Resultados. CNAI 08 3ª Conferência Nacional de Avaliação de Impactes 22 a 24.Out 08, Beja. Comunicação nº 17 Data:
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- Pedro Lucas Marroquim Gomes
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1 Resultados Um dos passos desenvolvidos no âmbito do estabelecimento do quadro de referência para a AAE consistiu na definição dos objectivos de ambiente e sustentabilidade do empreendimento, que se basearam numa visão e numa política de sustentabilidade da SAIP. A influência da AAE fez-se sentir portanto desde esse momento inicial já que solicitou o estabelecimento da visão e da política de sustentabilidade da SAIP, apresentadas no Quadro 3. Quadro 3 - Visão e Política de Ambiente e Sustentabilidade da SAIP Visão: Promover um destino turístico único e diferenciado através de um projecto integrado e inovador que valoriza a qualidade e o ambiente, a competitividade e a identidade cultural do Alqueva. Princípios da política de responsabilidade ambiental e social do Parque Alqueva: 1. Assegurar a protecção e conservação do património ambiental do espaço enquanto factor de atracção e de diferenciação da oferta turística e de manutenção dos recursos e dos habitats existentes 2. Valorizar e preservar o património cultural identitário da região como forma de garantir a sua continuidade e de assegurar o seu perfil de autenticidade 3. Contribuir para o desenvolvimento e o bem-estar socioeconómico das populações locais, promovendo o emprego, a preservação das actividades e saberes tradicionais (agricultura, artesanato, gastronomia, entre outros) e interagindo com outros sectores e agentes económicos locais 4. Contribuir para o enriquecimento da oferta cultural, desportiva e lúdica da comunidade local através da partilha de conhecimento, equipamentos, actividades e recursos contemplados no projecto Fonte: AAE do Parque Alqueva (ECOSSISTEMA, 2004) A análise dos objectivos globais de macro-política, dos objectivos do empreendimento e o conhecimento do território e das respectivas dinâmicas sectoriais, permitiram seleccionar as sete questões estratégicas ambientais e de sustentabilidade mais significativas que estruturaram o âmbito temático da AAE, e que constituíram os factores críticos de decisão (FCD) para a análise pretendida face às características da acção proposta, do local de desenvolvimento e das grandes preocupações ambientais e de sustentabilidade enunciadas nos instrumentos de política relevantes. O Quadro 4 apresenta estas questões estratégicas, bem como as razões que levaram à sua selecção como as mais significativas para a intenção de investimento. Para cada uma destas questões foram analisadas a situação existente e a situação futura pósinvestimento, considerando possíveis cenários de evolução, alternativos, para quatro questões críticas que podiam influenciar as tendências de evolução (ver Quadro 5). Esta análise de alternativas permitiu identificar efeitos possíveis resultantes do investimento, bem como efeitos do desenvolvimento esperado da sub-região Alqueva sobre o próprio investimento, adoptando assim uma dupla perspectiva. Com base nesses efeitos identificaram-se oportunidades e condicionantes ao investimento sobre as quais se enunciaram directrizes para o planeamento futuro, monitorização e gestão do empreendimento de forma a assegurar uma tendência de desenvolvimento sustentável.
2 Quadro 4 - Questões estratégicas de ambiente e sustentabilidade ou factores críticos de decisão (FCD) consideradas na AAE do Parque Alqueva Questões estratégicas 1. Desenvolvimento regional e local 2. Responsabilidade social com a comunidade 3. Ordenamento físico e gestão ambiental 4. Utilização racional dos recursos energéticos 5. Biodiversidade e ecologia do montado Descrição Trata quer o impacte do desenvolvimento regional e local no empreendimento, quer os efeitos off-site do empreendimento no desenvolvimento regional e local, nomeadamente os que se fazem sentir sobre a identidade sociocultural e a dinâmica da actividade económica, à escala local e regional. Diz respeito (sobretudo) aos esforços de envolvimento da comunidade e investimento social nos recursos humanos, materiais e património local com benefícios para a comunidade, networking e valorização de recursos endógenos. Integra considerações sobre a utilização sustentável de recursos naturais, gestão de resíduos, uso do solo social e ecologicamente correcto e sensibilidade estética. Pretende contribuir para uma redução significativa de impactes negativos, aumento de produtividade e conforto, e melhoria da qualidade do investimento e do bem-estar social e ambiental. Integra considerações sobre a eficiência energética, materiais e edifícios saudáveis, transportes e mobilidade sustentável. Aborda a riqueza ecológica em função da diversidade de habitats e espécies por unidade de área, a fragmentação e as áreas naturais perdidas e criadas. Considera o valor de conservação e da possibilidade de fruição. 6. Património cultural Adopta uma perspectiva da conservação e valorização, inclui as iniciativas de recuperação, protecção e promoção do património construído, bem como dos valores e tradições locais. 7. Qualidade da água da albufeira Factor crítico de viabilidade do empreendimento, influenciará a oportunidade de utilização do plano de água, quer como amenidade e mais-valia, quer por via da utilização directa da água para actividades recreativas e desportivas, constituindo uma questão dependente da actuação de parceiros institucionais. Fonte: AAE do Parque Alqueva (ECOSSISTEMA, 2004) Uma das mais-valias dos resultados obtidos traduz-se na identificação e sistematização de: - ameaças que se podem transformar em oportunidades; e - pontos fracos que se podem transformar em pontos fortes; expressa na forma de uma análise SWOT (strength, weaknesses, opportunities and threats) (pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e ameaças), a qual se apresenta na Figura 3. Esta análise dotou a SAIP com informação relevante para potenciar as oportunidades, tirando partido dos seus pontos fortes, e identificar, controlar ou eliminar possíveis ameaças, ou melhorando pontos fracos.
