MARKETING OF CHARCOAL PRODUCED IN BIGUAÇU, SC, WITHIN THE FRAMEWORK OF A SPATIALLY EXTENDED SHORT CHAIN
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- Kevin Neiva Paixão
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1 Titulo: A COMERCIALIZAÇÃO DE CARVÃO VEGETAL EM BIGUAÇU, SC, NO ÂMBITO DA CADEIA CURTA ESPACIALMENTE ESTENDIDA Title: THE MARKETING OF CHARCOAL PRODUCED IN BIGUAÇU, SC, WITHIN THE FRAMEWORK OF A SPATIALLY EXTENDED SHORT CHAIN Grupo 2. Iniciativas para o fortalecimento da agricultura familiar Resumo Expandido para Artigo Cientifico Resumo: O Brasil é o maior produtor mundial de carvão vegetal e, em que pese às polêmicas sociais e ambientais, abastece tanto a cadeia produtiva de aço quanto o mercado voltado ao uso doméstico. No Sul do Brasil a produção de carvão vegetal apresenta importância na agricultura familiar e se desenvolve tanto a partir de espécies exóticas como de nativas. O objetivo deste texto é qualificar a cadeia curta espacialmente estendida no município de Biguaçu, SC, e identificar os mecanismos que propiciaram seu surgimento. Concluiu-se que se trata da única cadeia produtiva regularizada em todas as suas etapas em Santa Catarina e que se alicerça em um processo de inovação organizacional com gestão coletiva, associado à inovação da diferenciação do produto e direito de propriedade. Palavras-chave: cadeia curta, carvão vegetal, sustentabilidade, inovação organizacional Abstract: The Brazil is the world s largest producer of charcoal and, in spite of the social and environmental controversies, supplies both the steel production chain and the domestic market. In southern Brazil charcoal production presents importance in family farming and develops both from exotic species and native ones. The objective of this text is to qualify the spatially extended short chain in the municipality of Biguaçu, SC, and identify the mechanisms that led to its emergence. The conclusion is that this is the only chain regularized in all its stages in Santa Catarina and which is based on a process of organizational innovation with collective management, associated with the product differentiation innovation and property rights. Key words: short chain, charcoal, sustainability, organizational innovation Introdução A produção de carvão vegetal é uma importante fonte renda para agricultores familiares, como apontam pesquisas realizadas no Estado de Santa Catarina (FANTINI et al., 2010; LINDEMANN 2010; STEENBOCK, 2009; ULLER-GÓMEZ & GARTNER, 2008). O trabalho de Lindemann (2010) identificou importância na atividade carvoeira na composição da renda de assentados rurais de diversos municípios de Santa Catarina. Nos municípios de Calmon e Matos Costa, na mesorregião do Oeste Catarinense, conforme relato de Steenbock (2009), a produção de carvão é uma
2 importante atividade geradora de renda para agricultores familiares. No município de Biguaçu/SC, pesquisa realizada em seis comunidades, apresentou que o carvão vegetal é a principal fonte de renda para 30% das famílias que vivem da agricultura (ULLER- GÓMEZ & GARTNER, 2008). Apesar de sua importância econômica e social, a dimensão da produção de carvão vegetal tem sido subestimada pelas estatísticas oficiais (CARRIERI-SOUZA, 2010). A falta de dados reais sobre o carvão vegetal está relacionada ao fato de que a grande maioria dos agricultores realiza a atividade sem licenciamento ambiental (CARRIERI-SOUZA, 2010; ULLER-GÓMEZ & GARTNER, 2008; FANTINI et al., 2010). A pesquisa realizada por Uller-Gómez (2008) identificou que atividade carvoeira executada à margem da lei, também provoca o afastamento dos órgãos oficiais de assistência técnica e extensão rural, considerando que estes não atendem agricultores em atividades ilegais. Este quadro provocou a exclusão de parte dos agricultores da dinâmica de assistência técnica local, onde apenas parte das atividades era considerada, negando-se a visão sistêmica das suas atividades. Mesmo com a falta de licenciamento, no comércio, o carvão vegetal pode ser negociado sem restrições, onde a realidade da sua produção é, normalmente, desconhecida de seus consumidores em geral. Atualmente, no mercado, podemos encontrar carvão produzido em diferentes contextos. Assim, da mesma forma, que o pequeno agricultor beneficia seu produto de forma ambiental e socialmente aceitável, mas encontra dificuldades de se regularizar, o carvão produzido em outros contextos no país, por sua vez associado a degradação