Processo nº: 026/ (CNJ: )

Transcrição

1 COMARCA DE SANTA CRUZ DO SUL 2ª VARA CÍVEL Rua Ernesto Alves, 945 Processo nº: 026/ (CNJ: ) Natureza: Cobrança Autor: Avelina Ignez Botton Moro Moacir Bronzatti Ricardo Renato Botton Rosa Botton da Silva Antonio Fioravante Botton Santina Veronica Botton Pascoal Victelio Botton Élvio Bronzatti Valmor Bronzatti Valdir Bronzatti Sergio Bronzatti Antonieta Lourdes Botton Clara Maria Botton Ligório Elena Catarina Botton Eriberto Jose Botton Gessi Antonieta Botton Inacio Jacinto Botton Leonilda Ana Botton Lourena Botton Maria Levina Botton Anversa Selita Terezinha Botton Urbano Francisco Botton Aline Botton Felipe Moreira Botton Pablo Botton Luiz Roberto Botton Dileta Avelina Botton de Souza Réu: MAPFRE Vera Cruz Seguradora S/A Seguradora Líder dos Consórcios de Seguro DPVAT S.A Juiz Prolator: Juiz de Direito - Dr. Andre Luis de Moraes Pinto Data: 09/05/2016 Vistos. Trata-se de ação de cobrança, pedido decorrente de relação securitária de natureza obrigatória DPVAT ajuizada por AVELINA IGNES BOTTON 1

2 MORO, MOACIR BRONZATTI, RICARDO RENATO BOTTON, ROSA BOTTON DA SILVA, ANTONIO FIORAVANTE BOTTON, SANTINA VERÔNICA BOTTON, DILETA AVELINA BOTTON SOUZA, PASCOAL VICTELIO BOTTON, ELVIO BRONZATTI, VALMOR BRONZATTI, VALDIR BRONZATTI, SERGIO BRONZATTI, ANTONIETA LOURDES BOTTON, CLARA MARIA BOTTON LIGÓRIO, ELENA CATARINA BOTON, ERIBERTO JOSE BOTTON, GESSI ANTONIETA BOTTON, INACIO JACINTO BOTTON, LEONILDA ANA BOTTON, LOURENA BOTTON, MARIA LEVINA BOTTON ANVERSA, SELITA TEREZINHA BOTTON, URBANO FRANCISCO BOTTON, ALINE BOTTON, FELIPE MOREIRA BOTTON, PABLO BOTTON, LUIZ ROBERTO BOTTON, contra MAPFRE VERA CRUZ SEGURADORA S.A e SEGURADORA LÍDER DOS CONSÓRCIOS DE SEGURO DPVAT S.A.. Relatam que no dia 26/10/1992, o irmão/tio dos autores envolveu-se em acidente de trânsito em Santa Maria/RS, vindo a falecer em via pública. Dessa forma, requerem o recebimento da integralidade do seguro obrigatório DPVAT por morte, no montante de R$ ,000 corrigidos monetariamente, conforme alegam haver entendimento jurisprudencial que a indenização correspondente a 40 salários mínimos vigentes da data do pagamento do seguro. Ainda postulam pela inversão do ônus da prova e do benefício da Assistência Judiciária Gratuita. Juntam documentos, fls. 12/48. Na decisão de fl. 49, foi deferido o benefício da AJG aos autores. Ainda foi declinada a competência do juízo à Comarca de Santa Maria. Houve a interposição de Agravo de Instrumento pelos autores, conforme fl. 51. O qual foi dado provimento, fls. 64/66. Citada, a requerida apresentou contestação, fls. 74/84. Preliminarmente, requereu a inclusão da Seguradora Líder S.A. no polo passivo da demanda, e alegou a falta de interesse de agir dos autores, uma vez que não houve comprovação do pedido pela via administrativa. Ainda alegou inépcia da inicial, por ausência de documentos e a ilegitimidade ativa de alguns autores, por estes serem sobrinhos da vítima. No mérito, informou o pagamento a título de indenização ao Sr. Ricardo Botton (irmão da vítima) em 18/12/1992 e que ocorreu de acordo com a legislação da época. Aduziu por não haver comprovação da situação ser coberta pelo seguro DPVAT no tempo do acidente, e discorreu acerca do estabelecimento do valor da indenização a partir do salário mínimo, juros e correção monetária. Juntou documentos, fls. 85/100. Réplica à fl Foi designada a inclusão da Seguradora Líder S.A. como litisconsorte passiva na demanda, fl Manifestação dos autores, que efetuaram a juntada do Boletim de Ocorrência Policial e o auto de necrópsia do acidente objeto do seguro postulado, fls. 105/108. Sobreveio manifestação das requeridas, fls. 110/112, alegando a ilegitimidade de alguns autores. À fl. 117, foi determinada a regularização do polo ativo da demanda, com indicação de todos os herdeiros. Sendo que a parte autora requereu a suspensão 2