3 Quadro 5 - Questões críticas consideradas e respectivos cenários de evolução Questões Críticas Cenários de Evolução Evolução da ocupação na envolvente do empreendimento Statu quo ou esvaziamento Intensificação Ocupação controlada Evolução da qualidade da água no Alqueva Statu quo Melhoria geral Melhoria localizada Evolução da ocupação da área de intervenção Disperso, com baixo índice de ocupação Nucleamentos com baixo índice de ocupação Maior concentração da ocupação Ligação entre as três parcelas Parcelas autosuficientes Lugar central Complementaridade Fonte: AAE do Parque Alqueva (ECOSSISTEMA, 2004) Figura 3 - Análise SWOT
4 A primeira fase da AAE decorreu em simultâneo com a elaboração de estudos de diagnóstico da situação existente e de caracterização e classificação do território, em função dos usos e actividades pretendidas, dos quais se destaca um Estudo de Sensibilidade do Ambiental, anterior à AAE, que mais tarde integrou a Análise Preliminar do Território realizada no âmbito do PP. Na sequência da AAE foram ainda elaborados diversos planos estratégicos temáticos referentes às questões estratégicas avaliadas, que incorporaram as directrizes enunciadas. No Quadro 6 identificam-se os principais estudos e planos realizados pela SAIP nos domínios considerados estratégicos na primeira fase da AAE. Além da realização destes estudos e planos, as directrizes enunciadas na primeira fase de AAE traduziram-se na adopção pela SAIP de um conjunto de medidas de gestão e monitorização do empreendimento nos domínios considerados estratégicos, nomeadamente: - Estabelecimento da Estrutura Ecológica das três herdades e definição das normas de intervenção nessas áreas; - Estabelecimento de índices de construção e ocupação máximas; - Adopção de um modelo de ocupação territorial correspondente ao nucleamento, tipicamente alentejano, de povoamento concentrado; - Distribuição das diversas valências no território tendo em conta a sua potencial conflitualidade; - Implementação do Sistema de Gestão Ambiental do empreendimento, direccionado, num primeiro momento, à fase de Planeamento e Projecto, e posteriormente às restantes fases do processo. A realização da AAE numa fase precoce, de desenvolvimento conceptual da estratégia de investimento, permitiu influenciar as opções de planeamento em relação a usos, sua localização e capacidades, quer ao nível do seu Plano Director Master Plan, quer ao nível posterior do Plano de Pormenor. Esta influência teve como consequência directa a possibilidade de potenciar os efeitos positivos e evitar ou reduzir os efeitos negativos. A sistematização das questões estratégicas ambientais e de sustentabilidade, e os estudos a que deram origem, permitiram opções de planeamento do empreendimento, considerando essas questões de forma proactiva. A AAE, tal como foi desenvolvida, facilitou a AIA global do Parque Alqueva e a emissão de uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável condicionada. Ou seja, o Plano de Pormenor foi entendido como aquilo que realmente é: um grande projecto que inclui diversos outros projectos individuais, que são assim avaliados no seu conjunto no quadro do Plano de Pormenor, o que permite uma análise e avaliação mais eficaz dos impactes ambientais, em particular os de natureza cumulativa. Esta abordagem faseada revelou-se mais segura do que a submissão a AIA dos projectos individuais, permitindo às entidades envolvidas na AIA e ao público uma visão global e integrada do projecto. Foi também assim enquadrado e facilitado o licenciamento de projectos previstos no Plano de Pormenor, que por sua vez foram sujeitos a pós-avaliação (já iniciada em 2008). Esta abordagem também influenciou uma abordagem global na gestão ambiental e de sustentabilidade de todo o empreendimento, o que se traduziu na elaboração de estudos e planos globais, de que se salienta o Sistema de Gestão Ambiental e as monitorizações previstas nas diferentes componentes.
