Studium Theologicum de Curitiba STUDIUM REVISTA TEOLÓGICA

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1 Studium Theologicum de Curitiba STUDIUM REVISTA TEOLÓGICA

2 Studium: revista teológica/ Studium Theologicum de Curitiba - Ano 5 Vol. 5 - n. 9 (jan./jun.) e 10 (jul./dez. 2011) Semestral ISSN Teologia Periódicos. I. Studium Theologicum de Curitiba. CDU: 2

3 STUDIUM Revista Teológica Ano Nº 9 e 10 Revista semestral de Teologia do Studium Theologicum de Curitiba ISNN Editor-Chefe Hélcion Ribeiro Studium Theologicum Conselho Editorial Jaime Sanches Bosch Studium Theologicum, Curitiba, Pr. Marcio Luiz Fernandes Studium Theologicum, Curitiba, Pr. Tedoro Hanicz Instituto S. Basílio Magno, Curitiba, Pr. Valdinei de Jesus Ribeiro StudiumTheologicum, Curitiba, Pr. Vitor P. Calisto dos Santos PUC, Campinas, SP Conselho Consultivo Angelo Carlesso - Studium Theologicum Curitiba, Pr Jose Carlos Fonsati Cúria Geral dos Vicentinos - Paris, Fr. Manuel Jesus Arroba Conde Instituto Juridicum, Roma Jacinta Turolo Centro Italiano de Fenomenologia, Bauru, SP Santiago M. González Silva Claretianum, Roma Josu M. Auday Claretianum, Roma Sávio Scopinho CEUCLAR, Batatais Ricardo Hoepers - Studium Theologicum Curitiba, Pr. ADMINISTRAÇÃO E REDAÇÃO Contato e assinatura Studium Revista Teológica Av. Getúlio Vargas, Curitiba Pr. Tel. (41) Fax: (41) studium.sec@studium.com.br Solicita-se permuta/ Exchange requested/ Se pide cambio/ On prie l échange Nota: os autores das contribuições desta publicação assumem a responsabilidade das idéias e teses defendidas nos seus textos.

4 SUMÁRIO Editorial... 5 Visão eclesiológica dos diferentes ritos... 7 Basilio Koubetch A teologia e espiritualidade da liturgia oriental Mario Marinhuk ÍCONES. Teologia, simbologia e mística...37 Paulo (Dionísio) Lachovicz Canto litúrgico ucraino bizantino...49 Paulo Serbai Hino AKÁTHISTOS em honra à Mãe de Deus...61 Edson Ternoski Igreja ucraniana no Brasil. Práticas pastorais, tensões com a Igreja romana, encontros, desencontros e desafios...81 Teodoro Hanicz Homilia de encerramento da Semana Teológica/ Volodemer Koubetch A questão do Patriarcado na Igreja Craniana Católica...99 Basilio Koubetch Recensão...105

5 Editorial A Igreja Católica é uma, sem ser uniforme apesar de que muitos fundamentalistas não acreditam nisto. Ela é uma pela fé no Senhor Jesus, pelo serviço papal, pela perseverança na herança dos apóstolos, pela conservação e atualização constante da grande Tradição, entre outros fatores. Entretanto, a Igreja uma tem uma significativa diversidade de ritos, que atende à tradições históricas tanto milenares quanto mais recentes. O subcontinente da América Latina nasceu predominante ocidental e católico. Assim, ser católico romano que é um dos muitos ritos da Igreja parecia ser algo natural, por ser hegemônico. No entanto, a partir de correntes migratórias da Europa, foram aparecendo outros grupos culturais e etnias, que com seus traços peculiares, traziam também uma catolicidade diversa da romana. Por ignorância religiosa, inclusive das autoridades católico-latinas, muitas vezes houve tensões e até graves entre estes cristãos católicos. Contudo, o próprio Deus, Senhor da História, faz os homens e as mulheres percorrerem caminhos insuspeitos para mostrar sua riqueza e que o diferente antes de ser oposição pode ser uma graciosa e gratuita diversidade, ára o enriquecimento de todos. Deste modo pode-se afirmar não apenas o pluralismo religioso, mas até mesmo a diversidade dentro da própria Igreja, com seus ritos e tradições algo muito diferente de folclore. Na Igreja Católica, além do rito romano latino que o brasileiro, em geral, está mais acostumado, encontramos ao menos mais 23 Igrejas com retos e tradições próprias; das quais 15 ortodoxas e entre estas a maior, em termos numéricos, a Igreja greco-bizantina ucraniana, instalada no Brasil há, ao menos 120 anos. Em vista de sua história e, inclusive pela repressão comunista, a Igreja ucraniana vem se reconstituindo e se organizando tanto dentro da Ucrania quanto com seus fiéis da diáspora. O Concílio Vaticano II foi fundamental para, não apenas reconhecer a sua legitimidade católica quanto para impulsioná-la, incentivando-a a buscar seu legítimo estatuto por toda parte, não como algo à margem, mas de pleno direito eclesial. Em Curitiba, a partir da Eparquia São João Batista - erigida em 1971 por Paulo VI, e tendo como primeiro eparca D. José Martenetz e dos missionários basilianos da Ordem de São Basílio Magno os seminaristas ucranianos fazem sua formação teológica em nosso StudiumTheologicum, onde também inúmeros professores ucranianos atuam. Este motivo ensejou à Direção do Studium em conjunto com o Diretório Acadêmico DAST sua promover a XXXIII Semana Teológica voltada para a vida e 5

6 6 vitalidade da Igreja Ucraniana. Esta semana acadêmica coincidiu com a promoção daquela igreja, no mesmo período, de outras duas atividades significativas de portada internacional: 1º Encontro de Reitores de Seminários Ucranianos, presidida pelo eparca de Vancouver (Canadá) D. Ken Nowalowski e a 2ª Assembléia Geral da Igreja Grego Católica Ucraniana Sobor, sobre a formação do clero na qual participaram bispos e superiores religiosos vindos de toda parte. A Revista Teológica Studium, associando-se às alegrias da comunidade ucraniana, particularmente de seus alunos e professores deste rito, publica este número especial dobre a vida espiritual e teológica desta porção da Igreja do Senhor, que respira com o outro pulmão que reúne mais 22 ritos católicos. Deste modo, os artigos que número são abertos com o texto Visão ecleseológica dos diferentes ritos que procura situar a diversidade católica dos ritos, evidenciando que o pluralismo não só tem sua pertinência, como é uma riqueza eclesial tanto de patrimônio e liturgia quanto de teologia, espiritualidade e legislação. A partir da centralidade do mistério de Cristo, celebrado na liturgia, o texto Teologia e espiritualidade da liturgia oriental enfatiza o quanto deve ser educativa a Divina Liturgia, pois é dela que decorrem a espiritualidade, a teologia e toda a gama diversificada do comportamento católico ucraíno. Ícones: teologia, simbologia e mística ressalta os valores originantes do ícone, como expressão da morada de Deus, de uma liturgia gráfica, a fim de oportunizar a elevação do espírito e a comunhão com Deus. O canto litúrgico ucraniano fundamenta a liturgia, sem se fazer acompanhar de instrumentos musicais. O fiel cristão, por cantar a liturgia, glorifica a Deus tomado pelo Espírito Santo. O canto cadencia a melodia, para a escuta e a resposta aos mistérios de Deus. Isto se torna perceptível no Hino Akathistos em honra à Mãe de Deus. Nas suas vinte e quatro estrofes, ele canta as grandezas da Theotokos, no mistério de Deus. O artigo Igreja ucraniana no Brasil propõe o que o própria subtítulo indica práticas pastorais, tensões coma Igreja romana, desencontros e desafios vividos nestes cento e vinte anos e que, progressivamente, a nível institucional têm sido superados, apesar de permanecerem alguns questões particulares de pastoral sacramental e pouca compreensão deste rito que como propõe o autor poderia vir a ser ua alternativa para os brasileiros (não ucraínos). Os dois textos seguintes Homilia de encerramento da Semana Teológica e Questão do Patriarcado refletem a perspectiva teológica do bispo eparca dos ucranianos no Brasil (e professor do Studium) e a questão atual da conveniência de se criar um patriarcado próprio para os de rito greco-bizantino ucraniano. A revista Studium sente feliz com sua contribuição científico-teológica tanto para o aprofundamento quanto para tornar conhecida a riqueza deste Rito tão católico quanto o romano, para a glória de Deus.

7 Artigos VISÃO ECLESIOLÓGICA DOS DIFERENTES RITOS Pe. Basilio Koubetch, OSBM * RESUMO: Este estudo propõe-se enfatizar o justo direito à diversidade de ritos na Igreja Católica, inclusive denunciando preconceitos, que ainda persistem. Está fundamentado nos textos do Concílio Vaticano II e nos Códigos Canônicos (Código Canônico das Igrejas Orientais e Código de Direito Canônico). O texto historia e situa a pluralidade de ritos, não apenas apresentando toda a tipologia atual, mas explicitando, inclusive o significado e a pertinência deles, como uma riqueza eclesial que mantém neles um grande patrimônio cultural, jurídico, litúrgico, espiritual e teológico. O texto insiste, com propriedade, na identidade autenticamente católica dos diversos ritos, que de modo algum manifestam supostas divisões, mas antes enfatizam a unidade eclesial em sua diversidade. Conhecêlos e colaborar com sua autenticidade é uma excelente forma de contribuir com a Igreja. 7 PALAVRAS CHAVE: Rito; Igrejas Católicas Orientais; Disciplina própria; Conservação de ritos. ABSTRACT: This study aims to emphasize the well-deserved ensuring to diversity of rites in the Catholic Church, including exposing prejudices that still exist. It based on the texts of Vatican II and the Canonical Codes (Code of Canons of the Eastern Churches and the Code of Canon Law). The text tells the story and situates the plurality of rites, not just presenting all current typology, but makes clear, including the meaning and relevance of them, as a richness of the Church - which keeps them a great heritage - cultural, legal, liturgical, spiritual and theological. The text insists, properly, authentically Catholic identity of the various rites, which in no way supposed divisions manifest, but rather emphasize the ecclesial unity in diversity. Know them and collaborate with its authenticity is an excellent way to contribute to the church. KEY WORDS: Rite; Eastern Catholic Churches; Self-discipline; Rites conservation. * Licenciado em Teologia e Mestre em Ciências Eclesiásticas Orientais no Pontifício Instituto Oriental, Roma. Superior Geral da Ordem Basiliana de São Josafat.

8 1. QUESTÕES INTRODUTÓRIAS O que é um rito na Igreja católica? Quantos ritos existem? Qual a origem das Igrejas sui iuris 1 e dos diferentes ritos com os quais elas se identificam? Que posição a Igreja católica tomou em relação à pluralidade dos ritos? Estas e outras questões serão brevemente respondidas nesta abordagem DELIMITAÇÃO DO TEMA E DO CAMPO DE ABORDAGEM 8 Esta abordagem se concentra mais precisamente na visão eclesiológica dos diferentes ritos, isto é, na posição tomada pela Igreja católica em relação aos diversos ritos. A história da formação de cada uma das Igrejas sui iuris e do rito, com o qual cada uma delas se identifica é uma matéria muito ampla e interessante, mas não será apresentada aqui. Também, sempre por motivo do limite de tempo, não serão abordadas as características de cada um dos diversos ritos. Seja a história, seja a descrição dos ritos se encontram em obras científicas e populares em diversas línguas, mas excluo deste trabalho também a apresentação de uma bibliografia completa por não dispor neste momento do tempo necessário para tal pesquisa. 2 Como opção metodológica, procuro abordar a posição da Igreja católica citando as suas palavras presentes em diversos documentos do magistério, 3 fazendo com que esta abordagem seja também um lembrete sobre a atualidade e importância da visão eclesiológica CONCEITUAÇÃO Rito em senso estrito É um conjunto de costumes, ações, prescrições e peculiaridades litúrgicas, praticado pela Igreja comunidade orante. Etimologicamente, rito é cada ato ou conjunto de atos, realizados segundo normas codificadas. Com referência à religião, os ritos têm a função de tornar perceptível e repetível a experiência religiosa. Num ritual religioso as várias componentes religiosas, as prescrições e as fórmulas tornamse reais e normativas para todos os participantes. Geralmente o cristão encontra no rito a garantia da manutenção da identidade religiosa própria e a da comunidade à qual ele pertence. 1 Ecclesia sui iuris significa Igreja de direito próprio. Cf. ponto adiante. 2 É muito válido o trabalho de KHATLAB, Roberto, As Igrejas orientais católicas e ortodoxas - tradições vivas, Ed. Ave Maria, São Paulo 1997, o qual inclusive oferece uma ampla bibliografia, com obras em diversas línguas. 3 Sem, porém, pretender esgotar estes textos. Documentos mais usados: Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, Lumen Gentium, Unitatis Redintegratio ; Codex Canonum Ecclesiarum Orientalium; Cartas Encíclicas de João Paulo II UT UNUM SINT, 25 de maio de 1995; ORIENTALE LUMEN, 2 de maio de 1995; também a publicação do Conselho Pontifício para a promoção da unidade dos cristãos DIRETÓRIO PARA A APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS E NORMAS SOBRE O ECUMENISMO de 1994.

