Vejamos alguns elementos importantes neste aprendizado de como comunicar-se por meio de imagens.
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- Judite Camelo Domingos
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1 1 A linguagem audiovisual: o pensar por imagens Para construir um vídeo em linguagem audiovisual é necessário prestar atenção à especificidade deste tipo de narrativa. Mas como construir esta linguagem? Além da parte técnica essencial, há um primeiro aprendizado para ficarmos atentos(as): na linguagem audiovisual devemos aprender a contar uma história, a expressar-nos ou transmitir uma experiência ou conhecimento por meio de imagens. Quando começamos a trabalhar com esta linguagem, na maior parte das vezes damos mais atenção aos discursos do que às imagens. As falas, os diálogos, os conceitos e as palavras são importantes, mas não são elas que fazem a essência deste tipo de narrativa. Assim, desde os primeiros momentos da construção de um vídeo, você precisa pensar no lugar da imagem na construção deste discurso, de modo que o tema escolhido esteja ligado, de algum modo, à forma de construção e encadeamento de imagens na construção de uma narrativa imagética. Vejamos alguns elementos importantes neste aprendizado de como comunicar-se por meio de imagens. 1. A Ideia e a Imagem geradora A Ideia é o primeiro passo para a elaboração de um vídeo. Essa ideia surge de diversos modos, dependendo da motivação e da finalidade do vídeo. Porém, o essencial, segundo Moletta, é que esta ideia esteja de algum modo conectada à Imagem geradora, que posteriormente encadeará as demais na composição da narrativa audiovisual. A ideia principal para um roteiro surge sempre de uma imagem que aparece de repente no nosso contato com o mundo: andando na rua, relacionando-nos com alguém, lendo um livro, um poema ou uma notícia de jornal, presenciando algum fato ou fenômeno que nos desperta a um encantamento repentino que nos ilumina. (Moletta, 2009, p. 21) De modo que não basta apenas ter uma ideia: é necessário também aprender transmiti-la por meio de imagens. Ou seja, é necessário aprender
2 2 a pensar por imagens para que uma ideia possa ser transmitida em linguagem audiovisual. Pois, segundo ele, nós não podemos esquecer que o cinema é a arte da imagem e não do diálogo (Moletta, 2009, p. 18). Esta pedagogia do olhar, própria a esse tipo de narrativa, exige daqueles interessados em produzir um vídeo que apreendam pelos sentidos o mundo à sua volta, utilizando a memória, os conceitos e experiências vividas na organização das imagens que irão transmitir e expressar o conteúdo. E é essa Imagem geradora que dará a base para a construção do roteiro, que também deverá ser escrito em linguagem imagética. 2. Escrever por imagens Da mesma maneira que a Ideia de um vídeo deve estar relacionada intimamente às imagens apresentadas, também a escrita de um Roteiro de vídeo deve partir das imagens, de modo que precisamos aprender não apenas a pensar, mas também a escrever por meio de imagens e ações. Você estudará a construção do roteiro apenas no módulo 3. Por isso, neste momento, nos interessa apenas refletir sobre sua importância. Pois, o essencial é que mesmo na escrita de um roteiro tudo deve ser escrito para ser visto ou ouvido, ação e imagem (Moletta, idem, p. 34), reforçando com isso a necessidade de aprendermos a pensar imageticamente. Por isso, na linguagem cinematográfica e audiovisual, as técnicas de decupagem, cortes, tomadas, enquadramento de câmeras, sequencias de cenas (que você verá no Módulo 2) reforçam a importância do pensar sobre a Imagem e da escolha da imagem mais adequada para cada palavra, cada frase ou parágrafo de um roteiro (Moletta, 2009, p. 45). Do mesmo modo que a escrita tem suas regras sintáticas e semânticas, também no vídeo a técnica é fundamental para a construção audiovisual, pois é ela que permitirá trabalhar sobre as imagens e construir cenas e experiências significativas. No cinema, esses recursos possibilitaram a construção de obras artísticas e cenas inesquecíveis, como é o caso dos diretores David Griffth e Serguei Eisentein. Griffth foi o primeiro a introduzir o corte e a montagem de cenas
3 3 com ações paralelas, intercalando imagem e narrativas, como no filme Nascimento de uma nação (1915). Já Eisenstein utilizou a mesma técnica no filme Encouraçado Potemkim (1925) e Outubro (1928): Ambos revolucionaram a linguagem cinematográfica utilizando o corte como forma de expressão artística e intelectual, usando montagem paralela, o close e o movimento de câmera para dramatizar e envolver o público diretamente na história e na trajetória dos personagens. Eles mostraram a importância do corte para a narrativa visual e o impacto emocional que causa no público. (Moletta, 2009, p. 45) Por isso, comece a prestar atenção nas imagens de um jeito diferentes: fique atento(a) à sua construção, à sua arquitetura. E procure assistir às imagens sem os diálogos, isso ajuda a ver como as imagens conduzem uma história. Por isso vale lembrar: assiste a curtas-metragens, seja em película ou vídeo, leia roteiros, depois leia mais roteiros e assista mais filmes. (Moletta, 2009, p ). 3. As diferentes linguagens audiovisuais Existem muitas possibilidades de construção de linguagens cinematográficas. Dada essa maleabilidade, é muito difícil encontrar categorizações precisas. Como espaço de experimentação, podemos ensaiar dizer que o que diferencia essas narrativas, e consequentemente as formas de produção de roteiro, é a sua a sua intencionalidade, a sua finalidade ou o a quem ela se destina. Um exemplo do como essa intencionalidade interfere na produção audiovisual pode ser pensado a partir da relação entre o cinema e a televisão, que se diferenciam menos pelas técnicas do que pelos objetivos e público alvo. Por isso, quando você for começar a elaborar e produzir o seu vídeo, pense no para quem ele se destina e no onde ele será transmitido (uma tela de comutador, um espaço aberto, uma sala escura). Pois estas situações implicam outra forma de lidar com o tempo e com a expressão narrativa. Como a televisão e o cinema, outras linguagens compartilham as suas técnicas, porém, diferenciam-se na intencionalidade. Em Da criação ao
