Noções de Direito do Trabalho A1-AT520 27/6/2012



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Transcrição:

Noções de Direito do Trabalho A1-AT520 27/6/2012

2012 Vestcon Editora Ltda. Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/2/1998. Proibida a reprodução de qualquer parte deste material, sem autorização prévia expressa por escrito do autor e da editora, por quaisquer meios empregados, sejam eletrônicos, mecânicos, videográficos, fonográficos, reprográficos, micro lmicos, fotográficos, gráficos ou outros. Essas proibições aplicam-se também à editoração da obra, bem como às suas caracterís cas gráficas. Título da obra: Adendo Noções de Direito do Trabalho DIRETORIA EXECUTIVA Norma Suely A. P. Pimentel PRODUÇÃO EDITORIAL Fabrícia de Oliveira Gouveia EDIÇÃO DE TEXTO Cláudia Freires Isabel Cris na Aires Lopes CAPA Ralfe Braga ILUSTRAÇÃO Fabrício Matos Micah Abe PROJETO GRÁFICO Ralfe Braga ASSISTENTE EDITORIAL Gabriela Tayná Moura de Abreu ASSISTENTE DE PRODUÇÃO Geane Rodrigues da Rocha EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Adenilton da Silva Cabral Antonio Gerardo Pereira Carlos Alessandro de Oliveira Faria Diogo Alves Marcos Aurélio Pereira REVISÃO Ana Paula Oliveira Pagy Érida Cassiano Giselle Bertho Micheline Cardoso Ferreira ESTAGIÁRIA Eunice Guerra de Sousa SEPN 509 Ed. Contag 3º andar CEP 70750-502 Brasília/DF SAC: (61) 3034 9588 Tel.: (61) 3034 9576 Fax: (61) 3347 4399 www.vestcon.com.br Publicado em junho/2012 (A1-AT520)

SUMÁRIO TST Noções de Direito do Trabalho Conciliação Prévia...5

NOÇÕES DE DIREITO DO TRABALHO Gustavo Adolfo Maia Júnior CONCILIAÇÃO PRÉVIA Renúncia e Transação no Direito do Trabalho Renúncia Prevalece no Direito do Trabalho a regra da irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas em favor do trabalhador. Com efeito, por renúncia devemos entender a abdicação que o tular faz do seu direito, sem transferi-lo a quem quer que seja. É o abandono voluntário do Direito 1. Ma zando a regra da irrenunciabilidade, encontramos já no texto cons tucional disposições que autorizam a renúncia, desde que realizada no bojo de negociação e contratação cole va. Vejamos: CRFB, art. 7º (...) VI irredu bilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo cole vo; XIII duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção cole va de trabalho; XIV jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação cole va. Por certo, há limites para a eficácia e validade de eventual renúncia relacionada à negociação cole va. Encontramos um dos critérios limitadores pela noção de patamar civilizatório mínimo, cuja definição podemos apurar nos seguintes julgamentos do TST: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. INVALIDADE DA NORMA CONVENCIONAL IMPOSITIVA DE PRAZO PARA COMUNICAÇÃO DO ESTADO GRAVÍDICO AO EMPREGADOR. AFRONTA AO ART. 7º, XXVI, DA CF/1988. NÃO CONFIGURAÇÃO. Amplas são as possibilidades de validade e eficácia jurídicas das normas autônomas cole vas em face das normas heterônomas impera vas, à luz do princípio da adequação setorial negociada. Entretanto, essas possibilidades não são plenas e irrefreáveis, havendo limites obje vos à cria vidade jurídica da negociação cole va trabalhista. Desse modo, ela não prevalece se concre zada mediante ato estrito de renúncia ou se concernente a direitos reves dos de indisponibilidade absoluta, os quais não podem ser transacionados nem mesmo por negociação sindical cole va. Tais direitos são aqueles imantados por uma tutela de interesse público, por cons tuírem um patamar civilizatório mínimo que a sociedade democrá ca não concebe ver reduzido em qualquer segmento econômico-profissional, sob pena de se afron- 1 E-ED-RR nº 1.070/202/04/02-00.0, Rel. Min. Carlos Alberto Reis de Paula, SBDI-1, DJ de 7/12/2006. 5

tarem a própria dignidade da pessoa humana e a valorização mínima deferível ao trabalho (art. 1º, III e 170, caput, da CF/1988). Nesse contexto, inválida é a norma cole va que impõe condição para a garan a da estabilidade provisória da gestante, por violar não apenas o art. 10, II, b, do Ato das Disposições Cons tucionais Transitórias como também toda a norma zação cons tucional voltada para a proteção da maternidade (art. 6º e 7º, XVIII), da família (art. 226), da criança e do adolescente (art. 227) e os demais disposi vos dirigidos à proteção da saúde pública, direitos de inques onável indisponibilidade absoluta. A par disso, a estabilidade provisória assegurada à empregada gestante prescinde da comunicação da gravidez ao empregador, uma vez que a lei obje va a proteção do emprego contra a resilição unilateral do contrato de trabalho, impedindo que a gravidez cons tua causa de discriminação. Inteligência da Súmula nº 244, I, do TST. Inexistente a alegada violação ao art. 7º, XXVI, da CF/1988 e estando a decisão recorrida fundamentada na Súmula nº 244 do TST, a veiculação da revista encontra óbice intransponível na alínea c e no 4º do art. 896 da CLT. Agravo de instrumento desprovido 2. HORAS EXTRAS. TROCA DE UNIFORME. MINUTOS QUE ANTECEDEM E SUCEDEM A JORNADA DE TRABALHO. PREVISÃO EM NORMA COLETIVA. PERÍODO POSTE- RIOR AO ADVENTO DA LEI Nº 10.243/2001. Com o advento da Lei nº 10.243, de 19/6/2001, que acrescentou o art. 58, 1º, da CLT, o limite de tolerância no registro de ponto em dez minutos diários passou a cons tuir patamar civilizatório mínimo assegurado em norma heterônoma, o que torna inválida cláusula de norma autônoma cole va rela va à ampliação desse limite, após essa data. Assim, tendo em vista o princípio da adequação setorial negociada, os acordos ou convenções cole vos não podem renunciar direitos trabalhistas indisponíveis, conforme a doutrina do eminente Ministro Maurício Godinho Delgado. Precedentes de Turmas do TST. Na hipótese dos autos, a decisão regional, ao considerar inválido instrumento norma vo que desconsiderava os minutos u lizados para a troca de uniforme, antes ou após a jornada, até o limite de 13 minutos, com vigência para período posterior ao advento da Lei nº 10.243, de 19/6/2001, não ofende o art. 7º, XXVI, da Cons tuição Federal. Recurso de Revista conhecido e não provido[3]. AGRAVO DE INSTR UMENTO. RECURSO DE REVISTA. 1. INTERVALO INTRAJOR- NADA. SUPRESSÃO NORMATIVA. É inválida supressão de intervalo intrajornada por convenção cole va, sem observância das formalidades do art. 71, 3º, da CLT (OJSBDI1 de nº 342). A cria vidade jurídica da negociação cole va não é ilimitada, devendo observar certos princípios, dentre eles o da adequação setorial negociada, que impede flexibilização de normas legais de indisponibilidade absoluta. Estas asseguram às relações de emprego o chamado patamar civilizatório mínimo, a inibir afronta à dignidade humana do trabalhador. Aí estão inclusas as normas de segurança e saúde no ambiente de trabalho, as de combate à discriminação e até a previsão de salário-mínimo. 2. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. BASE DE CÁLCULO. Decisão em conformidade com a Súmula de nº 17/TST (O adicional de insalubridade devido a empregado que, por força 2 Art. 442. Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego. 6