9 Rito no Código dos cânones das Igrejas orientais 4 O conceito de Rito no CCEO é muito mais amplo porque inclui todo o patrimônio litúrgico, teológico, espiritual e disciplinar. Tal patrimônio: se distingue pela cultura e circunstâncias históricas dos povos; se exprime em um modo específico de celebrar e viver a mesma fé na unidade eclesial; o seu modo de se exprimir é próprio e peculiar em cada uma das Igrejas sui iuris; o rito, portanto, é um patrimônio que dá a identidade a cada Igreja sui iuris. Por definição, O rito é o patrimônio litúrgico, teológico, espiritual e disciplinar, distinto pela cultura e circunstâncias da história dos povos, que se exprime no modo de viver a fé, que é próprio de cada Igreja sui iuris 5. O rito é um patrimônio inestimável, mas não é uma pessoa jurídica com deveres e direitos, enquanto tal é a Igreja sui iuris com a própria hierarquia devidamente constituída, chefiada e representada em todas as questões jurídicas por uma pessoa física devidamente eleita e/ou nomeada Igreja sui iuris Igreja sui iuris (Ecclesia sui iuris) literalmente significa Igreja de direito próprio, ou seja, autônoma. O CCEO a define do ponto de vista estritamente jurídico: Neste Código, se chama Igreja sui iuris um grupo de fiéis reunido pela hierarquia, segundo a norma do direito, que a suprema autoridade da Igreja reconhece expressamente ou tacitamente 6. Quatro coisas requerem a nossa atenção nesta definição: Não é uma definição separada do Código nem anexa ou dada no seu apêndice. É uma definição relativa ao Código, está em função do mesmo e faz parte integrante como cânone 27. Por isso ele diz: Neste Código, se chama Igreja sui iuris Daqui em diante será usada a sigla CCEO do título original Codex Canonum Ecclesiarum Orientalium. 5 CCEO, can (Minha tradução) 6 CCEO, can. 27. (Minha tradução)

10 A autonomia derivante do fato de ser uma Igreja de direito próprio não cria nenhuma perplexidade porque, neste caso, não é uma autonomia absoluta. Pelo contrário, é uma autonomia delimitada pelo direito estabelecido pela autoridade suprema, isto é, pelo Romano Pontífice ou pelo Concílio Ecumênico. A autonomia à qual se refere a expressão sui iuris foi reconhecida pelo Concílio Vaticano II no decreto Orientalium Ecclesiarum (sobre as Igrejas Orientais Católicas) relativo às igrejas particulares ou ritos orientais Esta definição canônica de Igreja sui iuris substitui a terminologia de Ecclesia particularis seu Ritus (Igreja particular ou Rito), usada no Decreto conciliar Orientalium Ecclesiarum Os elementos que compõem uma Igreja sui iuris são: a) Grupo ou comunidade de fiéis. Trata-se de uma assembleia ou comunidade eclesial do povo de Deus, uma realidade históricoexistencial, composta de leigos, clérigos 8, monges, religiosos, religiosas. b) A hierarquia própria. Esta hierarquia, segundo a norma do direito, isto é, legitimamente constituída, tem a função de: unir este grupo em uma determinada comunidade eclesial compacta e hierarquicamente organizada como uma Igreja; providenciar pelo bem espiritual do mesmo 9. c) Reconhecimento expresso ou tácito da suprema autoridade da Igreja, isto é, do Papa. Portanto, a comunhão hierárquica com o Romano Pontífice, entendida como unidade e realidade orgânica, é consequentemente um elemento constitutivo e integrante do status canônico de Igreja sui iuris 10. Comunidade de fiéis e hierarquia são elementos internos, materiais, mas não ainda suficientes. Eles devem ser completados também por um elemento externo e formal, isto é, o reconhecimento da suprema autoridade da Igreja. Isto significa que a autonomia de cada Igreja sui iuris, dentro da Igreja católica, é relativa, delimitada pela norma do direito promulgado ou aprovado pela suprema autoridade da Igreja. 7 Cf. Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n Clérigos são os que receberam ordens sacras: Bispos, sacerdotes e diáconos. Veja o termo no Decreto Orientalium Ecclesiarum, n Cf. Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n Portanto, é um gravíssimo erro por ignorância um católico considerar não católica uma Igreja que possui estes elementos.

11 1.3. ORIGEM E ELENCO DOS RITOS A origem das diversas Igrejas sui iuris e dos respectivos ritos é clara ao ponto de ser definida pelo Direito canônico oriental: Os ritos, dos quais se trata no Código, são a não ser que conste diversamente aqueles que nascem das tradições Alexandrina, Antioquena, Armena, Caldeia e Constantinopolitana 11. Isto significa que cada uma das Igrejas orientais sui iuris tem suas raízes numa destas cinco matrizes da fé e tem o próprio rito. Cada Igreja sui iuris, ainda antes do reconhecimento do seu status jurídico por parte da autoridade suprema da Igreja, se distingue e se identifica pelo seu rito, ou seja, em virtude do sacro patrimônio teológico, jurídico, litúrgico e espiritual, formado progressivamente no decorrer dos séculos. No âmbito de cada uma destas cinco tradições acima citadas nasceram diversos ritos. Isto significa que o rito não se identifica com a tradição, mas é uma expressão histórica e real de tal tradição. Portanto, muitas Igrejas orientais sui iuris têm origem na mesma tradição (numa das cinco), mas cada uma tem o próprio rito 12. Originadas nestas cinco tradições, 23 Igrejas orientais sui iuris e seus respectivos ritos sãо parte constitutiva e integrante da Igreja católica e são Igrejas particulares, distintas 13 pelas formas de culto litúrgico e piedade popular, pela disciplina sacramental 14 e canônica 15, como também pelo patrimônio teológico e espiritual. Diversamente das famílias ou federações de Igrejas formadas pelo CCEO, can (Minha tradução) 12 Faz exceção somente a Igreja armena que coincide e se concretiza na Tradição armena. 13 Considero importante, aliás necessário, repetir aqui uma lição elementar no sentido de enfatizar a enorme diferença entre distinguir e separar. Durante o meu serviço sacerdotal, inclusive dois anos na Nunciatura Apostólica na Ucrânia ( ), encontrei muitos católicos do rito latino ou de um dos diversos ritos orientais, incapazes de diferenciar estes dois verbos. Distinguir-se pelo próprio rito - patrimônio litúrgico, teológico, espiritual e disciplinar - e mantê-lo, não significa separar-se da Igreja católica, mas cumprir um dever previsto pela disciplina da mesma Igreja católica e enriquecê-la. A catolicidade não está num rito ou no outro! Nenhum dos 24 ritos (1 Romano /Latino/ e 23 orientais) não pode monopolizar a qualificação católico. É completamente errado dizer, por exemplo, rito católico. Todos os ritos são um inestimável patrimônio da Igreja católica. O cristão católico que não conhece essa realidade deveria solicitar com urgência uma lição de catequese elementar, pois não conhece a Igreja à qual pertence nem a sua visão eclesiológica dos diferentes ritos, podendo, por sua ignorância, cometer erros gravíssimos contra partes integrantes da Igreja católica e contra a união dos cristãos. 14 Cf. Orientalium Ecclesiarum, nn Mais tarde o Código dos Cânones das Igrejas Orientais (CCEO), promulgado pelo Sumo Pontífice João Paulo II em 1990, deu normas completas e precisas sobre a disciplina sacramental nas Igrejas católicas orientais sui iuris (cf. CCEO, can. 667 e seguintes). A título de exemplo, essa disciplina prescreve três Sacramentos da iniciação cristã para os católicos orientais: Batismo, Unção com o santo óleo do Crisma ( crismatio sancti Myri = crismazione del santo Myron ) e Divina Eucaristia. 15 Na Igreja católica ha dois diversos regimentos canônicos: o Código de Direito Canônico (CIC) è o regimento canônico da parte da Igreja católica do rito romano ou latino; o Código dos Cânones das Igrejas Orientais (CCEO) é o regimento próprio das 23 Igrejas católicas sui iuris dos diversos ritos orientais. Considero um grande auspício da Igreja católica que cada estudante, ao concluir a faculdade de teologia, conheça bem esta diferença (não separação!) e jamais cometa o erro gravíssimo em continuar afirmando que tudo é mesma coisa. Estudantes católicos pertencentes a uma das Igrejas católicas orientais sui iuris, que terminam a faculdade de teologia sem o devido curso sobre o próprio CCEO têm estudos teológicos incompletos.

12 reconhecimento mútuo de corpos eclesiais distintos 16, a Igreja Católica forma uma única Igreja encarnada em uma pluralidade de Igrejas locais ou particulares Igrejas sui iuris. Em outras palavras, estando em plena comunhão com o Papa e, portanto, também entre elas, as Igrejas católicas orientais sui iuris, juntamente à Igreja católica de rito Latino, fazem presente em cada uma delas, em cada uma das suas partes (dioceses ou eparquias), e no conjunto de todas elas, a única Igreja católica no mundo. Eis aqui o elenco dessas 24 Igrejas católicas sui iuris, distintas por tradição litúrgica: 12 Uma (1) IGREJA sui iuris de rito latino: Igreja católica latina, na qual se praticam vários ritos litúrgicos, mas esses ritos não devem ser confundidos com os ritos ou as Igrejas sui iuris orientais, isto é, esses ritos não formam Igrejas Particulares como nas Igrejas orientais. Entre tais ritos litúrgicos latinos constam: o Rito romano latino (o mais difundido e englobante); o rito ambrosiano - composto por São Ambrósio, da Igreja de Milão (Itália); o rito moçarábico - composto por São Leandro e São Isidoro em Toledo (Espanha); o rito bracarense (Braga - Portugal); e os ritos das ordens religiosas como os Beneditinos, Dominicanos, Cartuchos, Carmelitas Calçados e outros que guardam certos costumes litúrgicos diferentes da liturgia gregoriana, conservando assim os ritos antigos. Quinze (15) IGREJAS sui iuris de rito bizantino: Igreja católica ítalo-albanesa (na Itália, nas dioceses de Lungro e Piana degli Albanesi); Igreja greco-católica albanesa (Albânia); Igreja greco-católica bielorussa (Bielorússia); Igreja greco-católica búlgara (Bulgária); Igreja greco-católica croata (eparquia de Krijévtchi, na Croácia); Igreja greco-católica eslovaca (Eslováquia); Igreja greco-católica húngara (Hungria); Igreja greco-católica da Grécia (Grécia e Turquia); Igreja greco-católica macedônica (Macedônia); Igreja greco-católica melquita (Síria, Líbano, Israel, Palestina, Jordânia, 16 Como, por exemplo, a Comunhão Anglicana ou a federação luterana mundial.

13 Iraque, Egito, Brasil e comunidades médio-orientais no mundo); Igreja greco-católica romena (Romênia, Brasil); Igreja greco-católica rutena: eparquia de Mukátchevo, no estado Zakarpátia (Ucrânia) e na diáspora, especialmente nos Estados Unidos.; Igreja greco-católica russa (Rússia, Brasil); Igreja greco-católica da Sérvia e Montenegro (Sérvia e Montenegro); Igreja greco-católica ucraniana: 17 na Ucrânia (exceto a Eparquia de Mukátchevo ou seja, na Igreja greco-católica rutena) e na diáspora em muitos países: Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Estados Unidos, França, Paraguai, Polônia, e demais comunidades ucranianas no mundo. 18 Esta, em número, é a maior Igreja católica oriental no mundo. Duas (2) IGREJAS sui iuris de rito alexandrino: Igreja católica copta (Egito, Brasil); Igreja católica etíope (Etiópia, Eritréia e Brasil). Três (3) IGREJAS sui iuris de rito antioqueno ou siríaco ocidental: Igreja maronita (Líbano, Síria, Cipro, Israel, Palestina, Egito, Jordânia, Brasil e diáspora sírio-libanesa no mundo); Igreja católica siríaca (Líbano, Iraque, Jordânia, Kuwait, Palestina, Egito, Sudão, Síria, Turquia, Estados Unidos, Canadá, Venezuela e Brasil); Igreja siríaca malancarês católica (Índia). 13 Duas (2) IGREJAS sui iuris de rito siríaco oriental: Igreja Caldeia católica (Iraque, Iran, Líbano, Egito, Síria, Turquia, Estados Unidos); Igreja siríaca malabarês católica (Índia e Estados Unidos). Uma (1) IGREJA sui iuris de rito armênio: Igreja Armênia católica (Líbano, Iran, Iraque, Egito, Síria, Turquia, Israel, Palestina, Itália, Brasil e diáspora armênia no mundo). Observação: No Brasil somente três dentre as acima indicadas (Igreja greco-católica melquita, Igreja Greco-católica ucraniana e Igreja maronita) têm hierarquia formada. As outras não possuem hierarquia própria e têm como atual Ordinário Sua Excelência Reverendíssima Dom Walmor Oliveira de Azevedo (de Belo Horizonte). 17 No Brasil o seu nome é simplificado com o título Igreja Ucraniana Católica, distinguindo-a da Igreja Ucraniana Ortodoxa. Cf. KHATLAB, Roberto, As Igrejas orientais católicas e ortodoxas - tradições vivas, Ed. Ave Maria, São Paulo Nos últimos anos os ucranianos greco-católicos e também os ortodoxos, emigraram em massa para vários países, especialmente na Europa, em busca de emprego remunerado: Espanha, Itália, Portugal, Grécia e outros.

14 2. A IGREJA CATÓLICA PERANTE A PLURALIDADE DOS RITOS Nesta segunda parte respondo à pergunta de máxima importância: que posição a Igreja católica tomou em relação à pluralidade dos ritos? Isto é, qual é a visão eclesiológica da Igreja católica de todos estes diferentes ritos? 2.1. DIVERSIDADE E UNIDADE Vamos começar da Lumen Gentium: 14 Em virtude desta catolicidade cada uma das partes traz seus próprios dons às demais partes e a toda a Igreja. Assim o todo e cada uma das partes aumentam, comunicando entre si todas as riquezas e aspirando à plenitude na unidade. Daí resulta que o Povo de Deus não é só a reunião dos diversos povos, mas em sua estrutura interna é também composto de várias ordens. Pois há diversidade entre seus membros, quer de ofícios, enquanto alguns exercem o sagrado ministério a bem de seus irmãos; quer de condição e modo de vida, enquanto um maior número, no estado religioso, tendendo à santidade por um caminho mais estreito, estimula os irmãos com o seu exemplo. Por isso também na comunhão eclesiástica há legitimamente Igrejas particulares gozando de tradições próprias, permanecendo íntegro o primado da Cátedra de Pedro, que preside a assembleia universal da caridade, protege as legítimas variedades e ao mesmo tempo vigia para que as particularidades não prejudiquem a unidade, mas antes estejam a seu serviço. 19 Comentário: A Igreja católica não quer a uniformização dos ritos e Igrejas particulares (sui iuris), mas quer diversidade na unidade IDENTIDADE AUTENTICAMENTE CATÓLICA Juntamente com a Igreja de Rito Latino, nós, orientais católicos, formamos 24 Igrejas sui iuris, cada uma conservando as legítimas diferenças, mas todas enraizadas na mesma fé, portanto todas são católicas. A catolicidade e a 19 Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, n. 13.

