A crítica contrária. A força negativa e superação dos velhos padrões

Transcrição

1 As pessoas depressivas, em geral, tornam-se sensíveis ao extremo. Viver passa a ser um grande peso. Não conseguem ver tanto sofrimento no mundo sem deixarem de se abalar. A estrutura emocional fica paralisada e comprometida. Apesar de bem-sucedidas na vida, muitas pessoas se tornam depressivas. Quando chega o momento da aposentadoria e do descanso, ao invés de ficarem felizes por ter atingido o objetivo esperado, caem num profundo vazio e sensação de inutilidade. Até então, o esforço do trabalho dava um sentido às suas vidas. Agora já não têm mais motivo para lutar. Os pensamentos da pessoa depressiva, normalmente, giram em torno do passado. Também pode haver um grande medo do futuro cheio de ameaças. Quando a pessoa depressiva define sua vida a partir do sucesso, do reconhecimento e da aprovação de todos, a sua doença tende a piorar sempre mais. Certas depressões são rejeições à renovação. Assim, o medo de enterrar tudo o que é velho e ultrapassado passa a dominar. A crítica contrária Muitas pessoas venceram situações difíceis com muito mérito e brilhantismo. Elas foram aplaudidas e admiradas pelo seu sucesso. Mas então, eis que de algum lugar surge uma crítica contrária, já é o suficiente para cair tudo por terra. De um momento para outro, suas forças se esgotaram. Vem o desânimo e seus pensamentos estão totalmente voltados para as mensagens negativas e sem se darem conta, vão se deixando levar pela depressão. Uma outra causa da depressão pós-sucesso é a constante falta de objetivos. Até então, tal pessoa lutou sempre com todas as forças por um objetivo. Agora, porém, que a meta foi alcançada, que, de certa forma, chegou ao pico da montanha, parece que a planície não é tão bela quanto se imaginava. Eis a decepção e frustração. A força negativa e superação dos velhos padrões Os diálogos internos negativos reforçam a depressão. A pessoa depressiva tem pensamentos 1 / 5

2 negativos constantes ou temporários, referentes aos outros, a si mesma e quanto ao futuro. Com cada diálogo interno negativo que acontece, os sentimentos de apatia são reforçados. Os pensamentos negativos podem despertar ou reforçar a depressão. Por isso, é tão importante dar atenção aos pensamentos. Não se trata simplesmente de substituir os pensamentos negativos pelos positivos. Trata-se muito mais de entrar em diálogo com os pensamentos negativos, perceber o que eles querem questionar. Essa atitude já contém a possibilidade de mudanças no seu modo de pensar. A partir da chamada meia-idade é preciso dar-se conta de que já não é mais possível continuar vivendo os padrões da primeira metade de vida. Não podemos continuar sempre no mesmo caminho ou fazer sempre as mesmas coisas. É preciso abandonar alguns padrões de vida ultrapassados. Muitas pessoas entram em depressão por não estarem dispostas a abandonar os vícios e manias do passado. Não caminham para uma nova possibilidade de vida. A depressão chama atenção para antigos padrões de vida autodestrutivos, que agora precisam de mudanças urgentes. A depressão que nos surpreende na meia-idade convida-nos a recolher para dentro de nós a energia e a força que, até então, usamos para a vida externa e agitada, a fim de encontrarmos a nossa essência interior. É hora de nos concentrarmos no que ocorre em nosso interior. A instabilidade A falta de raízes familiares afetivas, no mundo de hoje, torna as pessoas depressivas. A mobilidade cada vez maior faz com que as pessoas se sintam sem chão. Elas não conseguem sentir-se em casa em lugar nenhum. Não conseguem criar raízes por temer que a árvore plantada seja em breve arrancada e transportada para outra realidade, para um ambiente desconhecido. Tais pessoas perdem o seu lar interno, mas também o externo. A depressão pode ser um grito de socorro por estabilidade, firmeza e segurança. As constantes mudanças de um lugar para outro fazem com que seja cada vez mais difícil manter vínculos e amizades duradouros. Mudanças constantes são marcadas pelas perdas. É preciso recomeçar tudo de novo. Nem sempre a pessoa está pronta para enfrentar tal realidade. Com isso tudo vêm a desmotivação, a instabilidade e a depressão. 2 / 5

