Seleção de Projetos pela Comparação de Retorno e Risco. Autores: Mateus de Oliveira Alves Vanessa Mendes Rennó Guilherme Augusto Barucke Marcondes
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1 Seleção de Projetos pela Comparação de Retorno e Risco Autores: Mateus de Oliveira Alves Vanessa Mendes Rennó Guilherme Augusto Barucke Marcondes 14º Congresso de Iniciação Científica São Paulo Novembro de 2014
2 1. RESUMO Este trabalho apresenta meios de seleção de projetos considerando seu retorno e risco associado, mostrando diferentes maneiras de avaliação do risco. Os métodos que serão abordados são: Variância, Semivariância, Probabilidade Crítica, Dominância Estocástica (primeira e segunda ordens) e Coeficiente Gini. Cada um dos métodos é descrito, apresentando o modelo matemático a ser utilizado. Foram feitos testes considerando projetos hipotéticos e utilizando cada um dos métodos, a fim de avaliar sua aplicação e seus resultados. Palavras chave portfólio de projetos, seleção de projetos, retorno e risco. 2. INTRODUÇÃO Em empresas, um dos grandes desafios para os gestores é decidir, dentre um conjunto de projetos, qual é o que traz maior retorno e possui menor risco. Quanto mais precisa for esta decisão, mais próxima do benefício esperado esta empresa estará. Muitos projetos em grandes companhias falham por uma análise inadequada ou incompleta da quantificação dos retornos e riscos. Com base nisto, o trabalho de pesquisa apresentado neste artigo buscou identificar mecanismos que pudessem medir, quantizar, o retorno esperado para um projeto e qual o risco desta estimativa não se concretizar. Essa medida de risco pode ser feita tanto em projetos únicos, quanto em portfólios com grandes números de projetos. A proposta apresentada neste trabalho permite a comparação entre projetos isolados, porém, ela pode ser estendida de forma simples para a análise de portfólios de projetos. As maneiras de quantizar o retorno e o risco, abordadas neste artigo, são a média variância, média semivariância, média e probabilidade crítica, dominância estocástica (de primeira e segunda ordens) e a média Gini. Neste artigo será feita a descrição de cada um dos métodos e a exemplificação de cada um deles por meio de um conjunto de projetos hipotéticos. 3. OBJETIVO O objetivo deste trabalho é avaliar os métodos de seleção de projetos por meio da comparação entre seus valores de retorno e risco, e mostrar, a partir de exemplos com projetos hipotéticos, quais as características, vantagens e desvantagens de cada um.
3 4. MÉTODO O método empregado neste trabalho foi de revisão bibliográfica sobre as técnicas mais encontradas na seleção e comparação de projetos, baseadas no retorno e risco. Após esta identificação, as várias técnicas foram empregadas utilizando um exemplo criado para este fim. 5. DESENVOLVIMENTO 5.1. Retorno e Risco Diversos trabalhos encontrados na literatura utilizam o retorno e o risco como critérios de comparação entre projetos para a formação de um portfólio (Ringuest et al., 2004; Graves & Ringuest, 2009; Gemici-Ozkan et al., 2010; Yu et al., 2012; Gutjahr & Froeschl, 2013; Hassanzadeh et al., 2014). Como a comparação visa à seleção de projetos a serem executados, o retorno aqui tratado é o retorno esperado, estimado ou projetado para os projetos. Ou seja, o retorno exato ainda não é conhecido no momento da decisão. Como o retorno utilizado neste trabalho é o esperado, existe o risco do(s) valor(es) estimado(s) não acontecer(em). Este é o risco que aqui é tratado como risco de um projeto. Naturalmente, quanto maior o valor deste risco, menor é a convicção de que o retorno esperado se efetive. Em geral, na literatura, este risco é medido por algum valor que indique a probabilidade de não ocorrer o retorno esperado para o projeto, o que pode acontecer de forma direta (aplicando, por exemplo, a dominância estocástica ou a probabilidade crítica) ou por meio de alguma medida de dispersão estatística do retorno (aplicando, por exemplo, a variância, a semivariância ou o coeficiente de Gini). As formas de cálculo de risco de projeto abordadas neste trabalho são detalhadas na Seção Medida de Retorno O retorno esperado de um projeto é medido pela média ponderada das estimativas de retorno considerando suas respectivas probabilidades de ocorrência. Ou seja, primeiro se realizam as estimativas dos possíveis retornos dos projetos e das probabilidades de ocorrência para cada um deles. Depois, a média ponderada é calculada, levando ao valor do retorno esperado do projeto, como apresentado na Equação (1).