15 identidade católica não consistem e não subsistem num dos 24 Ritos (o Latino e 23 orientais), mas na unidade em Cristo e na fidelidade ao Papa - único Pastor, e é nisso que consiste a nossa autêntica identidade católica. Repito: não existe um Rito que é católico ou algum Rito que não é católico. A Igreja católica NÃO UNIFORMIZA OS RITOS, mas quer que todos eles sejam mantidos, pois são um inestimável e comum patrimônio teológico, litúrgico, espiritual, cultural. Vejamos o que diz a nossa Igreja sobre isso: Tais Igrejas particulares, tanto do Oriente como do Ocidente, embora difiram parcialmente entre si pelo que chamam de Ritos, isto é, pela liturgia, pela disciplina eclesiástica e pelo patrimônio espiritual, são, todavia, igualmente confiadas ao governo pastoral do Pontífice Romano, que por determinação divina sucede ao Bemaventurado Pedro no primado sobre a Igreja universal SÃO IGUAIS NA DIGNIDADE, NOS DIREITOS E NAS OBRIGAÇÕES TODAS AS 24 IGREJAS CATÓLICAS SUI IURIS (UMA LATINA E 23 ORIENTAIS) 15 Por serem igualmente confiadas ao governo pastoral do Papa, todas as Igrejas sui iuris católicas gozam de dignidade igual, de modo que nenhuma delas preceda as outras em razão do rito; gozam dos mesmos direitos e se atêm às mesmas obrigações, também à de pregar o Evangelho em todo o mundo (cf. Mc 16,15), sob a direção do Pontífice Romano IGUAL DIREITO AO CRESCIMENTO E À HIERARQUIA PRÓPRIA EM QUALQUER PARTE DO MUNDO Proveja-se, portanto, no mundo inteiro, à tutela e ao incremento de todas as Igrejas particulares. E onde for necessário para o bem espiritual dos fiéis, constituam-se paróquias e hierarquia própria DIREITO E DEVER À DISCIPLINA PRÓPRIA 20 Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n. 4. (...) Tanto as Igrejas do Oriente como as do Ocidente têm o direito e o dever de se reger segundo as disciplinas

16 próprias peculiares, sempre que elas se recomendarem por veneranda antiguidade, forem mais côngruas aos costumes de seus fiéis e parecerem mais aptas a buscar o bem das almas A VARIEDADE NÃO É DIVISÃO, MAS MANIFESTAÇÃO DA UNIDADE ECLESIAL Entre elas 24 vigora admirável comunhão, de tal forma que a variedade na Igreja, longe de prejudicar-lhe a unidade, antes a manifesta 25. Essa unidade requer unidade da ação: 16 os Hierarcas das várias Igrejas particulares com jurisdição no mesmo território cuidem de, mediante encontros periódicos, favorecer a unidade da ação; e, unidas as forças, ajudem as obras comuns, a fim de promover mais desimpedidamente o bem da religião e proteger mais eficazmente a disciplina do clero. 26 (...) Longe de obstar à unidade da Igreja, certa diversidade de costumes e usos, como acima se lembrou, antes aumenta-lhe o decoro e contribui não pouco para cumprir sua missão. Por isso o Sagrado Sínodo, para tirar toda dúvida, declara que as Igrejas do Oriente, lembradas da necessária unidade de toda a Igreja, têm a faculdade de se governar segundo as disciplinas próprias, mais côngruas à índole de seus fiéis e mais aptas a atender ao bem das almas. A observância perfeita deste tradicional princípio, nem sempre respeitado, é condição prévia indispensável para a restauração da união O PATRIMÔNIO É COMUM O Santo Sínodo honra este patrimônio eclesiástico e espiritual, não só o estima com o justo louvor, mas também o considera firmemente como patrimônio da Igreja universal de Cristo Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n Isto é, entre as várias Igrejas particulares que no CCEO e nesta abordagem chamamos Igrejas sui iuris. 25 Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n Concílio Vaticano II, Decreto Unitatis Redintegratio, n Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n. 5.

17 2.8. CONSERVAR E ADAPTAR A intenção da Igreja Católica é que permaneçam salvas e íntegras as tradições de cada Igreja particular ou Rito, bem como quer igualmente adaptar seu modo de vida às várias necessidades dos tempos e lugares. 29 (...) Saibam e tenham certeza todos os Orientais de que sempre podem e devem observar seus legítimos ritos litúrgicos e sua disciplina; só serão introduzidas modificações em vista do progresso próprio e orgânico. Tudo isso, pois, deve ser observado pelos próprios Orientais com a maior fidelidade. E eles devem adquirir um conhecimento cada dia maior e um uso mais perfeito destes elementos. E se indevidamente os tiverem abandonado em vista das circunstâncias de tempos ou pessoas, procurem retornar às tradições ancestrais 30. (...) 17 Recomenda-se com instância às Ordens e Congregações de rito latino que trabalham nos países do Oriente ou entre os fiéis orientais, que, para maior eficácia do apostolado e na medida do possível, constituam casas ou mesmo províncias de rito oriental. 31 O rito dos Orientais separados (não católicos) não deve mudar caso eles queiram unir-se com a Igreja católica. A Igreja católica também reconhece todos os sacramentos dos Orientais separados, como também permite a administração dos sacramentos aos Orientais separados. Vejamos isso na expressão do Concílio: 29 Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n. 25. Dos Orientais separados que, sob o influxo da graça do Espírito Santo, se encaminham à unidade católica não se exija mais que a simples profissão de fé católica. E já que entre eles se conservou o sacerdócio válido, aos clérigos orientais que entram para a unidade católica dê-se a faculdade de exercerem a própria Ordem, segundo as normas estabelecidas pela competente Autoridade. 32

18 (...) Como essas Igrejas (trata-se de Igrejas Orientais não católicas), embora separadas, têm verdadeiros sacramentos, principalmente, porém, em virtude da sucessão apostólica, o Sacerdócio e a Eucaristia, ainda se unem mais intimamente conosco. 33 (...) 18 Postos os mencionados princípios, podem ser conferidos os sacramentos da Penitência, Eucaristia e Unção dos Enfermos aos Orientais que, de boa-fé, se acham separados da Igreja Católica, quando espontaneamente os pedem e estão bem dispostos. Também aos católicos é permitido pedir os mesmos sacramentos aos ministros acatólicos em cuja Igreja haja sacramentos válidos, sempre que a necessidade ou a verdadeira utilidade espiritual o aconselhar e o acesso ao sacerdote católico se torne física ou moralmente impossível APROVAÇÃO DA DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS O Santo Sínodo Ecumênico confirma, louva e, quando for o caso, deseja se restaure a antiga disciplina sacramentaria vigente nas Igrejas Orientais, assim como as práticas que se relacionam com sua celebração e administração. 35 (...) Seja plenamente restaurada a disciplina referente ao ministério da S. Crisma vigente entre os Orientais desde os tempos antigos. Daí que os presbíteros podem conferir este sacramento com o Crisma bento pelo Patriarca ou pelo Bispo. 36 (...) 33 Concilio Vaticano II Decreto Unitatis Redintegratio, n Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n. 13. Todos os presbíteros orientais podem administrar este sacramento a todos os fiéis de qualquer Rito, sem

19 excetuar o latino, seja juntamente com o Batismo, seja separadamente,... Também os presbíteros do Rito latino,... podem administrá-lo aos fiéis das Igrejas Orientais sem prejuízo do Rito, observadas porém as prescrições de direito comum ou particular para a liceidade IGREJAS CATÓLICAS ORIENTAIS TÊM PECULIAR OBRIGAÇÃO NA UNIÃO DOS CRISTÃOS Às Igrejas Orientais que vivem em comunhão com a Sé Apostólica de Roma compete a peculiar obrigação de favorecer, segundo os princípios do decreto sobre o Ecumenismo deste S. Sínodo, a unidade de todos os cristãos, principalmente os orientais (...) DEVER DA INSTRUÇÃO SOBRE OS RITOS E DO CONHECIMENTO RECÍPROCO ENTRE AS IGREJAS CATÓLICAS SUI IURIS 19 Todos os clérigos e os que vão ascendendo às ordens sacras sejam bem instruídos acerca dos Ritos e principalmente das normas práticas nas matérias interrituais; e até mesmo aos leigos, na instrução catequética, se ensine dos Ritos e suas normas 39. Os que, por motivos do ofício ou do ministério apostólico, têm contacto frequente com as Igrejas Orientais ou seus fiéis, busquem um melhor conhecimento e respeito dos ritos, da disciplina, da doutrina, da história e da índole dos Orientais, de acordo com a importância do cargo que exercem 40. Comentário: Prescindindo da sua causa (que pode ser a xenofobia, o distanciamento ou estranhamento por motivos subjetivos, falta de interesse ou oportunidade de aprender e conhecer) considero a ignorância como principal causa de muitos erros, especialmente aqueles que como consequência causam 37 Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n. 6. Cf. a prescrição do CCEO, cânones 40 e 41 sobre a instrução (ponto 2.12 desta abordagem).

20 20 graves danos para a unidade da Igreja católica e para o seu empenho ecumênico. Para superar essa ignorância a Igreja católica, tomando posição do mais alto nível que é o Concilio Ecumênico Vaticano II, dá a todos os católicos de todos os ritos um imperativo categórico: sejam bem instruídos acerca dos Ritos e principalmente das normas práticas nas matérias inter-rituais. Essa instrução tem destinatário bem definido: todos os clérigos e os que vão ascendendo às ordens sacras... e até mesmo aos leigos. Portanto, a Igreja católica não quer ver ninguém dos seus fiéis se estranhando reciprocamente. Ela não quer ver um católico do Rito Latino perguntando ao católico de um dos Ritos Orientais, ou vice-versa: por que vocês fazem assim e não como nós?, mas como vocês fazem essa parte, como vocês liturgicamente manifestam esse conteúdo da fé, o que significa no vosso rito tal gesto ou símbolo?... etc. A Igreja católica não quer ver seus fiéis de um dos ritos orientais numa sociedade majoritariamente latina (ou, no caso da Ucrânia fiéis de rito latino numa sociedade majoritariamente bizantina) perguntando: como sobreviver sem ser assimilados pela maioria? Como conseguir manter o nosso rito, o nosso patrimônio teológico, litúrgico, espiritual, cultural? A Igreja católica quer ver todos eles dando prova viva de que a variedade de ritos é manifestação da sua unidade e comunhão. 41 Em ocasião do centenário da Orientalium Dignitas do Papa Leão XIII, no dia 2 de maio de 1995 João Paulo II publicou uma carta apostólica Orientale Lumen, na qual reforçou a recomendação da Igreja católica do conhecimento recíproco entre os fiéis Latinos e Orientais: Penso que um modo importante para crescermos na compreensão recíproca e na unidade, consiste precisamente em melhorar o nosso conhecimento uns dos outros afirma, e indica entre outras coisas a necessidade de formar, em instituições especializadas sobre o Oriente cristão, teólogos, liturgistas, historiadores e canonistas, que, por sua vez, possam difundir o conhecimento das Igrejas do Oriente; oferecer, nos seminários e faculdades teológicas, um ensino adequado sobre tais matérias, sobretudo aos futuros sacerdotes. São indicações sempre muito válidas, sobre as quais desejo insistir com ênfase particular. 42 Para aprofundar tal conhecimento João Paulo II recomenda o contato recíproco, as iniciativas de intercâmbio e as peregrinações comuns. 43 Não é sem motivo que o Conselho Pontifício para a promoção da unidade dos cristãos, no DIRETÓRIO PARA A APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS E NORMAS SOBRE O ECUMENISMO, dedicou todo o capítulo III ao tema A formação para o ecumenismo na Igreja católica. 44 De fato, sem um conhecimento recíproco, respeito e colaboração entre as Igrejas católicas, mas especialmente sem uma adequada formação ecumênica dos fiéis, não é possível realizar nenhum plano ecumênico. 41 Cf. Concílio Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, n João Paulo II, Carta apostólica Orientale Lumen de 2 de maio de 1995, n Cf. o.c., n DIRETÓRIO PARA A APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS E NORMAS SOBRE O ECUMENISMO, Ed. Paulinas, São Paulo, 3ª Ed. 2004, nn

21 2.12. AS NORMAS DO CÓDIGO DOS CÂNONES DAS IGREJAS ORIENTAIS (CCEO) As orientações do Concilio Vaticano II adquirem no CCEO não somente um teor de recomendação ou pia exortação, mas constituem um dever jurídico, isto é, fazem parte dos direitos e deveres de todos os orientais católicos. Vejamos alguns cânones: Os orientais não católicos (ortodoxos) que entram em plena comunhão com a Igreja católica devem conservar e observar o próprio rito, sendo inscritos à Igreja católica sui iuris do rito correspondente ao próprio: Sobre a conservação do Rito: Os batizados acatólicos que chegam à plena comunhão com a Igreja católica, conservem em todos os lugares o próprio rito, respeitem-no e, segundo as próprias forças, observem-no em todos os lugares; sejam por isso inscritos à Igreja sui iuris do mesmo rito, salvo o direito de recorrer à Sé Apostólica em casos especiais de pessoas, de comunidades ou de regiões Os ritos das Igrejas orientais seja escrupulosamente observados e promovidos como patrimônio da Igreja universal de Cristo, no qual resplandece a tradição que provém dos Apóstolos por meio dos Padres, e que afirma a divina unidade da fé católica na verdade. 46 Evitar alterações do rito inclusive por razões ecumênicas: 1. Os Hierarcas cabeças das Igrejas sui iuris e todos os outros Hierarcas cuidem com máximo empenho a conservação fiel e a diligente observação do próprio rito e não lhe introduzam mudanças se não por razão de um seu orgânico progresso, levando todavia em consideração a recíproca fraternidade e a unidade dos cristãos. 2. Todos os clérigos e todos os membros dos institutos de vida consagrada devem observar fielmente o próprio rito assim como adquirir um conhecimento sempre maior e um exercício mais perfeito do mesmo. 45 CCEO, can. 35. (tradução minha). 46 CCEO, can. 39. (tradução minha).