de lei, convenção cole va ou sentença norma va, percebe salário profissional será sobre este calculado) não desafia recurso de revista. Agravo de Instrumento a que se nega provimento. Transação Vale o recurso à lição de Alice Monteiro de Barros: Trata-se de uma relação jurídica em que as partes fazem concessões recíprocas, nascendo daí o direito de ação para os transigentes. É restrita a direitos patrimoniais de caráter privado, sobre os quais recaia o li gio ou a susce bilidade do li gio. Diferencia-se da conciliação, que é um ato pra cado no curso do processo, mediante a inicia va e a interveniência do magistrado. Eventualmente, a transação terá lugar no curso de negociação cole va. Nessa condição, será tratada como se faz com a renúncia, no que toca aos limites da transação. Comissões de Conciliação Prévia A ins tuição de Comissões de Conciliação Prévia está prevista na Lei nº 9.958, de 2000. Trata-se, em realidade, de autorização para que as empresas e os sindicatos possam ins tuir Comissões de Conciliação Prévia, de composição paritária, com representante dos empregados e dos empregadores, com a atribuição de tentar conciliar os conflitos individuais do trabalho. Cabe, então, a remissão ao texto legal con do nos art. 625-A a 625-H da CLT: Art. 625-A. As empresas e os sindicatos podem ins tuir Comissões de Conciliação Prévia, de composição paritária, com representante dos empregados e dos empregadores, com a atribuição de tentar conciliar os conflitos individuais do trabalho. Parágrafo único. As Comissões referidas no caput deste ar go poderão ser cons tuídas por grupos de empresas ou ter caráter intersindical. Art. 625-B. A Comissão ins tuída no âmbito da empresa será composta de, no mínimo, dois e, no máximo, dez membros, e observará as seguintes normas: I a metade de seus membros será indicada pelo empregador e outra metade eleita pelos empregados, em escru nio,secreeto, fiscalizado pelo sindicato de categoria profissional; II haverá na Comissão tantos suplentes quantos forem os representantes tulares; III o mandato dos seus membros, tulares e suplentes, é de um ano, permi da uma recondução. 1º É vedada a dispensa dos representantes dos empregados membros da Comissão de Conciliação Prévia, tulares e suplentes, até um ano após o final do mandato, salvo se cometerem falta, nos termos da lei. 2º O representante dos empregados desenvolverá seu trabalho normal na empresa afastando-se de suas a vidades apenas quando convocado para atuar como conciliador, sendo computado como tempo de trabalho efe vo o despendido nessa a vidade. Art. 625-C. A Comissão ins tuída no âmbito do sindicato terá sua cons tuição e normas de funcionamento definidas em convenção ou acordo cole vo. 7

Art. 625-D. Qualquer demanda de natureza trabalhista será subme da à Comissão de Conciliação Prévia se, na localidade da prestação de serviços, houver sido ins tuída a Comissão no âmbito da empresa ou do sindicato da categoria. 1º A demanda será formulada por escrito ou reduzida a tempo por qualquer dos membros da Comissão, sendo entregue cópia datada e assinada pelo membro aos interessados. 2º Não prosperando a conciliação, será fornecida ao empregado e ao empregador declaração da tenta va conciliatória frustada com a descrição de seu objeto, firmada pelos membros da Comissão, que devera ser juntada à eventual reclamação trabalhista. 3º Em caso de mo vo relevante que impossibilite a observância do procedimento previsto no caput deste art., será a circunstância declarada na pe ção da ação intentada perante a Jus ça do Trabalho. 4º Caso exista, na mesma localidade e para a mesma categoria, Comissão de empresa e Comissão sindical, o interessado optará por uma delas submeter a sua demanda, sendo competente aquela que primeiro conhecer do pedido. Art. 625-E. Aceita a conciliação, será lavrado termo assinado pelo empregado, pelo empregador ou seu proposto e pelos membros da Comissão, fornecendo-se cópia às partes. Parágrafo único. O termo de conciliação é tulo execu vo extrajudicial e terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas. Art. 625-F. As Comissões de Conciliação Prévia têm prazo de dez dias para a realização da sessão de tenta va de conciliação a par r da provocação do interessado. Parágrafo único. Esgotado o prazo sem a realização da sessão, será fornecida, no úl mo dia do prazo, a declaração a que se refere o 2º do art. 625-D. Art. 625-G. O prazo prescricional será suspenso a par r da provocação da Comissão de Conciliação Prévia, recomeçando a fluir, pelo que lhe resta, a par r da tenta va frustada de conciliação ou do esgotamento do prazo previsto no art. 625-F. Art. 625-H. Aplicam-se aos Núcleos Intersindicais de Conciliação Trabalhista em funcionamento ou que vierem a ser criados, no que couber, as disposições previstas neste Título, desde que observados os princípios da paridade e da negociação cole va na sua cons tuição. Persiste discussão acerca da exigência de prévia submissão da demanda à CCP, caso existente, para o desenvolvimento válido de reclamação trabalhista. O disposto no art. 625-D da CLT dá margem ao entendimento de que a submissão prévia da demanda à CCP seria condição de ação trabalhista. Contudo, o STF sinaliza para posição diversa. De fato, o STF por reputar caracterizada, em princípio, a ofensa ao princípio do livre acesso ao Judiciário (CF/1988, art. 5º, XXXV), por maioria, deferiu parcialmente medidas cautelares em duas ações diretas de incons tucionalidade, para dar interpretação conforme a Cons tuição Federal rela vamente ao art. 625-D (redação da Lei nº 9.958/2000) que determina a submissão das demandas trabalhistas à Comissão de Conciliação Prévia a fim de afastar o sen do da obrigatoriedade dessa submissão (ADI 2.139 MC/DF, ADI 2.160 MC/DF) 8

