XII-015-1º CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE SANEAMENTO DO RECIFE: METODOLOGIA E PRIMEIROS RESULTADOS.



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Transcrição:

22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro 2003 - Joinville - Santa Catarina XII-015-1º CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE SANEAMENTO DO RECIFE: METODOLOGIA E PRIMEIROS RESULTADOS. Raineldes Agda Alves De Melo Currículo: Diretora de Articulação Intersetorial e Social da Secretaria de Saneamento/Prefeitura do Recife (PE), Consultora na área de Mobilização Social e Educação Sanitária e Ambiental do Programa de Melhoria do Saneamento Básico no Estado de Pernambuco KfW/Compesa, Mestra em Serviço Social (UFPE 2000), atuando na área de Políticas Públicas, especificamente na Política de Saneamento. Hermelinda Maria Rocha Ferreira (Apresentadora do trabalho) Currículo: Assistente Social; Especialização em Desenvolvimento de Comunidade pela Universidade Federal de Pernambuco; Diretora da Diretoria Geral de Articulação Intersetorial e Comunitária da Secretaria de Saneamento da Prefeitura do Recife. Endereço: Rua Cais do Apolo, 925, 5º andar Secretaria de Saneamento Recife/PE CEP 50.030.903 Fone: (81) 3425 8469 (81) 9963 2666 Endereço eletrônico: hrocha@recife.pe.gov.br RESUMO O quadro deficitário do setor coloca o saneamento de nosso país como prioridade na formulação de uma política nacional que enfatize a universalidade e a equidade no acesso

aos serviços, entre eles: o abastecimento de água, a coleta e o tratamento dos dejetos, a coleta e a destinação final do lixo, a drenagem pluvial e o controle de vetores. Os dados do setor saneamento, na cidade do Recife, especificamente no que se refere ao atendimento por serviços de abastecimento de água, coleta e tratamento dos esgotos, segundo o IBGE 2000, demonstram claramente a insuficiente intervenção pública no setor. Do total de domicílios, 88% estão ligados à rede geral de abastecimento de água, sofrendo, no entanto, racionamentos crônicos; 9,6% são atendidos por poços ou nascentes, dos quais 8,7% não possuem canalização. No que se refere ao atendimento por coleta dos dejetos, cerca de 42,9% dos domicílios estão ligados à rede geral de esgotos ou rede pluvial; 46,6% utilizam fossas sépticas e rudimentares; 7,8% não dispõem de nenhum tipo de coleta; e 2,7% dos domicílios sequer dispõem de instalações sanitárias. Esses diagnósticos, aliados aos da saúde, moradia e situação do meio ambiente, reflete a baixa qualidade de vida e de saúde da população. O enfrentamento desta problemática, na atual gestão municipal, parte da compreensão da importância do saneamento para a garantia da saúde e da qualidade de vida da população e para a conservação sustentável do meio ambiente. Também reflete a compreensão da responsabilidade constitucional do município sobre os serviços públicos de saneamento, que deverá se materializar em ações, construídas mediante a inclusão de toda a sociedade na discussão, e deliberação de novas diretrizes para a intervenção municipal no setor, a partir da democratização de informações, ampliação e qualificação do debate. Com este objetivo, a Prefeitura do Recife, através da criação da Secretaria de Saneamento em 2001, assumiu o compromisso político de realizar a 1º Conferência Municipal de Saneamento do Recife com o objetivo de formular as diretrizes para a Política Municipal de Saneamento; deliberar sobre as metas e ações municipais do setor, excluídas a definição de obras a serem determinadas através do Orçamento Participativo; constituir mecanismos de controle social sobre a gestão do saneamento municipal; e intensificar o debate sobre as interfaces entre a política de saneamento com as demais políticas públicas. À Comissão Organizadora - constituída por representante dos movimentos sindical e movimento popular, ONGs, entidade de ensino e pesquisa e gestores municipais, tendo a FASE (Federação para Órgãos da Assistência Educacional e Social) como Secretaria Executiva - coube discutir e propor o processo de realização da Conferência, definindo-se como temário a Gestão dos Serviços, compreendendo a intersetorialidade, a titularidade e os modelos de intervenção e privatização; o Controle Social e o Financiamento. Entre as atividades realizadas na metodologia temos a: Realização de 20 plenárias microrregionais; Realização de reuniões ampliadas com organizações representativas da sociedade civil (ONGs, entidades de classe, entidades gerais do movimento popular, entre outras), representando aproximadamente 25,9%; Realização de auscultas com, parlamentares; Realização de seminário público com o objetivo de qualificar e aprofundar o debate; Realização de oficinas de formulação de propostas.