22 3. Também todos os outros fiéis favoreçam o conhecimento e a estima do próprio rito e devem observá-lo em cada lugar, a não ser que alguma coisa seja excetuada pelo direito. 47 Sobre a instrução dos fiéis católicos, inclusive do rito latino: Os fiéis de qualquer Igreja sui iuris, também da Igreja latina, que em razão do ofício, do ministério ou do cargo têm frequentes relações com os fiéis de uma outra Igreja sui iuris, sejam formados com muito cuidado no conhecimento e na prática do rito da mesma Igreja, conformemente à importância do ofício, do ministério ou do cargo que cumprem CONCLUSÕES A Igreja católica ainda hoje sofre conseqüências dos erros causados pelo preconceito e pela dificuldade de certos fiéis em aceitar a diversidade dos Ritos e Igrejas sui iuris na unidade eclesiástica. Hoje, em conseqüência das migrações dos povos, não há separação nem distinção entre orientais e ocidentais no sentido geográfico, pois muitos orientais se encontram no ocidente, e ocidentais - no oriente. Inclusive os católicos de diversos ritos e Igrejas sui iuris. 49 Conhecerse reciprocamente e colaborar é a melhor solução. É completamente anacrônico hoje 50 pensar que a Igreja católica tem ou deve ter somente um Rito ou que em qualquer que seja diferença no Rito faz com que uma comunidade cristã não seja católica. Em base à visão da Igreja católica dos diversos Ritos e respectivas Igrejas sui iuris, é anacrônico e sem fundamento também a opinião de certos ortodoxos que argumentam ser uma tradição dos orientais não fazer parte da 47 CCEO, can. 40. (tradução minha). 48 CCEO, can. 41. (tradução minha). 49 Na Ucrânia, por exemplo, há várias Igrejas católicas orientais sui iuris (Igreja greco-católica ucraniana, Igreja greco-católica rutena e Igreja Armêna católica), mas também a Igreja católica latina esta última é minoria entre as outras, mas tem Hierarquia própria e é bem organizada. Outro exemplo, num território ocidental muito pequeno, isto é, no estato de New Jersy (Estados Unidos), com a Igreja católica latina há cinco Igrejas católicas sui iuris, cada uma com Hierarquia própria, com boas relações de colaboração entre todas. A situação do Brasil foi abordada no texto. 50 De fato essa visão não se justifica em nenhuma época da história da Igreja. Após o Cincílio Vaticano II, a promulgação do Código dos cânones das Igrejas Orientais e outros documentos, qualquer visão contrária à visão eclesiástica por parte dos católicos representa uma ignorância absurda. Um adequado conhecimento da história da Igreja, e das diversas Igrejas católicas orientais sui iuris em particular, é sempre uma grande ajuda para superar qualquer que seja visão distorcida da realidade atual.

23 Igreja católica. 51 Muitas pessoas manifestam a tendência de eliminar as legítimas diferenças, acham que precisa uniformizar os Ritos. Mas a Igreja católica não quer isso. Ela quer a diversidade na unidade em Cristo. A Igreja católica quer ser um rebanho espalhado em todo o mundo orientais e ocidentais sustentados pelas raízes de uma só fé, conservando o comum patrimônio dos diversos Ritos, formando todos juntos um só rebanho e um só Pastor (Jo 10,16). Múltiplos, diversos, mas unidos. Teoricamente isso é muito belo e fácil. Tornar essa bela verdade em vida requer de cada um o devido esforço do conhecimento recíproco através de uma instrução autenticamente católica em todas as faculdades católicas de Teologia. Isso requer a formação do clero e dos catequistas que, conhecendo a Igreja católica e a sua visão dos diferentes Ritos, transmitam tal conhecimento às novas gerações. O conhecimento recíproco requer encontros e contatos freqüentes, especialmente entre os líderes e representantes das diversas Igrejas sui iuris que se encontram no mesmo território. Os atuais meios de comunicação com certeza podem favorecer este conhecimento. Certos erros cometidos por falta de conhecimento da visão eclesiológica não se justificam mais meio século depois do Concílio Vaticano II e vários outros documentos citados. Entre os que se conhecem como católicos, não obstante a diversidade de Ritos,é possível o respeito recíproco. E entre os que se respeitam reciprocamente, inclusive em cumprimento das prescrições da disciplina eclesiástica 52, torna-se possível também a colaboração recíproca favorecendo assim a unidade da ação recomendada pelo Concílio Cada uma das 23 Igrejas católicas orientais sui iuris, não deve tornar o seu Rito mais semelhante ao Rito latino para manter ou garantir a própria catolicidade. Pelo contrário, deve conhecer, amar e manter o Rito da própria Igreja sui iuris. Não deve haver diferença entre o Rito de uma das Igrejas católicas orientais sui iuris e a sua correspondente Igreja oriental ortodoxa (ou acatólica): a diferença, por exemplo, entre uma Igreja ortodoxa ucraniana e a Igreja grecocatólica ucraniana consiste somente no fato que a primeira é separada da Igreja católica e a segunda faz parte da Igreja católica. Portanto, não só do ponto de vista do Rito, mas também do ponto de vista arquitetônico, é possível saber se uma Igreja oriental é católica ou ortodoxa (acatólica) somente por meio de uma placa ou de uma pessoa competente que a define. Ser católicos hoje significa pertencer a uma Igreja de orientais e ocidentais com 24 Ritos e Igrejas sui iuris diferentes. Significa conhecer a visão da Igreja católica em relação aos diversos Ritos e observar as prescrições da mesma Igreja sobre essa diversidade, pertencendo fielmente a uma dessas Igrejas católicas sui 51 Infelizmente, por causa de preconceitos e falta de adequado conhecimento, ainda hoje acontecem casos em que certos ortodoxos não reconhecem os sacramentos de nenhuma das Igrejas católicas sui iuris, nem mesmo das orientais, e consideram as Igrejas católicas orientais um obstáculo para a união dos cristãos e até heréticas por serem unidas com o Romano Pontífice, mantendo o próprio Rito. 52 Principalmente o Código de Direito Canônico (CIC) è o Código dos Cânones das Igrejas Orientais (CCEO). 53 Cf. Concílio Vaticano II, Decreto Unitatis Redintegratio, n. 16.

24 iuris conforme as mesmas prescrições eclesiásticas. Obediência à Igreja é de sentir e pensar com a Igreja, assimilando também a visão que a Igreja católica tem de si mesma. Mas sempre que se fizer necessário para o cultivo da diversidade na unidade, REPARTIR, RECOMEÇAR DE CRISTO, recebendo e realizando o que Ele nos faz e nos pede: Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos! (Mt 28,19-20). 24

25 Artigos A TEOLOGIA E ESPIRITUALIDADE DA LITURGIA ORIENTAL Pe. Mario Marinhuk, OSBM * RESUMO: A centralidade do mistério de Cristo para as Igrejas Católicas Orientais está na celebração da Divina Liturgia. Ao contrário da Igreja Romana, os orientais fazem girar sua razão de ser na liturgia, a ponto de dizer nós não criamos a nossa liturgia, mas é ela que nos cria. Antes de ser pensada, teologizada, estudada ou explicada, ela é vivenciada. Pois, ela faz experimentar e realizar o mistério de Cristo. Ela visa, portanto, tornar os fiéis outros Cristos, con-formados a Ele e co-edificados nele. Da liturgia é que brota a teologia (só quem reza verdadeiramente faz teologia verdadeira). A liturgia, inclusive, é o lugar da teofania (da manifestação do Divino). E nela o ser humano vai se divinizando. A partir desta centralidade, o texto justifica os diferentes ritos, compara e distingue comportamentos das Igrejas Orientais e latina, a motivação de suas diferenças etc. E concluí afirmando: nossa liturgia é essa realidade: Jesus Cristo em nós. 25 PALAVRAS CHAVE: Unidade e diversidade; Divina Liturgia; Teofania; Igrejas Orientais; Espiritualidade. ABSTRACT: The centrality of the mystery of Christ to the Eastern Catholic Churches is the celebration of Divine Liturgy. Unlike the Roman Church, the Orientals are turning their reason for being in the liturgy, to the point of saying: we do not create our liturgy, but is it what creates us. Before it be thought, theologized, studied or explained, it is experienced. Because, she does experiment and achieve the mystery of Christ. It therefore aims to turn faithful into other Christs, con-formed to him and co-edified him. The liturgy is the theology that springs (only those who pray truly makes true theology).the liturgy, indeed, is the place of theophany (revelation of the Divine). In addition, It from there the human becoming divine. From this centrality, the text justifies the different rites, compares and distinguishes behaviors of Latin and Oriental Churches, the motivation of their differences and so on. Moreover, it concludes by saying: our liturgy is this reality: Jesus Christ in us. KEYWORDS: Unity and diversity, Divine Liturgy, Theophany, Eastern Churches, Spirituality. * Bacharel em teologia. Doutorando em Ciencias Eclesiásticas Orientais no Pontifício Instituto Oriental, Roma.

26 1. A BUSCA DA UNIDADE NA DIVERSIDADE 26 A santa Igreja católica, Corpo místico de Cristo, consta de fiéis que se unem organicamente no Espírito Santo pela mesma fé, pelos mesmos sacramentos e pelo mesmo regime. Juntando-se em vários grupos unidos pela Hierarquia, constituem as igrejas particulares ou os ritos. Entre elas vigora admirável comunhão, de tal forma que a variedade na Igreja, longe de prejudicar-lhe a unidade, antes a manifesta. Pois esta é a intenção da Igreja católica: que permaneçam salvas e íntegras as tradições de cada Igreja particular ou rito. E ela mesma quer igualmente adaptar a sua forma de vida às várias necessidades dos tempos e lugares (OE N.2). Portanto, existe unidade e também a diversidade na Igreja de Cristo. Realidades que se manifestaram no decorrer da história, que jamais deveriam criar problemas, mas enriquecer gradualmente a Igreja de Cristo. Unidade significa que a Igreja é um corpo formado de membros animados pelo mesmo Espírito Santo. Diversidade significa que os membros deste mesmo corpo são realmente diferentes, mas cada um contribui segundo a sua natureza para o bem estar do corpo inteiro. Quando falamos de diversidade de nenhuma forma devemos pensar na ruptura da unidade, a qual não foi desejada por Cristo. Acreditamos que a Igreja é uma porque provém de um único Deus, acreditamos também que essa mesma Igreja é diversa porque é católica. Essa é universal porque serve a um único Deus, mas abraça diversos povos. Afirmamos com os Padres do Concílio de Nicéia (325) e Constantinopla (381), que a Igreja é uma e universal, um corpo animado pelo mesmo Espírito, mas constituída de diversos membros. A revelação divina é única, mas a comunidade humana à qual a revelação se manifestou é diversificada. No mundo existem povos, culturas e manifestações religiosas diferentes, todas com a sua história, sua tradição, sua língua específica e diversas expressões, as quais necessariamente devem ser respeitadas, pois é através desse universo de variedades que o todo se completa. Segundo Robert Taft: As diferenças culturais provocaram a primeira crise enfrentada pela Igreja primitiva: o problema do particularismo diante do universalismo, da diversidade diante da uniformidade. A grande tentação dos cristãos foi a não percepção de que é através da infinidade dos particularismos e pela consequente diversidade que a Igreja pode realizar plenamente a própria universalidade 1. 1 TAFT, Robert. Liturgia come espressione di identità ecclesiale. In: SILVESTRINI, Achile (ed.). L identità delle Chiese Orientali Cattoliche: Atti dell incontro di studio dei Vescovi e dei Superiori Maggiori delle Chiese Orientali Cattoliche d Europa. Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana 1999, p. 120.

27 Todavia, para uma grande parte dos ocidentais dos tempos anteriores ao Concílio Vaticano II, existia um único conceito de Igreja, a Igreja católica universal romana, enquanto as demais não passavam de ritos existentes dentro da Igreja católica apostólica romana. A partir desse modo de pensar, foi-se formando uma profunda idéia de latinização, com a descaracterização de uma das partes integrantes da Igreja católica, aquela de tradição oriental. Em consequência, foi empobrecido o conceito de Igreja universal, pela criação da confusa idéia de subordicionalismo das Igrejas orientais em relação à Igreja de Roma. Essa concepção um tanto minimalista de Igreja, que desconhece a realidade histórica e eclesial das Igrejas do Oriente, permitiu a expansão e aprofundamento da latinização das Igrejas orientais católicas. Tal situação também levou ao empobrecimento do conceito de Igreja Oriental no meio do clero e dos fiéis da Igreja latina, além de ter infelizmente incidido sobre a praxe litúrgica e disciplinar oriental, alterando inclusive a sua atuação pastoral. Tudo isso se deve ao fato que, os ocidentais possuíam um conceito unilateral do Oriente: generalizavam o mal e negligenciavam o lado positivo da questão. Generalizavam demais os defeitos e abusos introduzidos na Igreja Oriental depois da separação, sem apreciar a perfeita conservação das tradições históricas. Não se fazia outra coisa além de colocar em evidencia todos os defeitos e imperfeições dos Orientais, fomentando com isso o desprezo e o ódio. 27 Tais idéias discriminatórias e subordinacionalistas foram lentamente se enraizando no meio eclesial, e inclusive foram transplantadas pela Igreja de tradição latina para os diversos continentes em missão, dificultando o posterior diálogo entre os Ortodoxos e a Igreja de Roma. Aqueles, na verdade, percebendo o preconceito e a aversão dos latinos, reagiram com firmeza, bloqueando qualquer possibilidade ecumênica. E aqui temos um dos principais motivos do distanciamento do Oriente cristão em relação aos católicos ocidentais; aqui se encontra a raiz das dificuldades pelas quais passa atualmente o diálogo ecumênico. 2. A DIVINA LITURGIA UM DOS COMPONENTES DO PATRIMÔNIO DAS IGREJAS ORIENTAIS Nas Instruções para a aplicação das prescrições litúrgicas do Código dos Cânones das Igrejas Orientais, a Sé Apostólica deixa claro que o patrimônio oriental vai além da liturgia. Não devemos reduzir o patrimônio específico das Igrejas Orientais somente na dimensão litúrgica. Por causa da sacralidade dos ritos, a riqueza dos textos passou-se a sublinhar exageradamente a liturgia como o único patrimônio específico dos orientais, esquecendo-se das outras riquezas que profundamente caracterizam as Igrejas cristãs do Oriente. A valorização teológico-simbólica e espiritual, a peculiaridade disciplinar dos orientais também faz parte do patrimônio indiviso da Igreja universal.

