AS FINALIDADES DO ENSINO DO CANTO ORFEÔNICO NA ESCOLA SECUNDÁRIA BRASILEIRA (Décadas de 30 e 40) Wilson Lemos Junior/ UFPR A História das Disciplinas apresenta-se como uma área em expansão no contexto acadêmico, tendo-se verificado nos últimos anos, um aumento no material produzido neste campo. Entre as pesquisas produzidas nesta área deve-se citar a de CHERVEL (1990), que reflete sobre os procedimentos para produção de trabalhos sobre a história das disciplinas. No entanto, mesmo com este aumento substancial nas pesquisas desta área; raros são os estudos que tratam da história do ensino de música na escola e, entre estes, mais raros ainda os dedicados ao Canto Orfeônico. Os estudos sobre Heitor Villa-Lobos contêm em geral um capítulo, ou mesmo um tópico sobre a atuação do maestro como defensor do ensino musical por meio da prática do Canto Orfeônico, porém não costumam enfocar a estrutura interna desta disciplina na escola. Este artigo pretende contribuir no sentido de preencher essa lacuna na historiografia com uma análise das finalidades declaradas do ensino do Canto Orfeônico e dos reflexos destas na prática da disciplina na escola secundária brasileira entre os anos 30 e 40. Balizando esta análise estão, de um lado, as idéias sobre as finalidades do Canto Orfeônico desenvolvidas por educadores acadêmicos, como VILLA-LOBOS e BARRETO e, de outro, as disposições sobre o assunto, publicadas em Leis e Decretos federais. A partir da relação entre estes enfoques, discutem-se aqui questões como: para que servia o ensino do Canto Orfeônico na escola? Qual suas finalidades enquanto disciplina escolar? Vale, no entanto ressaltar que mesmo que as finalidades declaradas tragam importantes contribuições para o entendimento de uma disciplina escolar, existem outras possibilidades para este estudo (CHERVEL, 1990; GOODSON, 1995), que analisam as finalidades privilegiando estudos sobre o cotidiano escolar, assim como as práticas pedagógicas desta disciplina em múltiplas demandas socioculturais. O presente trabalho trata de um período importante para a educação nacional, devido à dentre outros motivos: aos dois governos de Getúlio Vargas (Governo Provisório e Estado Novo); aos ideais escolanovistas (Fernando de Azevedo; Anísio Teixeira); e também ao Movimento Modernista Brasileiro, que transformava a arte nacional. As legislações
privilegiadas são aquelas de 1931 (ano em que a disciplina passa a ser inserida no currículo oficial brasileiro do ensino secundário, apesar de isenta de avaliação formal); e de 1946, quando o programa das disciplinas de Música e Canto Orfeônico sofre uma reformulação, na qual além da reorganização dos conteúdos e das finalidades da disciplina (sendo estas expostas organizadamente em 6 tópicos); passava a incluir a obrigatoriedade de notas e provas para os alunos. As finalidades declaradas do Canto Orfeônico na escola secundária brasileira Durante o início do século XX, os discursos em prol do ensino de Música na escola ganhavam projeção, ressaltando principalmente o caráter social ao qual este ensino poderia estar vinculado. Nas décadas de 30 e 40, muitos destes discursos se tornaram realidade. Os objetivos cívicos, por exemplo, sempre estiveram presentes ao ensino de Canto Orfeônico, já que uma das funções primordiais do professor desta disciplina era ensinar a correta interpretação dos hinos oficiais da nação 1, assim como canções de elevação do espírito nacionalista e de amor à Pátria. Em 1938, Ceição de Barros Barreto apresentava algumas das finalidades musicais e estéticas do ensino do Canto Orfeônico na escola secundária: A finalidade do estudo do canto não é apenas o de promover a aquisição da habilidade de entoar canções, mas o de proporcionar melhor compreensão da música e aumento de satisfações, baseados em apreciação e execução. A apreciação, incluída, forçosamente em cada detalhe do ensino de música, tem o poder de motiva-lo. Estimula o espírito de análise e observação e, por isso, aperfeiçoa a execução. Concorre, portanto, para o aumento do interêsse em compreender e em sentir a música (BARRETO, 1938, p. 69). Se por um lado, Barreto apresentava as finalidades musicais do ensino do Canto Orfeônico como, por exemplo, valorizar a compreensão dos diferentes elementos musicais, ao invés da simples execução de canções; por outro, não deixava de contemplar alguns objetivos que não estavam ligados ao caráter técnico da disciplina. Neste trecho, a autora apresentava algumas das vantagens do Canto na função educativa: Elemento disciplinador e socializador por excelência é, porem, no canto em conjunto que melhor se amplia o seu poder educativo. Do canto coral disse Lourenço Filho (Jornal de Piracicaba 14/06/21): Não há sentimento que não possa interpretar com dignidade, elevação, energia e vigor, que convence e arrasta. Não há idéia que êle não possa sugerir, não há ação que êle não possa despertar ou 1 Vale ressaltar que o ensino da execução dos Hinos Pátrios vem a ser a 1ª lição de qualquer livro didático de Música e Canto Orfeônico durante o período em questão.
