COMPREENDENDO O SISTEMA FAMILIAR, A PARTIR DAS RELAÇÕES E INTERNAÇÕES SISTÊMICAS DE ROSALDA PAIM



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Transcrição:

COMPREENDENDO O SISTEMA FAMILIAR, A PARTIR DAS RELAÇÕES E INTERNAÇÕES SISTÊMICAS DE ROSALDA PAIM BACKES, Dirce Stein 1 FERREIRA, Muriel Schimites 2 FONSECA, Mariana Gonçalves 2 PAVANATTO, Paola Aparecida 2 Resumo: Baseado na Teoria Sistêmica de Rosalda Paim, o presente estudo objetiva descrever a vivência das visitas acadêmicas realizadas à família adotada, nas quais se buscou estabelecer o vínculo profissional família. Trata-se de um estudo de caso, desenvolvido por meio de visitas periódicas e sistematizadas a uma família adotada, moradora da Nova Santa Marta, no decorrer do segundo semestre de 2010, com o propósito de estabelecer a relação Teoria de Rosalda Paim família, entendida como uma unidade complexa. A experiência permite concluir, a 1 Doutora em Enfermagem. Professora da Disciplina de Enfermagem: Teorias de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano UNIFRA. 2 Acadêmicos do Terceiro Semestre do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano UNIFRA.

Introdução Nos dias de hoje, a família é definida como um grupo de indivíduos vinculados por uma ligação emotiva profunda, sentimento de pertença ao grupo, isto é, que se identificam como fazendo parte daquele grupo. E flexível o suficiente para incluir as diferentes configurações e composições de família que estão presentes na sociedade atual (WRIGHT, WATSON, BELL, 1990). A partir de uma visão mais ampliada, pode-se compreender a família como uma instituição, sendo esta um modo de organização social, criada pelo homem para gerar estabilidade e segurança em suas interações com a sociedade (RAMOS, NASCIMENTO, 2008). Apesar de ser um todo, a família deve ser estudada de maneira singular, ou seja, separadamente para que assim possamos visualizar as necessidades e a participação deles dentro da família. E a consciência de que cada um tem suas particularidades e influencia da vivencia dos demais, deste modo a interação mutua se torna necessária para um bom convívio. Logo, a família é uma unidade de um sistema complexo. Nessa unidade, portanto, cada membro representa um pilar indispensável para formar o todo. Assim na ausência de um destes pilares a estrutura da família acaba se desorganizando. Um sistema pode ser definido como um complexo de elementos em interação mútua. Esta definição pode ser aplicada para o indivíduo, para a família ou mesmo para a sociedade. Cada sistema pode se constituir de sub-sistemas e estar inserido em outros sistemas maiores (GALERA,LUIZ, 2002). A abordagem sistêmica em cuidados de enfermagem, inspirados na teoria de Rosalda Paim, reconhece que a relação entre a dinâmica familiar e as questões sociais são complexa. Para tanto, é impossível distinguir claramente os efeitos diretos de cada situação visto que a família enquanto sistema auto-organizador, dinamiza o seu dia a dia a partir de suas necessidades especificas e das condições que são expostas. A partir dessa compreensão sistêmica, a família faz parte de uma rede de relações e interações, compreendidas pela escola, unidade de saúde, igreja, trabalho, amigos, visinhos,e outros, sendo que nessa rede também o enfermeiro ocupa um papel importante e fundamental no processo de educação e promoção da saúde, visto que para Paim o enfermeiro é o mediador de novas formas de organização familiar e social.