28 Podemos afirmar então que a liturgia é a expressão mais perfeita e oficial de tudo o que anima qualquer que seja a tradição. Todavia, essa não é absolutamente a única componente de uma particular tradição. Os ritos tanto da Igreja oriental quanto ocidental incluem também todos os outros elementos que se espera encontrar numa cultura católica: escola de Teologia com seus Padres e seus Doutores, disciplina canônica, devoções, monacato, arte, arquitetura, hinos, música e também o próprio espírito que criou tal tradição, que por sua vez se nutre de tal tradição e é essencial para a sua identidade. 28 Importa deixar claro que para os orientais o rito não é somente um modo diferente de celebrar a missa. É um patrimônio especial com sua riqueza peculiar. Diferencia-se do rito romano pela diversidade de solenidades, pelos seus santos próprios e por tempos específicos de jejuns, santuários característicos, peculiares devoções e diversas práticas devocionais, além de contar com uma particular estrutura hierárquica e Direito Canônico próprio. Portanto, o espírito oriental busca manter uma afinidade bastante estreita com a sua liturgia, fazendo acontecer a união do rito com a cultura e a devoção religiosa. Por esse motivo podemos afirmar que para o oriental, a liturgia não é uma das várias tarefas espirituais: ela é o evento central da vida cristã, expressão suprema da vida em Deus. Desse modo, para o fiel greco-católico ucraniano, tanto quanto para os demais fiéis orientais, a revelação salvífica de Deus torna a pessoa capaz da vida divina, e a liturgia é o terreno privilegiado do encontro entre o humano e o divino. É o lugar da teofania, lugar no qual o homem vem sendo iniciado na vida divina participando no mistério da redenção. Aqui está a razão do emigrante ucraniano, ao se deslocar para o território brasileiro, ter sentido tão intensamente a falta da própria estrutura eclesial, do próprio rito, das tradições, dos sacerdotes. E isso criou nele o grande desejo de que toda essa riqueza espiritual fosse, o mais rápido possível, transplantada para as novas terras. As Igrejas orientais vivem, de fato, ao redor de sua liturgia. Esta liturgia ajuda os fiéis a vivenciarem uma fé centralizada nos dogmas, mas também e ao mesmo tempo, os identifica como um povo concreto. Para os orientais, a liturgia foi sempre concebida como vida, e vida sacramental na Igreja. Através dela, o cristão oriental vive o kerigma (do grego: κηρύσσω, que literalmente significa: proclamar. Palavra usada no Novo Testamento para indicar o anúncio da mensagem cristã). A liturgia se manifesta num ambiente familiar, num lugar de encontro: ela avança além dos murros da igreja. Por isso podemos dizer com firmeza que foi através da liturgia que a Igreja greco-católica ucraniana assegurou a sobrevivência de uma fé inabalável entre os ucranianos, capaz de ajudá-los a enfrentar e a vencer as muitas adversidades e perseguições.

29 3. O QUE MOTIVOU A DIVERSIDADE: Sabemos que a liturgia no Oriente se desenvolveu durante os séculos nos quais a Igreja se ocupava principalmente dos mistérios da trindade e da encarnação. O grande esforço dos Padres da Igreja do Oriente (Atanásio, Basílio, Gregório Nazianzeno, Gregório de Nissa entre outros século IV) foi o de explicar teologicamente os grandes dogmas da fé cristã: a Trindade e a Encarnação. Consequententemente a liturgia se apresenta como o eco dos primeiros grandes concílios da Igreja (Nicéia I 325 e I Concílio Constantinopolitano 381). A liturgia no Ocidente se desenvolve quando a Igreja Ocidental procurava entender e exprimir o dom da graça (Agostinho Pelágio e seus seguidores a partir de 400 d.c.) que não pode ser conquistada por alguma força humana. Por isso, nas orações litúrgicas a afirmação que a graça é um dom gratuito de Deus é repetida constantemente A mesma fé, com ênfase diferente. No Oriente do primeiro milênio se desenvolve a veneração dos ícones: imagens sagradas de uma beleza transcendental que não somente representam mas tornam presente aos fiéis o mistério da fé. Esta devoção demonstra um respeito extraordinário da majestade de Deus e a grandeza dos seus santos e uma familiaridade dos mistérios mais sublimes. 29 No Ocidente do século treze se desenvolve uma memória afetuosa pela vida terrestre de Cristo, pela sua humanidade. Inicia-se a era dos presépios e crucifixos realísticos. Os cristãos se alegravam diante de um presépio e se entristeciam aos pés do crucifixo. A mesma devoção, símbolos diversos. No Oriente, a teologia, isto é a procura pela compreensão dos mistérios se tornou cada vez mais contemplativa e menos analítica. No Ocidente, a contemplação não era ausente, mas a tendência pela analise tornou-se mais forte. O mesmo escopo, diversos caminhos. Oriente cristão, observa todo o acontecimento que envolveu a pessoa de Jesus Cristo partindo do Mistério. Por isso, segundo os orientais, a basílica onde Jesus Cristo morreu e ressuscitou no Domingo de Páscoa sempre foi denominada, a Basílica da Ressurreição. Os ocidentais observam esta mesma Verdade partindo da historicidade, isto é, do que ela realmente foi. Para isso, a teologia latina acentua o Cristo histórico, isto é, a pessoa humana de Jesus Cristo. Segundo os ocidentais, a basílica onde aconteceu a morte e ressurreição de Jesus Cristo sempre foi denominada, a Basílica do Santo Sepulcro.

30 O sinal da cruz ocidental: cinco dedos unidos manifestam as cinco chagas de Cristo, como também uma saudação a toda criação de Deus. A testa simboliza o céu e a sabedoria, o peito simboliza o infinito amor de Jesus, e os ombros significam o poder de Deus e uma oração ao Espírito Santo. 30 O sinal da cruz Oriental: unem-se os três primeiros dedos da mão direita, simbolizando a Trindade, enquanto que os dois dedos restantes, pressionados contra a palma, simbolizam a dupla natureza de Jesus Cristo. Dizendo Em Nome do Pai, tocamos com esses três dedos unidos primeiro a testa e, seguidamente, na zona da cintura, simbolizando que o Pai é o Criador do Céu e da Terra; em seguida, dizemos e do Filho e tocamos com os três dedos unidos no ombro direito - porque o Filho, Jesus Cristo, ressuscitou e sentou-se à direita do Pai; finalmente, dizemos e do Espírito Santo, tocando com os três dedos unidos no ombro esquerdo - o Filho e o Espírito Santo são os dois braços do Pai agindo na Criação. Deste modo, traçamos uma cruz sobre o nosso próprio corpo, afirmando, simultaneamente, a nossa fé na Santíssima Trindade e na essência de Cristo. Por se tratar de outro gênio e temperamento, diferentes rituais e devocionais, os orientais acreditam na aparição e intercessão da Virgem Maria, porém para o mundo oriental, as aparições de Fátima, Lurdes, Guadalupe, Medjugorje não são manifestações de um mundo cristão universal. Pois a Virgem Maria aparece sem ter entre os braços o Filho uma imagem perfeitamente ocidental, inconcebível no contexto cultural do rito bizantino, onde a Virgem Maria é a Theotókos, a geradora de Deus, tendo total mérito de carregar o seu Filho divino. Inseparável de seu Filho. Nas suas aparições, a Virgem Maria não recomenda as práticas do Akathistos, Paraklesis (celebração que se realiza através do canto dos cânones, salmos, hinos e litanias), a oração de Jesus, Canon de Santo André de Creta. Toda a supracitada variedade de expressão revela a insuficiência do conhecimento da liturgia sem um estudo prévio do contexto histórico-social no qual ela se formou. Sabemos que a liturgia deve necessariamente ser vivenciada, antes de ser estudada ou explicada. Segundo oriente cristão, uma teologia que não procede da vida não é teologia, mas um simples exercício acadêmico. Uma teologia que não procede da oração não chega ao seu máximo escopo. Dizia Evagrio Pontico ( ), amigo intimo de São Basílio e de Gregório Nazianzeno que Somente o teólogo (contemplativo), verdadeiramente reza e somente quem reza è verdadeiramente teólogo.

31 Não podemos imaginar conhecer a liturgia oriental sem ter em mente a teologia sobre o Espírito Santo de Basílio Magno, sem as definições do I Concilio de Constantinopla (381), sem a vitória sobre o iconoclasmo (843) e sem as composições litúrgicas de Teodoro Studita e de São João Damasceno. Com a liturgia acontece o mesmo que acontece com o aprendizado da língua. Não se pode inventar uma liturgia, assim como não se pode inventar uma língua. Não se cria a sua língua materna, mas se aprende como parte essencial da hereditariedade cultural que existe precedentemente e independente da nossa vontade, goste ou não dela. Em outras palavras, nós não criamos a nossa liturgia, mas é ela que nos cria. A profundidade e a amplitude dos ritos derivam dessa realidade, isto é, o verdadeiro autor é sempre a Igreja que celebra, e não qualquer indivíduo, mesmo ele sendo o mais santo e dotado ou sábio legislador. 4. DIVINA LITURGIA ÍCONE DA VIDA CRISTÃ A liturgia é uma realidade objetiva, a qual não significa o que pensamos, sentimos, imaginamos ou que gostaríamos que ela fosse, mas o seu significado está nos dados da tradição cristã. Por isso, aprendemos sobre ela, observando a sua integralidade, observando-a desde a sua origem. 31 Já os Padres da Igreja do Oriente (Basílio Magno, Gregório Nazianzeno, Gregório de Nissa, Dionísio Areopagita, Gregório Palamas, João Damasceno, Nicolau Cabasilas) advertiam a impotência das palavras para exprimir a plenitude dos Divinos Mistérios, recorrendo seguidamente ao apofatismo, aos símbolos iconográficos e litúrgicos. Toda a afirmação sobre Deus, apenas atingida, passa a ser superada em razão da insondável profundidade da essência divina (essência energia). A vida litúrgica e sacramental encentrada em Cristo e no mistério pascal como coração do amor trinitário é a fonte viva de todo o caminho ascético. Por isso a experiência litúrgica e arte icônica tornaram-se traços característicos e os mais expressivos veículos da espiritualidade oriental, a qual possui como nutrimento espiritual não somente o ensinamento doutrinal dos sermões, mas a liturgia no seu pleno significado. É aqui que se dá a razão dos orientais não simpatizarem tanto com a Suma Teológica ou com o sistema escolástico. É uma convicção vinda dos Padres da Igreja de que não é bom especular sobre os mistérios, é melhor contemplá-los, deixar iluminarem e deixar que eles penetrem lentamente com a sua luz, assim, sem a racionalização o mistério torna-se iluminante. É dessa convicção que vem uma espiritualidade muito mais litúrgica e iconográfica do que discursiva, conceitual e doutrinária.

32 Em outras palavras, a visão integral da espiritualidade litúrgica oriental não é outra que a pura e autêntica vida mística e sacramental, a vida da pessoa humana com Deus e diante de Deus, assim como foi na vida de Cristo encarnado, o fundamento ontológico, medida e critério da verdadeira vida da Igreja. A ascese cristã não é um fato privado, mas sempre um evento eclesial, uma obra de comunhão, de participação pessoal na unidade da vida da Igreja que na liturgia possui o seu fundamento constitutivo, a sua fonte de graça e de salvação. 32 A liturgia da Igreja oriental contém um ensinamento dogmático, bíblico, moral muito importante. Ela ajuda os fiéis a viver a fé resumida nos dogmas e ao mesmo tempo ajuda a viver a própria identidade. A fé resumida nos dogmas, a qual se exprime nos decretos dos concílios ecumênicos, nas decisões do magistério eclesiástico, nos decretos papais, vem sendo vivenciada e professada da parte das Igrejas particulares unanimemente. No campo dogmático não pode existir diferença entre as Igrejas. A diferença está na fé professada. É isso que indica o modo dos fiéis viverem a sua fé, o que ela significa nas suas vidas, e em que modo a liturgia expressas a identidade. Através dos textos litúrgicos da Igreja oriental os fiéis recebem um auxílio eficaz para viver a fé mais conscientemente. A liturgia oriental se estende e se dissolve nos textos, nas orações, nos hinos dos ofícios. A liturgia da Igreja oferece uma ajuda excelente. Os textos litúrgicos tocam quase todos os temas da dogmática, oferecendo ensinamentos severos nos diversos campos. Por isso que a liturgia desde os tempos antigos tinha o papel tão importante também no campo da catequese. A cena da criação pintada por Michelangelo na Capela Sistina representa o dedo de Deus, que doa a vida que estende o braço, quase tocando o dedo reclinado de Adão. A liturgia, segundo os Padres da Igreja (Santos Padres), é tudo o que preenche o espaço entre os dedos de Deus e de Adão. Para eles, a liturgia era a suprema expressão de toda a oikonomia (todas as obras de Deus por meio das quais ele se revela e comunica sua vida. E mediante a Oikonomia que nos é revelada a Theologia ; mas, inversamente, é a Theologia que ilumina toda a Oikonomia ), a relação contínua e salvífica entre Deus e nós, a escada de Jacó da história da salvação. Na metáfora da Capela Sistina, o dedo de Deus é um dedo que cria, que concede a vida, que salva, que redime, um braço que sempre se estende em direção a nós. A história da salvação é uma história das nossas mãos erguidas (ou não) no acolhimento e em ação de graças pelo dom da vida. A Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II afirma a mesma coisa de uma forma diferente quando diz: A Liturgia, pela qual, especialmente no sacrifício eucarístico, se opera o fruto da nossa Redenção, contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos

33 outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos (SC 2). Esta teologia da liturgia cristã provém do princípio fundamental do Novo Testamento que ensina que toda a história da salvação é recapitulada e personificada em Jesus Cristo. Tudo na história sagrada todo evento, lugar sagrado, teofania, culto foi assumido na pessoa de Jesus Cristo encarnado. Ele é a eterna palavra de Deus, a sua nova Criação, o novo Adão, a nova Páscoa e o seu cordeiro, a nova aliança, a nova circuncisão e a maná celeste, o templo de Deus, o novo sacrifício, a era messiânica que deve vir. Tudo isso que veio antes se cumpriu Nele. Esta revelação coloca fundamento para todas as teologias cristãs da liturgia e da espiritualidade. O verdadeiro culto, agradável a Deus não é nada mais que a vida, morte e ressurreição salvífica de Cristo. Esta liturgia da vida, a nossa verdadeira liturgia cristã, é a comum celebração eclesial da nossa salvação em Cristo. Como tal, é a mais perfeita expressão e realização da espiritualidade da Igreja. A vida espiritual é a vida em Cristo, e esta vida é criada, nutrida e renovada na liturgia. Sendo a nossa identidade fundamental cristã, por isso, ser cristão implica ser outro Cristo. Assim a liturgia passa a ocupar um lugar por excelência na vida espiritual de cada pessoa cristã, porque é na liturgia que o próprio Cristo nos torna outro Cristo conformando-se a si mesmo. 33 Este é o motivo pelo qual a liturgia foi sempre considerada o centro da vida da Igreja, ela é a linguagem com a qual a Igreja diz o que ela é. O escopo principal da liturgia é gerar na nossa vida aquilo que a Igreja realiza por nós no seu culto público: experimentar e realizar o mistério na nossa vida, tornar-se outros Cristos através da nossa espiritualização (deificação, divinização). A Vida espiritual não é nada mais do que a relação pessoal com Deus e a liturgia é a comum expressão da relação da Igreja com Deus. Este é um ensinamento não somente católico. Diz respeito à teologia do mistério dos Padres da Igreja e aos clássicos comentaristas bizantinos da liturgia, que afirmam que a liturgia não é nada mais do que obra salvífica do Unigênito Filho de Deus que continua. Foi isso que levou um dos grandes Padres latinos, Papa Leão I ou São Leão Magno (pontificado ), a dizer: Tudo o que era visível na vida do nosso redentor passou para os ritos sacramentais. Em outras palavras, aquilo que Jesus fez historicamente durante a sua vida terrena, continua fazendo sacramentalmente através dos mistérios litúrgicos que celebra a sua Igreja.