inibir... Razão pela qual o canto em côro é um dos mais prontos e prestáveis auxiliares da educação moderna. O canto em conjunto impõe a noção de solidariedade no esforço, acostuma o indivíduo a fundir suas próprias experiências com as dos seus companheiros, ensina-lhe a sentir e agir em massa, realizando o seu trabalho de acôrdo com o trabalho do grupo, tornando-o conciente de ser parte de um todo num conjunto organizado, valorizando, assim, a necessidade de uma disciplina por todos consentida e adotado com o fim de conseguir a melhor execução musical (BARRETO, 1970, p.70-71). A prática do Canto assumia um caráter disciplinador e socializador na escola, o que confirmava o viés defendido por alguns educadores nas décadas iniciais do século XX, como: Veríssimo de Souza 2 e Fernando de Azevedo 3. Estas suas funções seriam úteis quanto aos objetivos gerais da escola. A citação de Lourenço Filho usada por Barreto demonstra a importância que o Canto assumia na escola, já que era um elemento altamente educativo, capaz de provocar um sentimento de elevação, de dignidade, de energia e vigor. As vantagens do ensino musical se davam mais pela promoção a convivência em grupo do que a formação teórica, técnica e estética do aluno. Desta forma, o ensino prático do canto (assim como as grandes concentrações orfeônicas formadas por estudantes secundaristas) apresentava a melhor forma de atingir essa finalidade sociabilizadora do ensino de música na escola, já que privilegiava o trabalho em grupo, o que era entendido como um dos pontos cruciais para a educação de massa proposta pelos organizadores da educação brasileira nas décadas de 30 e 40. Villa-Lobos (1946) concordava com Barreto e também apresentava o Canto como elemento altamente disciplinador na escola. Por outro lado, havia por parte destes educadores uma forte preocupação com a qualidade do ensino de música na escola. Isto pode ser observado nas orientações de Villa-Lobos em um livro oficial sobre o programa de ensino de música nas escolas da Prefeitura da Capital Federal, publicado em 1937: As festas e concentrações escolares, com exceção das imprescindíveis 4, dentro da orientação do programa do ensino de música traçado, e previstas de acôrdo com a organização de cada escola, só poderão acarretar prejuízo, não somente quanto à aplicação normal do ensino de música, mas também a outras disciplinas (VILLA-LOBOS, p.514, 1946). 2 Veríssimo de Souza foi um educador paranaense que mesmo não sendo da área (atuou como professor de História) se dedicou a implantação do ensino de Música nas escolas primárias paranaenses, e conseqüentemente nas escolas normais. Alguns dos artigos sobre a Educação Musical escrito por este educador podem ser encontrados na Revista A Escola (na 1ª década do século XX). 3 Fernando de Azevedo contemplava o ensino de Música como parte integrante do projeto da Escola Nova, defendido por ele, e por outros educadores brasileiros. Essa relação música escola nova é encontrada na obra de Fernando de Azevedo: Novos caminhos e novos fins A nova política da educação no Brasil. Subsídios para uma história de quatro anos, 1958. 4 Villa-Lobos entendia como imprescindíveis às festas em comemoração as datas marcantes na história do Brasil, como a independência da república, o dia da bandeira entre outras.