TST-SDI1-Orientação Jurisprudencial-391. PORTUÁRIOS. SUBMISSÃO PRÉVIA DE DEMANDA A COMISSÃO PARITÁRIA. LEI Nº 8.630, DE 25/2/1993. INEXIGIBILI- DADE. (DEJT divulgado em 9, 10 e 11/6/2010)A submissão prévia de demanda a comissão paritária, cons tuída nos termos do art. 23 da Lei nº 8.630, de 25/2/1993 (Lei dos Portos), não é pressuposto de cons tuição e desenvolvimento válido e regular do processo, ante a ausência de previsão em lei. Direito Cole vo do Trabalho Princípios Inegavelmente, as en dades sindicais, especialmente no Brasil, são elementos centrais no desenvolvimento das relações cole vas de trabalho. Especialmente considerado o desequilíbrio entre a figura do empregador e a do empregado considerado individualmente, a presença de um ente cole vo mostra-se importante para viabilizar a negociação cole va e é instrumental para a celebração da contratação cole va, por meio de acordos e convenções cole vas de trabalho. Nesse contexto, surge como princípio reitor do Direito Cole vo do Trabalho a liberdade sindical. Tal como referendado pela OIT (Convenção nº 87), a par r da liberdade sindical se podem extrair sub-princípios capazes de favorecer o fortalecimento desses seres coel vos e, por consequência, facilitar a obtenção de novas e melhores condições de labor e de vida para os trabalhadores. Entretanto, considerando não se esgotar a matéria na simples regulação das a vidades sindicais, encontram-se também princípios per nentes aos demais objetos do Direito Cole vo do Trabalho, nomeadamente as normas cole vas e a negociação cole va. Assim, então, se pode proceder, com base em Delgado (2007, p. 1302), a uma classificação inicial nos seguintes termos: a) princípios assecuratórios do sindicato: liberdade sindical e seus subprincípios. b) princípios regentes das relações entre os entes cole vos: interveniência sindical na norma zação cole va. equivalência dos contratantes cole vos. c) princípios regentes das relações entre as normas estatais e as normas cole vas: cria vidade jurídica da negociação cole va. adequação setorial negociada. Nesse compasso, calha recorrer novamente a Reale para encontrar que princípios são verdades fundantes de um sistema de conhecimento, como tais admi das, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por mo vos de ordem prá ca de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da praxis. Adotada essa definição, podemos passar ao exame de cada um dos princípios relatados anteriormente. Princípio da liberdade sindical e seus subprincípios No que toca à liberdade sindical, o primeiro elemento de destaque é a descoincidência entre o sistema principiológico proposto pela OIT, por meio da Convenção nº 87, e aquele adotado no Brasil, em conformidade com a Cons tuição de 1988 (BRITO FILHO, 2007: 33). 9

A propósito, a Convenção da OIT de nº 87, de 1948, trata sobre a liberdade sindical e a proteção do Direito Sindical. Exatamente em função das divergências entre o modelo de organização sindical proposto nesse documento e o modelo vigente no Brasil desde a década de 1930, fez-se a opção polí ca pela não ra ficação da referida Convenção. Em síntese, a divergência funda-se na circunstância de a Convenção promover a pluralidade sindical e sucessivas Cons tuições brasileiras privilegiarem alguma espécie de unicidade sindical. Com efeito, a Convenção nº 87 (art. 2º) 3 consagra o direito do indivíduo à filiação sindical, não fazendo qualquer alusão ao dever de sindicalização. O princípio da liberdade sindical é incompa vel com a sindicalização obrigatória, o que, de alguma sorte, se choca com a ins tuição da sindicalização por categoria como se tem no Brasil por força cons tucional. No decorrer do texto da Convenção, é possível encontrar os subprincípios regentes da liberdade sindical tal como concebida pela OIT, os quais veremos a seguir (BRITO FILHO, 2007, p. 35). Liberdade de associação Garante a liberdade de os trabalhadores e empregadores cons tuírem as associações que reputem conveniente. Liberdade de organização Consiste na liberdade de trabalhadores e empregadores determinarem a forma de organização que entendam adequada. Liberdade de administração Consiste na liberdade que têm as organizações sindicais de definir a sua regulação interna. Liberdade da não interferência externa Consiste na liberdade de impedir Estados e terceiros de interferirem nos assuntos internos das organizações sindicais. Assim, o Estado não poderá interferir ou intervir no sindicato, de maneira a impedir o exercício do direito sindical. Liberdade de atuação Consiste no direito de as organizações sindicais determinarem a sua forma de atuação perante o Estado e terceiros. Liberdade de filiação e desfiliação Consiste na liberdade de garan r a trabalhadores e empregadores o direito de adotar, perante as organizações sindicais, a conduta que entendam mais própria: filiação, desfiliação e não filiação. Pelo paradigma brasileiro, o princípio da liberdade sindical tal como concebido na Convenção nº 87 carece de compa bilização com a organização sindical estabelecida no art. 8º da Cons tuição da República. Assim, na realidade brasileira, esse princípio do Direito Cole vo do Trabalho conforma de outra maneira seus subprincípios, a saber (BRITO FILHO, 2007: 35): Princípio da liberdade de associação Consiste apenas na liberdade de criação de en dades sindicais. Este princípio é limitado, pois não temos plena liberdade de organização, impondo-se cons tucionalmente o sistema confedera vo e o não reconhecimento das centrais sindicais como entes sindicais. Princípio da unicidade sindical Consiste na limitação de exis r somente uma única en dade sindical representa va de determinada categoria em dada base territorial. Esse princípio encontra corolários na base territorial mínima (a menor base territorial para um sindicato é um município) e na sindicalização por categoria. No Brasil, adota-se como regra o critério do sindicato por categoria, que reúne os trabalhadores de em- 3 Os trabalhadores e as en dades patronais, sem dis nção de qualquer espécie, têm o direito, sem autorização prévia, de cons tuírem organizações da sua escolha, assim como o de se filiarem nessas organizações, com a única condição de se conformarem com os estatutos destas úl mas. 10

