1- Introdução: Antes de demonstrar os números do seguro saúde cabe ressaltar alguns pontos importantes: i) em 2001 o governo determinou que as empresas de seguros passassem a ter sua operação isolada, em empresa própria para a exploração comercial do seguro saúde. Antes, o seguro saúde era mais uma modalidade dentro da seguradora. Hoje em dia as divulgações são realizadas pela ANS; ii) a modalidade possui uma grande expressão no mercado brasileiro de seguros, respondendo por 24% do volume de vendas global (em 2002 sua participação era de 25%); iii) a modalidade passou a ter regulamentação própria e, lamentavelmente (como em outras situações), passou a sofrer interferências do governo no sentido de transferir sua incompetência para o setor privado; iv) as novas companhias passaram, na sua grande maioria, a ser controladas pelas empresas seguradoras ditas mães, onde seus resultados são reconhecidos via equivalência patrimonial. Em muitas empresas mães esses números são expressivos, compondo a geração de lucros das mesmas e, conseqüentemente, a distribuição de dividendos para os acionistas; v) nesse estudo iremos visualizar a situação da operação seguro saúde de forma isolada, como uma empresa independente. Todos os números foram extraídos dos informativos mensais da ANS, considerando a estrutura de resultados completa, ou seja, inclusive com os Custos Administrativos e Resultado Financeiro. Somente se estimou o impacto do imposto de renda e da contribuição social, fixado, para ambos os períodos, com alíquota de 40% do Resultado da Operação. Aqui podemos ter distorções. 1
2- Resultados Globais: Sob esse enfoque a modalidade do Seguro Saúde encerrou o período de jan a nov-03 apresentando um Lucro Líquido de R$ 138,1 milhões (sem impostos cerca de R$ 230,1 milhões) contra R$ 244,1 milhões (sem impostos cerca de R$ 406,8 milhões) do mesmo período do ano anterior, uma queda nominal de 43% ou real de 55% (desconsiderando-se a inflação média do período IGPM). A taxa média de retorno sobre o Patrimônio Líquido foi equivalente a uma aplicação financeira com taxa mensal de 0,78% ou 9,78% ao ano. Em 2002 a mesma era equivalente a uma aplicação com taxa mensal de 1,51% ou 19,65% ao ano. O volume de vendas somou R$ 6,2 bilhões contra R$ 5,8 bilhões de 2002, um crescimento nominal de 6% ou real de (-) 15%. O grande impacto se localizou no agravamento da sinistralidade retida. Esta passou de 81% dos prêmios emitidos para 86% no período em foco, gerando uma variação desfavorável de R$ 270 milhões. Os custos de comercialização praticamente foram os mesmos e entorno de 3,7% dos prêmios emitidos. Já os custos administrativos passaram a representar 11,3% dos prêmios emitidos contra 10,7% do ano passado, uma perda de escala de R$ 34,0 milhões. Em função dos desvios supracitados, o Resultado Industrial passou de positivo em 2002 (R$ 199 milhões) para negativo em 2003 ( - R$ 76 milhões). Como salvador da pátria o Resultado Financeiro somou R$ 306 milhões (5,0% dos prêmios emitidos) contra R$ 208 milhões de jan a nov- 02 (3,6% dos prêmios emitidos), permitindo que a Operação Global encerrasse 2003 com uma lucratividade equivalente a 3,7% dos prêmios emitidos contra 7,0% do ano anterior. Como se observa a modalidade sofreu baixa expressiva de resultado em 2003. Já para 2004 teremos as novas regras recém aprovadas, queda na expectativa da taxa de juros e, fatalmente, redução no volume de vendas, no nível de emprego e, por fim, na qualidade do atendimento (pressões de custos por parte dos prestadores de serviços médicos e hospitais). 2