34 Através da liturgia que o Espírito de Cristo nos torna mais cristãos, inserindo-nos na vida de Cristo e conformando-nos a essa, nutrindo e reforçando continuamente essa vida em nós. A liturgia é um encontro atual, é salvação que acontece no presente. Este acontecimento do passado é direcionado ao futuro. Assim como Cristo cumpriu toda a promessa, com a finalidade de assemelharmo-nos a Ele, tornandose uma só pessoa em Cristo. 34 Para exprimir esta identificação com Cristo, São Paulo usa muitos verbos que iniciam com a preposição com: sofro com Cristo, sepultados com Cristo, ressuscitado e vivo com Cristo, levado ao céu e sento à direita do Pai com Cristo. Trata-se de um dos modos paulinos de sublinhar a necessidade da participação pessoal na redenção. Devemos revestir-se de Cristo (Gl 3, 27) e assemelhar-se a ele. Afirmar com Paulo: Com Cristo eu sou crucificados, vivo, mas não sou mais eu, é Cristo que vive em mim (Gl 2, 19-20). A liturgia é uma celebração da vida cristã, uma comum celebração daquilo que nos tornamos e estamos e incessantemente nos tornamos em Cristo. A nossa liturgia é essa realidade; Jesus Cristo em nós. A verdadeira Divina Liturgia acontece quando somos atraídos por Cristo. A nossa liturgia encontra um terreno privilegiado para acontecer esse encontro entre o Divino e o humano, uma teofania ou revelação da presença salvífica de Deus entre nós no mundo de hoje. É por isso que nós damos por concluída essa colocação com um fragmento da oração eucarística (anáfora) bizantina de São João Crisóstomo, na qual o santo não se cansa de repetir: É digno e justo celebrar-vos, bendizer-vos, louvar-vos, dar graças e adorar-vos em todo tempo e lugar, porque Vós sois o Deus inefável, insondável, invisível, acima de toda a compreensão; Vós existis desde sempre e sempre sois o mesmo, Vós, Pai, e o vosso Filho Unigênito e o vosso Espírito Santo. Vós nos criastes, do nada nos trouxestes à existência e, depois que caímos, nos reerguestes e não cessastes de fazer tudo para nos conduzir ao céu e nos doar o vosso reino vindouro. Por tudo isso rendemos graças a Vós, Pai e ao vosso Filho Unigênito e ao Espírito Santo. Damos graças por todos os benefícios que fizestes em nosso favor, conhecidos ou desconhecidos, manifestos ou ocultos. Também rendemos graças por esta liturgia que vos dignastes de receber das nossas mãos, ainda que diante de Vós estejam multidões de arcanjos e anjos, querubins e serafins, cantando o hino triunfal.

35 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BÍBLIA SAGRADA. Tradução Ecumênica TEB. São Paulo: Paulinas / Loyola, GLINKA, Luis. Introducción a la Liturgia Bizantina Ucraniana. Buenos Aires: Editorial Lúmen, FARRUGIA, Edward (ed.). Dizionario Enciclopedico Dell Oriente Cristiano. Roma: Pontificio Istituto Orientale, SACROSANCTUM CONCILIUM OECUMENICUM VATICANUM II. Constitutio de Sacra Liturgia. AAS 56, dec SACROSANCTUM CONCILIUM OECUMENICUM VATICANUM II, Orientalium Eclesiarum. AAS 57, nov SILVESTRINI, Achile (ed.). L identità delle Chiese Orientali Cattoliche: Atti dell incontro di studio dei Vescovi e dei Superiori Maggiori delle Chiese Orientali Cattoliche d Europa. Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana,

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37 Artigos ÍCONES: TEOLOGIA, SIMBOLOGIA E MÍSTICA + Paulo (Dionísio) Lachovicz * RESUMO: As três dimensões do ícone teologia, simbologia e mística são inseparáveis: nasceram e permanecem unidas. Isto porque no ícone se encontra a expressão litúrgica gráfica da mensagem evangélica, que nos leva a contemplar as realidades divinas e espirituais. Ele é um texto/imagem onde o Espírito faz a memória de Deus e o comunica. Ele é a morada de Deus. É parte integrante da Divina Liturgia, pois se torna a expressão que envolve o mistério divino, como visão sacramental. Assim, ele só faz sentido para além da beleza artística por induzir àquele que o contempla a decodificar seu simbolismo e a entrar em comunhão com Deus. Antes de teorizar e/ou teologizar, é necessário experimentar Deus através do ícone, para embebecer-se com seu significado religioso-litúrgico, evitando sua folclorização. 37 PALAVRAS CHAVE: Ícone: Visão sacramental; Vivência litúrgica; Icononologia. ABSTRACT: The three dimensions of the icon - theology, symbolism and mystical - are inseparable: born and remain united. Because in the icon is a graphical liturgical expression of the Gospel message, which leads us to contemplate the divine and spiritual realities. It is a text / image where the Spirit is God s memory and communicates. He is the abode of God. It is part of the Divine Liturgy, because it becomes the visible expression that involves the divine mystery, as sacramental vision. So it only makes sense beyond the artistic beauty by to induce him who contemplates it to decode its symbolism and entering into communion with God. Before to theorize and-or theologize, we need to experience God through the icon and to get drunk with its religious-liturgical significance, avoiding folklore. KEY WORDS: Icon; Vision sacramental; Liturgical experience; Iconology. * Visitador apostólico para ucranianos greco-católicos na Italia e Espanha.

38 Introdução O tema proposto não pertence à minha especialização acadêmica, no entanto ele sempre me preocupou e me cativou. Fui descobrindo o seu significado passo a passo, com leituras e meditações, e na medida em que começava a entender e compenetrar-me, tentava também passar para os outros, em primeiro lugar com rápidos cursos de liturgia, e, em seguida com a direção de Retiros aos religiosos com a ajuda de ícones. Mas a descoberta definitiva se deu na vivência litúrgica durante a minha atividade missionária e acadêmica na Ucrânia, onde tive a graça de descobrir a inesgotável riqueza teológica da liturgia oriental, do papel do canto litúrgico, dos ícones e iconóstases. 38 O nosso tema será proposto sob três dimensões: teologia, simbologia e mística; são três realidades, mas que sob a perspectiva oriental não podem ser separadas. As três realidades são intimamente unidas; nascem e se desenvolvem unidas. Além disso, o termo místico é pouco usado na literatura teológica oriental; prefere-se o termo espiritualidade. A nossa exposição será dividida em duas partes: A primeira será uma exposição sintética baseadas substancialmente na obra de duas máximas autoridades da tradição teológica do Oriente atual: Tomas Spidlík e Marko Ivan Rupnik, La fede secondo le ícone, que adiante virão citadas com a sigla (SR), e na segunda parte tentaremos uma aplicação da vivência litúrgica, onde os ícones desempenham um papel fundamental. 1. Ícone: Teologia, simbologia e mística O termo ícone - a ikona - provém da tradição bizantina e eslava, que por sua vez deriva do grego bizantino ekóv, e pode ser traduzido como imagem, e indica uma figura sacra escrita sobre uma tábua (ícones se escrevem não se pintam), bidimensionais, que representam Cristo, a Mãe de Deus (Theotókos), os anjos, santos, importantes eventos bíblicos, parábolas e momentos da história da Igreja. Na sua essência é uma expressão gráfica da mensagem evangélica. Portanto, os ícones se referem não tanto à arte religiosa, quanto à arte teológica. Os ícones elevam a nossa mente das coisas terrenas às celestes. São João Damasceno escreve que somos conduzidos com os ícones, que podemos perceber com os nossos sentidos, até a contemplação das realidades divinas e espirituais 1. 1 PG 94:1261a

39 No entanto, são possíveis várias aproximações aos ícones. Em geral os mais freqüentes são os histórico-críticos, os pietísticos, sentimentais e devocionais. Outros admiram os ícones sob o ponto de vista artístico e pictórico. Pode-se também aproximar sob o ponto de vista dogmático e filosófico. Aqui desejamos considerar o ícone assim como nos transmitiu a tradição, como o recebemos na liturgia, na sua objetividade espiritual. Diz-se que o ícone é uma longa citação bíblico-patrística. E uma realidade espiritual, onde o espiritual é tudo o que constitui a ação do Espírito Santo. Fala de Deus, faz memória d Ele e O comunica 2. 0 ícone é um texto-imagem, uma comunicação de fé. Certamente é uma imagem, mas é uma Imagem-Palavra. É a Palavra de Deus como imagem 3 ; Palavra de Deus que se torna visível 4. Na linguagem do ícone existe um núcleo bíblico, mas também está presente a tradição. É uma linguagem complexa. Ao mesmo tempo é imagem, palavra, tradição, revelação e memória, conceito e sentimento, raciocínio e intuição. Os ícones se desenvolveram como uma verdadeira e própria arte da fé cristã. Essa arte iconográfica tenta representar o mundo segundo a visão do Pai, que se comunicou através de Jesus Cristo: Isto que o livro diz com a palavra, o ícone anuncia e apresenta com as cores (VII Concilio Ecumênico ) 5. Por isso os orientais consideram o ícone como morada de Deus 6, um espaço habitado pelo Senhor. É uma presença teúrgica, enquanto continua a presença da graça que salva que purifica e que diviniza. 39 Esta morada de Deus numa taboa de madeira, nas cores esparsas, nas figuras desenhadas, dá-se em três níveis: 1) A criatura é habitada pelo Criador. Tudo foi feito pelo Verbo, e tudo traz no seu bojo o seu germe, o seu fundamento; Aquele que reza diante do ícone deve passar do typos ao Prototypos e deste ao Arquétypos. O Arquétypos é o Deus Pai, a última instância ao qual se dirige a oração. O Prototypos é Cristo. Ele se descobre no typos, isto é na sua imagem direta, que representa a sua Face, ou na imagem dos santos, porque somente através Jesus Cristo se entra em contato com Pai 7. 2 Cf. SR Cf. SR 6. 4 SR 8. 5 SR 9. 6 Cf. SR Tomas Spidlík, La preghiera secondo Ia tradizione dell Oriente cristiano, Roma, Lipa, 2002, p. 384.

40 2) A habitação do Senhor no ícone acontece na obra artísticoespiritual. Como afirma Evdokimov: Como ninguém será capaz de dizer: Jesus é o Senhor, a não ser por influência do Espírito Santo (ICor 12,3), ninguém poderá representar a imagem do Senhor se não por meio do Espírito Santo. É o Espírito Santo a fonte principal da criação do iconógrafo. 3) A presença de Deus se realiza na Liturgia da qual o ícone faz parte. A oração da Igreja, dos fiéis é a prova da presença de Deus no ícone. As orações do povo de Deus diante do ícone fazem parte da própria história da salvação que o ícone comunica. 40 O ícone se radica no dogma do Concilio de Calcedônia, que professa o verdadeiro Deus e o verdadeiro Homem na única pessoa de Cristo. O ícone é uma realidade na qual se compenetram, em uma comunicação recíproca, o divino e o humano, colhendo a obra de redenção na história nos seus elementos mais autêntico 8. Ele comunica uma visão espiritual do mundo, da história e do próprio homem. Como todos os símbolos na vida cristã, o ícone representa uma realidade objetiva na qual acontece a comunicação disto que ela significa, com dois movimentos inversos: o movimento da pessoa em direção a Deus, quando o orante se põe diante de Deus e a Ele faz oferta de sua vida e o movimento da descida de Deus em direção do homem, um encontro do Deus com o ser humano, da graça com a natureza, da eternidade com o tempo, como diz Leonid Uspenskij 9. Nesse sentido o ícone quase sempre aparece com a perspectiva invertida, isto é, o céu que se abre em direção ao homem. Não se trata de uma presença de Deus que o homem atinge através do raciocínio sobre princípios analógicos, mas é uma presença transformadora e redentora, a presença de Cristo celebrada com todo o realismo na liturgia, onde a obra de salvação é vivida não só como memória do passado, mas como eficácia da transfiguração que continua na história e que transforma a própria história. E a vivência litúrgica da presença divina. Na Liturgia se vive o mistério de Deus e o ícone ajuda a se envolver nesse mistério. Portanto, o ícone é substancialmente uma visão sacramental do mundo, a visão como a matéria se oferece para tornar-se o lugar da salvação. Portanto, é uma iniciação para uma compreensão não abstrata, mas íntegra da realidade da história do homem em Deus e de Deus na história. 8 Cf. SR Cf.SR 10.