3 do feito para cumprimento da decisão, fls. 119, 122, 125, 128. Na sequência, foram juntados documentos pela parte autora, fls. 130/150 e 156/201. O processo foi encaminho ao Mutirão DPVAT junto ao CEJUSC (fl. 202), o qual foram devolvidos os autos sem realização do mesmo, fl À fl. 204, foram intimadas as partes para apresentarem propostas de conciliação ou especificarem as próximas provas pretendidas. Sobrevindo manifestação das requeridas, fls. 206/207. Decorreu o prazo sem manifestação da parte autora, conforme certidão à fl. 207v. Por fim, vieram conclusos os autos. Relatei sucintamente. Passo a fundamentar. A causa está madura para julgamento, não se fazendo necessário o esgarçamento probatório, porquanto o lote já reunido é suficiente para iluminar o caminho sem que signifique a qualquer dos intervenientes alguma espécie de cerceamento. A preliminar de ilegitimidade ativa não merece acolhimento. Conforme as certidões de óbito das fls. 13, 14 e 15, a vítima do acidente de trânsito não deixou filhos e seus pais já eram falecidos, motivo pelo qual os colaterais integram a sucessão, conforme o art , IV e art , ambos do CC/2002. A alegação de ausência de documentos indispensáveis restou prejudicada com a juntada da certidão de ocorrência policial e o laudo de necrópsia às fls. 106/108v. No mérito, o entendimento do juízo sobre a matéria em debate, isto é, cobrança de indenização do seguro obrigatório DPVAT, segue a orientação jurisprudencial consubstanciada na Súmula 14 das Turmas Recursais do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, que dispõe da seguinte maneira: SÚMULA Nº 14 DPVAT (revisada em 19/12/2008) VINCULAÇÃO SALÁRIO MÍNIMO. - É legítima a vinculação do valor da indenização do seguro DPVAT ao valor do salário mínimo, consoante fixado na Lei nº 6.194/74, não sendo possível modificá-lo por Resolução. A alteração do valor da indenização introduzida pela M.P. nº 340 só é aplicável aos sinistros ocorridos a partir de sua vigência, que se deu em 29/12/2006. QUITAÇÃO. - A quitação é limitada ao valor recebido, não abrangendo o direito à complementação da indenização, cujo valor decorre de lei. CONSÓRCIO OBRIGATÓRIO. - O consórcio obrigatório do seguro DPVAT institui solidariedade entre as seguradoras participantes, de 3

4 modo que, independentemente de qual delas tenha liquidado administrativamente o sinistro, qualquer uma poderá ser demandada pela respectiva complementação de indenização, inocorrendo ilegitimidade passiva por esse motivo. GRADUAÇÃO DA INVALIDEZ I. Descabe cogitar acerca de graduação da invalidez permanente; havendo a invalidez, desimportando se em grau máximo ou mínimo, devida é a indenização no patamar de quarenta salários mínimos, ou do valor máximo vigente na data do sinistro, conforme este tenha ocorrido, respectivamente, antes ou depois de 29/12/2006. II. Entretanto, nos pedidos de indenização por invalidez permanente ajuizados a partir do precedente do Recurso Inominado nº , julgado em 18/12/2008, haverá de ser observada a regra de graduação da invalidez. PAGAMENTO DO PRÊMIO - Mesmo nos sinistros ocorridos antes da vigência da Lei nº 8.441/92 é desnecessária a comprovação do pagamento do prêmio do seguro veicular obrigatório. COMPLEXIDADE - Inexiste complexidade de causa a afastar a competência do Juizado Especial quando os autos exibem prova da invalidez através de laudo oriundo de órgãos oficiais, como o INSS e o DML. APURAÇÃO DA INDENIZAÇÃO - Na hipótese de pagamento administrativo parcial, a complementação deverá ser apurada com base no salário mínimo da data de tal pagamento. Nas demais hipóteses, a indenização deverá ser apurada com base no valor do salário mínimo da data do ajuizamento da ação. Outrossim, para os sinistros ocorridos a partir de 29/12/2006, a apuração da indenização, havendo ou não pagamento administrativo parcial, deverá tomar por base o valor em moeda corrente vigente na data da ocorrência do sinistro. CORREÇÃO MONETÁRIA A correção monetária, a ser calculada pela variação do IGP-M, incide a partir do momento da apuração do valor da indenização, como forma de recomposição adequada do valor da moeda. JUROS Os juros moratórios incidirão sempre a partir da citação, mesmo tendo havido pagamento parcial ou pedido administrativo desatendido. MÁQUINA AGRÍCOLA Dá ensejo à cobertura do seguro DPVAT o acidente com máquina agrícola, ainda que não licenciada, desde que ocorrido em situação em que seja utilizada como meio de transporte. MEGADATA O espelho do sistema Megadata goza de 4