Com base no que foi dito anteriormente, o presente estudo tem por objetivo descrever a vivencia das visitas acadêmicas realizadas à família adotada, tendo como referencial a teoria de Rosalda Paim. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa qualitativa, mais especificamente de um estudo de caso, desenvolvido em várias e diferentes etapas sistematizadas (Histórico e diagnostico da realidade; levantamento das necessidades de saúde, Planejamento coletivo das ações de cuidado; Implementação; avaliação coletiva e socialização das vivencias; Estratégias de continuidade) que compreendem a interação com o ensino, a pesquisa e a extensão universitária. O estudo de caso é um dos vários modos de investigação qualitativa que consiste na observação detalhada de um contexto ou indivíduo e/ou de um acontecimento específico (CHIZZOTTI, 2006). O estudo de caso pode ser definido como Uma forma de se fazer pesquisa social empírica ao investigar-se um fenômeno emergente dentro de seu contexto de vida-real, onde as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidas e na situação em que múltiplas fontes de evidências são usadas (YIN, 1990, p. 15). Os estudos de caso, além de utilizarem uma variedade de métodos qualitativos, podem também utilizar várias técnicas de coleta de dados, incluindo entrevistas, análise de documentos e observação não-participante de reuniões, dentre outras (POPE, 2009, p. 127). O estudo foi realizado na comunidade Santa Martha, localizada na Macro região Oeste de Santa Maria, a qual possui uma população de aproximadamente 26.000 habitantes que vivem, na suma maioria, em condições sociais vulneráveis. O trabalho, cujo objetivo principal foi estabelecer primeiramente o vinculo para que assim pudéssemos associar a vida da família com a teoria de Paim, foi realizado em etapas sistematizadas, entre os meses de agosto e novembro de 2010, distribuídas da seguinte forma: Inicialmente, foi realizada uma visita de observação à comunidade, e assim conhecemos nossa família, isto é, as condições de moradia, o histórico da família, condições de trabalho, e outros.

Nas próximas visitas, foram enfatizadas as etapas mencionadas acima tendo em vista a formação do vinculo com a família e desta forma intervir no processo de organização da mesma,principalmente nas questões relacionadas a higiene,alimentação, motivação, informação. Ao todo foram realizadas dez visitas a família, em dias e horários previamente estabelecidos. Nas visitas propriamente ditas, foram realizadas rodas de conversa, cuidou-se da higiene das crianças, estimulou-se e avaliou-se o processo de escolaridade das crianças, incentivou-se o retorno a escola da dona de casa para que assim pudesse arranjar um emprego para dividir as despesas da casa. Alem disso, realizou-se orientações quanto a saúde, a higiene e organização da casa, alimentação, relações familiares,planejamento familiar acesso direitos e deveres, e outras informações. Como ocorreram as visitas? Primeiramente, chegamos ao posto de saúde do auto da boa vista, onde fomos bem recepcionados pela enfermeira e pelo agente comunitário. Logo após fomos encaminhados para conhecermos a família a qual iríamos adotar. Chegando lá nos deparamos com a situação complicada em que a família residia (cômodos pequenos e apertados, falta de higiene, e grande numero de pessoas morando e dormindo no mesmo cômodo). Neste dia, a família estava quase completa, porem faltava um dos filhos que estava na rua brincando. Ao chegar fomos bem recepcionados, tivemos uma boa conversa a fim de estabelecer vinculo e passar segurança para a família. Pois iríamos realizar mais visitas com intuito de melhorar a forma de viver daquela família. Conhecendo o histórico da família CH trinta e quatro anos, morador da região macro oeste de Santa Maria, alto da boa vista, servente de obras, casado com SI trinta e um anos, do lar, os mesmos são pais de cinco crianças: SA doze anos, CH sete anos, L dois anos, e gêmeos de sete meses. Os pais são analfabetos, sendo que o filho CH, não freqüenta a escola por falta de documentação, a filha SA vai à escola quando quer, o filho L acabou perdendo um pouco da atenção dos pais devido o nascimento dos gêmeos, já os