5 Quadro 6 - Estudos e Planos realizados pela SAIP em domínios identificados como estratégicos na 1ª fase da AAE, até à aprovação do PP Questão estratégica identificada na 1ª fase da AEI 1. Desenvolvimento regional e local 2. Responsabilidade social com a comunidade Estudos e Planos desenvolvidos pela SAIP - Inventário de actividades produtivas / património cultural Conhecer a Comunidade Local - Criação de Roteiros - Programa de Participação da Comunidade - Acesso a espaços e equipamentos para realização de actividades e eventos - Programa para escolas e entidades - Parcerias com Universidades e Institutos - Bolsa local de fornecedores de bens e serviços - Parcerias com produtores locais - Promoção de produtos de agricultura biológica 3. Ordenamento físico e gestão ambiental - Estudo de Sensibilidade Ambiental - Carta de Sensibilidade Territorial - Plano Geral de Aproveitamento dos Recursos Hídricos - Plano de Gestão de Resíduos - Estratégia de Mobilidade - Projecto Carbono Zero 4. Utilização racional dos recursos energéticos - Plano Energético Ambiental 5. Biodiversidade e Ecologia do Montado - Inventários florestais - Caracterização da situação existente relativamente às Aves, Plantas Vasculares e Anfíbios - Carta de Sensibilidade Territorial - Plano de Gestão da Floresta e da Biodiversidade 6. Património cultural - Prospecções arqueológicas no âmbito do Estudo de Sensibilidade Ambiental - Inventários Conhecer a Comunidade Local 7. Qualidade da água da albufeira - Plano Geral de Aproveitamento dos Recursos Hídricos
6 Lições a retirar O caso apresentado constitui uma iniciativa inovadora, protagonizada por uma organização privada, que simultaneamente integra uma abordagem ambiental numa fase precoce do processo de desenvolvimento e simultânea com a preparação do seu conceito de investimento, conduzindo a avaliação ambiental com uma abordagem estratégica, dirigindo-a à avaliação da estratégia de investimento. Várias lições podem ser retiradas deste caso, desde logo a oportunidade de influenciar uma estratégia desde que se use uma abordagem igualmente estratégica, antecipativa e contributiva de uma solução conceptual mais integrada, bem como o facto deste processo ter sido possível, e permitido atingir diversas mais-valias, que se traduzem nos inputs sucessivos que foram sendo concretizados: - a necessidade de ter uma visão e uma politica de sustentabilidade, que marca a direcção da avaliação, - os estudos de sensibilidade ambiental antecipados, que estabelecem uma matriz de sensibilidades e influenciam o conceito de ocupação territorial, - os cenários que oferecem a base de discussão das opções estratégicas que se colocam ao investimento, - a análise e avaliação focalizada, estruturada à volta de grandes questões estratégicas, ou o que actualmente se designa por factores críticos para a decisão; - a análise e avaliação de oportunidades e riscos; - a produção de directrizes de planeamento, gestão e operação, que passado cerca de um ano foi possível analisar na forma de estudos realizados, contributivos para o processo de planeamento; - as directrizes de monitorização preparadas. Todos estes aspectos estabeleceram um contexto para a realização do projecto, na forma de um Plano de Pormenor, e o seu respectivo processo de AIA. Ou seja, o designado tiering da linguagem anglo-saxónica no domínio dos instrumentos de avaliação de impactes encontra aqui uma demonstração plausível, expondo a forma como a AAE permite criar condições para facilitar a realização da AIA. Conclusões A eficácia da AAE prende-se fortemente com o seu carácter antecipativo, com a sua capacidade de influenciar, de modo positivo e construtivo, a realização de opções estratégicas e a criação de condições mais propícias à realização de projectos ambientalmente mais integrados. Este caso mostra sobretudo como a lógica da AAE estimulou a iniciativa voluntária do proponente em conduzir essa análise em simultâneo com a concepção da estratégia de investimento. Este caso encerra contudo algumas dificuldades, desde logo a ausência de processos complementares de envolvimento de agentes, que deveriam ter acompanhado todo o processo de planeamento e de AAE. Contudo este é um problema nacional que ultrapassa este caso específico, já que não se têm estabelecido práticas de envolvimento activo de agentes. Os promotores vêm esses processos como uma fonte de complicações e, por outro lado, os agentes, ou alguns deles, usam esses processos de envolvimento como oportunidades de exercer uma
7 demagogia com objectivos por vezes bem diferenciados daqueles que deveriam motivar a participação. Em conclusão, a AAE deve diferenciar-se claramente da AIA de projectos, quer na sua abordagem metodológica, quer na atitude perante a decisão, quer na criação de contextos para a realização da AAE e do desenvolvimento estratégico. As formas de participação também têm que ser específicas e diferenciadas, passando de uma lógica de acusação, como em AIA, para uma lógica de procura de soluções mais sustentáveis.
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