I - RELATÓRIO. Iron Rodrigues de Oliveira ingressou com ação revisional/consignatória em face de Banco Bradesco e Financiamento S/A.

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1 I - RELATÓRIO Iron Rodrigues de Oliveira ingressou com ação revisional/consignatória em face de Banco Bradesco e Financiamento S/A. Verifico que a parte autora firmou com a ré contrato de empréstimo de dinheiro (mútuo feneratício), para pagamento em 48 prestações mensais de R$ 351,22 (trezentos e cinquenta e um reais e vinte e dois centavos), tendo, no mesmo ato, alienado fiduciariamente ao credor, seu veículo VW GOL 16V, placa JGE Requereu na inicial a revisão do contrato, por nele vislumbrar cláusulas abusivas referentes aos seguintes pontos: i) juros remuneratórios; ii) capitalização de juros; iii) encargos de inadimplência. Pediu liminar no sentido de não negativação de seu nome nos órgãos de proteção ao crédito e manutenção na posse do bem. Pedido de antecipação da tutela deferido parcialmente (fls. 57/59) Regularmente citada, a parte requerida contestou o pedido arguindo, no mérito, a validade e legalidade de todas as rubricas exigidas, postulando pela improcedência dos pedidos iniciais. O instrumento contratual foi juntados aos autos às fls. 211/214. II - FUNDAMENTAÇÃO Não há preliminares a serem examinadas. passo ao exame do mérito. Presentes, pois, os pressupostos processuais e as condições da ação, De início, adianto que se trata de nítida relação de consumo, com incidência do Código de Defesa do Consumidor, consoante disposto na Súmula n.º 297 do Superior Tribunal de Justiça, in verbis: 'O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições'.

2 Teoria da imprevisão. Nas palavras de Nelson Rosenvald para a resolução contratual em decorrência da imprevisão 'exige-se que o fato superveniente acarrete não só enorme desvantagem para uma das partes como ainda extrema vantagem para a outra. A inclusão desse conceito jurídico indeterminado dificulta a aplicação do modelo jurídico, pois não é raro que a desgraça de uma das partes não corresponda ao enriquecimento injustificado da outra' (Código Civil Comentado, Min. Cezar Peluso, Ed. Manole, pág.544). teoria. No caso em apreço não há provas suficientes para se aplicar aludida Estado de Goiás: Nesse sentido, cito a jurisprudência do Egrégio Tribunal de Justiça do APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE CANCELAMENTO DE CONTRATO E INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO. COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO. DESFILIAÇÃO. APURAÇÃO DE DÉFICIT FINANCEIRO. RATEIO. PREVISÃO CONTRATUAL. TEORIA DA IMPREVISIBILIDADE. NÃO APLICAÇÃO. 1. Pela teoria da imprevisão, entende-se como sendo o princípio segundo o qual deve ser rescindida a relação contratual existente quando sobrevém acontecimento imprevisto, imprevisível e inevitável que modifica sensivelmente a situação de fato apresentada ao tempo da sua formação, ameaçando assim de prejuízo o patrimônio do sujeito passivo da obrigação, caso subsistam os direitos e interesses do credor. (...) APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E DESPROVIDA. (TJGO, APELACAO CIVEL , Rel. DR(A). MAURICIO PORFIRIO ROSA, 5A CAMARA CIVEL, julgado em 28/06/2012, DJe 1114 de 01/08/2012) (grifo nosso) Juros remuneratórios

3 São aqueles devidos como contraprestação pela utilização de capital pertencente a outrem. Também chamados de compensatórios ou juros-frutos. Em relação ao mútuo bancário, objeto da presente demanda, o Superior Tribunal de Justiça pacificou a questão da revisão dos juros remuneratórios livremente pactuados no julgamento do Recuso Especial n.º RS, vejamos: ORIENTAÇÃO 1 - JUROS REMUNERATÓRIOS a) As instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos juros remuneratórios estipulada na Lei de Usura (Decreto /33), Súmula 596/STF; b) A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade; c) São inaplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos de mútuo bancário as disposições do art. 591 c/c o art. 406 do CC/02; d) É admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade (capaz de colocar o consumidor em desvantagem exagerada - art. 51, 1º, do CDC) fique cabalmente demonstrada, ante às peculiaridades do julgamento em concreto. Grifei Vê-se, portanto, que a revisão das taxas de juros remuneratórios somente deve ser feita quando houver abuso pela instituição bancária, o que a meu ver deve ser analisado à luz dos juros aplicados no mercado financeiro, os quais podem ser observados pelas taxas médias divulgadas mensalmente pelo Banco Central do Brasil 1. Como média, não se pode exigir que todos os empréstimos sejam feitos segundo essa taxa. Se isto ocorresse, a taxa média deixaria de ser o que é, para ser um valor fixo. Há, portanto, que se admitir uma faixa razoável para a variação dos juros.

