Oficina de construção de instrumentos alternativos: um espaço para a criação de novas estratégias para sala de aula?
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- Luís Galindo da Rocha
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1 Oficina de construção de instrumentos alternativos: um espaço para a criação de novas estratégias para sala de aula? Niágara da Cruz Vieira 1 Paulo Roberto Teles da Silva 2 Resumo: Partindo da experiência de oficinas de construção de instrumentos, os autores buscam analisar as possibilidades sonoras e criativas, com materiais diferentes, diversificados e alternativos, para a utilização destas ações que possam enriquecer o cotidiano da educação musical em sala de aula. Palavras-chave: Instrumentos musicais alternativos; Educação Básica; Criação Musical. Introdução Nosso intuito neste artigo é o de através destes aspectos gerais, oferecerem diferentes estratégias para estimular o educador musical a experimentar novas atividades com seus alunos. Com isto, tentamos enriquecer o processo de educação musical através do recurso da construção de instrumentos alternativos em sala de aula. Partindo da experiência de oficinas de construção de instrumentos, os autores buscam analisar as possibilidades sonoras e criativas, com materiais diferentes, diversificados e alternativos, para a utilização destas ações que possam enriquecer o cotidiano da educação musical em sala de aula. Em relação à adaptação das escolas de ensino regular à nova lei de obrigatoriedade de educação musical, poderíamos justificar vários aspectos de aplicabilidade para a construção de instrumentos alternativos em sala de aula como: baixo custo, acesso fácil ao material, consciência ecológica e principalmente um novo espaço didático-criativo-experimental dentro do planejamento de aula do educador musical. 1 Professora de Educação Musical do Campus Realengo do Colégio Pedro II. Professora de Piano no Ensino Médio Integrado em Música do Colégio Pedro II - Campus Realengo. É Mestre em Musicologia (UFRJ, 2010), Bacharel em Piano e Especialista em Musicoterapia (CBM-CEU). Desenvolve projetos de inclusão e atendimentos. Participou da Sociedade Coral e Orquestra Clássica de Mato Grosso do Sul, além de se apresentar em recitais solos, e projetos com grupos de teatro como o Costurando Histórias. E- mail: niagaracruz@gmail.com. 2 Professor de Educação Musical do Campus São Cristóvão III, Coordenador do Espaço Musical do Colégio Pedro II - Campus São Cristóvão. Mestre em Música (UFRJ ) e músico atuante em diversos grupos. Ministra oficinas de construção de instrumentos alternativos em conjunto com Leonardo Fuks e Niágara Cruz. Interlúdio, Ano 3, no. 3,
2 O educador musical por sua vez, deve estar aberto às novas possibilidades sonoras, novas atitudes de experimentação sonora, ao ato de observar e construir não somente o processo dos alunos como o seu próprio. Cabe a este também, criar esta nova janela para permitir novas perspectivas e estratégias para o aprendizado. Concebendo instrumentos musicais como ferramentas para o som e a música, percebemos que mais do que uma definição específica, a conceituação dos ambientes e as formas como são utilizados é que nos proporcionam a oportunidade de utilização dos mesmos. Concordamos com Vieira (2010) como abaixo: Observamos três ambientes instrumentais já existentes na educação musical: O tradicional: onde os instrumentos convencionais são utilizados, possuem técnicas específicas para serem tocados, técnicas estas orientadas por um professor ou um músico para serem adequadas musicalmente. O experimental: os instrumentos podem ser convencionais, tocados de formas diferenciadas e inusitadas; ou objetos outros também podem ser tocados. Geralmente objetivam a exploração de timbres diferenciados musicalmente. Esta exploração pode ser orientada por um músico, mas também foi muito utilizada por educadores musicais e musicoterapeutas com o advento das oficinas, a partir de 1985 [...]. O virtual: com os avanços tecnológicos, digitais na área musical os próprios aparatos tecnológicos começam a ser explorados como potenciais e inovadoras fontes sonoras até chegarmos ao ponto atual de termos a disponibilidade de um estúdio dentro de um computador portátil e podermos ouvir, tocar música e produzir sons sem o instrumento em sua forma e material físicos. (VIEIRA, 2010, 23-24) Para quê construir objetos musicais físicos, em um mundo que caminha para uma crescente virtualização? Entendemos que os dois processos, físico e virtual, são importantes, mas acreditamos que habilitar o ser humano a lidar com os materiais físicos é necessário como recurso e referência para gerar autonomia no processo educacional musical. Inspirados nas oficinas de construção de instrumentos alternativos para crianças, que aconteceram no Centro de Referência da Música Carioca, auditório situado no bairro Tijuca na cidade do Rio de Janeiro, no período de Março a Maio de 2012; Orientadas pelo Professor Doutor Leonardo Fuks, percebemos a possibilidades de um espaço criativo desta natureza que poderia ser aplicado em sala de aula. Relatamos algumas reflexões acerca desta experiência. As Oficinas no Centro Cultural de Referência da Música Carioca foram divididas em cinco encontros semanais no auditório e também nos jardins do Centro Cultural, sempre aos domingos, e teve como objetivo central o de aproximar crianças e Interlúdio, Ano 3, no. 3,