presas que atuam no mesmo ramo de a vidade econômica ou que tenham a vidades econômicas similares. Princípio da liberdade de administração Consiste na liberdade que têm as organizações sindicais de definir a sua regulação interna. Princípio da liberdade da não interferência externa Consiste na liberdade de impedir Estados e terceiros de interferir nos assuntos internos das organizações sindicais. Assim, o Estado não poderá interferir ou intervir no sindicato, de maneira a impedir o exercício do direito sindical. Princípio da liberdade de filiação e desfiliação Consiste na liberdade de garan r a trabalhadores e empregadores o direito de adotar, perante as organizações sindicais, a conduta que entendam mais própria: filiação, desfiliação e não filiação. Princípio da representação exclusiva pelo sindicato O sindicato é o representante exclusivo da categoria, especialmente no curso da contratação cole va, impedindo a prevalência, no Brasil, do princípio da liberdade de atuação, de forma plena. Como referido acima, no Brasil, o Direito Cole vo do Trabalho não se esgota no trato dos entes sindicais e de sua respec va liberdade. Desse modo, encontram-se outros princípios per nentes à regulação das relações cole vas de trabalho, o que se verá a seguir com esteio em Delgado (2007: 1314 e ss). Princípio da interveniência sindical na norma zação cole va Pelo princípio da interveniência sindical na norma zação cole va, a validade do processo de negociação cole va se submete à necessária intervenção do ente cole vo representa vo dos trabalhadores, no caso brasileiro, o sindicato. Princípio da equivalência dos contratantes cole vos O princípio da equivalência dos contratantes cole vos postula pelo reconhecimento de um estatuto sociojurídico semelhante a ambos os contratantes cole vos (o obreiro e o empresarial). Nesse ponto, cabe destacar que o empregador, enquanto sujeito do Direito Cole- vo do Trabalho, é considerado sempre como ente cole vo, por seu próprio caráter, independentemente de se agrupar em alguma associação sindical. Quanto aos trabalhadores brasileiros, essa cole vização, essencial ao equilíbrio da negociação cole va, se manifesta por meio dos sindicatos. Princípio da cria vidade jurídica da negociação cole va O princípio da cria vidade jurídica da negociação cole va representa a especial caracterís ca dis n va do Direito Cole vo do Trabalho. Assim, por meio da negociação cole va, resultante em contratação cole va (acordos e convenções cole vas de trabalho), os entes cole vos laborais (sindicatos e empresas) dispõem de poder para criar norma jurídica (com qualidades, prerroga vas e efeitos próprios destes), compa veis com a norma zação estatal. Princípio da adequação setorial negociada Este princípio trata das possibilidades e limites jurídicos da negociação cole va, ou seja, informa os critérios de harmonização entre as normas jurídicas derivadas da negociação cole va e as normas oriundas da legislação heterônoma estatal. Assim, por exemplo, segundo a jurisprudência dominante do Tribunal Superior do Trabalho, é nula de pleno direito a cláusula de instrumento cole vo de trabalho que estabeleça a possibilidade de renúncia ou transação, pela gestante, das garan as referentes à manutenção do emprego e salário. A proteção à maternidade ganhou status cons tucional com a Cons tuição de 1988 (ADCT), re rando do âmbito do poder potesta vo do empregador a possibilidade de despedir arbitrariamente a empregada em estado gravídico. 11

Ou, ainda, o salário poderá sofrer redução desde que haja negociação exitosa com o sindicato, em convenção ou acordo cole vo. Finalmente, a validade de acordo cole vo ou convenção cole va sobre compensação de jornada de trabalho em a vidade insalubre prescinde da inspeção prévia da autoridade competente em matéria de higiene do trabalho, segundo entendimento jurisprudencial prevalente no âmbito do Tribunal Superior do Trabalho. Fontes formais Cons tuição Federal Desponta como fonte formal do Direito Cole vo do Trabalho a Cons tuição Federal, merecendo especial destaque o art. 7º, inciso XXVI, arts. 8º a 11, e o art. 37, incisos VI e VII. O inciso XXVI do art. 7º traz o disposi vo que fundamenta a força norma va da contratação cole va, porquanto ali se ordene o reconhecimento das convenções e acordos cole vos de trabalho. Do art. 8º ao 11 encontra-se o cerne da regulação cons tucional do Direito Cole- vo do Trabalho. No art. 8º, temos o rol de garan as da liberdade sindical tal como concebida na Cons tuição de 1988. No art. 9º, temos a afirmação do direito de greve, pondo à livre disposição dos trabalhadores o seu exercício, mas condicionando-o, na forma da lei, ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, bem como à responsabilização por eventuais abusos. No art. 10, temos a garan a da par cipação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação. Finalmente, no art. 11, temos assegurada, nas empresas de mais de duzentos empregados, a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores. Ainda na Cons tuição da República, o art. 37, em seus incisos VI e VII, além de garan r aos servidores públicos o direito à livre associação sindical, assegura-lhes o direito de greve, remetendo à lei infracons tucional o disciplinamento desse exercício. Convenções da OIT As convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) são instrumentos norma vos entabulados, por Estados Nacionais, no seio desse ente internacional. São, enfim, tratados e, por serem adotados por diversos Estados, são nominados de convenções. Na condição de tratados, uma vez integrados ao ordenamento jurídico pátrio, por meio da ra ficação (CRFB, 49, I e 84, VII), passam a valer com força norma va de lei ordinária ou de norma cons tucional, caso se submetam ao previsto no parágrafo 3º do art. 5º da Cons tuição de 1988. Nesse cenário, destacam -se algumas das principais convenções da OIT: nº 87, liberdade sindical e proteção ao direito de sindicalização; nº 98, direito de sindicalização e de negociação cole va; nº 135, representação de trabalhadores; nº 151, sindicalização de servidores; nº 154, negociação cole va. Outras disposições rela vas a direitos cole vos de trabalho e constantes de instrumentos internacionais podem ser encontradas nos seguintes documentos: Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948; Carta Internacional Americana de Direitos sociais, de 1948; Convenção Europeia de Direitos Humanos, de 1950; Carta Social Europeia, de 1961; Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Polí cos, ONU, em 1966; Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ONU, em 1966. 12

