A AVALIAÇÃO NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO: CONTRIBUIÇÕES DO DIÁRIO DE BORDO
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1 A AVALIAÇÃO NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO: CONTRIBUIÇÕES DO DIÁRIO DE BORDO Priscila Ximenes Souza do Nascimento, PUCPR. i RESUMO O presente trabalho versa sobre a prática de avaliação desenvolvida no estágio supervisionado em um Curso de Licenciatura em Pedagogia. Sabe-se que, além de outras peculiaridades, a ênfase prática dessa disciplina acaba tornando o processo avaliativo um pouco mais difícil, especialmente porque as aprendizagens ocorrem no âmbito das experiências vividas e nas possibilidades de reflexão sobre a ação (ZABALZA, 2014). A intenção foi de investigar os procedimentos utilizados na avaliação da aprendizagem dos estudantes durante as atividades desenvolvidas em campo de estágio com o objetivo de analisar o caráter formativo desses processos. Para tal, desenvolveu-se o estudo bibliográfico sobre o tema da avaliação e a pesquisa de campo. Nesta última etapa, caracterizada como um estudo de caso, foram realizadas observações por quatro (4) meses em uma turma do 5º período do Curso de Licenciatura em Pedagogia de uma universidade de caráter comunitário e filantrópico, e também se procedeu a análise dos documentos produzidos pelos estudantes para a avaliação da aprendizagem, quais sejam: diário de bordo e artigo. A discussão dos resultados foi desenvolvida tendo como referência as ideias de Darsie (1996), Luckesi (1998), Melchior (1994), Perrenoud (1999) e Romão (1999). A respeito da hipótese levantada inicialmente, imaginava-se que apenas a produção de relatórios e/ou artigos sobre a prática vivida nos ambientes de estágio promoveriam reflexões significativas aos estudantes. Porém, ao analisar os dados foi possível inferir que, embora esses documentos possibilitem uma rica reflexão entre a teoria e a prática, a produção do diário de bordo também obteve um efeito expressivo na construção de conhecimento dos licenciandos. Palavras-chave: Estágio supervisionado. Avaliação. Diário de bordo INTRODUÇÃO O presente trabalho versa sobre a prática de avaliação desenvolvida no estágio supervisionado em um Curso de Licenciatura em Pedagogia. Sabe-se que, além de outras peculiaridades, a ênfase prática dessa disciplina acaba tornando o processo avaliativo um pouco mais difícil, especialmente porque as aprendizagens ocorrem no âmbito das experiências vividas e nas possibilidades de reflexão sobre a ação (ZABALZA, 2014). Nesse sentido, buscou-se investigar os procedimentos utilizados na avaliação da aprendizagem dos estudantes durante as atividades desenvolvidas em campo de estágio 9164
2 2 com o objetivo de analisar o caráter formativo desses processos. Para tal, desenvolveuse o estudo bibliográfico sobre o tema da avaliação e a pesquisa de campo. Nesta última etapa, caracterizada como um estudo de caso, foram realizadas observações por quatro (4) meses em uma turma do 5º período do Curso de Licenciatura em Pedagogia de uma universidade de caráter comunitário e filantrópico, e também se procedeu a análise dos documentos produzidos pelos estudantes para a avaliação da aprendizagem, quais sejam: diário de bordo e artigo. A respeito disso, partiu-se da concepção de que os momentos de avaliação se constituem como uma relação social entre vários atores e, por isso, é necessário considerar tanto os sujeitos do processo, quanto os parceiros do mesmo que, no caso da disciplina de estágio, envolve o próprio estudante, seus colegas de classe, o professororientador e os profissionais do campo de estágio. Assim, é vital considerar a avaliação como um processo interativo, através do qual, educadores e educandos aprendem sobre si mesmos. Como afirma Melchior (1994, p. 39), [...] a avaliação deve ser um processo holístico, não fragmentado, contextualizado nos processos de ensino e de aprendizagem, de forma democrática, onde todos os elementos envolvidos avaliam e são avaliados, conforme os valores e os pressupostos do projeto pedagógico. Conceber a avaliação como processo de interação permite superar a visão ainda existente em nossa cultura educacional onde o poder de avaliar é apenas do professor, que, no papel de juiz, determina se o estudante é bom ou ruim, se está aprovado ou reprovado. Ao discente, resta ouvir a sentença, sem direito a questionamentos e, pior ainda, sem a oportunidade de refletir sobre seus erros. Neste trabalho, a respeito da hipótese levantada inicialmente, imaginava-se que apenas a produção de relatórios e/ou artigos sobre a prática vivida nos ambientes de estágio promoveriam reflexões significativas aos estudantes. Porém, ao analisar os dados foi possível inferir que, embora esses documentos possibilitem uma rica reflexão entre a teoria e a prática, a produção do diário de bordo também obteve um efeito expressivo na construção de conhecimento dos licenciandos. A AVALIAÇÃO NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO: discussão e resultados 9165
