GESTÃO DO RISCO DE INCÊNDIO FLORESTAL COM RECURSO À PASTORÍCIA

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1 . GESTÃO DO RISCO DE INCÊNDIO FLORESTAL COM RECURSO À PASTORÍCIA

2 As atividades humanas transformaram e modelaram a Serra da Estrela. O aproveitamento de madeiras e lenhas, transformaram as encostas outrora verdejantes, em vertentes escalvadas e pedregosas, por onde as enxurradas desciam rapidamente, destruindo tudo o que encontrava à sua passagem, causando, por vezes, sérios danos materiais e ceifando, por vezes, vidas humanas. O município de Manteigas a braços com problemas de erosão cedeu ao Estado, para serem arborizados, os baldios municipais do concelho de Manteigas. Constituído a 13 de outubro de 1888, o Perímetro Florestal de Manteigas, constituiu o primeiro perímetro florestal das serras em Portugal, tendo nesse mesmo ano sido iniciados os trabalhos de arborização. Durante quase 120 anos o Estado procedeu à administração de forma exclusiva deste Perímetro Florestal. No ano de 2002 e de acordo com a Lei dos Baldios, os terrenos baldios foram devolvidos às comunidades locais das freguesias de São Pedro e de Santa Maria (do concelho de Manteigas), que integram o Perímetro Florestal de Manteigas, passando a administração destas áreas baldias a ser efetuada em regime de cogestão entre o ICNF, I.P. e os respetivos compartes O Perímetro Florestal de Manteigas tem uma área total de hectares, dos quais 19% estão arborizados e 23% ocupados com matos e pastagens. A restante área é de improdutivos O Perímetro Florestal da Serra da Estrela Núcleo de Gouveia, foi criado por Decreto de 11 de março de 1958, o qual submeteu a regime florestal parcial os baldios distribuídos pelas freguesias de Aldeias, Folgosinho, Mangualde da Serra, São Paio e São Pedro, do concelho de Gouveia, e tem uma área de cerca de 7047 hectares, dos quais ha estão arborizados, 1 084ha têm matos e pastagens e 1083 são de improdutivos

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4 O Parque Natural da Serra da Estrela foi criado pelo Decreto -Lei n.º 557/76, de 16 de Julho, por se tratar de uma região onde subsistem refúgios de vida animal e formações vegetais endémicas de importância nacional. Esta Área Protegida possui também inegável valor paisagístico e cultural. Os sucessivos estudos realizados sobre o Parque Natural da Serra da Estrela acentuaram o valor e a singularidade do património natural existente, conduzindo à declaração do planalto superior como Reserva Biogenética Europeia, em Março de A Serra da Estrela (PTCON0014) foi designada como sítio de interesse comunitário da região biogeográfica mediterrânea, em Julho de 2000, A Serra da Estrela numa área de 99,87ha foi designada como important bird area (IBA), em O planalto superior da Serra da Estrela e o troço superior do rio Zêzere foram qualificados como zonas húmidas de importância internacional, ao abrigo da Convenção de Ramsar, em 2005.

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6 O ano de 2003, foi um ano marcante em termos incêndios florestais pela dimensão da área ardida em todo o território do Continente. A política de defesa da floresta contra incêndios passou a ter um novo rumo, consubstanciado no Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios e instituído pelo Sistema de Defesa da Floresta Contra Incêndios, o qual estabelece as medidas e ações de proteção e defesa da floresta e as responsabilidades e articulação entre as entidades responsáveis, nomeadamente ICNF, I.P., ANPC, GNR e câmaras municipais.

7 Em 2007/2008, no distrito da Guarda, para áreas onde ocorreram incêndios relevantes, os técnicos dos serviços florestais e dos serviços da conservação da natureza em parceria com os Gabinetes Técnicos Florestais das câmaras municipais, delinearam e programaram a rede primária de faixas de gestão de combustível para o distrito. Esta infraestrutura totaliza ha e foi integrada em todos os planos municipais de defesa da floresta contra incêndios (PMDFCI). É de notar que 13 dos 14 concelhos deste distrito têm novos PMDFCI aprovados.

