TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 fls. 1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Barueri, em que é apelante MUNICIPIO DE JANDIRA, é apelado CECILIA DOS SANTOS MARTINS. ACORDAM, em 14ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores OCTAVIO MACHADO DE BARROS (Presidente), HENRIQUE HARRIS JÚNIOR E MÔNICA SERRANO., 28 de julho de 2016 OCTAVIO MACHADO DE BARROS RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 2 Voto 9122 Apelação nº Apelante: Prefeitura Municipal de Jandira. Apelado: Cecília dos Santos Martins. APELAÇÃO AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE ITBI 2005 Tributo recolhido indevidamente ao tabelionato de notas quando lavrada a escritura pública Boa fé e erro justificável por parte da apelada - Valor não repassado ao fisco - Recurso desprovido. Apelação contra sentença que reconheceu a inexigibilidade do ITBI, recolhido indevidamente ao Tabelionato de Notas de Jandira e sem que o valor tenha sido repassado à Municipalidade, sob o fundamento de que a autora não pode ser responsabilizada pelo pagamento indevido, feito de boa fé. Inconformada, a apelante alega que a autora foi negligente a recolher erroneamente o ITBI direto ao tabelionato ao invés de fazê-lo ao Município, sustentando que as convenções particulares não alteram o sujeito passivo, a inviabilizar o pretendido adimplemento da obrigação fiscal. Por fim, aduz não se aplicar a equidade, que implicaria em dispensa de pagamento do tributo, propugnando pela reforma da decisão. A apelada, por sua vez, alega já ter recolhido o ITBI ao Tabelionato de Notas de Jandira, cujo novo pagamento configuraria bis in idem. Recurso regularmente recebido e processado. Relatado. Apelação nº Barueri - VOTO Nº 2/5

3 fls. 3 A autora agiu de boa fé e incidiu em erro justificável ao recolher, inadvertidamente, o valor do ITBI ao Tabelionato de Notas de Jandira (fls. 15, 34/43) sem que tenha sido alertada sobre o erro, na oportunidade, nem repassada a quantia à Municipalidade, o que desautoriza o duplo recolhimento, como pretende a apelante. Com efeito, os serviços notariais são exercidos por delegação do Poder Público a profissionais do direito, dotados de fé pública (CF, art. 236 e Lei nº 8935/1994, art. 3º), já tendo este Tribunal de Justiça proclamado que o tabelião deve fiscalizar todos os atos de sua serventia e prestar as informações necessárias aos interessados, inclusive e, principalmente, prevenindo eventuais fraudes fiscais: MANDADO DE SEGURANÇA - MULTA POR FALTA DISCIPLICAR - Recebimento de quantia em dinheiro, pela serventia, para recolhimento de ITBI, firmando recibo com timbre do tabelionato - Lavratura de escrita mediante apresentação de guia de recolhimento de tributo com chancela falsificada - Responsabilidade exclusiva do tabelião pelo gerenciamento administrativo do tabelionato. Dever de fiscalização dos atos da serventia e de informação ao usuário, esclarecendo o que é atividade típica ou atípica do tabelionato, de modo a prevenir qualquer tipo de fraude, inclusive fiscais. Segurança denegada (MS nº Rel. Des. ROBERTO MAC CRACKEN). Por essas razões, não pode vingar a pretendida Apelação nº Barueri - VOTO Nº 3/5

4 fls. 4 duplicidade de recolhimento do ITBI, a cargo da apelada. Afinal, ela cometeu erro justificável diante das circunstâncias determinantes e por indução do tabelionato, quando efetuou o pagamento indevido (teoria da aparência). Além disso, a apelada agiu com induvidosa boa fé quando da exteriorização do erro, de modo a conferir efeito jurídico e validade ao ato ora questionado. Com efeito, a contribuinte pagou o valor do tributo a quem, por delegação do Estado, tinha como precípua incumbência prestar serviço público extrajudicial, com fé pública, eficácia e segurança jurídica, inclusive para fiscalizar e orientar os interessados sobre o recolhimento dos tributos decorrentes dos atos praticados na serventia de sua responsabilidade e não, como ocorreu, induzir o contribuinte a erro para obtenção de vantagem indevida, com o recebimento do valor do imposto e sem repassá-lo aos cofres municipais (arts. 1º e 30, XI, da Lei nº 8.935/1994 e, arts. 309 e 422, do Código Civil). O tema não é novo e já mencionado no Código Civil Comentado, de NELSON NERY JÚNIOR e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY (10ª Ed., págs. 558/559) - Pagamento a credor putativo. IPTU. Impossibilidade de o Município de Bertioga exigir novo pagamento de IPTU por parte do sujeito passivo, uma vez estar efetivamente demonstrado que o contribuinte já efetuou anteriormente o recolhimento do tributo ao Município de Santos, de onde o primeiro foi desmembrado e com quem manteve disputa por limites territoriais. O sujeito passivo se encontra de boa-fé e protegido pela norma do CC 309. A obrigação tributária deve ser dada por extinta, cabendo ao Município que se entende titular do crédito buscar o seu recebimento frente ao outro que se realizou a tributação que reputa indevida (JTACivSP 176/139). Apelação nº Barueri - VOTO Nº 4/5

5 fls. 5 Daí porque, nega-se provimento ao recurso. OCTAVIO MACHADO DE BARROS Relator Apelação nº Barueri - VOTO Nº 5/5