41 1.1 O ícone e a Liturgia Já acenamos que o ícone faz parte integrante da Liturgia. A oração da Igreja é a prova da presença de Deus no ícone. E os ícones por sua vez são santificados pela oração dos fiéis (em ucraniano se diz «вимолювати ікони»), ao ponto de fazê-las milagrosas, um órgão vivente, um lugar de encontro entre o criador e os homens, como diz Kireevskij 10. Os ícones fazem parte, através dos sínodos e concílios, da linguagem ortodoxa (segundo a verdadeira doutrina) eclesial universal, e são aceitos pela Igreja não tanto por seu aspecto artístico, e nem por causa da sua interpretação dogmática, mas, sobretudo, pelo seu estreito laço com a oração e a liturgia. Em outras palavras, o ícone nasce e se desenvolve dentro do ambiente litúrgico. Como a Igreja é um organismo vivo, assim o ícone conquistava o seu espaço e a sua importância como parte desse organismo, por sua capacidade de exprimir o ambiente eclesial constituído de tantas relações. Por esta razão, a linguagem iconográfica difere da ilustração figurativa dos episódios sacros. O mistério do ícone consiste no fato de ser assumido como parte do âmbito litúrgico, da oração e da contemplação de tantos. Se de uma parte está presente a dimensão objetiva da linguagem do ícone e do outro lado não se exclui uma dimensão subjetiva, toda pessoal, no qual se reconhece aquele que reza diante do ícone A simbologia do ícone O ícone na sua gênese e no processo do seu devir adquire todas as características do símbolo no sentido autêntico da palavra. Se o ícone é um símbolo, deve ser conhecido à maneira do símbolo 11. Trata-se de um conhecimento integral, que se realiza sobre a base do princípio de reconhecimento radical disso que se conhece. Reconhece-se o ícone na sua objetividade. Trata-se de colocarse diante do ícone com uma atitude afirmativa, capaz de reconhecer nele toda a sua objetiva totalidade. Não se trata de projeções de significados sobre o ícone, mas de instaurar com ele um diálogo. Quando se está diante do ícone com uma atitude afirmativa, isto é com amor, o próprio ícone desvela os seus significados e nos envolve na sua narração. Em outros termos, colocar-se diante do ícone, esperando que ele se abra, tendo em conta realmente a Igreja no qual o ícone surgiu. O ícone é um ambiente onde se forma o pensamento. Ele representa o conjunto da história da salvação e do mundo. Revela o nexo entre acontecimentos e personagens diversos. Por isso é o exemplo de um pensamento que se reflete no coração, que há um olhar de conjunto capaz de colher o nexo entre todo o 10 Citado em Tomas Spidlík, La preghiera secondo Ia tradizione delivriente cristiano, Roma, Lipa, 2002, p Cf. SR

42 existente, além das limitações espaciais, temporais, causais dos elementos que fazem parte 12. O ícone como um símbolo não é somente o lugar em que se unem o mundo sensível e o suprassensível, mas também onde se encurtam as distâncias e se vive uma espécie de contemporaneidade. Entrando neste espaço, se encontram pessoas que aqui já habitaram, e que já se passaram. 42 Portanto, o ícone é um organismo vivo, e como tal deve ser conhecido. E como toda a obra simbólica, o ícone deve ser estudado à maneira da Sagrada Escritura. E como nos textos sagrados podem ser reconhecidos tantos dados históricos, arqueológicos, filológicos, mas enquanto não nasce uma relação estreita entre o leitor e Palavra, e não se considera que a Palavra está plena de Espírito Santo, todos os dados ficam desligados, e tornam-se insignificantes. Ao contrário, quando se mantém uma atitude justa, todas as análises, até as mais especializadas, assumem o seu próprio e precioso papel para introduzir na compreensão. Assim como se iniciamos ao significado da Sagrada Escritura, somente se o próprio Logos, a Palavra se desvela para nós, assim mesmo com o ícone se deve chegar à revelação das pessoas que estão nela representadas e da fé que elas transmitem. No entanto, devemos ser cautos, porque o ícone pode maravilhar o homem contemporâneo sem que ele chegue a uma decodificação de tal comunicação, permanecendo totalmente na sua superfície. O símbolo se comunica envolvendo a pessoa e exige da pessoa à qual se revela que ela o formule com uma sua expressão. Isso significa que uma mensagem, que no seu início pode comunicar algo não categorial, exige em seguida da parte daquele que recebeu uma comunicação, e a acolheu, uma sua própria categorização. E o nosso tempo não favorece tal processo, porque somos sufocados pela pressa e da eficiência. 1.3 A formação do iconógrafo A iconografia requer uma grande preparação técnica e espiritual. O iconógrafo se prepara com oração e jejum para criar o ícone. Ele precisa de uma profunda purificação mental, espiritual e física. Próprio porque os ícones são considerados obras de Deus, Deus se serve do iconógrafo. Os rostos dos santos são chamados efígies (лики), porque se encontram fora do tempo, transfigurados, fora das dimensões das paixões terrestres, inseridos plenamente na dimensão espiritual, fora do espaço e do tempo. É um rosto humano transfigurado, como imagem de Deus. 12 Cf. SR 18.

43 O autêntico iconógrafo se forma no ambiente litúrgico da comunidade eclesial. Ele precisa aproximar-se ao ícone dentro do contexto litúrgico, entre orações, velas, incensos e cantos. Só então alguém poderá tornar-se iconógrafo, aquele que com intelecto e coração, começa a escrever compreendendo aquilo que o ícone comunica. Fora do âmbito litúrgico, o iconógrafo moderno poderá imitar o ícone tendo em conta do rigor do cânone, e aperfeiçoando-se com estudos teológicos e técnicos. Não obstante isso, ele não poderá ser um iconógrafo no sentido clássico 13. Falta-lhe um elemento fundamental: o tecido eclesial e a inserção na tradição viva da Igreja. Falta-lhe a teologia que não é só uma questão racional de compreensão e que não se adquire somente através do estudo teórico. Falta-lhe a teologia simbólica que o iconógrafo clássico vive e absorve na comunidade litúrgica, na comunidade que reza e pratica a caridade. Propriamente é a experiência da Igreja que conserva a unidade orgânica de fé, amor e intelecto, uma unidade indispensável na iconografia. O ícone pode ser considerado arte só na mesma medida em que consideramos arte a liturgia, na qual os meios humanos e terrenos, e pela ação do Espírito Santo, tornam-se âmbito de comunicação espiritual. Através da formação do cânone, que é um conjunto de normas e requisitos aos quais a iconografia deve corresponder, isso é através de uma linguagem compreensível para aqueles que nela são instruídos, o ícone adquire uma potencialidade de comunicação aberta para todos. 43 A linguagem do ícone através da sua eclesialidade (cerkovnist), se bem que conserva um tom convencional, de outra parte, na experiência da fé do iconógrafo, comunica-se também um conteúdo pessoal. O manual de instrução dos iconógrafos compara a sua função em analogia ao do sacerdote: O sacerdote apresenta-nos o Corpo de Cristo nos cultos litúrgicos graças à força de palavras... o pintor o faz com imagens 14. Por isso o verdadeiro iconógrafo deve percorrer um caminho de ascese, de jejum dos sentidos e de renúncia de tudo que seria uma sua criação de formas, uma sua visão individual. Ele poderia cair na tentação de se embriagar com a abundância das belas formas que o símbolo concreto lhe oferece. Toma consciência também da necessidade do jejum dos olhos graças ao qual renuncia às formas inúteis, como diz S. Basílio, alimenta-se segundo as suas necessidades, nada mais, nada menos. Por isso no ícone uma ou duas árvores são suficientes para indicar uma floresta; um ou dois pastores no ícone da natividade bastam para representar a adoração dos pastores 15. A ação criativa do homem é uma participação, e também uma imitação, da obra criadora divina. Por conseguinte, o iconógrafo escreve só aquelas formas 13 Cf. SR Citado em Tomas Spidlík, La preghiera secondo Ia tradizione delivriente cristiano, Roma, Lipa, 2002, p Cf. SR 14.

44 que possam exprimir a plenitude do Espírito Santo, mas escrevendo com o máximo amor possível pela Palavra e pela Igreja, faz vibrar a própria alma, e assim dá ao seu ícone uma impressão toda pessoal. Quanto mais forte o amor, tanto mais o ícone á ao mesmo tempo pessoal e universal. 1.4 A luz e as cores dos ícones As cores do ícone, embora materiais, são espiritualizados, começam a falar de Deus, a comunicar Deus. Com um termo estritamente teológico pode-se dizer que essas realidades sãos hipostatizadas tanto os da realidade divina como também os da realidade humana, através da ação do Espírito Santo. De uma parte o ícone apresenta algo de específico e concreto e ao mesmo tempo algo de transindividual, de comunitário, de universal. 44 Diz-se que os ícones são pintados com a luz da Transfiguração. Com essa luz se vê não só a realidade externa dos objetos, mas a identidade essencial e íntima da sua substância. Na pintura dos ícones a luz mantém e cria as coisas, é o seu princípio criador que se manifesta seguindo Tudo o que se manifesta tornase claro como a luz (Ef 5,13). Segundo a tradição a cor: Azul é o símbolo do humano. Vermelho com matizes de púrpura indica a transcendência (a natureza divina), como também o sangue derramado pelos mártires. É a cor mais viva dos ícones. Verde é usado para simbolizar a natureza, a fertilidade e a abundância. pobre. Marrom simboliza o que é terrestre, e por sua natureza o mais humilde e Branco é a cor da harmonia e da paz, a cor da luz divina. Amarelo. A iconografia desconhece o amarelo puro, mas todavia conhece o amarelo ouro, que em certo sentido é igual à luz. O ouro não é uma coloração material, é o reflexo puro da luz, o esplendor, o símbolo da luz divina. Preto significa a ausência total de luz como também a morte. O Ades do ícone de Ressurreição é p. ex. negro, como também a gruta da Natividade. Cristo deve passar através da morte para alcançar a Ressurreição.

45 2. A vivência litúrgica com os ícones Após expor os elementos básicos para a compreensão dos ícones, cuja simbologia nos indica a intrínseca conexão entre teologia, liturgia e a espiritualidades do Oriente cristão, chega o momento para tentar demonstrar como se pode vivenciar essa riqueza na prática eclesial. Faço isso por experiência própria, adquirida no decorrer da experiência litúrgica, de modo especial durante a celebração da Divina Liturgia. Não faz parte da bibliografia lida, mas passada pelo crisol da experiência litúrgica Diante do ícone da Trindade de Rublev Esse famoso ícone da Santíssima trindade, que por sua transparência faz nos mergulhar no mistério Trinitário, às profundezas inesgotáveis de Deus Amor. Estamos diante do ícone da Trindade santa, mas ao mesmo tempo tendo em mãos o texto do Idiomelon do imperador Leão, cantado no ofício das Vésperas durante o período da Festa de Pentecostes. Suas duas leituras simultâneas, a visual e a orante, que nos fazem mergulhar na mais profunda teologia trinitária, envolvendo a mente e o coração, a inteligência e os sentimentos, a pessoa na sua totalidade. 45 Vinde, povos, adoremos a unidade trisipostática: o Filho no Pai, junto com o Santo Espírito. O Pai gera atemporalmente o Filho, que é coeterno e que com ele reina; e o Espírito Santo está com o Pai, glorificado junto com o Filho: uma só potência, uma só substância, uma só divindade, que nós todos adoramos, dizendo: Deus Santo, que criaste todas as coisas através do Filho, com a sinergia do Espírito Santo; Santo forte, que nos fez conhecer o Pai e pelo qual o Espírito Santo veio ao mundo; Santo imortal, ou Espírito Paráclito, que procede do Pai, e repousa no Filho, Trindade santa, glória a ti. Esse hino das Vésperas diante do ícone de Santíssima Trindade de Rublev faz nos penetrar no mistério Trinitário, em que se reconhece a Deus e se faz experimentar o 0 Deus-comunhão, uma relação com gestos concretos de amor agápico, uno na natureza, na potência, na divindade, no amor, mas trino nas pessoas. A Trindade (Pai, Filho e o Espírito Santo), representado com três anjos jovens, através de uma relação de amor faz ser o Deus único, o Deusamor. Trindade na unidade do Amor; Deus que é Amor (1 Jo 4,8). Esse Amor faz sim que uma pessoa se revele e acolha a outra, e aja através da outra, desde a eternidade, em um só reino, com um só cálice, na vivência de uma eterna Eucaristia, capaz de se doar e de se sacrificar: Deus tanto amou o mundo, que deu o seu Filho único (Jo 3,16).

46 A ícone que nos faz imergir-mergulhar no mistério Trinitário, conhecer o Deus que é Amor (quem ama nasceu de Deus e conhece Deus - Uo 4,7), ao mesmo tempo faz nos se absorver pelo mistério Eucarístico, e ao mesmo tempo reconhecer o mistério da Igreja. Diante desse ícone temos a possibilidade de reconhecer os três grandes mistérios da fé (Trindade, Eucaristia e Igreja), e tomar consciência que é um só grande mistério, ao qual somos convidados para participar, com o corpo e alma, e com todos os nossos sentidos. Somos convidados para participar dessa comunhão do amor trinitário, que é ao mesmo tempo mistério eucarístico e mistério eclesial. 46 Diante desse ícone podemos reconhecer que o amor agápico é único, imanente e transcendente. Esse amor agápico faz com que três pessoas divinas sejam um só Deus,mas com o mesmo dinamismo esse amor se doa ao homem e faz com que o ser humano se sinta amado, e se ame como Deus o amou, (na linguagem psicológica aceitação de si mesmo), e com esse mesmo dinamismo amoroso ame o seu próximo, e em comunhão com o próximo faça esse amor voltar a Deus, que nos faz amar a Deus com todas as nossas forças. Circularidade amorosa trinitária, que se expande para toda a humanidade e na mesma dinâmica circular volta-se a Deus, fazendo só um circulo de Amor. Único Amor, fonte da unidade trinitária e eclesial. Portanto, ícone da Trindade surge no âmbito da oração litúrgica, uma imagem-palavra, sacramento, revelação, descida de Deus em direção ao homem e subida do homem a Deus. O ícone surge e se desenvolve na Liturgia e para a Liturgia. 2.2 O templo, os ícones (iconóstase) e a Divina Liturgiа Quando um ícone pode nos envolver na presença de Deus, na sua revelação e nos lançar na dimensão do mistério, tanto mais isso se torna possível no âmbito do templo, onde está o iconóstase (parede divisória entre o presbitério e o espaço dos fiéis), onde estão dispostos em ordem estilizada os ícones de Cristo Mestre e a Virgem Teotókos, o Deusis, os 12 profestas, os 12 apóstolos, as 12 maiores festas, e de tantos outros santos distribuídos também nas paredes do templo e no topo da cúpula, o ícone Pantokrator. Esse conjunto de ícones dispostos harmonicamente faz do templo um espaço sacro, o céu na terra (título do livro de Bulgagov) ou a sombra da Trindade (Simeão de Salônica). O fiel que adentra no templo deixa o espaço profano com as suas tentações, paixões e preocupações para se adentrar na liturgia celeste, da comunhão dos santos, e de todos os fiéis.