3 A superficialidade da fé Muitas pessoas procuram nos lugares distantes aquilo que perderam lá onde está o seu lar, seu aconchego e suas raízes. Esta instabilidade emocional é a base para o desenvolvimento da depressão. O futuro requer segurança. Quem perdeu um pedaço de sua identidade, sente dificuldade com a constante troca de moradia. A insegurança habitacional também gera depressão. A Sagrada Escritura apresenta pessoas que não têm mais raízes. Um povo inteiro ficou sem raízes por ter voltado as costas para Deus. No mundo atual, o número de pessoas depressivas aumenta devido à falta de uma base religiosa, ética e familiar. É preciso recuperar de novo o sentido de uma vivência comunitária, de uma fé mais comprometida. A superficialidade da fé deixa a pessoa fragilizada e mais exposta aos sintomas da depressão. A não realização dos sonhos A depressão não se apresenta apenas por experiências de perdas. Ela se expressa também por sonhos não realizados. É a chamada frustração da vida e dos projetos. A depressão pode desenvolver-se quando os desejos da pessoa não foram realizados. Ela pode vir acompanhada de uma profunda mágoa ou uma grande raiva de tudo e de todos. É o momento da revolta e da rebeldia, até mesmo contra Deus. E junto com isso vêm também a agressividade e a tristeza. A convivência com tais pessoas torna-se insuportável. Já não há diálogo nem entendimento. A pessoa depressiva acredita que todos estão contra ela. Ninguém a compreende. Vive assim uma profunda solidão e abandono. Nada está bom e nada a satisfaz. A insatisfação passa a dominá-la. A depressão rouba a alegria do coração 3 / 5

4 O doente depressivo não se alegra com nada. Tudo o deixa raivoso e triste. Nenhuma boa palavra, nenhum elogio, nenhuma atenção amorosa alcança o seu coração sombrio e melancólico. O depressivo não está em condição de aceitar a realidade da situação atual. O passado parece-lhe melhor, pois toda infelicidade do mundo está presente neste momento presente da sua história. E o pior de tudo é que a fuga para o passado deixa o depressivo ainda mais infeliz e triste. Nada preenche o seu coração, pois o passado não pode mais ser vivenciado com alegria e intensidade. A depressão enfraquece o senso de concentração e observação. A pessoa já não consegue fazer grande esforço mental. Tudo parece pesado demais e insuportável. Até mesmo o desejo da união com Deus parece que desapareceu. A própria oração passa a ser um grande peso a ser carregado. O depressivo já não consegue mais rezar como deseja. As lágrimas reprimidas A depressão pode ser proveniente também da morte de alguém. Quando a perda sofrida é grande demais, a pessoa não consegue enfrentar o luto, embora luto e depressão sejam coisas totalmente diferentes. Mas a reação tardia do luto por uma perda pode, sim, transformar-se em depressão. No momento do velório do ente querido, a pessoa se apresentou como forte, demonstrando ter um coração duro e por isso não derramou nenhuma lágrima. Foi um choro reprimido e sufocado. Algum tempo depois tal situação vem à tona. É como uma represa de água que arrebenta. Então a pessoa cai em si e pode entrar numa grande angústia, tristeza e por fim na própria depressão. Tudo o que foi reprimido aparece como uma força destruidora mais tarde. O caminho para Deus A pessoa triste normalmente torna-se uma pessoa fechada. Há um fechamento para Deus. Na depressão, a alma está morta. É preciso um ambiente seguro e saudável para dissolver o bloqueio. À medida em que a pessoa depressiva consegue resgatar a vida de oração, ela vai se libertando de suas amarras. Diante de Deus ela coloca de lado suas máscaras e suas armas. Está despida e exposta. Sua miséria pode transformar-se em misericórdia. Uma ajuda médica e psicológica pode também ajudar muito na integração da espiritualidade. Um sintoma da depressão é sempre a inquietude interna e externa. Com frequência, a atividade exagerada visa encobrir a depressão que se esconde por detrás do ativismo. O desejo da pessoa é 4 / 5

5 livrar-se da depressão, o mais de pressa possível. Mas, talvez, a vontade de Deus seja que ela aceite a sua doença com toda a humildade e que, através da depressão, encontre o seu caminho para Deus. Somente na cruz de Jesus encontramos resposta para a depressão. Por Pe. Agenor Girardi 5 / 5