3 3 A avaliação da aprendizagem quando situada no âmbito da formação profissional de pedagogos, especificamente, do estágio obrigatório supervisionado exige a consideração de que seu processo não ocorre num vazio conceitual, mas, dimensionado por uma visão de mundo, logo, de educação que poderá se traduzir em uma prática pedagógica. Sendo assim, o momento avaliativo pode expressar uma visão positivista, perseguidora de verdades absolutas e padronizadas, ou uma visão dialética, preocupada com a criação e a transformação do conhecimento e baseada na observação de desempenho. (LUCKESI, 1998; ROMÃO, 1999) Nesse sentido, os dados coletados durante a pesquisa de campo permitem inferir que o diário de bordo possibilitou aos estudantes uma percepção mais clara sobre as aprendizagens que construíram ao longo da realização do estágio, uma vez que fizeram registros sobre as situações vividas tanto nos encontros na universidade para planejamento do trabalho e estudo, quanto nos dias de trabalho na escola-campo. Em certa ocasião, uma estudante afirmou: É engraçado a gente ter que escrever o que acontece na escola do estágio no diário de bordo porque tem coisas que eu achava que não entendia nada e na hora de escrever eu acabo pensando sobre os assuntos que já estudei e agora parece que eu sei desses assuntos. Eu acho que é porque eu aprendi alguma coisa. Eu não sabia muito, mas eu aprendi. (Estudante 5) Cada discente acabou por relatar os entendimentos que possuíam sobre aspectos relacionados à etapa de ensino em que estavam estagiando, articulando com as teorias educacionais de forma a enriquecer suas percepções e não com a preocupação em demonstrar que sabiam ou dominavam essas teorias. Assim, o conhecimento construído pelos estudantes pôde ser avaliado de fato, na perspectiva do desempenho, pois eles mudavam a prática exercida no estágio após essas reflexões oportunizadas pelo registro escrito no diário de bordo e discussões sobre os mesmos. Esse parece ter sido o caso da Estudante 3: Nesses dias de estágio eu tenho visto tanta coisa que eu acho que um professor de educação infantil não devia fazer e outras coisas que eu não sabia que um professor pode fazer que, em alguns momentos, eu até fico confusa. Mas, quando coloco no papel eu consigo analisar melhor e lembro que muitos assuntos que a gente já estudou na faculdade explicam essas situações, essas atitudes dos professores. (Estudante 1) 9166
4 4 Essa fala também sugere que a prática de escrita frequente, aos moldes do diário de bordo, pode favorecer o processo de reflexão, especialmente sobre a relação teoria-prática, bem como a capacidade de metacognição. Sendo assim, há uma coerência entre os fatos percebidos com os registros e o que defende Marta Darsie (1996, p. 48) ao afirmar que Por ser reflexão da ação, aqui da ação educativa, podemos inferir que a avaliação torna-se a possibilidade de superação da própria ação e que, se permanente, provocará mudanças na ação educativa, rumo à efetivação de sua intencionalidade. Proceder a avaliação considerando o contexto oportunizado por cada momento de estágio, acompanhando a evolução compreensiva sobre os temas da educação coloca o professor diante de outra condição de apreciação da aprendizagem dos discentes, inclusive, considerando o ponto de partida de cada um. A transformação da ação prática e do pensamento, conforme explicitou uma das estudantes no seguinte relato: Eu fiquei surpresa comigo mesma hoje! Aquele nervosismo que eu sentia quando as crianças começavam a ficar inquietas e não prestavam mais atenção na história que estava sendo lida, sabe? Eu não fiquei mais tão nervosa. Acho que é porque agora eu sei o motivo disso. Elas têm um tempo de concentração. É preciso mudar a atividade. Eu fiz isso e deu tudo certo! (Estudante 3) Haveria outros desdobramentos a discutir sobre a pesquisa desenvolvida, mas vê-se que há argumentos teóricos e dados suficientes para afirmar que o diário de bordo enquanto documento de avaliação do estágio supervisionado permite que esse processo aconteça numa perspectiva formativa, conforme defende Perrenoud (1999), escapando da lógica de excelência e caminhando para uma adequada regulação das aprendizagens. CONSIDERAÇÕES FINAIS A discussão sobre o tema avaliação é vasto e inquietante. No trabalho aqui proposto não seria possível tecer toda a discussão que o tema provoca, mas permitiu realizar algumas inferências e concluir que o caráter formativo do processo de avaliação no contexto do estágio supervisionado do Curso de Licenciatura em Pedagogia tem um rico instrumento ao seu favor: o diário de bordo. 9167
5 5 Essa constatação não nega as contribuições que a produção de relatórios e artigos possuem para a construção das aprendizagens, inclusive quanto ao senso crítico necessário a todo estudante e profissional da educação. Entretanto, esses documentos acabam sendo analisados de forma estanque, ao final da disciplina. Enquanto que o diário de bordo permite o acompanhamento do discente pelo professor de modo processual e assim, intervenções e ajustes são efetivamente cabíveis e significativos no processo de formação docente. REFERÊNCIAS DARSIE, M. M. P. Avaliação e aprendizagem. Cadernos de pesquisa ANPEd, São Paulo, n.99, nov LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem Escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez, MELCHIOR, M. C. Avaliação pedagógica: função e necessidade. Porto Alegre: Mercado Aberto, PERRENOUD, P. Avaliação. Da excelência à regulação das aprendizagens: entre duas Lógicas. Porto Alegre: ARTMED, ROMÃO, J. E. Avaliação dialógica: desafios e perspectivas. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, ZABALZA, M. A. O estágio e as práticas em contextos profissionais na formação universitária. São Paulo: Cortez, i Professora do Curso de Licenciatura em Pedagogia e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUCPR. Mestre em Educação e graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco UFPE. Contato: priscilaxsouzan@gmail.com 9168
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