4 R P = N i=1 p i R i (1) onde R i é a iésima possibilidade de retorno esperado para o projeto, p i é a probabilidade de ocorrência desta possibilidade e N é o total de possibilidades utilizadas Medidas de Risco O PMI (2013) define o risco como o resultado da incerteza na execução de um projeto. Neste trabalho, o risco considerado é o que mede a incerteza de que o retorno esperado efetivamente aconteça. Algumas das formas de cálculo de risco são apresentadas nas Subseções a seguir (5.3.1 a 5.3.5) Variância Proposta por Markowitz (1952), esta é uma das formas mais simples de se medir riscos, por ser intuitiva e de fácil entendimento. Depende apenas de dois parâmetros: retorno e variância, sendo que esta representa o risco de não se obter o retorno estimado. O retorno pode ser calculado conforme a equação (1). Neste caso, a variância de um projeto é calculada pela Equação (2). σ 2 P = N i=1 p i (R i R P ) 2 (2) Por esta abordagem, o Projeto A domina o Projeto B (ou seja, o Projeto A deve ser executado e o Projeto B não deve ser executado), se e R PA R PB (3) σ 2 2 PA σ PB de forma que, pelo menos uma das duas condições (3) e (4) sejam satisfeitas pela 2 desigualdade. Onde R Pi e σ Pi são, respectivamente, o retorno e a variância do projeto i. Uma limitação observada para este tipo de medida de risco em projetos é que, projetos que apresentem possibilidades de retorno esperado assimétricas em relação à média, podem apresentar a mesma variância, embora aquele com maior (4)
5 probabilidade de ocorrência acima da média seria preferível. Muito embora o bom senso do tomador de decisão consiga distinguir facilmente isso, a variância não consegue comprovar, o que não a torna tão eficiente em determinados casos Semivariância Uma das propostas que procura evitar o eventual erro de decisão por conta da assimetria do desvio é a utilização da semivariância como medida de risco (Markowitz, 1959). Para isto, um valor de referência (R Ref ) é definido, e os retornos acima dele podem ser desconsiderados. A semivariância de um projeto é calculada pela Equação (5). N SV P = p i (R i R Ref ) 2 i=1, se R i < R Ref (5) e Por esta abordagem, o Projeto A domina o Projeto B, se R PA R PB (6) SV A SV B (7) de forma que, pelo menos uma das duas condições (6) e (7) sejam satisfeitas pela desigualdade. Onde SV i é a semivariância do projeto i. Neste caso, uma limitação é que o valor R Ref é definido de forma arbitrária pelo tomador de decisão Probabilidade Crítica Outra forma de medida de risco, apresentada por Roy (1952), calcula a probabilidade do retorno ter um valor abaixo de um valor de referência tomado como crítico (R Crit ). Este valor deve ser estabelecido pelo tomador de decisão visando ao que é considerado mais adequado para o cenário em que o projeto está inserido. A probabilidade crítica de um projeto é calculada pela Equação (8). e N PC P = i=1 p i, se R i < R Crit (8) Por esta abordagem, o Projeto A domina o Projeto B, se R PA R PB (9) PC A PC B (10)
6 de forma que, pelo menos uma das duas condições (9) e (10) sejam satisfeitas pela desigualdade. Onde PC i é a probabilidade crítica do projeto i. Assim como no caso da semivariância, esta abordagem apresenta a limitação da escolha de R Crit ser definida de forma arbitrária pelo tomador de decisão Dominância Estocástica Esta técnica, que foi proposta por Levy (1992), permite determinar se o retorno de um projeto é estocasticamente maior do que o de outro ou se ele é menos volátil (menos arriscado) do que o outro. Para sua aplicação, as condições suficientes e necessárias são de que a Função Utilidade 1 do tomador de decisão seja crescente (Primeira Ordem) ou crescente e avessa ao risco (Segunda Ordem). Sua aplicação se dá pela comparação das funções de distribuição cumulativa de probabilidade (FDC) entre pares de projetos. Por meio da avaliação de Dominância Estocástica de Primeira Ordem (DEP), é possível determinar se um retorno esperado de um portfólio é estocasticamente maior do que o outro. Assim, o Projeto A domina o Projeto B se F(R ia ) F(R ib ), para todo R ia e R ib (11) desde que (11) seja atendida por desigualdade para, pelo menos, um valor de R ia ou R ib. Onde R ij são os valores possíveis estimados para o retorno do projeto j e F(. ) é a FDC. Esta comparação pode ser feita por meio das curvas de FDC, sendo que o Projeto A domina o Projeto B se nenhum ponto da FDC de A estiver acima da FDC de B e se pelo menos um ponto da FDC de B estiver acima da FDC de A. Se pela aplicação da DEP não ficar claro ao tomador de decisão qual o projeto dominante, pode ser feita a avaliação pela Dominância Estocástica de Segunda Ordem (DES). Ela compara os retornos esperados de dois portfólios diferentes, podendo indicar a escolha pelo portfólio menos arriscado, uma vez que tomadores de decisão buscam evitar o risco (Wolfstetter, 1999). Sua análise também se dá a partir das áreas sob as curvas das FDC dos projetos. Ao serem analisados os gráficos, o Projeto A dominará o Projeto B se a área acumulada debaixo da FDC de B for maior que a área sob a FDC de A. Analiticamente, o Projeto A domina o Projeto B se 1 Para maior detalhamento, recorrer a (Neumann e Morgenstern, 1947).
7 z [F(R ib ) F(R ia )] dr 0 (12) para z assumindo todos os valores possíveis para os retornos estimados dos projetos A e B. Uma limitação logo observada para a aplicação da dominância estocástica é que as comparações devem ser feitas sempre entre pares. Se o número de projetos for muito grande, esta avaliação pode se tornar impraticável Coeficiente de Gini A abordagem da média-gini (MG) (baseada no coeficiente de dispersão proposto por Gini(1912)) foi proposta por Shalit e Yitzhaki (1984, 1989, 2005). Segundo estes autores, o coeficiente de Gini de um portfólio (considerando todos os projetos sob comparação) pode ser calculado por Γ Portfolio = 2cov[R Portfolio, F(R Portfolio )] (13) onde R Portfolio representa todas as possibilidades de retorno esperado para o portfólio, cujos valores devem estar ordenados de forma crescente. No caso desta abordagem, para cada projeto ainda deve ser calculada a média ajustada MG, como apresentado na Equação (14). onde β P pode ser calculado por μ P = R P β P Γ Portfolio (14) β P = cov[r P,F(R Portfolio )] cov[r Portfolio,F(R Portfolio )] (15) Pela abordagem MG, o Projeto A domina o Projeto B se R PA R PB (16) e μ A μ B de forma que, pelo menos uma das duas condições (16) e (17) sejam satisfeitas pela desigualdade. (17) 6. RESULTADOS
8 A fim de exemplificar os métodos apresentados na Seção 5, são apresentados na Tabela I cinco projetos hipotéticos com retornos esperados alto e baixo e a probabilidade de ocorrência do retorno alto (e por consequência, do retorno baixo). Tabela I Exemplos de Projetos Projeto Retorno Alto Retorno Baixo P (retorno alto) A 4 0 0,6 B ,7 C 6 0 0,8 D 7-2 0,5 E 5-2 0,6 Como apresentado na Seção 5.2, o cálculo do retorno é comum a todos os métodos. Desta forma, a Equação (1) foi empregada para o cálculo da média do retorno de cada projeto. Os resultados destes cálculos são apresentados na segunda coluna da Tabela II. Medindo o risco pelo método da variância calculada pela da Equação (2), cujos resultados estão apresentados na terceira coluna da Tabela II, observa-se que os Projetos D e E são dominados pelo Projeto C e os Projetos A, B e C não são dominados, uma vez que para um projeto dominar outro devem-se obedecer os critérios apresentados nas condições (3) e (4). Utilizando o método da semivariância, aplicando a Equação (5), obedecendo as condições (6) e (7) e arbitrando o valor de