4 A jurisprudência tem considerado abusivas taxas superiores a uma vez e meia (voto proferido pelo Min. Ari Pargendler no REsp /RS, Rel. p. Acórdão Min. Menezes Direito, DJ de ), ao dobro (Resp , Terceira Turma, minha relatoria, DJe de ) ou ao triplo (REsp /RS, Quarta Turma, Min. Pádua Ribeiro, DJ de ) da média. Padrão este que também será adotado neste ato sentencial. No caso em julgamento, vejo que os juros remuneratórios foram pactuados à taxa de 27,90% ao ano, que não destoa do argumento supracitado, pois a taxa média do mercado publicada pelo Banco Central do Brasil em julho/2009 foi de 26,92% a.a. Dessa forma, não merece guarida a pretensão da parte requerente em ver alterada ou reformada a cláusula do contrato objeto da presente demanda que trata da taxa dos juros remuneratórios. Capitalização dos juros Nos contratos de mútuo firmados a partir de 31 de março de 2000, data da entrada em vigor da MP nº /2000, reeditada sob nº /2001, é lícita a capitalização mensal de juros, desde que pactuada 2. In casu, a capitalização mensal foi pactuada, consoante se verifica do instrumento de contrato carreado aos autos, não merecendo, pois, guarida a pretensão da parte autora. Encargos de mora: 1. Juros moratórios Os juros moratórios nos contratos bancários podem ser convencionados até o limite de 1% ao mês (AgRg no Resp /RS).

5 No caso em apreço não vislumbro cobrança superior ao permitido, pelo que sem procedência a alegação exordial. 2. Comissão de permanência É admitida, à taxa média dos juros de mercado, limitada ao percentual fixado no contrato, desde que não cumulada com correção monetária, com juros remuneratórios e moratórios, nem com multa contratual (Resp /SP; AgRg no Resp /MS). Não vislumbro no pacto objeto do presente feito a cumulação alegada na exordial. Também não há prova de sua exigência pela parte requerida. 3. Cláusula Penal A multa contratual não pode superar o percentual de 2% sobre o valor da quantia inadimplida, nos termos do art. 52, 1º, do Código de Defesa do Consumidor. No caso em apreço, a taxa prevista no contrato não é superior. Correção Monetária A Taxa Referencial - TR é o indexador válido para contratos posteriores à Lei n /91, desde que pactuada e não cumulada com comissão de permanência. Nesse particular, não merece revisão o contrato objeto do presente feito. Da mora. Nos termos do Resp n.º RS:

6 'a) O reconhecimento da abusividade nos encargos exigidos no período da normalidade contratual (juros remuneratórios e capitalização) descarateriza a mora; b) Não descaracteriza a mora o ajuizamento isolado de ação revisional, nem mesmo quando o reconhecimento de abusividade incidir sobre os encargos inerentes ao período de inadimplência contratual.' Vê-se que a abusividade capaz de configurar a mora diz respeito aos encargos inerentes ao chamado 'período de normalidade' - notadamente nos juros remuneratórios e na capitalização dos juros - de modo que o eventual abuso em algum dos encargos moratórios não descaracteriza a mora. Haja vista que não fora reconhecida qualquer abusividade quanto aos encargos da normalidade, configurada está a mora, desde que os depósitos juntados aos autos não sejam suficientes para o adimplemento do saldo devedor. Consignação em pagamento Nos termos do art. 335 do Código Civil, somente a recusa injusta do credor em aceitar o pagamento autoriza a consignação. No caso, o devedor ofereceu apenas parte do valor devido, de sorte que justa a recusa do credor que não está obrigado a receber pagamento parcial. Em se tratando de consignatória incidental, deve-se ater ao pedido principal. Rejeitado este, não subsiste o depósito. III - DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos iniciais, resolvendo o mérito da lide nos termos do art. 269, inciso, I, mantendo incólume o contrato em questão.

7 De consequência, revogo a ordem liminar outrora deferida (fls.57/59). Autorizo o levantamento dos valores depositados em juízo pela parte autora, devendo ser expedido o competente alvará. Condeno a parte autora no pagamento das custas e despesas processuais e, ainda, nos honorários do advogado constituído pela parte ré, estes no valor de R$ 700,00. demais cautelas de estilo. Transitada em julgado, arquivem-se os autos, realizadas as baixas e Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Goianésia, 09 de outubro de ANA PAULA DE LIMA CASTRO Juíza de Direito 1https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?method=prepararTe lalocalizarseries 2 Resp /MS; AgRg no Resp /MS