NITROGÊNIO E FÓSFORO NA FORRAGEM CONSUMIDA E NAS FEZES EXCRETADAS POR BOVINOS EM UM CAMPO NATIVO DO PANTANAL DA NHECOLÂNDIA MS

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1 NITROGÊNIO E FÓSFORO NA FORRAGEM CONSUMIDA E NAS FEZES EXCRETADAS POR BOVINOS EM UM CAMPO NATIVO DO PANTANAL DA NHECOLÂNDIA MS Márcia Toffani Simão Soares 1, Sandra Aparecida Santos 1, Urbano Abreu Gomes 1, João Batista Garcia 1, Letícia Maria de Mattos Martinez 2, Bruno Araujo Friderichs 2, Nazaré Flávia Abreu 2, ( 1 Embrapa Pantanal, Caixa Postal 109, Corumbá, MS. mtoffani@cpap.embrapa.br. 2 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Corumbá Caixa Postal Corumbá MS). Termos para indexação: Pantanal, campo nativo, fezes bovinas, ciclagem de nutrientes Introdução O Pantanal corresponde a uma das maiores áreas úmidas do planeta (Sarmiento, 1984), ocupando aproximadamente km 2 entre o Brasil, a Bolívia e o Paraguai. Cerca de 3,5 milhões de cabeças são mantidas na planície pantaneira, sendo que mais da metade deste rebanho, aproximadamente 1,9 milhão de rezes, seja criada no Pantanal de Corumbá, basicamente para a produção de animais de cria (principal produto comercializado na região), recria e engorda. Apesar do valor expressivo, o manejo bovino apresenta baixa intensidade, sendo caracterizado, pela baixa taxa de lotação do gado a pasto. A intensificação da atividade pecuária nesta região é limitada, dentre outros fatores, pela forte sazonalidade na produção de forragem, ditada pelo regime hidrológico na região, e pela baixa capacidade de suporte das pastagens nativas, associada à ocorrência de solos arenosos com baixa fertilidade, que ocasiona baixa qualidade e produtividade das pastagens e, conseqüentemente, menores índices de produtividade. A otimização do uso dos campos naturais ocorrentes no Pantanal Sul-Mato-Grossense pode ser realizada com o melhor conhecimento e manejo da ciclagem de nutrientes. Neste aspecto, o rebanho bovino desempenha importante papel ao proporcionar, via eliminação de urina e fezes, fertilização de sítios específicos de pastejo / defecação. Dentre os nutrientes essenciais às pastagens destacam-se o nitrogênio (N), que está relacionado com o teor de proteína da forragem, e o fósforo (P), importante para o crescimento do sistema radicular, bem como no perfilhamento das gramíneas, dentre outras

2 funções (Santos et al., 2006). Considerando a importância destes nutrientes como fator limitante ao desenvolvimento das forrageiras, este trabalho objetivou avaliar a variação temporal da concentração destes nutrientes na forragem consumida e nas placas de fezes excretadas por bovinos, em condições representativas de manejo do Pantanal da Nhecolândia, no Mato Grosso do Sul. Material e Métodos O experimento foi conduzido na fazenda Nhumirim, localizada no Pantanal da Nhecolândia, Corumbá MS (18º59' de latitude Sul e 56º39' de longitude Oeste), de propriedade da Embrapa Pantanal. A área de estudo compreendeu uma invernada de 151 hectares, onde foram mantidas entre fevereiro de 2007 e 2008, sob manejo contínuo, um rebanho de 51 vacas de cria da raça Nelore, na taxa de lotação moderada (3,0 ha / cabeça). Esta área sofreu inundação parcial entre fevereiro e março de A forragem potencialmente selecionada pelo gado (consumida) foi obtida por simulação do pastejo a partir de amostragens nos locais de pastejo / ruminação / defecação, determinados previamente por observação direta do comportamento do uso espacial dos bovinos, entre os dias 27/02/2007 a 2/03/2007 (final da cheia parcial), 18 a 20/04/2007 (final das chuvas), 16 a 18/5/2007 (início da época seca) e 16 a 18/01/2008 (período chuvoso). A forragem selecionada foi amostrada, com o auxílio de um quadrado de 0,5 x 0,5 m, que foi lançado doze vezes (amostras simples), aleatoriamente, nos polígonos identificados (SANTOS et al., 2002). As amostras foram pesadas, agrupadas em três amostras compostas por parcela, homogeneizadas e retirada uma alíquota que foi processada para secagem em estufa de ventilação forçada a 55 o C até a manutenção do peso constante. As amostras secas foram moídas em moinho tipo Willey e peneiradas em peneira de malha 100 mesh, para a determinação de nitrogênio (N) e de fósforo (P). Nestes mesmos locais, nos dias 2/03/2007 (dia do ano: 61), 20/04/2007 (dia do ano: 110), 18/5/2007 (dia do ano: 137) e 18/01/2008 (dia do ano: 383) foram selecionadas, aleatoriamente, vinte placas de fezes frescas recém defecadas, para determinações das