Lei ordinária São duas as principais leis ordinárias a servir de fonte formal para o Direito Cole vo do Trabalho, a saber, o Decreto-Lei nº 5.452/1943, por meio do qual se aprovou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a Lei nº 7.783/1989, a regular o exercício do direito de greve, define as a vidades essenciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Atos do Poder Execu vo Ainda como fontes formais, temos os regulamentos, os decretos, as portarias e os demais atos norma vos expedido pelo Poder Execu vo. Tais diplomas se encontram na figura de atos norma vos secundários, ou seja, atos de regulação disposto na forma e para a especificação da aplicação da lei. Nesse ponto, merecem destaque as Portarias nº 343 e nº 376, ambas do Ministério do Trabalho, porquanto normalizem acerca do procedimento de recepção e de verificação de regularidade do pedido de registro sindical. Sentenças norma vas No uso das atribuições conferidas pelo parágrafo 2º, o art. 114 da CRFB 4, os Tribunais Regionais do Trabalho e o Tribunal Superior do Trabalho podem inovar no ordenamento jurídico trabalhista por meio da extração de fonte formal do Direito Cole vo do Trabalho. De fato, a sentença norma va é o pronunciamento jurisdicional por meio do qual se põe termo ao dissídio cole vo. Assim, notadamente quando se trata de dissídios econômicos, tais decisões representam a fixação de condições de trabalho, cons tuindo fonte formal do Direito Individual e Cole vo do Trabalho. Vale sempre relembrar: as sentenças são fontes formais e heterônomas do Direito Cole vo do Trabalho. De fato, são formais, pois estão representadas em documentos expressos provenientes de um legí mo centro de posi vação. São heterônomas, pois correspondem à atuação de órgão diverso, no caso estatal jurisdicional, das partes envolvidas no conflito. Isto é, apesar de a sentença norma va decorrer do julgamento de dissídio cole vo e este sendo promovido pelos entes sindicais e empresas, o ato que resolve a contenda encontra valia jurídica no poder norma vo do Poder Judiciário Trabalhista. Acordo Cole vo de Trabalho (ACT) e Convenção Cole va de Trabalho (CCT) Junto com as sentenças norma vas, os acordos e convenções cole vas de trabalho marcam a especificidade do Direito Cole vo do Trabalho em vista de outros ramos do Direito 5. Com efeito, os acordos cole vos de trabalho e as convenções cole vas de trabalho firmadas por sindicatos de trabalhadores e empregadores qualificam-se como fontes formais e autônomas do Direito do Trabalho, muito embora sejam des nadas a regular vínculos contratuais firmados por pessoas naturais e jurídicas diversas. Temos, a propósito, o art. 611 da CLT definindo convenção cole va de trabalho como o acordo de caráter norma vo pelo qual dois ou mais sindicatos representa vos de categorias econômicas e profissionais es pulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respec vas representações, às relações individuais de trabalho. O acordo cole vo de trabalho encontra, por seu turno, definição no parágrafo 1º desse mesmo ar go, o qual indica que é facultado aos sindicatos representa vos de categorias pro- 4 Art. 114. Compete à Jus ça do Trabalho processar e julgar: 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação cole va ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio cole vo de natureza econômica, podendo a Jus ça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. 5 Vale notar o art. 107 do Código de Defesa do Consumidor acolhendo o ins tuto dos acordos norma vos, por meio das convenções cole vas de consumo: CDC, art. 107. As en dades civis de consumidores e as associações de fornecedores ou sindicatos de categoria econômica podem regular, por convenção escrita, relações de consumo que tenham por objeto estabelecer condições rela vas ao preço, à qualidade, à quan dade, à garan a e às caracterís cas de produtos e serviços, bem como à reclamação e composição do conflito de consumo. 13

fissionais celebrar acordos cole vos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, que es pulem condições de trabalho, aplicáveis no âmbito da empresa ou das acordantes respec vas relações de trabalho. A diferença significa va entre ACT e CCT é que o primeiro envolve uma ou mais empresas e o sindicato laboral, enquanto o CCT reúne sindicatos de trabalhadores e sindicatos de empregadores. De toda sorte, ambos os instrumentos servem para estabelecer normas cole vas autônomas para a regulação das relações cole vas e individuais de trabalho no âmbito das respec vas categorias. Assim, por exemplo, por meio de acordos e convenções cole vos, as empresas e/ ou sindicatos negociantes podem ajustar cláusulas que prevejam jornadas de trabalho em turnos de revezamento, reduções salariais circunstanciais ou permanentes ou ainda novas contribuições em favor dos sindicatos, aplicáveis a todos os trabalhadores associados, sem prejuízo das denominadas contribuições confedera va e sindical. Da jurisprudência consolidada do TST Esse momento é oportuno para esclarecer um ponto: a jurisprudência, embora não se situe entre as fontes formais, pode ser incluída na classificação de fonte informa va ou intelectual, dada a sua importância para o Direito do Trabalho, em par cular. Ou seja, a jurisprudência, mesmo aquele consolidada em súmulas, orientações jurisprudenciais ou precedentes norma vos do Tribunal Superior do Trabalho TST, não é considerada fonte formal do Direito. É inegável, contudo, o valor dos enunciados da jurisprudência consolidada como paradigma para a solução de conflitos cole vos de trabalho. An nomias no Direito Cole vo do Trabalho Especialmente em vista da cria vidade norma va inerente ao Direito Cole vo do Trabalho, não é incomum a verificação de conflitos aparentes de normas ou an nomias na regulação de conflitos trabalhistas. De fato, a referida cria vidade norma va cole va laboral se expressa, com par cular evidência, nos acordos e convenções cole vas. Esses termos, uma vez que regulem de forma inovadora em relação a outras fontes formais, podem se pôr em conflito aparente com outras fontes de obrigações trabalhistas. É preciso, por isso, iden ficar os critérios específicos de solução dessas an nomias no Direito Cole vo do Trabalho. No Direito do Trabalho, a hierarquia das normas difere do Direito Comum, e a pirâmide norma va é construída de modo plás co e variável, alçando ao seu vér ce não necessariamente a norma de status mais elevado, mas, sim, aquela que mais se aproxime do caráter teleológico do ramo juslaborista. Tem per nência o princípio da norma mais favorável ao empregado, em caso de conflito. Em realidade, o critério de hierarquia norma va preponderante no Direito Comum não se aplica ao Direito do Trabalho. A doutrina construiu duas teorias para equacionar a aplicação do critério da norma mais favorável (princípio próprio do Direito do Trabalho sobre a hierarquia de suas normas), quais sejam, a teoria da acumulação e do conglobamento. Nesse passo, pela teoria da acumulação o trabalhador teria direito de fazer valer disposições individualmente extraídas de diferentes atos norma vos por exemplo, um ar go de lei, uma cláusula de CCT e outra cláusula de ACT, todas se acumulando em favor do trabalhador, criando, a par r de outras, a norma mais favorável. A teoria do conglobamento, por sua vez, indica que a necessidade de iden ficação de um ato 14