ambiental e exploração do trabalho, também acaba sendo comercializado, não se diferenciando nas prateleiras dos supermercados. Este trabalho tem como base a pesquisa de mestrado Cadeia Produtivas do Carvão Vegetal na Agricultura Familiar no Sul do Brasil que estudou cadeias produtivas do carvão vegetal em três municípios diferentes: Biguaçu/SC, Bituruna/PR e Santa Rosa de Lima/SC (CARRIERI-SOUZA, 2013). Dentre os municípios estudados o município de Biguaçu, foi o único que apresentou um tipo de cadeia onde todo o carvão comercializado, tem sua cadeia produtiva em conformidade com a legislação ambiental vigente. Assim, este trabalho tem como foco, esta cadeia específica, a compreensão de seu funcionamento e o relato de sua formação, dentre de uma visão inclusiva. Os caminhos para a comercialização de carvão vegetal Inicialmente cabe esclarecer que adotamos o conceito de comercialização como um processo contínuo e organizado de encaminhamento da produção agrícola ao longo de um canal de comercialização, no qual o produto sofre transformação, diferenciação e agregação de valor (MENDES; PADILHA JUNIOR, 2007, p.8). Também cadeia curta nos termos definidos por Marsden, Banks e Bristow (2000), segundo os quais ocorrem basicamente três tipos principais: a) Face a face apresenta simetria com o que se conhece como venda direta ao consumidor. b) Proximidade espacial é estabelecida a partir de unidades de varejo com identidade regional; c) Espacialmente estendida abrange processo de certificação, rótulos e identificação que representam efeitos da reputação. Carrieri-Souza (2010) identificou no município de Biguaçu, que o carvão vegetal produzido chega ao seu consumidor em duas formas de apresentação final diferentes: a) em embalagens formais, habitualmente encontrada nos estabelecimentos varejistas
3 qualificados ou, b) embalagens informais, por sua vez sem identificação, normalmente utilizadas anteriormente na construção civil para acondicionamento de cimento. Nesses casos a comercialização se dá por meio de intermediários que revendem o carvão para estabelecimentos varejistas ou consumidores finais (restaurantes), sendo que o carvão tem origem diversa. Quando o carvão é vendido em embalagens formais, este intermediário está formalmente estruturado e possui marca própria. O carvão embalado e vendido nas embalagens formais, apesar de ter a mesma origem do carvão vendido nas embalagens informais, não encontra dificuldades relacionadas à fiscalização no ponto de venda. O trabalho de Carrieri-Souza (2010) evidenciou a tipologia e questões relevantes a serem consideradas em trabalhos relacionados à comercialização de carvão vegetal no município, onde se destaca: a) Os intermediários têm origem na comunidade, sendo produtores ou ex-produtores de carvão vegetal, em que a relação entre os produtores e intermediários era baseada em relações de confiança e em regras informais. Por este motivo, trabalhos de extensão relacionados a organização e regularização do sistema de comercialização de carvão na comunidade deveria incluir, também, estes intermediários; b) O carvão vendido nas embalagens informais possibilitava que os seus consumidores associassem características de qualidade do produto, relativas a sua forma de produção, e origem. Isto ocorria, pois o carvão tinha uma embalagem característica, e devido ao seu caráter informal, não era comercializado em locais distantes ao de sua produção. Alguns agricultores do município de Biguaçu, por intermédio de ações externas ocorridas na comunidade rural, conseguiram legalizar sua produção carvoeira e com isso, buscaram promover a venda direta de seu produto ao comércio local, valorizando as características de qualidade por meio da sinalização desse diferencial ao mercado com apoio do design de produto. Esta organização possibilitou identificar um novo tipo de cadeia em Biguaçu, classificado de acordo com Marsden, Banks e Bristow (2000) como cadeia curta espacialmente estendida. Este tipo de cadeia, dentre os municípios pesquisados, só foi encontrada no município de Biguaçu, e é a única em que se verificou a regularização ambiental de toda a cadeia desde a produção até o comércio. Atualmente, as cadeias produtivas encontradas no município de Biguaçu, podem ser classificadas em: cadeia curta espacialmente estendida; cadeia curta face à face; cadeia curta de proximidade espacial e cadeia longa conforme detalhado na Figura 01. Figura 01 - Cadeia produtiva de carvão em Biguaçu, SC.