3 concentrações de N e de P. As fezes foram transferidas cuidadosamente para um saco plástico, vedadas, mantidas sob refrigeração e encaminhadas ao Laboratório de Análises Químicas da Embrapa Pantanal, de onde foi obtido, para cada amostra, o peso úmido. Com este procedimento foi possível o agrupamento das placas de fezes, duas a duas, em dez amostras compostas em função do peso; cada uma foi homogeneizada e processada conforme descrito para a forragem selecionada, para determinaçoes analíticas. O N total das fezes bovinas e da fitomassa foi determinado pelo método semimicro Kjeldahl após digestão sulfúrica (Silva, 1999, adaptado por Galvani e Gaertner, 2006); os extratos líquidos para determinação dos teores de P foram obtidos por via úmida após digestão nítrico-perclórica e as determinações foram feitas em espectrofotômetro (método colorimétrico). As concentraçoes de N e P na forragem selecionada e nas fezes bovinas foram submetidas à análises de variância da regressão a fim de verificar a ocorrência de variações em função do tempo. Para tanto, foram utilizados os procedimentos GLM (General Linear Model) do programa estatístico SAS 8.0 (Statistical Analysis System, 1999). Ajustes na curva de regressão foram realizados quando necessário. Resultados e Discussão Os sítios de pastejo e defecação variaram consideravelmente ao longo do tempo, em função da disponibilidade de forragem, que está intrinsecamente associada aos períodos sazonais de cheia e seca que ocorrem nas sub-regiões do Pantanal (vide Santos, 2001). Apesar da variabilidade espacial e temporal da utilização de sítios de pastejo por bovinos e, consequentemente, da qualidade da fitomassa consumida, não houve variações significativas das concentrações de N e P na forragem selecionada em função do tempo (Figura 1). É importante salientar que a forragem selecionada não foi amostrada no período mais seco do ano, quando há maior disponibilidade de pastagens de melhor qualidade nas áreas próximas aos cursos d`água (baias, salinas, corixos) (Santos, 2001). Verificou-se que há tendência de uma maior concentração de P na forragem selecionada nas épocas em que o rebanho freqüentou sítios localizados no entorno do cocho (saleiro), isto é, nos dois primeiros períodos de amostragem (observações de campo). De acordo com Haynes e Williams (1993),

4 é comum o acúmulo de fezes bovinas nas proximidades de cochos de sal e bebedouros, que não necessariamente são os locais de maior produção de forragem para o gado, como verificado em campo. Nitrogênio Forragem Selecionada (g kg -1 ) 16,0 14,0 12,0 10,0 8,0 y = n.s. (a 1 ) Nitrogênio nas Fezes Bovinas (g kg -1 ) 16,0 14,0 12,0 10,0 8,0 (a 2 ) y = 11,91-0,02x + 6,75E-5x 2 R 2 = 0,59; p<0,01 5,0 5,0 Fósforo na forragem selecionada (g kg -1 ) 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 y = n.s. (b 1 ) Fósforo nas Fezes Bovinas (g kg -1 ) 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 (b 2 ) y = 4,63-0,02x + 4,99E-5x 2 R 2 = 0,40; p<0,01 Figura 1. Variação das concentrações de nitrogênio (a) e fósforo (b) (g kg -1 de massa seca) na forragem selecionada (passível de consumo pelo gado) (1) e nas fezes bovinas (2) em função do tempo ( 1 = 1º Janeiro 2007), obtidas nos principais sítios de pastejo / ruminação / defecação (barras correspondem ao erro padrão da média). Variações na concentração de N e P em função do tempo são mais evidentes nas fezes bovinas. Nestas, foram observadas relações quadráticas entre o fator tempo e as concentrações de N e P (p<0,01), conforme apresentado na Figura 1. As concentrações obtidas estão dentro das menores faixas encontradas em literatura, o que pode ser justificado pela qualidade da forragem consumida (Haynes e Williams, 1993; Braz et al., 2002). Observa-se também que a curva de resposta do P das forragens e das fezes em função do tempo são similares. As maiores concentrações de P nas fezes bovinas coincidem com as épocas de chuvas e

5 inundação parcial da invernada, que está associada com a melhor qualidade das forrageiras conforme Figura 1. Outra hipótese para este resultado está associada ao possível aumento do consumo de sal mineral em determinados períodos, no caso suplementado com fosfato bicálcico (Pott, 1987), o que pode ter ocasionado um aumento na excreção deste nutriente pelo rebanho em determinadas épocas do ano. Verifica-se em dados de literatura que a distribuição de placas de fezes bovinas poderá favorecer a formação de sítios de maior fertilidade do solo (Sheldrick et al., 2003) e, portanto, a produção de gramíneas de maior valor nutritivo. Todavia, este fluxo de retorno de nutrientes via excretas depende do método de pastejo adotado, e as interações entre estes e aspectos qualitativos da forragem disponível é complexo (Ferreira et al., 2004; Santos et al., 2007) e dependente de demais fatores que não foram aqui considerados. Conclusões As concentrações de N e P das fezes bovinas criadas em condições de manejo extensivo no Pantanal da Nhecolândia variaram temporalmente no período estudado. Estudos mais detalhados são necessários a fim de melhor compreender a interação entre estes dois compartimentos do sistema pecuário pantaneiro (forragem e fezes bovinas), visando a definição de estratégias para o maior aproveitamento dos nutrientes presentes no sistema, e colaborando, desta forma, para o manejo sustentável das pastagens nativas do Pantanal da Nhecolândia. Agradecimentos Aos funcionários da Embrapa Pantanal que contribuíram para a execução deste trabalho, e ao Centro de Pesquisa do Pantanal - CPP pelo apoio financeiro. Referências bibliográficas BRAZ, S.P.; NASCIMENTO JR, D.; CANTARUTTI, R.B.; REGAZZI, A.J.; MARTINS, C.E.; FONSECA, D.M.; Aspectos quantitativos do processo de reciclagem de nutrientes pelas fezes de bovinos sob pastejo em pastagem de Brachiaria decumbens na Zona da Mata de Minas Gerais. Revista Brasileira de Zootecnia, v.31, n.2 (suplemento), p , 2002.

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