norma vo a melhor representar a norma mais favorável e daí aplicá-la integralmente, com exclusão das demais normas. No Brasil, prevalece na doutrina e na jurisprudência a aceitação da teoria do conglobamento. ACT x CCT Caso o conflito se dê entre um acordo e uma convenção cole va, há regra legal própria para a solução do conflito. Nessa hipótese, as condições estabelecidas em convenção, quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as es puladas em acordo. É como disciplina o art. 620 da CLT. Liberdade Sindical Introdução Para a adequada apreensão da organização sindical brasileira é indispensável a apreciação prévia de alguns temas. Nessa circunstância, esse capítulo deve começar pela análise do ins tuto da liberdade sindical, nomeadamente em vista do paradigma traçado pelas Convenções da Organização Internacional do Trabalho OIT. A par r dessa premissa, será possível apurar a conformidade do organização sindical no Brasil, no que toca à liberdade sindical, ao sistema internacional. Visto isso, será viável uma abordagem crí ca da estrutura sindical externa e interna, com especial atenção aos ins tutos peculiares ao temas, como, pó exemplo, as limitações impostas pelo sistema sindical nacional, as categorias, as contribuições sindicais. Liberdade sindical A liberdade sindical é um dos postulados básicos da OIT. A bem da verdade, deve-se dizer que a liberdade sindical expressa especial conformação da liberdade de associação, considerado direito humano essencial por diversos documentos internacionais, bem com garan do como direito fundamental pela Cons tuição Brasileira de 1988 (CRFB, 5º, XX). De fato, a Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU/1948) assegura o direito de reunião de associação pacíficas (art. XX). No mesmo documento, encontra-se que todo homem tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses (art. XXIII, 4). Ainda com foro na ONU, vê-se o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966) estabelecer em seu art. 8º, alínea c, que os Estados que são partes do referido pacto se obrigam a assegurar o direito que têm os sindicatos de exercer livremente sua a vidade sem outras limitações que as previstas em lei e que cons tuem medidas necessárias numa sociedade democrá ca, no interesse da segurança nacional ou da ordem pública, ou para proteger os direitos e as liberdades de outrem. Cabe destaque, entretanto, para a importância já atribuída à liberdade sindical mesmo antes da adoção dos citados documentos com sede na ONU. A Cons tuição da OIT, em 1919, já previa o princípio da liberdade sindical, indicando-o como um dos obje vos básicos de seu programa de ação. Tal concepção foi renovada na Declaração da Filadélfia (1944), na qual se lê (art. III, e) que está incluso dentre os programas da OIT os que visem o efe vo reconhecimento do direito de negociação cole va, a cooperação entre empregadores e trabalhadores para o con nuo melhoramento da eficiência produ va, e a colaboração de trabalhadores e empregados na preparação e aplicação de medidas sociais e econômicas. 15

Nesse contexto, a Conferência Geral da OIT, reunida em 1948, adota a convenção para tratar da liberdade sindical e da proteção do direito sindical. Essa convenção passou a ser iden fica pelo nº 87 e denominada Convenção sobre a Liberdade Sindical e Proteção do Direito Sindical. Por meio dessa convenção estão traçados os parâmetros nucleares acerca da liberdade sindical, como veremos mais a frente. Calha notar o par indissociável formado pela Convenção nº 87 e a Convenção nº 98, ambas da OIT. Em complemento à primeira, a de nº 98 denominada Convenção sobre o Direito de Sindicalização e de Negociação Cole va (1944) serve de sustentáculo à proteção do trabalho contra discriminação empreendida em decorrência de ser ou não sindicalizado, bem como visa proteger as en dades sindicais contra interferências de entes públicos ou privados, além de promover a garan a de ambiente propício ao desenvolvimento da negociação cole va. Conceito. No cerne da Convenção nº 87 está o conceito de liberdade sindical, que pode assim ser considerado: direito de os trabalhadores e empregadores, livremente filiando-se ou não a tais en dades, cons tuírem, organizarem as agremiações que desejarem, sem que sofrem qualquer interferência ou intervenção do Estado, nem uns em relação aos outros, visando à promoção de seus interesses. Expressões. Certo, são diversas as agressões à liberdade sindical ainda hoje verificada. Por vezes, o Estado impõe excessivas limitações aos entes sindicais, bem como restringir trabalhadores e empregadores de se organizarem em tais associações. Os sindicatos, por sua vez, podem impor indevidas exigências em face dos seus associados e demais integrantes da categoria. Percebe-se, então, que a liberdade sindical ganha contorno numa relação triangular, porquanto a liberdade sindical encontra expressões em diversas perspec vas, sendo exercida, inclusive, com diferentes vetores. Nesse passo, a liberdade sindical se expressa na perspec va horizontal e na perspec va ver cal. A primeira (horizontal) diz com a proteção das relações entre a categoria e o respec vo sindicato. Por exemplo, a vedação da sindicalização obrigatória. A segunda (ver cal) diz com salvaguarda da organização sindical em vista das relações do indivíduo e dos entes sindicais com o Estado. Apura-se, então, que, sob tais perspec vas, a liberdade sindical se expressa tanto no plano individual, quanto no plano cole vo. No plano individual, as franquias podem ser posi vas ou nega vas. Estas úl mas, por seu turno, passiva ou a va. Encontra-se, assim, a seguinte disposição: liberdade sindical individual posi va: consiste no direito de filiação, na garan a do trabalhador e do empregador de não encontrar óbice ou discriminação decorrente de ter exercido o direito de filiar-se a uma en dade sindical; liberdade sindical individual nega va passiva: por oposição, consiste no direito de não filiação, ou seja, de não ser discriminado ou de outra forma prejudicado por optar não se filiar a qualquer associação sindical; liberdade sindical individual nega va a va: consiste no direito de desfiliação, uma vez livre para filiar-se ou não, o indivíduo empregador ou trabalhador deve igualmente ser livre para poder desfiliar-se sem que disso resulte discriminação detrimentosa. Igualmente, as en dades sindicais portam franquias inerentes a sua condições de entes cole vos. Assim, observam-se claramente as seguintes perspec vas da liberdade sindical: liberdade sindical cole va dinâmica: refere-se à condição de liberdade de autonomia de organização interna e autonomia de ação em defesa dos filiados e da categoria; 16