4 Fonte: Carrieri-Souza, (2013). A cadeia longa de comercialização é representada pelo modelo clássico, em que não há identificação do fornecedor da matéria prima e, no qual, os atributos de qualidade do produto ficam depositados na marca. Nas cadeias curtas, em suas diferentes vertentes, encontra-se a vinculação do produto ao agricultor e a ele associado, aspectos qualitativos, como modo de vida, sistema de produção, tradição, aspectos esses retratados e valorizados no momento da venda. Mais especificamente no caso de Biguaçu, o desenvolvimento da cadeia espacialmente estendida se alicerça numa trajetória holística e interdisciplinar, onde o modo de cultivo botar a roça, paisagem, cultura, valores e pertencimento, foram traduzidos pelo design aplicado nas embalagens de carvão. O conjunto formado pelas regras e direitos de propriedade, incluindo a marca coletiva, ficou depositado numa ONG, denominada Associação dos Agricultores Familiares da Roça de Toco de Biguaçu, SC. A comercialização sob marca coletiva Todo processo de comercialização de carvão vegetal está alicerçado na transparência, onde o direito de propriedade de uso da marca coletiva e das embalagens se baseia em regras de uso, estabelecidos por meio de um caderno de normas, que é uma instituição formal para esse grupo de agricultores. Essas regras estabelecem o rigor quanto ao sistema de produção adotado, quanto à legalidade da matéria prima utilizada, bem como à identificação do produtor rural na embalagem. A utilização da marca coletiva e a veracidade das informações constantes da embalagem são objeto de preocupação da Associação. Qualquer usuário que cometer uma infração em descumprimento com o disposto no manual estará maculando a marca Valor da Roça, que tem como premissa principal, a responsabilidade social e ambiental e, portanto, sujeita-se às penalidades previstas no documento normativo. As embalagens da Associação Valor da Roça são coletivas e contém a informação sobre o tipo de matéria-prima utilizada, que no caso é floresta a nativa manejada, e sobre a forma de manejo da floresta. Nas embalagens comumente encontradas no mercado, apenas constam o nome, o telefone, número da inscrição estadual e do Cadastro Técnico Federal do Ibama. As embalagens do Nosso Carvão se diferenciam por apresentar etiquetas de identificação
5 individuais em que constam: nome do produtor, telefone, número da inscrição estadual de produtor rural, número do Cadastro Técnico Federal (registro no IBAMA); número da Autorização de Corte (AuC) que deu origem à matéria-prima e número da Certidão de Conformidade Ambiental ou da Licença Ambiental para a atividade de carvoejamento (comumente denominada pelos agricultores de registro do forno ), dependendo do porte da atividade. Resultados do processo Esse processo de inovação organizacional dos produtores reflete a necessidade de avançarmos na construção de capital social que efetivamente faça a diferença no ambiente local, que ajude a transformar e dar suporte institucional aos seus associados. A clara sinalização ao consumidor, quanto à origem do produto e seu modo de produção, associada à possibilidade de rastreabilidade, da identificação de sua origem, permite aos produtores estabelecerem uma nova postura com o mercado, retratando muito além do produto, a existência de um modo de vida que respeita a natureza. Referências CARRIERI, Marina. Estudo exploratório sobre o sistema de produção e a comercialização do carvão vegetal produzido por agricultores familiares da micro bacia de São Mateus (Biguaçu/SC). TCC (Curso de Agronomia), Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Disponível em: Acesso em: 20 set CARRIERI-SOUZA, M. Cadeias produtivas do carvão vegetal na agricultura familiar no Sul do Brasil Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis. FANTINI, A.C. et al. Produção de carvão e de saberes na agricultura familiar de SC. Agropecuária Catarinense, v. 23, p LINDEMANN, Renata Hernandez. Ensino de química em escolas do campo com proposta agroecológica : contribuições a partir da perspectiva freireana de educação. 1 v. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica, Florianópolis, Disponível em: select_action=&co_obra= Acesso em: 01 fev MARSDEN, Terry; BANKS, Jo; BRISTOW, Gillian. Food Supply Chain Approaches: exploring their role in rural development. Sociologia Ruralis, Oxford, v. 40, n. 4, p , MENDES, J. T. G; PADILHA JUNIOR, J. B. Agronegócio uma Abordagem Econômica. São Paulo: Pearson Prentice Hall, STEENBOCK, Walter. Domesticação de bracatingais: perspectivas de inclusão social e conservação ambiental. 2009, 281f. Tese de Doutorado em Recursos Genéticos Vegetais Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Disponível em: handle/ /92470/ pdf?sequence=1. Acesso em: 22 jan ULLER-GÓMEZ, C. e GARTNER, C. Um caminho para conhecer e transformar nossa comunidade. Relatório final de pesquisa vinculada ao TOR 23/2006, Florianópolis: Epagri/MB2, 2008.
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