8 A instalação da rede primária iniciou-se com o apoio financeiro do Programa EEA Grants, que reconheceu a mais valia desta rede na compartimentação da paisagem e na criação de condições favoráveis à contenção de grandes incêndios. A área do Parque Natural da Serra da Estrela foi privilegiada nesta compartimentação, como se pode observar-se na envolvente à área da visita. O PRODER, no âmbito da medida de apoio à defesa da floresta contra incêndios, permitiu a continuação da instalação de rede primária, em particular nas zonas envolventes do Parque. Até à presente data, estima-se que esteja executada 25% da rede planeada.. Releva-se o esforço de todos os atores locais, Gabinetes Técnicos Florestais, equipas de sapadores florestais, organizações de produtores e empresas florestais, na concretização deste objetivo e contribuição para o melhor ordenamento do espaço florestal.

9 O ICNF, os Gabinetes Técnicos Municipais e os órgãos representativos dos compartes, em estreita colaboração, elaboraram e executaram três Planos de Fogo Controlado, aproveitando o recurso a esta técnica para, de forma menos onerosa, proceder à instalação e manutenção em boas condições de rede primária de faixas de gestão de combustível e, por vezes em complementaridade, criar mosaicos de parcelas de gestão de combustível, de forma a maximizar o efeito das redes de defesa contra os incêndios. Aquela técnica assegura ainda a promoção da biodiversidade, por manter diferentes estratos de vegetação e aumentar o efeito de orla, medidas que promovem a diversidade da flora e da fauna, e a manutenção de atividades tradicionais, ao proporcionar a renovação da vegetação natural criando boas condições de pastoreio). Na imagem seguinte apresenta-se uma parte do plano de fogo controlado aprovado onde se evidencia a complementaridade com a rede primária planeada,

10 Os Planos de Fogo Controlado incidiram principalmente em terrenos baldios e abrangeram uma área superior a hectares. A conjugação do efeito do fogo controlado na diminuição do risco de incêndio com a renovação de pastagens assume enorme relevância em terrenos de serra com vocação pastorícia, como é o caso desta zona onde ainda se podem observar rebanhos que percorrem as encostas do Mondego.

11 A execução do fogo controlado na área da Serra teve o seu início no ano de 2005, tendo sido executados desde o ano de 2008 até à atualidade mais de 900 hectares na envolvente do vale do Mondego, tendo envolvido na sua execução diversos técnicos de Fogo Controlado, o ICNF, os GTF/Munícipios, os órgãos gestores dos baldios, várias equipas de Sapadores Florestais, Coorporações de Bombeiros, a ANPC/FEB, entre outros. Das áreas executadas, destacam-se 3 zonas onde o planeamento de fogo controlado tem/teve como objetivo especial a criação/manutenção/melhoria das condições para a prática do pastoreio, promovendo a queima da vegetação arbustiva e herbácea em manchas, como é o caso do espaço que se pode observar a partir do ponto 2. Na imagem seguinte apresentam-se as ações de fogo controlado já executadas

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13 Em finais do ano 2008, com a colaboração de diversas Equipas de Sapadores Florestais e após obtenção de autorização por parte da ex-afn, concedida a devida licença pelo munícipio de Gouveia, o ex-icnb promoveu a execução de fogo controlado numa área de 16 hectares próximo do local denominado por Covão de Santa Maria, área esta planeada para integrar o traçado da rede primária de DFCI.

14 Devido à proximidade do casal do Covão de Santa Maria, onde a atividade pastoril é exercida desde há muitos anos e aos percursos de pastoreio praticados (percurso do gado desde o Covão para as zonas mais altas conhecidas por Malhão/Santinha), a área em questão é percorrida pelo gado praticamente todos os dias, sendo evidente que este facto contribui para manter a eficácia da rede primária. Desta forma, desde o ano 2008, que se alia a utilização da área pelo pastoreio com a defesa da floresta contra incêndios através da manutenção da rede primária, com o sucesso que é possível observar.

15 A arborização/rearborização e a gestão da floresta existente nos terrenos baldios, cujo património foi tão delapidado pelos incêndios, num local onde se unem tantos factores importantes (a conservação dos solos encostas íngremes, e da água nascente do Rio Mondego e de muitos outros cursos de água importantes, os valores naturais - fauna e flora, fenómenos turísticos -paisagens, a neve, etc, entre outros), é importante.

16 Ao longo dos últimos anos foi possível com recurso a fundos comunitários Programa Proder e a parcerias com diferentes empresas (REN, Aguas Sumol Compal) e entidades (Conselhos diretivos dos baldios), implementar diversas acções que incidem, nos casos assinalados na figura, em cerca de 70 hectares, compreendendo a arborização e aproveitamento da regeneração natural de espécies como o Pinheiro silvestre, Carvalho negral, Azevinho, entre outras.