liberdade sindical cole va está ca: refere-se a liberdade rela va a estrutura sindical, notadamente da regulação das relações entres os sindicatos e as en dades sindicais superiores. Liberdade sindical no paradigma da OIT (Convenções n os 87 e 98 da OIT) A Convenção nº 87 da OIT, entre outros temas, tem como conteúdo a liberdade e a pluralidade sindicais e não foi ra ficada pelo Brasil, porque incompa vel com o ordenamento cons tucional. A divergência essencial por conta da qual não se ra ficou a Convenção nº 87 é encontrada na conformação estabelecida cons tucionalmente ao princípio da liberdade sindical, nomeadamente no que toca às regras decorrentes da unicidade sindical (art. 8º, II), como veremos no item seguinte. Malgrado essa não ra ficação, a Convenção nº 87 deve ser compreendida como paradigma essencial para o princípio da liberdade sindical, tal como admi do na esfera internacional. Pois bem, segundo dispõe a Convenção nº 87 da Organização Internacional do Trabalho, de 1948, trabalhadores e empregadores, sem dis nção de qualquer espécie, terão o direito de cons tuir, sem prévia autorização, organizações de sua própria escolha e, sob a única condição de observar seus estatutos, a elas se filiarem. Além disso, a Convenção nº 87 da OIT contém várias garan as, dentre as quais a de que o Estado não poderá interferir ou intervir no sindicato, de maneira a impedir o exercício do direito sindical. Calha desde já notar que a Convenção nº 87 da OIT não premia ou favorece par- cularmente qualquer dos dois mais comuns sistemas de organização sindical o da unicidade sindical e o da pluralidade sindical. Com efeito, a citada convenção limita-se em afirmar o direito de Os trabalhadores e as en dades patronais, sem dis nção de qualquer espécie, têm o direito, sem autorização prévia, de cons tuírem organizações da sua escolha (art. 2º). Assim, a Convenção nº 87 não obriga a adoção da pluralidade (DELGADO, 2007: 1332), por outro lado, a aplicação obrigatória do regime da unicidade sindical, tal como ins tuído no Brasil está em ní da dissonância à essa norma internacional. Ela sustenta, apenas, que não cabe à lei regular a estruturação e organização internas aos sindicatos, cabendo a estes, com plena autonomia, eleger a melhor forma de se cons tuírem. Especificamente quanto sistema de liberdade sindical estabelecido pela Convenção nº 87 devemos remeter ao Capítulo 28 desse volume, a fim de evitar repe ção, além da indispensável. Calha, então, apenas retomar o rol entabulado dos subprincípios inerentes à liberdade sindical tal como posta na convenção nº 87: Liberdade de associação. Garante a liberdade dos trabalhadores e empregadores de cons tuírem as associações que reputem conveniente. Liberdade de organização. Consiste na liberdade de trabalhadores e de empregadores em determinar a forma de organização que entendam adequada. Liberdade de administração. Consistente na liberdade que têm as organizações sindicais de definir a sua regulação interna. Liberdade da não interferência externa. A impedir estados e terceiros de interferir nos assuntos internos das organizações sindicais. Assim, o Estado não poderá interferir ou intervir no sindicato, de maneira a impedir o exercício do direito sindical. Liberdade de atuação. Consistente no direito das organizações sindicais de determinar a sua forma de atuação perante o estado e terceiros. 17

Liberdade de filiação e desfiliação. A garan r a trabalhadores e empregadores o direito de adotar, perante as organizações sindicais, a conduta que entendam mais própria: filiação, desfiliação e não filiação. Com efeito, tais sub-princípios são apurados a par r da leitura dos ar gos 2º e 3º da referida Convenção 6. Em compasso a tais disposições, temos a Convenção nº 98 Convenção sobre o Direito de Sindicalização e de Negociação Cole va, de 1949 cujo cerne se contempla em seus ar gos 1º e 2º 7. Liberdade sindical e o modelo sindical brasileiro Como antecipado, o modelo sindical traçado na Carta Magna brasileira não se enquadra com precisão ao gabarito proposto pela Convenção nº 87 e pela Convenção nº 98, ambas da OIT. De fato, a Cons tuição de 1988 adotou o princípio da liberdade sindical ao vedar a interferência e intervenção estatal na organização dos sindicatos, muito embora ainda trazendo em seu bojo alguns resquícios do regime corpora vista. Novamente revolvemos o objeto do Capítulo 28 para encontrar a descrição do esquadro da liberdade sindical disposto pela Cons tuição Federal: Princípio da liberdade de associação. Consiste, apenas, na liberdade de criação de en dades sindicais. Este princípio é limitado, pois não temos plena liberdade de organização, impondo-se cons tucionalmente o sistema confedera vo e o não reconhecimento das centrais sindicais como entes sindicais. Princípio da unicidade sindical. Consiste na limitação de exis r somente uma única en dade sindical representa va de determinada categoria em dada base territorial. Esse princípio encontra corolários na base territorial mínima (a menor base territorial para um sindicato é um município) e na sindicalização por categoria (No Brasil adota-se como regra o critério do sindicato por categoria, que reúne os trabalhadores de empresas que atuam no mesmo ramo de a vidade econômica ou que tenham a vidades econômicas similares). 6 Art. 2º Os trabalhadores e as en dades patronais, sem dis nção de qualquer espécie, têm o direito, sem autorização prévia, de cons tuírem organizações da sua escolha, assim como o de se filiarem nessas organizações, com a única condição de se conformarem com os estatutos destas úl mas. Art. 31. As organizações de trabalhadores e de en dades patronais têm o direito de elaborar os seus estatutos e regulamentos administra vos, de eleger livremente os seus representantes, organizar a sua gestão e a sua ac vidade e formular o seu programa de acção. 2. As autoridades públicas devem abster-se de qualquer intervenção suscep vel de limitar esse direito ou de entravar o seu exercício legal. 7 Art. 1º 1. Os trabalhadores gozarão de adequada proteção contra atos de discriminação com relação a seu emprego. 2. Essa proteção aplicar-se-á especialmente a atos que visem: a) sujeitar o emprego de um trabalhador à condição de que não se filie a um sindicato ou deixe de ser membro de um sindicato; b) causar a demissão de um trabalhador ou prejudicá-lo de outra maneira por sua filiação a um sindicato ou por sua par cipação em a vidades sindicais fora das horas de trabalho ou, com o consen mento do empregador, durante o horário de trabalho. Art. 2º 1. As organizações de trabalhadores e de empregadores gozarão de adequada proteção contra atos de ingerência de umas nas outras, ou por agentes ou membros de umas nas outras, na sua cons tuição, funcionamento e administração. 2. Serão principalmente considerados atos de ingerência, nos termos deste Ar go, promover a cons tuição de organizações de trabalhadores dominadas por organizações de empregadores ou manter organizações de trabalhadores com recursos financeiros ou de outra espécie, com o obje vo de sujeitar essas organizações ao controle de empregadores ou de organizações de empregadores. 18

