DROGAS E FAMÍLIA: SOBRECARGA. Silvana C. Maciel UFPB
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- David Azeredo Lagos
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1 DROGAS E FAMÍLIA: SOBRECARGA Silvana C. Maciel UFPB
2 CONCEITO DE DROGA Droga é qualquer substância que, não sendo produzida pelo organismo, tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento. (OMS, 1993)
3 HISTÓRICO INÍCIO: uso não abusivo integrado a cultura HOJE?
4 CONSUMO HOJE Uso banalizado/ disseminado (idade e classes sociais) Crescimento dos problemas sociais e das hospitalizações Crescimento do nº de dependentes em idade mais precoce Drogas lícitas: ambivalência da sociedade: incentivo ao uso X culpabilização do sujeito(rejeição). Drogas sintéticas e mais potentes.
5 Consumo hoje Foco de grande preocupação mundial: grave problema de saúde pública. É considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença crônica e recorrente, que acarreta sérias consequências pessoais e sociais para o futuro dos jovens e de toda a sociedade (Abreu, Salzano, Vasques, Cangelli Filho & Cordás, 2006).
6 Uma vez estabelecida a dependência, o usuário acaba priorizando o uso da droga em detrimento de outras atividades e obrigações (Kaplan & Sadock, 2007).
7 Portanto, devido a esta relação simbiótica com a droga, marcada por perdas e destruições, estas questões atingem não apenas o dependente, mas todos que, direta ou indiretamente, têm relações com ele, em especial seus familiares, pois sofrem perdas e prejuízos em sua saúde física, mental e social. Os familiares, especificamente, sofrem por terem um laço afetivo muito forte e por serem vistos como corresponsáveis pela formação dos filhos, estando diretamente atrelados ao seu desenvolvimento saudável ou doentio.
8 Dependência Química Doença Crônica Recorrente- Recaídas Sobrecarga Familiar Afetividade Questão financeira
9 O adoecimento dos filhos abala a autoestima dos seus genitores ou responsáveis, uma vez que pode significar que houve falhas no sistema familiar. Tornam-se comuns os conflitos emocionais, a depressão, o sentimento de medo e as incertezas relacionadas ao prognóstico e ao tratamento, propiciando uma quebra da rotina e uma sobrecarga familiar (Maruiti, Galdeano & Farah, 2008).
10 Soares e Munari (2007) definem a sobrecarga familiar como o estresse emocional e econômico aos quais as famílias ficam submetidas, quando estão imersas em situações extremas, como é o caso do adoecimento dos filhos. A sobrecarga familiar, é um conceito multidimensional pois envolve aspectos diversos, relacionados aos sintomas e comportamentos do paciente, que interferem na rotina e na dinâmica das famílias e pode atingir várias dimensões da vida, como saúde, lazer, trabalho, bem-estar físico e psicológico e o próprio relacionamento entre os membros da família.
11 PESQUISA: FAMÍLIA E SOBRECARGA OBJETIVO GERAL Fazer estudo sobre as Representações Sociais acerca da dependência química e a depressão em familiares de dependentes químicos (álcool/crack) institucionalizados na cidade de João Pessoa - PB.
12 METODOLOGIA Tipo de estudo: pesquisa de campo, de cunho exploratório, que utilizou delineamento qualitativo e quantitativo. Local: na cidade de João Pessoa (PB), em instituições de tratamento para dependentes químicos, - hospitais psiquiátricos públicos e privados e Centros de Atendimento Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS-ad). Amostra: 100 familiares de dependentes químicos institucionalizados. Instrumentos para coleta de dados 1. Entrevista semi-estruturada e questionário sócio demográfico 2. BDI (Inventário de Depressão de Beck). Procedimentos éticos
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14 Resultados e discussões
15 INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO A partir da análise dos dados obtidos pelo instrumento BDI, considerando o ponto de corte igual ou superior a 11 (onze) pontos, o que é representativo da depressão sem conteúdo psicótico depressão reativa (Beck e Steer, 1993), a prevalência de depressão para a amostra estudada foi de 69%, atingindo pontuação média de 21 pontos (DP=8,8 variando de 11 a 50 pontos).
16 Em sua maioria, estes familiares que apresentam quadro depressivo são do sexo feminino (91%), mães (42%) ou esposas (30%), com tempo de convivência variando de 1 a 10 anos (71%). A maioria cursou até o ensino fundamental (61%), e 61% tem renda mensal até um salário mínimo.
17 Esse resultado corrobora com a literatura na medida em que percebe-se na amostra a prevalência específica do sexo feminino e os papéis sociais assumidos pela maioria dos participantes, bem como a escolaridade e o nível sócio-econômico, já que a depressão está relacionada com a existência de fatores de vulnerabilidade que tornam algumas pessoas mais predispostas do que outras, como o sexo, a hereditariedade, a idade, além da influência do meio social(coutinho; Gontiès, Araújo e Sá, 2003).