Enquanto Villa-Lobos anunciava o mal que faria a disciplina e a escola o excesso de apresentações, Barreto denunciava a situação precária ao qual estava vinculado o ensino de Música e de Canto Orfeônico nas escolas: Tudo nos leva a crer que inúmeras divergências existem entre o que os próprios programas de ensino têm estabelecido e o que realmente se pratica. Programas existem com orientação conveniente. Eles deverão, em qualquer caso, porém, ser ajustados à classe e às condições do ambiente, onde se pretenda processar o ensino. Será necessário compreender o meio, onde viva a criança, sua experiência musical anterior, seus gostos, suas preferências. Só então poder-se-á esboçar um plano de trabalho com objetivos definidos, suscetíveis de serem alcançados. Ora, isso exigirá condições de orientação do professor. Não bastará um programa. A ausência dessa verdadeira orientação observa-se geralmente na realização do ensino de música, como disciplina isolada de todas as outras. No entanto, por ser uma linguagem do sentimento ela facilmente se relaciona com todos os assuntos, prestando-se ao ensino globalizado. E só por essa forma, acreditamos que a experiência em arte e beleza possa influir na formação das crianças (BARRETO, 1938, p. 17-18). Tanto Villa-Lobos quanto Barreto se mostravam preocupados com a formação musical e estética dos alunos, ultrapassando a função utilitarista do ensino de Música na escola. É certo que nenhum destes dois defensores do ensino de Música na escola, negaram, por exemplo, o poder de sociabilização da Música, no entanto, sempre apresentaram uma forte preocupação com a qualidade teórica e técnica deste ensino, buscando evitar, por exemplo, o ensino despretensioso de Música, voltado apenas para o recreacionismo. O ensino de música unia-se também a uma outra questão central da escola nas décadas em questão: a tensão entre o velho e o novo; o tradicional e o moderno. A prática do coro neste sentido surgia como um verdadeiro exemplo de educação moderna. Essa alusão à modernidade assumia íntima relação com o discurso dos intelectuais da escola nova brasileira e com o discurso dos artistas envolvidos no Movimento Modernista Brasileiro (sendo que ambos movimentos buscavam um rompimento com um passado tradicional em prol do novo). Villa-Lobos de certa forma era um ótimo representante desse ensino modernizador, já que foi um dos expoentes da Semana de Arte Moderna, em 1922. Villa-Lobos carregava o estigma de um artista moderno e consagrado, principalmente após seus sucessos na Europa. Outra finalidade ao qual o Canto Orfeônico esteve ligado na escola remete ao discurso sobre a função higienista 5 na qual a escola estava submetida: O canto em côro difere do canto individual, não somente no sentido de visar êste, principalmente mais virtuosidade, como por globalizar com mais eficiência diversos fatores 5 Durante o início do século XX, médicos e educadores se uniam em torno de um discurso higienista, que privilegiava a preocupação com a saúde e com os bons hábitos higiênicos. Para maiores informações sobre este tema, pode ser encontrado em MARQUES, 1994.
educacionais, apropriando-se melhor ao ensino coletivo. Não representa apenas a satisfação produzida pela execução das canções. É também elemento de desenvolvimento físico, pelo que exige como atitude na prática de sua realização, pelo treino da distribuição e capacidade respiratória, influindo na circulação de todo o organismo, pelo contrôle dos nervos e músculos, determinando melhor conjugação de ritmos, despertando a inteligência, desenvolvendo o raciocínio, aperfeiçoando a sensibilidade (BARRETO, 1938, p.70). As vantagens do ensino do Canto Orfeônico assumiam uma relação direta com o físico, o corpo, a capacidade respiratória, a circulação sanguínea; além de trabalhar com a perspectiva da recreação, onde o canto seria capaz de dar: (...) ocupação do mais alto valor às horas de lazer, como recreação sadia (BARRETO, p. 71, 1938). Neste sentido, o Canto seria uma disciplina capaz de cuidar do corpo e do espírito, sem menosprezar, portanto sua função coletiva na escola (convivência em grupo). Estes discursos sobre os objetivos do ensino de música e Canto também estiveram contemplados nas finalidades do Canto Orfeônico para as escolas secundárias brasileiras apresentadas pela legislação de 