundações É o fenômeno pelo qual um lugar é coberto por água ao transbordar do leito no qual está contida. Origina-se pelas chuvas intensas, pelo aumento anormal do nível do mar, pela descongelamento da neve em grande volume ou por uma combinação destes fatores. Existem inundações rápidas ou súbitas por ruptura de represas ou diques, transbordamento de rios do alto das montanhas ou chuvas torrenciais localizadas. As progressivas são produzidas por chuvas intensas ou transbordamento de rios em vales ou planícies. A presença de níveis de água na superfície pode durar dias, semanas e até meses, dependendo da causa que a originou, bem como da topografia, da drenagem, da capacidade de absorção do terreno e da infra-estrutura. Efeitos sobre a saúde: 1. Mortalidade. Depende do tipo de evento que se apresenta. Se for súbito, pode causar um número considerável de mortes. 2. Morbidade. As doenças não se apresentam imediatamente, mas de modo geral, a partir das 48 horas seguintes. Podem-se apresentar doenças relacionadas com a falta e com a má gestão de água potável, problemas relacionados com a pele, infecções respiratórias e doenças transmitidas por vetores. Em determinados casos, podem aumentar as lesões por picadas de cobras. 3. Infra-estrutura de saúde. O dano que se apresenta depende da estrutura da edificação e da magnitude do evento; o estabelecimento de saúde pode chegar a ficar inutilizado. Uma conseqüência que dificilmente se reverte é o dano sofrido no equipamento médico. 4. Escassez de alimentos. Apresentam-se problemas de alimentação em razão das dificuldades na armazenagem, na semeadura e na produção. Além disto, perdem-se as condições de vida dos animais de pastagem, o que causa problemas de abastecimento de carne, de leite e seus derivados.

5. Movimentos de população. As populações afetadas tendem a mudar-se temporariamente, o que pode ocasionar problemas relacionados a aglomeração em locais fechados. Seca É a ausência de precipitações que produz um desequilíbrio hidrológico grave. O nível da seca é função do grau de umidade, da duração e da superfície da área afetada. Desenvolve-se lentamente e seu desaparecimento pode levar muito tempo. Efeitos sobre a saúde: 1. Mortalidade. Em casos extremos, podem apresentar-se alguns casos de morte como conseqüência da falta de água e de alimentos. 2. Morbidade. Podem aparecer doenças derivadas da desnutrição e da desidratação, bem como outras pelo mau uso do escasso recurso hídrico. 3. Infra-estrutura de saúde. Sua função se vê afetada por não contar com água. 4. Escassez de alimentos. A diminuição da água altera as atividades agrícolas e pecuárias, acarretando conseqüentemente o grave desabastecimento de alimentos. 5. Movimentos de população. Quando a seca é prolongada, as populações se mudam, provavelmente de forma definitiva. Na região andina, não são comuns as migrações temporárias. Bibliografia (1) 1. Conferencia hemisférica para la reducción de riesgos: contribución al seguimiento de la Tercera cumbre de las Américas. Informe (1a: 2001: San José, Costa Rica)/Comp. Juan Pablo Sarmiento, Nelly Segura. 1d. San José, Costa Rica: INTERNEM; 2003. 2. Organización Panamericana de la Salud. Los desastres naturales y la protección de la salud. Publicación científica No. 575. Washington, D.C.: OPS. 3. OPS/OMS. Curso: Planeamiento hospitalario para desastres. 4. Organización Panamericana de la Salud. Logística y gestión de suministros humanitarios en el sector salud. Washington, D.C.: OPS; 2001. 5. Noji E. Impacto de los desastres en la salud pública. Bogotá: OPS; 2000. 6. Oficina de Defensa Nacional, Ministerio de Salud. Plan operativo para emergencias y desastres. Lima, Perú: Ministerio de Salud; 1999. 7. Sáenz L. Plan sectorial de salud para emergencias y desastres. 1985 8. Organización Panamericana de la Salud. Administración sanitaria de emergencia con posterioridad a los desastres naturales. Washington, D.C.: OPS; 1981. 9. Organización Panamericana de la Salud. Los desastres naturales y la protección de la salud. Publicación científica 575. Washington, D.C.: OPS; 2000.