5 presunção relativa de veracidade como prova de pagamento administrativo da indenização, quando provido de dados que lhe confiram verossimilhança. A partir disso, conforme se observa, o fato de que houve pagamento administrativo da indenização não impede a parte autora de buscar a diferença do valor que entende correto. Assim, não há que se falar em quitação plena da obrigação de pagar a cobertura do seguro obrigatório, tendo em vista que a Lei 6.194/74 é o único texto legal competente para tanto, não havendo autorização legal que legitime as referidas instituições a legislar sobre o quantum indenizatório que está expressamente disposto na lei específica. Nesse sentido, a Lei nº 6.194/74, que dispõe sobre Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não, em seu art. 3º, a, lecionava que a indenização em caso de morte decorrente de acidente de trânsito era de 40 (quarenta) vezes o valor do maior salário-mínimo vigente no País. Considerando que tal lei estava em vigência na data do acidente (1992), não se aplicam ao caso as novas disposições da Lei 6.194/74, acrescentadas pela Lei nº /2007 ou pela MP 451/2008, eis que ofenderia direito adquirido das autoras. A complementação da indenização deverá ser feita considerando o salário mínimo vigente na época do pagamento parcial, nos termos da Súmula 14 acima mencionada, o que no caso foi feito em 18/12/1992, conforme a tela do sistema megadata da fl. 85 dos autos. O salário mínimo daquele mês era de Cr$ ,94, de modo que o valor correto devido às autoras era de Cr$ ,60. ( ,94 x 40). Portanto, o valor da complementação devida pelas rés ao autor é de Cr$ ,18 ( , ). O valor da condenação deverá ser corrigido pelo IGP-M, por ser o índice que melhor reflete a realidade inflacionária do país, desde a data do pagamento parcial (18/12/1992), e os juros, fixados no patamar de 1% ao mês, serão computados a partir da citação, tudo de acordo com a Súmula 14 das Turmas Recursais do TJRS. Registro, por fim, que em relação à utilização do IGP-M, fazendo coro ao posicionamento adotado pelas demais varas cíveis desta Comarca, entendo que deve ser esse o indexador a ser aplicado mesmo naquelas escassas situações de deflação, incidindo todas as suas variações, não se aplicando o índice zero em caso de IGP-M negativo, porquanto nesta hipótese se estaria diante de uma valorização do padrão monetário. Posto isso, julgo PROCEDENTE a pretensão deduzida na inicial, para condenar a demandada a pagar à parte autora a quantia de Cr$ ,18, acrescidos de juros de mora de 1% ao mês, a contar da citação, e correção monetária, pelo IGP-M, desde o pagamento parcial feito pela via administrativa, devendo ser contempladas as suas variações negativas. Custas e honorários advocatícios pela parte ré, os últimos fixados 5

6 em 10 % sobre o valor da condenação, a teor do art. 85, 2º, do CPC, considerando que se trata de matéria repetitiva e que não apresenta complexidade. Com o trânsito em julgado desta decisão, ao arquivo com baixa. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Santa Cruz do Sul, 09 de maio de Andre Luis de Moraes Pinto Juiz de Direito 6