31 e de 46. Na legislação de 31, o ensino do Canto Orfeônico encontrava-se justificado pela capacidade de aproveitar a música como meio de renovação e de formação moral e intelectual (ABREU, p.91, 1939). Além disso, o ensino deveria ter: (... ) a forma recreativa, convindo sejam os cânticos variados. É indispensável escolherem-se composições de autores de real mérito, preferindo-se as que já se tenham incorporado ao patrimônio artístico nacional (apud ABREU, p.91, 1939). A partir da legislação de 1946, nota-se uma maior organização das finalidades do Canto Orfeônico, já que passavam a ser expostas em forma de tópicos, conforme relata Yolanda de Quadros Arruda na obra Elementos de Canto Orfeônico (voltado ao ensino secundário curso ginasial), que mesmo na 33ª edição no ano de 1960, ainda seguia as orientações dos decretos e leis de 1946: FINALIDADE DO CANTO ORFEÔNICO Na portaria Ministerial nº 300, de 7 de maio de 1946, referente ao ensino de canto orfeônico nas escolas secundárias do país, lê-se o seguinte: I O ensino de Canto Orfeônico tem as seguintes finalidades: a) Estimular o hábito de perfeito convívio coletivo, aperfeiçoando o senso de apuração do bom gosto. b) Desenvolver os fatores essenciais da sensibilidade musical, baseados no ritmo, no som e na palavra. c) Proporcionar a educação do caráter em relação à vida social por intermédio da música viva. d) Incutir o sentimento cívico, de disciplina, o senso de solidariedade e de responsabilidade no ambiente escolar. e) Despertar o amor pela música e o interesse pelas realizações artísticas. f) Promover a confraternização entre os escolares. (ARRUDA, 1960, p. 153).
Nota-se que as perspectivas sociais do Canto Orfeônico ganhavam mais projeção, já que o estímulo ao convívio em sociedade assumia um lugar de destaque nas finalidades do ensino de Canto Orfeônico, não só por ser o 1º tópico apresentado, como por ser o objetivo maior ao qual o ensino de música estava submetido. Esta sociabilização mediada pelo Canto Orfeônico se dava devido à divisão de trabalhos que era necessário para um melhor desempenho do coro: (...) o orfeonista, convivendo com elementos de diversas classes sociais, recebe o exemplo e o incentivo de uns, anima e auxilia por sua vez, a outros. Empresta ao conjunto, o concurso de sua voz, num louvável espírito de colaboração, ciente que está, de representar um importante papel, no bom êxito do canto orfeônico a se executar (ARRUDA, 1960, p. 153). Conseqüentemente, atenuar as diferenças sociais e aprender a viver em sociedade passava a ser um dos grandes objetivos do Canto Orfeônico nas escolas. O convívio entre classes também pode ser averiguado em algumas propostas do maestro Villa-lobos no período anterior a 1946, quando procurava atrair a diferentes classes sociais para as concentrações orfeônicas, conforme relata Contier: Em 1934, Villa-Lobos idealizou um projeto visando concretizar... a maior demonstração cívico-artística no stadium do Fluminense Foot-ball Club com 64.100 executantes. Constavam do programa as seguintes peças: Hino Nacional, Hino ao Sol do Brasil, Invocação à Ciência, Apoteose à Arte, Legenda Mecânica (com o concurso de 100 aviões), Hino à Bandeira, P ra Frente, Ó Brasil!. Nesse espetáculo deveriam participar conjuntos corais constituídos por 25.000 policiais militares, 10.000 estudantes ginasianos, 6.000 da E.S. do DEM, 9.000 soldados do exército, 6.000 operários, 2.000 marinheiros, 2.000 músicos de banda, 2.000 policiais e 2.000 escoteiros, totalizando uma massa coral de 64.000 vozes, acrescida dos roncos de 100 aviões (CONTIER, 2202, p.39). A função social sempre esteve aliada ao ensino do Canto Orfeônico na escola, tanto que na legislação de 1946 apenas duas das finalidades declaradas (item b; e) apresentavam objetivos ligados propriamente à música. Todos os outros eram voltados apenas para os objetivos utilitaristas que a disciplina poderia oferecer. Assim, a música servia não apenas como um veículo importante para a escola, capaz de promover tais objetivos, como seria útil no intuito de promover uma harmonização social e política. As finalidades de ensino para a escola normal confirmavam a função da música no curso ginasial, no entanto nas finalidades de ensino da escola normal, aparecia um novo tópico que não havia sido contemplado no ginasial: Manter a interpretação justa dos hinos oficiais entre os escolares (VILLA-LOBOS, 1946, p.554). Essa preocupação com os hinos oficiais