Dos 379 delegados eleitos/indicados nas atividades preparatórias, 310 delegados, além de observadores participaram das discussões, sistematizações e deliberações no evento final da Conferência. A Plenária Final, tendo como referência a sistematização dos trabalhos nos grupos, procederam as deliberações de acordo com as regras estabelecidas e aprovadas no Regimento Interno da Conferência tendo como principais deliberações: Criação de uma autarquia municipal de saneamento para garantir as ações integradas de saneamento ambiental. Promoção de ações e campanhas educativas permanentes em saneamento ambiental. Exercício pleno da titularidade dos serviços públicos de saneamento por parte do município, conforme determina a Constituição Federal no seu artigo 30, inciso V. Promoção de gestão compartilhada dos serviços de água e esgoto entre a Compesa e o município do Recife nas etapas dos serviços de saneamento que necessitem de ações integradas. Firmação de Contrato de Concessão com a Compesa (Governo do Estado) para garantir a intervenção da Prefeitura na política de saneamento, definindo o papel do Estado e do município com a participação da população. Criação do Conselho Municipal de Saneamento Ambiental, com caráter deliberativo e paritário. Criação do Fundo Municipal de Saneamento. Prestação dos serviços de água e esgotos no Recife deverá ser exercida por órgãos públicos, sendo vedada a concessão parcial ou total dos serviços à iniciativa privada, bem como firmar com ela "parceria estratégica". Enquanto movimento de democratização das decisões, com ampla participação popular, Recife, através da atual gestão municipal, cumpre o seu papel de impulsionar a realização de outras conferências de âmbito metropolitano e Estadual tendo como seus principais objetivos contribuir para impedir a privatização das empresas públicas de saneamento e construir um novo arranjo político-institucional que garanta que os serviços públicos de saneamento sejam universais e de qualidade, com controle social. PALAVRAS-CHAVE: Diretrizes para a política municipal de saneamento; Controle Social;

Gestão dos serviços de saneamento; INTRODUÇÃO Decisão de Governo: uma cidade saudável para todos O cenário político/institucional para a construção da política municipal de saneamento, de forma radicalmente democrática, apresenta contextos externos desfavoráveis de grande relevância que se, por um lado, apresentam-se como fatos que poderiam ocasionar um imobilismo, por outro, revelam a grandeza e a ousadia das decisões tomadas no âmbito municipal. Este cenário desfavorável revela-se, primeiramente, no diagnóstico da situação de déficit dos serviços de saneamento, bem como na descontinuidade e má prestação dos serviços, ao longo dos anos pela concessionária, o que tem comprometido as estruturas operacionais dos sistemas, exigindo vultuosos investimentos; pela inexistência, de fato, do exercício da titularidade municipal sobre a política de saneamento em decorrência de sua omissão e inexistência de um Contrato de Concessão que assegure a participação do município no planejamento, execução, estabelecimentos de prioridades e metas, definição de tarifas e avaliação de desempenho da concessionária COMPESA (Companhia Pernambucana de Saneamento); e, por fim, o questionamento sobre seu direito constitucional de titular dos serviços de saneamento, apresentado pelo Projeto de Lei 4147/99 que hora tramita no Congresso Nacional. Mesmo diante deste contexto desfavorável, a Prefeitura do Recife decidiu assumir seu papel de titular dos serviços de saneamento, objetivando promover um marco histórico no setor. Esta decisão materializa-se através da criação da Secretaria Municipal de Saneamento; do estabelecimento de parcerias com o Governo do Estado/COMPESA para a execução de ações de saneamento; e na realização da 1º Conferência Municipal de Saneamento do Recife. Decisões estas ratificadas a partir do processo do Orçamento Participativo/2001, que envolveu quase 42.000 pessoas e que definiu, entre as três principais demandas para a Cidade do Recife, investimentos em ações de saneamento. Estes investimentos representam a aplicação de recursos superiores à soma dos últimos dez anos no setor saneamento pelo executivo municipal. A 1º Conferência Municipal de Saneamento do Recife, com o tema Saneamento por Uma Vida Melhor: construindo as diretrizes para a melhoria dos serviços de água e esgoto, representa para a gestão municipal mais do que um amplo espaço de discussão sobre os serviços de saneamento, constituindo-se como um instrumento de planejamento participativo, que tem por objetivo definir diretrizes para a Política Municipal e criar seus instrumentos de canais de participação e controle social. Ademais, responde a demandas antigas de militantes do saneamento, do Fórum de Reforma Urbana, do Fórum do Programa de Urbanização e Regularização da Posse da Terra, da Federação Nacional dos Urbanitários, da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento e da Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental, entre outros. A Comissão Organizadora definiu como objetivos da 1º Conferência Municipal de Saneamento formular as diretrizes para a Política Municipal de Saneamento; deliberar