4 4 roteiro (2000), Doc Comparato cita alguns exemplos de roteiros possíveis para a construção de diferentes linguagens audiovisuais, como espetáculos infantis, shows e musicais, fotonovelas, rádio, humor (sitcom), esportes, clips musicais, publicidade. Desses exemplos vamos salientar alguns daqueles que podem ajudar de modo mais imediato na elaboração do Projeto final de vídeo deste curso. Um roteiro cinematográfico pode ser construído a partir da Adaptação de uma obra. Pode ser uma reprodução propriamente dita; pode ser uma inspiração apenas, uma recriação de alguns elementos; essa obra pode ser uma peça de teatro, que já contem diálogos e cenas; um conto, cujo caráter sintético parece apropriado para a construção das cenas; um romance, cujo desafio está na condensação da ideia; ou um livro. A adaptação precisa ser refletida, porque nem toda obra é passível de ser adaptada. Ao mesmo tempo, toda adaptação tem um caráter inovador na medida em que é recriada a partir de situações e experiências diferentes. Os Documentários têm como objetivo transmitir um conteúdo de verdade acerca de um conhecimento ou fato real. Deve-se manter um tom imparcial na exposição do tema, evitando interpretações pessoais, pois o documentário não pretende convencer o espectador, mas fazê-lo refletir sobre um tema. O documentário pode ser utilizado numa investigação, pesquisa ou trabalho de campo. Nesse caso, apenas depois do material reunido é que se começa a produzir o roteiro, que serve mais como guia e orientação, pois, como aponta Comparato, a realidade interfere muitas vezes de maneira imprevista (p. 241). Outro tipo de roteiro é aquele produzido para Programas educativos, ou seja, a construção de uma linguagem que consiga transmitir um conteúdo de uma matéria, disciplina ou área do conhecimento. O desafio dos vídeos educativos é unir tanto o conhecimento técnico da produção audiovisual quanto o conteúdo de conhecimento
5 5 científico ou experiência que se pretende transmitir. Como linguagem audiovisual com uma narrativa própria, os vídeos educativos devem integrar as melhores potencialidades dos vídeos com a transmissão de um conhecimento específico. Independentemente da linguagem que você escolha, o importante é ficar atento à três movimentos: o que se quer passar, ou seja, a Ideia que se que desenvolver; o como transmiti-la, quer dizer, o planejamento que inclui roteirização e conhecimento técnico; e o para que ou para quem ela se dirige. Qual caminho seguir na busca de uma linguagem audiovisual própria? Não há caminho preciso a seguir. A única coisa a fazer é refletir e planejar com dedicação. Uma dica é mobilizar suas experiências pessoais, suas imagens de memória, seus filmes preferidos, de modo a garantir a criatividade de sua linguagem própria. 4. O curta-metragem Como vimos, o vídeo é um tipo de linguagem audiovisual que pode adquirir os mais diversos formatos. Uma de suas consequências mais imediatas foi a capacidade de democratização da produção de imagens, pois, ao contrário do cinema e da televisão, o vídeo não exige um grande aparato técnico, podendo ser produzido com poucos recursos e graças aos softwares de edição e sites de transmissão de vídeos disponíveis na Internet, como o Youtube. Dada esta característica sintética do vídeo, Alex Moletta sugere que ele é um bom caminho para quem está dando seus primeiros passos na linguagem audiovisual. Mais do que isso, ele sugere o curta-metragem como uma primeira produção para quem quer realizar um vídeo digital. Os motivos seriam dois: Duração: à diferença de um filme, um curta se define por uma história contada e narrada dentro de um espaço de duração reduzido, que pode variar de 1 a 15 minutos.
6 6 Intencionalidade: em virtude dessa temporalidade reduzida, no curtametragem é necessário cuidar da construção da história. À diferença de um vídeo, que pode ser construído por meio de sobreposição ou elencamento de imagens, criando experiência sensitivas novas, no curta-metragem trata-se de uma forma breve e intensa de contar uma história. Desse modo, o curta-metragem sintetiza os principais desafios contidos na expressão audiovisual, pois nele: Não há espaços para discursos vazios. Só deve ser mostrado o essencial. A escolha das imagens deve ser feita com precisão. É necessário coerência na construção do enredo. É necessário densidade das ações para que elas transmitam, nos poucos minutos disponíveis, uma experiência ou conhecimento significativo. É necessário unidade nas ações. Desse modo o curta-metragem aparece como um modelo interessante para aqueles que querem aprender a produzir vídeos e a construí uma linguagem audiovisual. Referências bibliográficas: MOLETTA, A. Criação de curta metragem em vídeo digital: uma proposta de produção de baixo custo. São Paulo: Summus, COMPARATO, D., Da criação ao roteiro. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.
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