3 jovens às práticas musicais experimentais e tradicionais, com temas do cancioneiro popular e utilizando instrumentos alternativos de sopro e percussão, além do próprio corpo. Os instrumentos alternativos foram em sua maioria construídos com os participantes, que os empregaram em atividades lúdicas artísticas, onde a percepção e a liberdade de expressão foram estimuladas, culminando em animados cortejos musicais. Entendendo aula como uma situação ensino aprendizagem que se desenvolve dentro de um processo linear e contínuo, possibilitando o acompanhamento e a percepção do professor das diversas fases do aluno, onde poderão avaliar se os objetivos foram alcançados, conceberemos oficina como uma situação onde o conhecimento é administrado em curto período de tempo, de forma mais técnica, enfocando a aplicabilidade destes conhecimentos para a ação diretamente prático-musical. O Esquema abaixo representa as características de duas circunstâncias da construção de instrumentos (em sala de aula e na oficina), e ao centro a janela de possibilidades através desta integração: Construção de instrumentos em sala de aula Caráter seqüencial onde existe um tempo estipulado pela escola e disciplina de educação musical. Avaliação acontece dentro de um acompanhamento mais efetivo. Em período de tempo maior propicia uma visão da área geral do conhecimento. Procura-se um viés mais prático. Procura-se integrar as diversas áreas musicais: compor- construir- tocar. Pode gerar um vínculo de convivência com o instrumento construído. Construção de instrumentos em oficina. Caráter mais eventual, delimitado ao tempo de realização da oficina. Avaliação realizada pelo professor é informal. Em curto período de tempo geralmente propõem uma visão ampla da área de conhecimento. Descrevendo as atividades realizadas, quando solicitamos às crianças a utilização de um único material, ou materiais aparentemente limitados, foi surpreendente a variedade de resultados que elas atingiram através da experimentação sonora. Convém, portanto, que não se ignore o potencial de criatividade de nossos alunos bem como o do professor que pode, através de uma boa estratégia obter bons resultados na pesquisa e nas performances musicais, sendo assim, mesmo que o material seja limitado, ainda contamos com as possibilidades de experimentações diversas sobre o mesmo material. Nossos instrumentos alternativos necessitaram ser construídos com materiais que apresentassem pouca periculosidade, acessíveis (financeiramente) e de fácil manuseio, para que as crianças tivessem acesso a sua construção. Utilizamos materiais Interlúdio, Ano 3, no. 3,
4 como: Papéis, canudos, garrafas PET, tampinhas da garrafa PET, fitas adesivas largas (durex), barbantes, cano PVC, balão de festa (bexiga de borracha). Para cada oficina foram estabelecidos temas onde, por vezes o mesmo material foi utilizado de maneira diferente. Pode-se fazer uma classificação organológica simples (sopros cordas percussão) para estruturar as oficinas que servirão, em um plano de curso, tanto como elemento motivador para trabalhos futuros (gêneros de música brasileira ou estrangeira e sua história) como para um clímax de um assunto teórico que já vinha sendo abordado em sala de aula. Nas oficinas observamos: Quando apresentamos o tema: tornando-se como exemplo a classificação em sopros, cordas e percussão, nós pudemos realizar uma performance com os instrumentos já construídos e tocar instrumentos de natureza alternativa ou convencional que se relacionaram com as classificações escolhidas. O educador que não tiver disponível instrumentos convencionais, poderá utilizar-se do recurso de mostrar vídeos de músicos tocando. Quando construímos os instrumentos e propusemos aos alunos que construíssem os seus, apresentamos o material de que dispúnhamos, estabelecemos um passo-a-passo para a confecção e principalmente deixamos um espaço para que o aluno construísse o seu conhecimento ou a sua técnica de confecção e de exploração sonora. Sugerimos ao educador que construa o seu próprio instrumento antes de levar a proposta aos alunos, pode parecer óbvio, mas saber o passo-a-passo da construção, as possibilidades, os defeitos técnicos e o tempo que leva é importante para o bom andamento da proposta da construção em sala. Quando observamos os alunos nas oficinas em suas experimentações com os materiais e com o som, em algumas situações interferimos. Por vezes não é necessário que haja esta interferência em determinado momento, pois neste ponto é que ocorrem as interações entre os alunos que trocam experiências, sugestões e brincam com o que acabaram de construir. Sugerimos aos educadores, paciência para observar o processo do aluno construir e dialogar com os colegas. Interlúdio, Ano 3, no. 3,
5 Quando realizamos uma atividade com o grupo: Isto se referiu ao fazer música, criando organizações rítmicas, acompanhando canções ou criando ambiências sonoras para histórias utilizando os instrumentos musicais confeccionado em sala. Sugerimos aos educadores que possam integrar neste momento o seu planejamento musical a estes novos instrumentos alternativos. Estas oficinas se demonstraram uma maneira para a concretização do instrumento musical, a identificação do aluno para com o mesmo (algo que ele construiu) e a experimentação de suas possibilidades sonoras, que irão contribuir para integrar as diversas áreas musicais: Ouvir e apreciar/interpretar-compor/contextualizar construindo saberes. Relembramos aqui que somos educadores oriundos de sala de aula, e ao desenvolvermos estas oficinas percebemos que todos estes aspectos são aplicáveis na aula de educação musical. Fica, portanto, sugestão aos educadores da realização da oficina de construção de instrumento dentro de um planejamento de curso das aulas regulares de educação musical. Referências Planejamento Político Pedagógico do Colégio Pedro II. Elaboração do Projeto 1999/2000. Disponível em < VIEIRA, Niágara da Cruz. A Construção de Instrumentos Alternativos e os recursos Formadores de um Ambiente Educacional Integrado para a Educação Musical: uma pesquisa participativa com uma turma de quarto ano do ensino regular fundamental em uma escola pública do Rio de Janeiro Dissertação (Mestrado em Música) Escola de Música, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Interlúdio, Ano 3, no. 3,
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