sobre as metas e ações municipais do setor, excluídas a definição de obras a serem deliberadas através do Orçamento Participativo; constituir seus mecanismos de controle social sobre a gestão do saneamento municipal; e intensificar o debate sobre as interfaces entre a política de saneamento com as demais políticas públicas. Neste sentido, compreende a realização de discussões e deliberações sobre as seguintes temáticas: Gestão dos serviços, incluindo a Intersetorialidade, Titularidade, Modelo de Intervenção e Privatização; Controle Social; e Financiamento. Conferência é Processo A construção da metodologia do processo de realização da Conferência, bem como de seus instrumentos de trabalho e divulgação, baseiam-se por cinco grandes Marcas, a saber: Caráter deliberativo: inédito em realizações de Conferências Municipais de Saneamento, o qual revela o compromisso e a compreensão política da atual gestão de que as diretrizes da Política Municipal deve partir de um processo radicalmente democrático; Foco no caráter político-institucional, ou seja, não se trata da discussão sobre priorização de obras, mas, a construção de diretrizes que apontam para mudanças na história do saneamento em nossa cidade; Ênfase em processos de formação e capacitação dos delegados, a partir da democratização de informações, ampliação e qualificação do debate, em virtude do tema possuir conteúdos técnicos de difícil assimilação pela população em geral, assim como não haver acúmulo de discussões sobre o tema; Respeito à pluralidade de pontos de vistas, enquanto componente do processo democrático de discussão e decisão, objetivando contribuir para a consciência política cidadã, em detrimento a manipulações que objetivam direcionar as deliberações para os interesses de quaisquer das partes envolvidas no processo; Garantir ações específicas que incentivem a ampla participação de pessoas portadores de deficiência e das mulheres, tendo como referência as diretrizes políticas da gestão de inclusão social. Para fins metodológicos a Comissão Organizadora agrupou por segmentos os diversos públicos convocados a participarem do processo da conferência. Este agrupamento configura-se da seguinte forma: População em geral; entidades representativas da Sociedade Civil Organizada, entre elas: Entidades Sindicais, Ongs, Entidades de Classe, Entidades Gerais do Movimento Popular, Entidades de Ensino e Pesquisa, Entidades da Iniciativa Privada; e Gestores Federais, Estaduais e Municipais e Legislativo Municipal.

Para fins didáticos, apresentamos a metodologia em três momentos, no entanto, sua construção resultou em um processo de discussão, participação, capacitação, formulação de propostas e deliberação que não se configuram em momentos isolados, ao contrário, enquanto processos, interagem de forma dinâmica, realimentado-se a cada etapa. O primeiro momento teve como objetivo introduzir o debate acerca do temário da Conferência e eleger/indicar suas representações, através da realização de Plenárias Microrregionais; Reuniões Ampliadas realizadas através do Fórum de Reforma Urbana; e Auscultas convocadas pela Secretaria de Saneamento. A gestão municipal estabelece como espaço privilegiado para o diálogo e para a definição de prioridades da cidade, as 18 microrregiões que integram as 06 Regiões Político Administrativas da Cidade do Recife. Em consonância com este princípio realizaram-se 20 Plenárias Microrregionais abertas ao público e com objetivo de aproximar a Conferência do local de moradia dos cidadãos.(1). A metodologia das plenárias realizou-se mediante o cadastramento dos participantes e candidatos a delegados pela microrregião; apresentação de material visual através de datashow, esclarecendo o conceito e a importância da Conferência enquanto processo de construção coletiva, diagnóstico dos serviços de saneamento da Cidade do Recife e especificamente da microrregião e, do processo e critério de eleição dos delegados. Quanto ao sistema de eleição de delegados foi adotado o seguinte critério: para cada 15 participantes o plenário tinha direito a eleger 01 delegado. Ao final desta etapa atingimos números bastante significativos: 3.945 participantes e 256 delegados eleitos. O Fórum Estadual de Reforma Urbana FERU convocou Reuniões Ampliadas com entidades representativas da Sociedade Civil Organizada. As auscultas foram realizadas através da Secretaria de Saneamento convocando os gestores Federais, Estaduais e Municipais; também com Entidades da Iniciativa Privada e Entidades de Ensino e Pesquisa; e o Ministério Público que se colocou na categoria de observador. O Legislativo Municipal, por sua vez indicou 02 delegados. Ao fim deste primeiro momento, do total de 410 delegados estimados, contamos com 379 delegados eleitos/indicados formalmente o que torna o processo construído legitimo a partir do envolvimento de quase 100% dos segmentos convocados. O segundo momento refere-se ao processo de capacitação dos delegados eleitos/indicados, iniciando-se pela realização de Seminário Público. Neste, os delegados e observadores puderam ampliar seus conhecimentos sobre a temática da Conferência, através de palestras e debates com personalidades locais e nacionais. Este Seminário teve como objetivo preparar os delegados para a formulação de propostas sobre os rumos do saneamento em nossa cidade, assim como discutir perspectivas e possibilidades de como sanear o Recife o mais rapidamente possível, a partir do aprofundamento do debate acerca do temário da Conferência.

