ESTUDO DAS DOENÇAS DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS DO SUDOESTE GOIANO. Palavras-chave: doenças, epidemiologia, diagnóstico.

Transcrição

1 ESTUDO DAS DOENÇAS DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS DO SUDOESTE GOIANO PAULA, Eric Mateus Nascimento de 1 ; SANT'ANA, Fabiano José Ferreira de 2 Palavras-chave: doenças, epidemiologia, diagnóstico. Justificativa/Base teórica O conhecimento dos fatores limitantes da produção animal é de fundamental importância para o funcionamento dos programas de saúde animal e, consequentemente, para o desenvolvimento da pecuária no âmbito regional. O bemestar dos animais domésticos está diretamente relacionado a boas condições de manejo nutricional, reprodutivo e sanitário. Caso essas medidas não sejam criteriosamente aplicadas em uma criação, os problemas inerentes à produtividade e à saúde dos indivíduos são praticamente inevitáveis, acarretando o surgimento ou a manutenção de enfermidades que possam trazer sérias consequências aos animais e até ao homem, com repercussão na saúde pública. O estudo do diagnóstico e das características epidemiológicas dessas doenças permite um estudo da situação dos rebanhos e dos criatórios locais, levantando informações que facilitam a tomada de medidas de cunho profilático e de controle pelos órgãos competentes de defesa animal agropecuária e de vigilância epidemiológica, em âmbito regional ou nacional. Objetivos O presente trabalho tem como objetivos determinar as doenças que acometem os animais domésticos do Sudoeste Goiano, bem como caracterizar os aspetos clínicos, patológicos e epidemiológicos das mesmas. Metodologia Foram utilizados todos os animais e amostras enviados ao Laboratório de Patologia Veterinária da UFG/CAJ, com fins de diagnóstico, no período entre Resumo revisado por: Fabiano José Ferreira de Sant Ana. Estudo das doenças dos animais domésticos do Sudoeste Goiano. CAJ Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí, LPV eric.gyn@gmail.com 2 Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí, LPV santanafjf@yahoo.com

2 agosto/2011 e abril/2012. Foram utilizados animais e amostras encaminhadas por clínicas veterinárias particulares e por médicos veterinários da região. Para confirmação do diagnóstico etiológico de cada caso, foram realizados exames clínicos e de necropsia, além da coleta de materiais para citopatologia e histopatologia. Em alguns casos, exames hematológicos, microbiológicos, parasitológicos ou moleculares foram realizados para confirmação do diagnóstico. Resultados e discussão Foram diagnosticados quinze casos de tumor venéreo transmissível (TVT), principalmente em cães SRD, vadios, como descrito na literatura, e em animais com mais de três anos (Fighera et al., 2008). Foram diagnosticados casos genitais e extragenitais caracterizados por nódulos friáveis, sangrantes, irregulares e de tamanhos variados. Na citologia, notou-se população de células mononucleares com núcleo granular e vacuolizações citoplasmáticas. Os locais extragenitais acometidos, provavelmente por implantação, foram a pele, subcutâneo, mandíbula, palato duro, gengiva e focinho. No presente trabalho, o TVT teve maior ocorrência em fêmeas. A elevada frequência de TVT em fêmeas SRD é justificada em função do maior número de parceiros e pela ação de hormônios que favorecem a implantação de células tumorais no trato genital, durante o estro (Varaschin et al., 2001). Foram diagnosticados sete casos de cinomose em cães. A maioria dos animais afetados eram jovens. Esses dados estão de acordo com a literatura, pois essa é a principal faixa etária acometida (Hoskins, 2004). Alguns animais do presente estudo não eram vacinados contra a doença ou não receberam as três doses enquanto filhotes, em função da baixa idade. Em três casos, foram diagnosticados co-infecções de cinomose com toxoplasmose (um caso) ou com erliquiose (dois casos). A cinomose também é uma doença frequente em outras regiões do Brasil, como a Região Central do Rio Grande do Sul (Fighera et al., 2008). Algumas infecções bacterianas em cães, sem confirmação da etiologia, foram observadas: dois casos de estomatite, um de conjuntivite, um de rinite, um de mastite supurativa e um de septicemia. Em bovinos, notou-se um caso de miocardite e um de miosite. Dentre as doenças neoplásicas que afetaram várias espécies, destaca-se o carcinona de células escamosas (CCE) cutâneo. Foram confirmados sete casos em cães, um em gato, oito em bovinos e um em equino. Vale ressaltar que, além do