gêmeos por falta de conhecimento da mãe, mesmo com as instruções oferecidas pelos acadêmicos de enfermagem continuam com más condições de higiene corporal, e sua alimentação é feita de forma incorreta. CH na maioria das visitas não estava em casa, passava as tardes com garotos mais velhos o que nos deixou preocupados, pois em um dos dias de visita encontramo-lo na área verde com companhias impróprias. Na próxima visita notamos que CH não estava mais na casa, seu pai preocupado com o filho o dia inteiro na rua, mandou CH morar com sua avó materna na região Norte da cidade, na Vila Carolina. Infelizmente não tivemos a oportunidade conhecer e conversar com CH, mas o lado bom é que ele iria se afastar das más companhias. A situação da casa é imprópria para o número de pessoas que vivem nela, a casa possui seis peças sendo que das quais somente quatro são utilizadas: o quarto do casal onde dormem os gêmeos, a filha mais velha, e o filho de dois anos, e na sala dorme o segundo filho, as condições de higiene do local são precárias tanto dentro como fora da casa. O banheiro fica do lado de fora da casa, e as outras duas peças não são utilizadas. S1 demonstra interesse em estudar porem seu marido não a permite voltar aos estudos. A mesma fica sozinha com as crianças o dia todo, e a filha mais velha ajuda a mãe nas tarefas da casa, enquanto o pai trabalha fora. Avanços, Conquistas e Desafios Logo depois da primeira visita observamos uma mudança no ambiente, a casa encontrava-se mais limpa e a família mais receptiva, pois o vínculo já estava formado. A cada visita conquistamos uma maior aproximação com a família e para a nossa surpresa fomos convidados para sermos padrinhos dos gêmeos e ficamos muito comovidos com a notícia. O pai que estava desempregado por um acidente de trabalho, conseguiu um novo emprego. A filha mais velha começou a freqüentar mais a escola e a se interessar nos estudos. A mãe mostrou interesse de voltar a estudar ou fazer um curso profissionalizante quando os gêmeos já estiverem maiores. Com o passar do tempo CH retorna da casa de sua avó, e dessa vez tivemos a chance de conhecê-lo e conviver com ele melhor, pois CH agora fica mais tempo em casa com a família e brincando com seus irmãos, mostrou ser uma criança alegre, bem receptiva, educada, e apesar de não estar na escola demonstra esperteza e raciocínio quando responde algo que foi questionado.

O que nos motiva mais foi saber que a família já nos considera verdadeiros amigos, pois a nós foram feitas confidencias, e algumas nos chocaram. Com isso, hoje nos sentimos tão à vontade, que parece que estamos em casa, temos total liberdade para realizarmos nossas atividades com a nossa família. Considerações finais Considerando as necessidades gerais da família, pode-se notar uma melhora significativa em cada membro que constitui este sistema. Contudo, percebe-se ainda que o processo de implantação deve ser de maneira gradativa e continua, pois não houve uma completa aceitação por todos os membros da família. Ou seja, para que ocorra uma mudança significativa é preciso que haja integração do sistema homem com seus sub-sistemas, abrangendo a dimensão bio-psico-sócio-espiritual, integração dos sistemas de saúde, integração do sistema com o eco-sistema e integração do sistema com o meta-sistema saúde e social, nunca se esquecendo da importância da integração indivíduo, família e comunidade. Com base na experiência vivenciada, pode se argumentar, que cada família possui a sua própria organização sistêmica. Logo, cada família possui os meios necessários para a sobrevivência de forma singular. Assim, as nossas ações contribuíram não para mudar o sistema familiar, mas para instigá-lo e provocá-lo para que este busque os seus próprios meios/estratégias de re-organização. Para tanto, é importante a continuidade da proposta de trabalho. REFERÊNCIAS CHIZZOTTI, A. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. Petrópolis: Vozes, 2006. YIN, R. K. Case study research: design and methods. EUA: Sage Publications, 1990. POPE, C. Pesquisa qualitativa na atenção à saúde. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. GALERA, LUIZ. Principais conceitos da abordagem sistemica em cuidados de enfermagem ao individuo e sua família. Rev. Esc. Enferm. USP. Vol. 36 no.2 São Paulo June 2002.