Dando encaminhamento ao processo de capacitação e ampliação do debate foram produzidas uma série de publicações: Publicação de dois informativos periódicos relativo as atividades da 1º Conferência Municipal de Saneamento Jornal Sanear Recife; Publicação de um Clipping, contendo as principais notícias referentes aos anos 2000/2001, veiculadas pela imprensa escrita local e alguns artigos de relevância publicados em revistas nacionais; Publicação de Revista Temática: Como Sanear o Recife o Mais Rapidamente Possível, a qual contém artigos de diversas origens, naturezas e especialidades, que expressam ponto de vistas diferenciados, tendo como objetivo permitir a construção, consolidação ou modificação de opiniões. Também fez parte do momento de capacitação dos delegados as Oficinas de Formulação de Propostas, realizadas com os delegados eleitos nas Plenárias Microrregionais; e delegados indicados pelo Segmento Popular do PREZEIS, Entidades Gerais do Movimento Popular e Ongs. Estas oficinas tinham como objetivo a formulação de propostas para o evento final da Conferência, tendo como metodologia dois grandes momentos: a elaboração de diagnóstico da situação de saneamento na cidade, mediante a pintura de painéis que retratavam os problemas vivenciados pela população no seu cotidiano e a situação desejada. Estes painéis revelaram a capacidade de leitura da situação problema por parte da população, bem como sobre os rumos desejados na perspectiva de sua resolução; a formulação de propostas ocorreu a partir da leitura e discussão dos diversos pontos de vistas disponibilizados nos artigos da Revista Temática e outros materiais. Aos demais delegados, que representavam os outros segmentos envolvidos no processo da Conferência, coube a tarefa de encaminhar suas propostas, sem a necessidade de realização de oficinas, uma vez que estes têm acúmulo diferenciado no que se refere aos temas da Conferência. Como produto deste momento tivemos o Caderno de Propostas o qual configura-se como o principal instrumento de trabalho no evento final da Conferência. A metodologia do evento final da Conferência teve como princípios norteadores a ampla participação de todos os presentes, incluindo os observadores, no processo de discussão; sendo reservado o direito ao voto aos delegados já eleitos/indicados nos momentos anteriores; bem como, a promoção de ações de inclusão social disponibilizando serviço de brinquedoteca (3) para as mães delegadas; e Sistema de Libras e material em Braile para pessoas portadoras de deficiência. A Plenária Final foi antecedida por 06 grupos de trabalho, os quais foram definidos a partir dos temas da Conferência, a saber: Intersetorialidade; Modelo de Intervenção; Titularidade; Privatização; Controle Social; e Financiamento. Nestes, os delegados foram divididos aleatoriamente com o objetivo de assegurar a equidade do número de participantes nos grupos, sem a condição de obrigatoriedade.