3 CCE, as diversas neoplasias cutâneas tiveram também grande incidência com um total de 68 casos em cães, três em gatos e apenas um em bovino. Já os tumores mamários (carcinoma e carcinossarcoma) ocorreram em oito casos. Um mesotelioma pleural foi diagnosticado em um cão adulto e um celomático foi notado em um galináceo oriundo de frigorífico. Um carcinoma hepatocelular foi diagnosticado em um bovino abatido. Oito casos de dermatites em cães foram observados: dois casos piogranulomatosos e três de natureza alérgica, além de três diagnósticos de paniculite com foliculite/furunculose. Três cães morreram de insuficiência respiratória, dois de insuficiência renal crônica e um de insuficiência cardíaca congestiva. Das doenças do sistema reprodutor de cães, notou-se dois casos de prostatite, dois de criptorquidismo, dois de seminoma, um caso de epididimite e um de sertolioma e de tumor de células de Leydig. Um caso de intoxicação criminosa por carbamato ( chumbinho ) foi observado em um cão. Notou-se decúbito lateral, sialorreia e dispneia, seguida de morte. Várias intoxicações por diversas substâncias ou plantas tóxicas também foram notadas em outras espécies. Em bovinos foram observados seis casos de intoxicação por Brachiaria spp., caracterizada por fotossensibilização e por colangite, fibrose e infiltração de macrófagos espumosos no fígado. Ainda em bovinos, houve um surto de intoxicação por inseticida. Três novilhas morreram após pastejar em um piquete vizinho a uma lavoura de soja onde houve aplicação recente do produto. Nesses casos, o aparecimento dos sinais clínicos varia de poucos minutos a poucas horas (Radostitis et al., 2002), conforme observado nesse surto. Não foram observadas alterações macro e microscópicas. Outro surto de intoxicação em bovinos foi notado, após consumo exagerado de ureia. Foi observado um surto de intoxicação por Pterodon emarginatus em bovinos, que comeram folhas da árvore que caiu no pasto após forte tempestade. Houve um surto de intoxicação por Senna occidentalis em javalis criados extensivamente. Os animais apresentavam emagrecimento e dificuldade de locomoção devido à paresia e paralesia dos membros. No exame histológico, degeneração e necrose muscular foram as principais lesões notadas. Em gatos, diagnosticou-se nove casos de platinossomíase e um de peritonite infecciosa felina.