referência igual a zero, tem-se que os Projetos A, D e E são dominados pelo Projeto C. O Projeto B não é dominado. Os resultados dos cálculos da Semivariância são apresentados na quarta coluna da Tabela II. Comparando os projetos pelo método da probabilidade crítica e utilizando a Equação (8) para o seu cálculo, de acordo com as condições (9) e (10) e utilizando como o valor crítico igual a zero, chega-se às mesmas conclusões dos resultados da aplicação do método da semivariância. Estes resultados estão apresentados na quinta coluna da Tabela II. Utilizando o método da dominância estocástica de primeira e segunda ordens, as comparações foram feitas aos pares. Seguindo as Equações (11) e (12), os resultados são: o Projeto A domina o Projeto E; o Projeto C domina os Projetos A e E; os Projetos
9 B, D e E não dominam nenhum outro projeto. A Figura 1 apresenta os gráficos das FDC dos Projetos A e E, exemplificando uma comparação feita na DEP. Prob.(FDC) 1 A 0,8 C 0,6 0,4 0, Retorno Figura 1 Comparação FSD entre os Projetos A e E. Por fim, fazendo as análises pelo método do coeficiente Gini, aplicando as Equações (13), (14) e (15), conclui-se que o projeto A domina o projeto E e os projetos B e C dominam os projetos A, D e E, obedecendo às condições (16) e (17). Tabela II Resultados Projeto Retorno Média Variância Semivariância Prob. Crítica Gini A 2, ,12 B 6, ,3 3,59 C 4, ,22 D 2, ,5 1,29 E 2, ,4 1,47 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo apresenta diversos métodos de seleção de projetos, levando em consideração diferentes medidas de risco. Cada método tem suas vantagens e
10 desvantagens que devem ser avaliadas e cabe ao tomador de decisão optar pelo mais adequado. O método da variância se mostrou simples e intuitivo, porém pode não apresentar resultados adequados em certas decisões que são claras pelo bom senso (principalmente, quando a distribuição de probabilidade é assimétrica), tendo o tomador de decisão que intervir no método, tomando uma posição sobre qual seria o melhor projeto. Além disto, ele considera a Função Utilidade quadrática, o que restringe sua aplicação. Os métodos da semivariância e da probabilidade crítica superam as restrições impostas pela assimetria no método da Variância, porém são dependentes de valores de referência arbitrados, o que pode causar uma subjetividade nas decisões. O método da dominância estocástica é muito eficiente, pois compara os projetos de mais detalhada a análise. Entretanto, essa análise pode ser muito trabalhosa, na medida em que aumenta-se o número de projetos a serem comparados, pois as comparações são feitas par a par. O método do coeficiente Gini se apresentou bastante intuitivo, eficiente e com menos restrições que os demais. Ele pode ser empregado, independente de como seja a Função Utilidade do tomador de decisão e também não é influenciado pela assimetria da distribuição de probabilidade. A partir dos dados obtidos na Seção 6, os métodos apresentaram algumas divergências entre si, mas sempre tendo os Projetos B e C como indicados para a execução. Por alguns métodos, também o Projeto A foi indicado. Importante ressaltar, que esta é uma análise indicativa e que considera, somente, critérios econômicos na decisão, não sendo influenciado por outros fatores importantes como importância do projeto para a organização, planejamento estratégico e prioridades de mercado. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GEMICI-OZKAN, B., WU, S. D., LINDEROTH, J. T., E MOORE, J. E. R&D Project portfolio Analysis for the Semiconductor Industry. Operations Research, v. 58, n. 6, p GRAVES, S. B. E RINGUEST, J. L. Probabilistic dominance criteria for comparing uncertain alternatives: A tutorial. Omega, v. 37, n. 2, p
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