assumia um dos pontos principais que os normalistas deveriam adquirir: a capacidade de ensinar a correta interpretação dos hinos aos alunos da escola primária. No entanto, se por um lado, havia essa ênfase nos ensinamentos dos hinos oficiais na escola normal; por outro, não era encontrado o segundo tópico das finalidades do ensino do Canto Orfeônico para o curso ginasial: desenvolver os fatores essenciais da sensibilidade musical, baseados no ritmo, no som e na palavra. Muito possivelmente os organizadores das finalidades do Canto Orfeônico acreditavam que essa sensibilidade musical do aluno tivesse sido desenvolvida no curso ginasial. Porém, se esse era um dos poucos objetivos propriamente musicais das finalidades do ensino do Canto Orfeônico na escola ginasial; na escola normal esse objetivo era substituído por outro relacionado ao civismo, e conseqüentemente, a convivência na sociedade. Essa finalidade buscava uma conformação do indivíduo na sociedade, já que atrelado à incursão do sentimento cívico vinha (conforme apresentava as próprias finalidades), a incursão da disciplina 6. Novamente aparecia a idéia da harmonização social e política ao qual o ensino de Canto Orfeônico esteve vinculado durante as décadas de 30 e 40. Conclusão Nas legislações assim como nos discursos dos acadêmicos envolvidos no ensino de Canto Orfeônico, nota-se três pontos centrais encontrados nas finalidades declaradas do Canto Orfeônico na escola secundária brasileira. O primeiro tratou da prática do Canto assumindo um caráter disciplinador e socializador, atendendo a um dos objetivos gerais da escola. O Canto aparece aqui, longe de seu caráter técnico e estético, mas sim como um meio educativo capaz de promover a convivência em grupo. Desta forma, o ensino prático do canto, assim como as grandes festas e concentrações orfeônicas formadas por estudantes secundaristas, apresentavam a melhor forma de atingir esta finalidade sociabilizadora do ensino de música, através principalmente dos hinos pátrios e canções cívicas. Como reflexo, certos aspectos ligados à teoria e à apreciação musical não constavam entre as principais finalidades legais desta disciplina, tendo sido apenas discutida nos textos dos personagens diretamente envolvidos com a disciplina. O segundo ponto tratou do caráter medicinal do Canto Orfeônico, que era considerado como uma disciplina capaz de cuidar do corpo e do espírito, mantendo, neste sentido, relação 6 Entende-se aqui o termo disciplina como direção moral (controle).
direta com os ideais higienistas em voga nas décadas iniciais do século XX. O Canto assumia a sua função recreativa na escola, já que não exigia esforço intelectual como em outras disciplinas. No terceiro ponto, discutiu-se a relação que a disciplina assumia com o projeto de educação moderna e com o Movimento Modernista Brasileiro em voga nas décadas de 30 e 40, assim como para a educação das massas, objetivando uma convivência interclasses pacífica na sociedade. REFERÊNCIAS ABREU, Dr. Alysson de. Leis do Ensino Secundário e seus Comentários. Manual do Inspetor de Ensino Secundário. Graphica Queiroz Breyner Ltda., 1939, 2ª edição. ARRUDA, Yolanda de Quadros. Elementos de Canto Orfeônico. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1960, 33ª edição. BARRETO, Ceição de Barros Barreto. Côro Orfeão. Companhia Melhoramentos de São Paulo, Biblioteca de Educação, 1938. CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria e Educação, Porto Alegre, n.2, p. 177-229, 1990. CONTIER, Arnaldo D. Passarinhada do Brasil: canto orfeônico, educação e getulismo. Bauru, SP: EDUSC, 1998. GOODSON, Ivor F. Currículo: teoria e história. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. JULIA, Domenique. Disciplinas escolares: objetivos, ensino e apropriação. In: LOPES, Alice Casimiro e MACEDO, Elizabeth (orgs.). Disciplinas e integração curricular: história e políticas. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. MARQUES, Vera Regina Beltrão. A medicalização da raça: médicos, educadores e discurso eugênico Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1994. VILLA-LOBOS, Heitor. Educação Musical in Boletim Latino Americano de Música VI/6, Abril de 1946.