18 ALCESTE Os dados das entrevistas semi-estruturadas foram analisadas pelo software ALCESTE obtendo 4 classes: 1. Classe 1 foi denominada Impacto da Dependência Química para a Família 2. Classe 2 foi chamada de Consequências da Dependência Química para o Usuário 3. Classe 3, denominada Conceito de Qualidade de Vida 4. Classe 4, chamada de Significados da Droga,
19 Classe 1 : Impacto da Dependência Química para a Família Os relatos remetem aos impactos que a dependência química causa na vida dos familiares envolvidos com o usuário, tais como : a quebra da rotina entre os membros da família; os sentimentos de vulnerabilidade, desamparo e frustração quanto ao tratamento da doença. Ocorre o agravamento de conflitos já existentes, acentuando ainda mais as dificuldades dos familiares em lidarem com a dependência química. Essas dificuldades acontecem principalmente em função das características peculiares da doença (crônica e recorrente) que ameaçam uma boa relação familiar
20 A família fica um pouco difícil, porque ele não trabalha. Ele não sustenta um filho, ou até mesmo a mulher tem que ir trabalhar, para bancar a família, em algum lugar para sobreviver. Ele é envolvido em bebida alcoólica. Realmente, é muita depravação. Agride às filhas, num tem amor, num tem carinho nem por ele mesmo (Irmã de paciente)
21 Sou eu que sustento meu irmão quando ele sai do hospital, dou de tudo para ele por que se eu não fizer, ele morre, porque não tem mais ninguém por ele, eu é que tenho piedade de ir buscar ele jogado nas ruas, caído no chão, todo sujo drogado, e levo ele para casa e dou comida.
22 Droga para mim é o fim de tudo... destrói tudo, família, casamento... independente de qual seja ela [...] Para mim ela vai destruindo aos poucos, a própria pessoa e aquelas pessoas também que convivem com a pessoa que é dependente...vai acabando, destruindo [...] pode ser trabalhador e ter as coisinhas direitinho, mas acaba assim rapidamente. (mãe de paciente)
23 Pesquisas realizadas por Maruiti, Gladeano e Farah (2008), mostram que os familiares estão sobrecarregados por demandas que envolvem a função de acompanhar seus membros adoecidos e cuidar deles, vivenciando assim, profundas perdas e prejuízos em sua saúde física, mental e social.
24 Soares e Munari (2007) mostram que a alta do hospital e o conseqüente retorno do paciente ao seu lar, podem ocasionar aos familiares cuidadores, estresse tanto emocional, quanto econômico, atingindo várias dimensões da vida familiar, como saúde, lazer, trabalho, bem-estar físico e psicológico e o próprio relacionamento entre os membros da família. Os estudos apontaram, ainda, que as mulheres se sentem mais sobrecarregadas que os homens e que o fato de haver crianças morando junto com o paciente é um fator significativamente associado à sobrecarga dos familiares.
25 Os dados encontrados nos mostram que a dependência química esta diretamente associada a desestruturação familiar, sendo considerada por esses familiares um fator desencadeante de conflitos e desgaste dos familiares, ocasionando uma sobrecarga em todos os familiares. No que concerne às conseqüências da dependência na vida do dependente, a análise dos dados mostraram que a droga ocasiona, não só problemas médicos advindos do uso/abuso de substâncias, mas também, problemas sociais na vida do dependente, como conflitos familiares, no trabalho, entre outros.
26 A droga é a pior coisa que tem na família. Droga, álcool, para mim é a pior coisa, porque sofre quem depende e sofre quem convive. Eu não entendo quase nada, só que sofre a família toda, filhos e esposa, mãe e pai, todo mundo tá sofrendo com essa dependência. (Esposa, Álcool).
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28 A dependência química para a família está simbolizada como algo nocivo, que prejudica as relações entre os membros envolvidos, sendo responsável por situações de conflito e desarmonia. Evidenciou-se que as consequências podem ser também de natureza psicológica e social, que foram relatadas, pelos familiares, como incluindo não só as alterações que afetam o humor e a cognição dos dependentes, mas também as ameaças por dívidas de drogas, que atingem não só os usuários, mas também as suas famílias.
29 A presente pesquisa não esgota a possibilidade de futuros estudos com esta temática, mas espera-se que os dados encontrados possam estimular reflexões sobre a promoção de saúde e a assistência a essas famílias, de modo a minimizar os impactos sociais que as drogas causam. Gerando possibilidades de abertura de novos tratamentos para os dependentes e seus familiares/cuidadores, visando a minimização da culpa e a melhoria da qualidade de vida, diminuindo, assim, os impactos da dependência química e da sobrecarga sobre os familiares.
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