3- Empresas: Os principais desempenhos foram: 3.1- Sul América Seguros: Encerrou o período com um volume de vendas de R$ 2,6 bilhões (41,6% do mercado) contra R$ 2,3 bilhões (40,6% do mercado) de jan a nov-02, demonstrando um crescimento nominal de 9% ou real (-) 13%. A taxa de rentabilidade das vendas passou de 7,77% dos prêmios emitidos em 2002 para 3,47% dos mesmos em 2003. A sinistralidade retida representou 85% dos prêmios emitidos contra 80% dos mesmos em 2002. O nível de comercialização permaneceu estável e em torno de 3% dos prêmios emitidos. Os custos administrativos representaram 10,8% dos prêmios emitidos contra 11,9% de jan a nov-02, portanto ganhos de escala. O Resultado Industrial passou de 4,26% dos prêmios emitidos para 0,77% dos mesmos em 2003. Salvando a pátria tivemos um Resultado Financeiro equivalente a 2,7% dos prêmios emitidos contra 3,5% dos mesmos em 2002. 3.2- Bradesco Seguros: Encerrou o período com um volume de vendas de R$ 2,4 bilhões (38,9% do mercado) contra R$ 2,1 bilhões (36,8% do mercado) de jan a nov-02, demonstrando um crescimento nominal de 13% ou real (-) 10%. A taxa de rentabilidade das vendas passou de 5,16% dos prêmios emitidos em 2002 para 1,67% dos mesmos em 2003. A sinistralidade retida representou 89% dos prêmios emitidos contra 85% dos mesmos em 2002. O nível de comercialização permaneceu estável e em torno de 3% dos prêmios emitidos. Os custos administrativos representaram 11,1% dos prêmios emitidos contra 9,4% de jan a nov-02, portanto perdas de escala. O Resultado Industrial passou de 1,78% dos prêmios emitidos para 4,12% dos mesmos em 2003. Salvando a pátria tivemos um Resultado Financeiro equivalente a 5,8% dos prêmios emitidos contra 3,4% dos mesmos em 2002. 3
3.3- Porto Seguro - Seguros: Encerrou o período com um volume de vendas de R$ 339 milhões (5,5% do mercado) contra R$ 282 milhões (4,9% do mercado) de jan a nov-02, demonstrando um crescimento nominal de 20% ou real (-) 4%. A taxa de rentabilidade das vendas passou de 9,08% dos prêmios emitidos em 2002 para 7,85% dos mesmos em 2003. A sinistralidade retida representou 77% dos prêmios emitidos contra 79% dos mesmos em 2002. O nível de comercialização permaneceu estável e em torno de 6,8% dos prêmios emitidos. Os custos administrativos representaram 17,5% dos prêmios emitidos contra 17,2% de jan a nov-02, portanto ligeira perda de escala. O Resultado Industrial passou de 1,58% dos prêmios emitidos para 0,86% dos mesmos em 2003. Salvando a pátria tivemos um Resultado Financeiro equivalente a 8,7% dos prêmios emitidos contra 7,5% dos mesmos em 2002. 3.4- Marítima Seguros: Encerrou o período com um volume de vendas de R$ 202 milhões (3,3% do mercado) contra R$ 206 milhões (3,6% do mercado) de jan a nov-02, demonstrando um crescimento nominal de - 2% ou real (-) 22%. A taxa de rentabilidade das vendas passou de 4,43% dos prêmios emitidos em 2002 para 9,20% dos mesmos em 2003. A sinistralidade retida representou 68% dos prêmios emitidos contra 62% dos mesmos em 2002. O nível de comercialização representou de 6,47% dos prêmios emitidos contra 7,03% do ano anterior. Os custos administrativos representaram 16,2% dos prêmios emitidos contra 17,5% de jan a nov- 02, portanto ganhos de escala. O Resultado Industrial passou de 2,16% dos prêmios emitidos para 4,75% dos mesmos em 2003. O Resultado Financeiro foi equivalente a 4,5% dos prêmios emitidos contra 2,3% dos mesmos em 2002. 4