Princípio da liberdade de administração. Consiste na liberdade que têm as organizações sindicais de definir a sua regulação interna. Princípio da liberdade da não interferência externa. Ao impedir estados e terceiros de interferir nos assuntos internos das organizações sindicais. Assim, o Estado não poderá interferir ou intervir no sindicato, de maneira a impedir o exercício do direito sindical. Princípio da liberdade de filiação e desfiliação. A garan r a trabalhadores e empregadores o direito de adotar, perante as organizações sindicais, a conduta que entendam mais própria: filiação, desfiliação e não filiação. Princípio da representação exclusiva pelo sindicato. O sindicato é o representante exclusivo da categoria, especialmente no curso da contratação cole va, impedindo a prevalência, no Brasil, do princípio da liberdade de atuação, de forma plena. A conformação desses princípios conforme a Cons tuição importa um determinado desenho ao modelo sindical brasileiro, em rela vo descompasso com o esquema internacionalmente aceito Convenção nº 87 e Convenção nº 98. De fato, a apreensão de tais peculiaridades serão mais bem vistas a seguir. Para tanto, o modelo sindical brasileiro será abordado a par r dos reflexos nos seguintes aspectos da liberdade sindical: Liberdade sindical cole va: liberdade de associação; liberdade de organização; liberdade de administração; liberdade de exercício de funções. Liberdade sindical individual. Liberdade sindical cole va Quando se trata da liberdade sindical cole va se têm em conta sobretudo o direito das cole vidades envolvidas, representadas por suas respec vas en dades sindicais. Nessa senda, na apreciação da liberdade sindical cole va calha verificar as facetas da liberdade sindical a prestar garan as ao grupo, especialmente, a liberdade de criar uma en dade que lhe possa representar, determinando livremente a forma como essa en dade será organizada, administrada e como, afinal, atuará na defesa dos interesses da cole vidade envolvida. Liberdade de associação. Apesar das considerações acerca do descompasso em relação à Convenção nº 89/OIT, a organização sindical brasileira tem fundamento no princípio da livre associação. Com efeito, a lei não poderá exigir autorização do Poder Público para fundação de Sindicato, ressalvado o registro no órgão competente. Tal percepção é extraída já do inciso primeiro do ar go oitavo da Cons tuição Federal: Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: I a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical; a) Servidores públicos. Aqui é oportuno destacar a situação dos servidores públicos civis e militares. Em realidade, o direito à livre associação sindical é garan do plenamente aos empregados das empresas regidas pela CLT, bem como é garan do ao servidor público civil. Ao contrário, o direito à livre associação sindical não é garan do ao servidor público militar. 19

Já com sede na OIT encontramos restrições à sindicalização de servidores públicos, notadamente os militares. Apesar do esquema de liberdade sindical traçado pela Convenção nº 98, a Convenção nº 151/OIT Convenção Rela va às Relações de Trabalho na Função Pública, 1978 de forma ainda mais específica trata da situação desses trabalhadores. Nesse passo, enquanto a Cons tuição Federal garante ao servidor público civil a livre associação sindical (CRFB, 37, VI), vinculando o exercício do direito de greve aos limites definidos em lei (CRFB, 37, VII). No que concerne aos servidores públicos militares tais disposições não se aplicam. Liberdade de organização. Enquanto se pode dizer que a Cons tuição Federal de 1988 assegurou a liberdade de associação, quanto à liberdade de organização a Carta da República não fez muito para superar a estrutura de representação sindical, derivada do modelo corpora vista e moldada na década de 1930. As principais restrições à liberdade sindical cole va de organização são: a unicidade sindical, a base territorial mínima, a sindicalização por categoria e o sistema confedera vo de organização sindical. Tal condição deriva essencialmente dos incisos II e IV do art. 8º da Cons tuição 8. No bojo da liberdade sindical cole va de organização, as principais transgressões ao esquema da Convenção nº 87/OIT e da Convenção nº 98/OIT se encontrariam nos incisos II, IV e VII do ar go 8º da Cons tuição Federal. Os dois primeiros incisos serão enfrentados com maior vagar mais à frente. Contudo, cabe, desde já, destacar o inciso VII em questão por conta do aparente fascínio causado nos examinadores. Com efeito, o trabalhador aposentado filiado ao sindicato tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais. Segundo a doutrina, a previsão cons tucional de garan a de sindicalização do trabalhador aposentado, inclusive permi ndo-lhe votar e ser votado nas eleições para direção sindical, representa injus ficada intromissão do Estado. Uma vez que a liberdade sindical cole va à livre organização indicaria caber exclusivamente ao ente sindical definir, em assembleia geral, quem integraria seu corpo de associados, essa restrição cons tucional não corresponderia à melhor expressão desse aspecto da liberdade associa va sindical. Unicidade sindical. A organização sindical brasileira tem fundamento no princípio da unicidade sindical. De fato, a Cons tuição da República Federa va do Brasil de 1988 assegura a unicidade sindical, como inegável resquício da intervenção estatal na organização sindical. Calha, assim, iniciar o estudo da unicidade sindical pela apuração de suas caracterís cas, que são: a) a representação de uma categoria por uma única en dade sindical; b) tal representação ocorre dentro de uma determinada base ou região geográfica; c) essa vinculação obrigatória derivando de imposição estatal. Afinal, é como indica o inciso II do art. 8º da Cons tuição, é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representa va da mesma categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que não poderá ser inferior à área de um Município. Ou seja, não é possível que haja mais de um sindicato 8 Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: ( ) II é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representa va de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município; ( ) IV a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confedera vo da representação sindical respec va, independentemente da contribuição prevista em lei; 20