Em cada grupo de trabalho foram realizados painéis introdutórios sobre os respectivos temas, com a participação de especialistas locais e nacionais, com o objetivo de garantir o foco de discussão do grupo no tema e estimular o debate mediante o aporte de novos conhecimentos ou esclarecimentos. Conferência é Decisão Dos 379 delegados eleitos/indicados nas atividades preparatórias, 310 delegados, além de observadores participaram das discussões, sistematizações e deliberações no evento final da Conferência. A Plenária Final, tendo como referência a sistematização dos trabalhos nos grupos, procederam as deliberações de acordo com as regras estabelecidas e aprovadas no Regimento Interno da Conferência. Um outro produto da Plenária Final constituiu-se na formulação da Carta do Saneamento do Recife, contendo as principais Resoluções: Define como Saneamento Ambiental um conjunto integrado de ações que envolvem o abastecimento de água, o esgotamento sanitário, a coleta de lixo, a drenagem urbana e o controle de vetores; Afirma como princípios que devem nortear as diretrizes da Política Nacional de Saneamento: A universalização do acesso aos serviços de saneamento ambiental. A gestão pública, incluindo a prestação de serviço, por ente público, com qualidade e integração das ações de saneamento com as políticas urbanas, de saúde e ambiental. O controle social, com a participação efetiva da população. Preços e tarifas adequados para a promoção da justiça social Delibera que a Prefeitura Municipal da Cidade do Recife deve assumir o Saneamento Integrado como modelo de intervenção, considerando as características e necessidades de cada localidade; Define como princípios da Política Municipal de Saneamento a universalidade, a integralidade, a equidade e a qualidade, com participação e controle social. Enquanto principais deliberações destacam-se: Criação de uma autarquia municipal de saneamento e, através dela definir os papeis e ações de forma conjunta com todos os órgãos correlatos, para garantir as ações integradas de saneamento ambiental. Promoção de ações e campanhas educativas permanentes em saneamento ambiental.

O Plano Diretor de Desenvolvimento da Cidade do Recife e as leis municipais que tratam do saneamento, deverão sofrer as alterações necessárias ao cumprimento das deliberações da 1ª Conferência Municipal de Saneamento. O município do Recife deve exercer o pleno exercício da titularidade dos serviços públicos de saneamento, de interesse local, conforme determina a Constituição Federal no seu artigo 30, inciso V. Promoção de gestão compartilhada dos serviços de água e esgoto entre a Compesa e o município do Recife nas etapas dos serviços de saneamento que necessitem de ações integradas, sobretudo levando em consideração o contexto metropolitano. Firmação de Contrato de Concessão com a Compesa (Governo do Estado) para garantir a intervenção da Prefeitura na política de saneamento, definindo o papel do Estado e do município com a participação da população. Criação do Conselho Municipal de Saneamento Ambiental, com caráter deliberativo, paritário com participação de usuários, sociedade civil e poder Público, com o papel de definir prioridades e diretrizes, controlar, fiscalizar e monitorar a política de saneamento da cidade. Criação do Fundo Municipal de Saneamento composto por recursos próprios e repasses tarifários dos orçamentos estadual e federal, de modo a ampliar o volume de investimentos na nossa cidade. Prestação dos serviços de água e esgotos no Recife deverá ser exercida por órgãos públicos, sendo vedada a concessão parcial ou total dos serviços à iniciativa privada, bem como firmar com ela "parceria estratégica". RESULTADOS Elaboração dos Projetos de Lei para Instituição do Sistema Municipal de Saneamento SISTEMA MUNICIPAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL CONCLUSÕES

Enquanto movimento de democratização das decisões, com ampla participação popular, Recife, através da atual gestão municipal, cumpre o seu papel de impulsionar a realização de outras conferências de âmbito metropolitano e Estadual tendo como seus principais objetivos contribuir para impedir a privatização das empresas públicas de saneamento e construir um novo arranjo político-institucional que garanta que os serviços públicos de saneamento sejam universais e de qualidade, com controle social. A 1º Conferência Municipal de Saneamento, considerando todo o seu processo de ampliação e qualificação do debate acerca de temas sobre o saneamento, anteriormente nunca discutidos tão amplamente com a sociedade, constituindo-se, portanto, um marco na história do saneamento no município do Recife - e porque não dizer no Estado de Pernambuco e no Brasil tem seus desdobramentos dependentes da votação do Projeto de Lei 4147/99, e, da capacidade da gestão municipal e dos diversos segmentos envolvidos de implementar suas deliberações. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS JUNIOR, Orlando Alves dos Santos, PORTO, Hélio Ricardo Leite, BRITTO, Ana Lucia. Políticas de saneamento ambiental: inovações na perspectiva do controle social. Rio de Janeiro: FAZ, 1998. 246 p. Cartilha informativa sobre saneamento ambiental. FERNANDO MARRONI. Saneamento Ambiental. O que é isto? Câmara do Deputados. 51º Legislatura 2º Sessão Legislativa SÈRIE: Separatas de Discursos, Pareceres e Projetos nº 152/2000.