3.5- AGF Seguros: Encerrou o período com um volume de vendas de R$ 152 milhões (2,5% do mercado) contra R$ 126 milhões (2,2% do mercado) de jan a nov-02, demonstrando um crescimento nominal de 21% ou real (-) 3%. A taxa de rentabilidade das vendas passou de 13,60% dos prêmios emitidos em 2002 para 15,65% dos mesmos em 2003. A sinistralidade retida representou 76% dos prêmios emitidos contra 74% dos mesmos em 2002. O nível de comercialização aumentou, passando de 6,6% dos prêmios emitidos em 2002 para 7,2% em 2003. Os custos administrativos representaram 8,1% dos prêmios emitidos contra 11,6% de jan a nov-02, portanto um grande ganho de escala. O Resultado Industrial passou de 8,02% dos prêmios emitidos para 8,42% dos mesmos em 2003. O Resultado Financeiro equivalente a 7,2% dos prêmios emitidos contra 5,6% dos mesmos em 2002. 3.6- Unibanco Seguros: Encerrou o período com um volume de vendas de R$ 99 milhões (1,6% do mercado) contra R$ 77 milhões (1,3% do mercado) de jan a nov-02, demonstrando um crescimento nominal de 28% ou real (+) 2%. A taxa de rentabilidade das vendas passou de 17% dos prêmios emitidos em 2002 para 18% dos mesmos em 2003. A sinistralidade retida representou 80% dos prêmios emitidos contra 78% dos mesmos em 2002. O nível de comercialização representou de 7,1% dos prêmios emitidos contra 6,7% do ano anterior. Os custos administrativos representaram 3,2% dos prêmios emitidos contra 3,7% de jan a nov-02, portanto ganhos de escala. O Resultado Industrial passou de 10,8% dos prêmios emitidos para 9,1% dos mesmos em 2003. O Resultado Financeiro foi equivalente a 8,9% dos prêmios emitidos contra 6,2% dos mesmos em 2002. 5
3.7- Itaú Seguros: Encerrou o período com um volume de vendas de R$ 90 milhões (1,5% do mercado) contra R$ 87 milhões (1,5% do mercado) de jan a nov-02, demonstrando um crescimento nominal de 3% ou real (-) 18%. A taxa de rentabilidade das vendas passou de 2,87% dos prêmios emitidos em 2002 para 5,13% dos mesmos em 2003. A sinistralidade retida representou 109% dos prêmios emitidos contra 114% dos mesmos em 2002. O nível de comercialização declinou, passando de 0,7% dos prêmios emitidos em 2002 para 0,6% em 2003. Os custos administrativos representaram 2,8% dos prêmios emitidos contra 3,7% de jan a nov-02, portanto ganho de escala. O Resultado Industrial passou de 7,3% dos prêmios emitidos para 11,8% dos mesmos em 2003. O Resultado Financeiro equivalente a 16,9% dos prêmios emitidos contra 10,2% dos mesmos em 2002. 3.8- HSBC Seguros: Encerrou o período com um volume de vendas de R$ 95 milhões (1,5% do mercado) contra R$ 233 milhões (4,0% do mercado) de jan a nov-02, demonstrando um crescimento nominal de - 59% ou real - 67%. A taxa de rentabilidade das vendas passou de 11% dos prêmios emitidos em 2002 para - 11% dos mesmos em 2003. A sinistralidade retida representou 106% dos prêmios emitidos contra 68% dos mesmos em 2002. O nível de comercialização representou de 9,2% dos prêmios emitidos contra 7,8% do ano anterior. Os custos administrativos representaram 8,3% dos prêmios emitidos contra 4,7% de jan a nov-02, portanto perdas de escala. O Resultado Industrial passou de 11,8% dos prêmios emitidos para 20,7% dos mesmos em 2003. O Resultado Financeiro foi equivalente a 9,7% dos prêmios emitidos contra 0,8% dos mesmos em 2002. Luiz Roberto Castiglione Membro da ANSP e do Instituto Roncarati de Seguros. 6