4 Foram observados onze casos de raiva em bovinos e um em equino. Em todos os casos, a imunofluorescência direta foi positiva e meningoencefalite linfoplasmocítica com corpúsculos de inclusão eosinofílicos intracitoplasmáticos em neurônios foram notados. Foram confirmados onze casos de meningoencefalite por herpesvírus bovino (BoHV). As lesões histológicas foram características e incluíam necrose neuronal, edema, infiltração de células gitter e corpúsculos de inclusão basofílicos intranucleares em astrócitos e neurônios. A terceira doença neurológica mais frequente de bovinos foi a polioencefalomalacia, que acometeu sete bovinos. Os achados clínicos incluíam cegueira, incoordenação, ataxia, tremores musculares, sialorreia e pressão da cabeça contra obstáculos. Na necropsia observou-se tumefação do encéfalo com achatamento dos giros. Necrose neuronal, edema e infiltração de macrófagos espumosos foram achados histológicos frequentes. Notouse um caso suspeito de febre catarral maligna em um bovino. Outras desordens neurológicas foram diagnosticadas: três casos de meningoencefalite linfoplasmocitica, um de meningite bacteriana, um caso de listeriose e um abscesso cerebelar com hidrocefalia, todos em bovinos. Já em equinos, foi confirmado um caso de meningoencefalite por Halicephalobus gingivalis. Além disso, dois casos de botulismo foram notados e, em todos os casos, o diagnóstico foi clínico e epidemiológico associado à ausência de alterações na necropsia e na histopatologia. Entre as doenças infecciosas de bovinos, dois surtos de varíola foram estudados. Em ambas as situações, as lesões vesiculares e ulcerativas predominavam nas tetas das vacas e nas mãos dos ordenhadores. O diagnóstico foi confirmado com PCR. Cinco casos de tuberculose oriundos de bovinos abatidos foram notados. As lesões histológicas de linfadenite granulomatosa ocorreram em todos os casos. Houve somente um diagnóstico de diarreia viral bovina, na forma de doença das mucosas. Lesões erosivas/ulcerativas foram encontradas no trato digestório de um garrote. Um caso de leucose enzoótica bovina foi confirmado. Três casos muitos sugestivos de estefanofilariose bovina foram observados. Essa é uma doença endêmica no Estado de Goiás. Embora as alterações macro e microscópicas sejam muito sugestivas, em nenhum caso, larvas do parasito foram visualizadas microscopicamente. Um bovino foi diagnosticado com anaplasmose e, em outro caso, essa doença estava associada à babesiose. Doenças do sistema respiratório ocorreram em ruminantes. Em bovinos, observou-se um caso de pneumonia gangrenosa com pleurite fibrinosa, um caso de

5 broncopneumonia piogranulomatosa bacteriana e, em outro caso, lesão supurativa. Em ovinos, notou-se um caso de pneumonia intersticial e um caso de broncopneumonia supurativa associada com acidose ruminal. Algumas doenças foram diagnosticadas pela primeira vez em peixes de criações comerciais da região. Foram notados dois surtos (seis casos) de branquiite por Piscinoodinium pillulare e Henneguya spp. e um surto (três casos) de miosite necrosante por protozoário do gênero Microsporídio. Nesse último caso, a identificação do protozoário está sendo realizada por PCR e microscopia eletrônica na The University of Georgia, College of Veterinary Medicine, nos Estados Unidos. Conclusões Muitas doenças de naturezas diferentes foram notadas nos animais domésticos da região, durante o período do estudo. Com exceção dos casos de raiva e tuberculose, não foram observados casos de zoonoses importantes e de impacto na população humana da região. Os resultados obtidos no presente trabalho e a continuidade dessa investigação são importantes para que medidas de cunho profilático e de controle sejam efetuados pelos órgãos competentes de defesa animal agropecuária e de vigilância epidemiológica. Referências Bibliográficas RADOSTITS, O.M.; BLOOD, D.C.; GAY, C.C.; HINCHCLIFF, K.W. Clínica Veterinária. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. VARASCHIN, M.S.; WOUTERS, F.; BERNIS, V.M.O. Tumor venéreo transmissível canino na região de Alfenas, Minas Gerais: formas de apresentação clínicopatológicas. Clínica Veterinária, v.4, n.32, p , HOSKINS, J.D. Doenças virais caninas. In: ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C. Tratado de Medicina Interna Veterinária; Doenças do cão e do gato. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004, p FIGHERA, R.A.; SOUZA, T.M.; SILVA, M.C.; BRUM, J.S.; GRAÇA, D.L.; KOMMERS, G.D.; IRIGOYEN, L.F.; BARROS, C.S.L. Causas de morte e razões para eutanásia de cães da Mesorregião do Centro Ocidental Rio-Grandense ( ). Pesq. Vet. Bras., v.28, n.4, 2008, p