47 Por isso os ícones, com os cantos, as velas, o incenso criam o espaço próprio para a Divina Liturgia, a celebração eucarística, comunhão entre os fiéis e comunhão entre o céu e a terra, ápice e fonte da vida Cristã 16. Nesse espaço sacro o tempo também transforma as suas coordenadas. O passado e o futuro criam já o eterno presente. O que foi passado na história da salvação: os patriarcas e profetas estão aqui presentes nos ícones, assim como os apóstolos, os personagens evangélicos e todos os santos, especialmente a Mãe de Deus - Teotókos. Canta-se em comunhão com os coros celestes, e se reza com toda a multidão dos bem-aventurados. Escuta-se a Palavra viva da Sagrada Escritura na presença do Cristo Mestre e Salvador, a experiência do Amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo. As oferendas dos fiéis são acolhidas no altar celestial, e sobre elas e sobre os fiéis presentes desce o Espírito Santo, e os fiéis com as oferendas já consagradas, através da Epíclese formam um só corpo, uma só Igreja. O que é futuro na medida humana já é presente na Liturgia: o que foi, é o que virá já é agora, e sempre, e pelos séculos dos séculos. Assim o mistério da fé, diante dos ícones, é celebrado e vivido, com o intelecto e o coração, com alma e corpo, isto é, o ser humano na sua totalidade. Assim a Liturgia com ajuda de ícones torna-se também o centro de catequese e formação religiosa, e ao mesmo tempo fonte principal da teologia oriental, que é por excelência litúrgica. 47 O Concilio Vaticano II afirma que a Liturgia é o ápice e a fonte da Igreja (SC 10) e que na liturgia terrena antecipamos a liturgia celeste Igreja (SC 8), para mim essas afirmações são mais fáceis de se entender quando se participa de uma Divina Liturgia. 2.3 Problemas e missão O que se expôs parece ser maravilhoso. E de fato é! Mas é difícil colocar na prática quotidiana das Igrejas orientais. E é árduo o caminho de volta às fontes da autêntica vivência litúrgica. A verdadeira função dos ícones principalmente na diáspora com o tempo ia se perdendo, devido ao hibridismo de ritos, e pelo processo da assim dita latinização do rito oriental, a progressiva substituição dos ícones por imagens, o desaparecimento dos iconóstases, substituição do canto pela recitação da Divina Liturgia. O que é mais sublime se tornou algo pesado, monótono, repetitivo, incompreensível. Tantos fiéis do rito oriental preferiram debandar para a Igreja latina. E eu também experimentei isso nos primeiros passos da vida religiosa 16 Cf. Vat II, SC 10.

48 e sacerdotal. Não entendia quando os nossos superiores falavam da beleza da Liturgia oriental. Simplesmente não há entendia, nem a experimentava. Por outro lado nas terras da origem nem tudo brilha. Por lá, muitas vezes as celebrações litúrgicas orientais reduzem-se a um folclore, cheio de ritos, cores e odores, (bells and smells) sem nenhum significado religioso e litúrgico. O maior perigo em que correm os próprios orientais é transformar a liturgia em ritualismo. A nossa missão de recuperação do verdadeiro significado das ícones e de todo o complexo significado, da vivência litúrgica autêntica. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48 EVDOKIMOV, Pavel N. Teologia delia bellezza - L arte dell icona, Torino, ed. S. Paolo, 1990, 325pp. Egon SENDLEr, L icona immagine dell invisibile - Elementi di teologia, estética e técnica, Torino, ed. S. Paolo, 1985,175pp. Tomas SPIDLÍK; Marko Ivan RUPNIK, La fede secondo le ícone, Roma, Lipa, 2011, 140 pp. Tomas SPIDLÍK, La preghiera secondo la tradizione dell Oriente cristiano, Roma, Lipa, 2002, 566 pp. Tomas SPIDLÍK, Alie fonti delpeuropa - In principio era 1 arte, Roma, Lipa, 2006, 259 pp. I secreti dell iconografia bizantina, La Guida della pittura, da un antico manuscritto. Cura di Pier Luigi ZOCCATELLI, Edizioni ARKEIOS

49 Artigos CANTO LITÚRGICO UCRAINO BIZANTINO Pe. Paulo Serbai, OSBM * RESUMO: Após historiar a origem e a evolução do canto litúrgico ucraniano bizantino, procurase evidencias suas características mais relevantes. Convém notar a total ausência de instrumentos musicais, neste canto/oração onde é usada apenas a voz, pois a comunidade e o fiel quando cantam glorificando a 49 Deus se sentem tomados pelo Espírito que os vivifica. Canta-se a liturgia (não se canta na liturgia). Pois ela é o espaço privilegiado que cadencia a escuta e a resposta à Palavra de Deus. A relação dialogal cantante entre o presidente, o diácono e a comunidade que reza cantando melodias simples ou complexas, conforme a ocasião litúrgica alimenta a espiritualidade ucraniana. Desde antiga tradição e com o mesmo objetivo de superando as banalidades, até musicais criar e fortalecer o fiel e a comunidade e glorificar a Deus. PALAVRAS CHAVE: Canto ucraniano e bizantino; Espiritualidade;Tradição; Diácono. ABSTRACT: After chronicle the origin and evolution of the Ukrainian Byzantine liturgical chant, tried to highlight their outstanding features. It should be noted the total absence of musical instruments in this song-prayer where is used only the voice, with the community and the faithful when they sing praise to God feel taken by the Spirit - that gives life. The liturgy is sung (no singing in the liturgy). For it is the privileged area of cadence listening and responding to God s Word. The singsong dialogue relationship between the president, the deacon and the community - who prays singing simple melodies and complex, according to the liturgical occasion - feeds Ukrainian spirituality since ancient tradition, with the same goal - surpassing the ordinary, to music - to create and strengthen the faithful and the community and glorify God. KEYWORDS: Singing Ukrainian and Byzantine; Spirituality; Tradition; Deacon. * Mestre em Ciências Eclesiásticas Orientais no Pontifício Instituto Oriental, Roma.

50 1. HISTÓRIA 50 O canto litúrgico ucraniano bizantino, pode-se inicialmente dizer, surgiu com o batismo oficial da Rus de Kiev, em 988, quando o príncipe Valdomiro o Grande recebeu o cristianismo e toda a nação ucraniana seguiu o seu exemplo. Seria lógico, junto com o cristianismo recebido de Bizâncio, aceitar também os livros, o canto, a liturgia, a organização eclesial. Mas, anteriormente a esta data, do século IV ao VI, na região do Cáucaso (Geórgia), por onde entrou o cristianismo trazido pelo Apóstolo André, já existiam Igrejas e de uma forma organizada, nacionalizada. Existem documentos que indicam, muito antes do batismo oficial da Ucrânia, a presença de ao menos duas Igrejas em Kiev, uma delas dedicada a Santo Elias. Se existiam Igrejas, certamente existia um canto litúrgico uma fusão de cantos-melodias populares pagãs, com temáticas cristãs. Um canto conhecido no meio popular, pois logo após o batismo oficial da Ucrânia, o povo não seguiu cantando segundo o novo sistema grego apenas adotado, mas continuou a cantar melodias já existentes. Uma outra versão histórica é que o canto litúrgico foi introduzido na Ucrânia através da Bulgária um povo vizinho, eslavo, com muitas semelhanças culturais. Alguns levantam a hipótese de que no séc. X foram aceitos da Bulgária a Divina Liturgia, os livros litúrgicos, a Hierarquia (os primeiros Metropolitas de Kiev eram búlgaros), os monges e também os cantores litúrgicos. Nos seus inícios, o canto na Bulgária pertencia à cultura grega; porém, no dois séculos foi totalmente reestruturado e inculturado, sofrendo consistentes modificações no seu espírito, melodias, textos e ritmos. Assim chegou à Ucrânia já eslavizado. Essa teoria não é de todo infundada, pois até hoje, na celebração das Grandes Vésperas com Vigília, cantamos estrofes seguindo o tom das melodias chamadas búlgaras. Essas melodias foram introduzidas na Ucrânia no séc. XIII, logo após uma reforma do canto litúrgico bizantino realizada por Ivan Kukuzel. A sua principal característica é a repetição da melodia, várias vezes, na mesma estrofe cantada. É óbvio que se neste período foi realizada tal reforma é porque o canto existia há muito tempo e se sentiu a necessidade de reformá-lo. Outros autores contestam estas teorias e afirmam que o canto litúrgico ucraniano não é nem de proveniência grega nem búlgara, mas encontra seu fundamento em melodias populares, características de cantos provenientes da Ásia Menor, por onde - assim muitos supõem - entrou o cristianismo na Ucrânia. Os defensores desta tese fundamentam tal posição no fato que em nenhum outro povo bizantino-eslavo encontram-se melodias com características e tonalidades semelhantes ao canto ucraniano. Nota-se, que quase todas as outras tradições bizantinas seguem o sistema e a maneira grega de cantar - o que torna diferente melodica e ritmicamente da tradição ucraniana.

51 Até o séc. XVI, a notação no canto litúrgico seguia o sistema de sinais ou ganchos 1 emprestados de Bizâncio. Não eram notas musicais propriamente ditas como as entendemos hoje, mas sinais postos sobre as frases que lembravam ao cantor a melodia a ser cantada: ascendente, descendente, pausa, forte, recitação, declamação, parada... O cantor, independente dos známia (sinais), deveria saber de memória a melodia a ser cantada, pois eles serviam somente como lembretes. Tais sinais eram comuns a vários povos e utilizados no mundo oriental (Igreja Síria, na Armênia, e até nas sinagogas). Foram transmitidos pelos monges gregos e eslavos do Monte Athos. Muitos destes sinais até hoje não foram decifrados, apesar do esforço de tantos estudiosos. No início do séc. XVI começaram a surgir diferenças no modo de cantar entre o norte e o sul, época em que o canto do sul passou a ser conhecido como canto de Kiev 2 e o do norte como canto Znamenny Menor - canto simplificado. O canto de Kiev abandonou o sistema de sinais (známia) e adotou a notação musical ocidental europeia quadrática, em pentagramas. Essa nova maneira de compor possibilitou a escritura de partituras para corais, concertos, Divinas Liturgias, cânones e outras composições litúrgicas para 3, 4, 5, 6, 8 e 12 vozes. Na segunda metade no séc. XVII foram compostas 372 partituras musicais, a maioria para 8 e 12 vozes. Pode-se dizer que nesse período, a cultura musical alcançou o seu mais alto cume, tanto na quantidade quanto na qualidade. A maioria parte desse acervo está perdida: ou foi destruída ou está fora da Ucrânia. Em Kiev, no entanto estão preservadas umas 600 partituras dessa época. Uma outra parte significativa é conservada nas bibliotecas de Moscou e São Petersburgo. Também em bibliotecas da Sérvia encontram-se composições musicais ucranianas. 51 O canto litúrgico ucraniano, como se afirmou acima, sofreu influências de melodias populares. Constata-se pelo fato existirem atualmente na Ucrânia, 4 variantes, 4 tradições de cantos litúrgicos, 4 modos: a variante (napiv) de Kiev, a do mosteiro de Potcháiv, a variante da Galícia e a da Ucrânia Transcarpática. Levandose em consideração também os mosteiros, podemos adicionar mais 2 variantes: a dos padres basilianos e a dos monges studitas. Cada variante, em substância, não traz diferenças significativas, mas suficientes para existir como tradição à parte. Em 1700 os padres basilianos de Lviv editaram o primeiro Irmologion livro que contém os irmós (melodias) - fator que contribuiu para uma certa unificação. A Rússia conseguiu este fato somente 70 anos mais tarde. Além do Irmologion, de grande importância para o canto litúrgico ucraniano, foi o padre Isidoro Dolnytskyi ( ) que, após terminar seus estudos em Roma, voltou para Lviv e transcreveu em notas musicais muitas melodias litúrgicas populares. Além disso, escreveu o Typik livro que dita as regras para as celebrações nos diferentes casos, festivos ou não. O Typic é usado até aos dias de hoje. Na Ucrânia Transcarpática essa notação foi feita por Bokshaj. 1 Em eslavo antigo, respectivamente znamia ou kriuky. 2 Keivske znamiá ou Keivska kvadratna notátsia.

52 Concluindo este primeiro ponto, podemos dizer que, na sua base, o canto litúrgico ucraniano era bizantino, característico dos séc. IX-XIII, mas sofreu grandes influências da cultura ucraniana, especialmente de melodias populares, a tal ponto que as diferenças chegaram a ser não somente simples variações melódicas, mas tornando-se composições totalmente diferentes. Na sua alma tornou-se um canto litúrgico ucraniano. Os livros litúrgicos sem a menor dúvida são bizantinos gregos com traduções feitas na Bulgária e nos Balcãs. Note-se que Cirilo ( ) e Metódio ( ), naturais da Tessalônica, criaram o alfabeto cirílico, possibilitando a tradução de livros litúrgicos para o uso no mundo eslavo. Trabalho este feito pelos monges, também em Kiev, que no séc. XI já eram organizados e ativos. 2. CARACTERÍSTICAS Uma das principais características da celebração litúrgica ucraniana é a ausência de instrumentos musicais. A voz é o principal e único instrumento. Por quais razões? Uma razão é teológica: o Espírito vivificante forma a oração somente na pessoa e com a pessoa. Interiormente. E para isso os instrumentos musicais são dispensáveis. A pessoa templo do Espírito Santo - é o lugar onde o Espírito reza e transforma a oração humana em divina. Uma segunda razão, pode ser cultural: em Bizâncio, o órgão e outros instrumentos eram bastante utilizados nas cerimônias públicas da corte Imperial e em circos, razão pela qual foram impedidos de serem usados em cultos religiosos, por serem considerados profanos. Mas em Constantinopla o órgão era usado nas estações (stasis) liturgias processionais, organizadas de uma Igreja à outra ou para recepcionar o Imperador, mas isso fora da Igreja e era deixado sempre na rua. 2. Os textos cantados são quase que essencialmente bíblicos e patrísticos, compostos em momentos de intensa espiritualidade e união com Deus. Do séc. XV para cá, foram adicionados somente textos de algumas festas litúrgicas (Corpus Christi, Imaculada, São Josafat, Cristo Rei) ou dos novos Santos ucranianos. No restante, permanecem os mesmos textos da época dos grandes Santos Padres e poetas, permeadas de profundos ensinamentos espirituais, catequéticos ou apologéticos. Rezamos como eles (a liturgia bizantina não sofreu reformas) e com eles na comunhão dos Santos. 3. O canto litúrgico não é um acessório desnecessário, mas fundamental. Na tradição oriental, não há espaço para liturgias rezadas (ao menos assim deveria ser). Todas as celebrações deveriam ser somente cantadas. O canto cadencia a escuta e a resposta à Palavra de Deus, o contato com a liturgia celeste, une a comunidade, eleva o espírito, dá gosto e beleza.

53 4. Não podemos falar de um papel do canto nas celebrações, como se fosse uma entidade em si, separada, à parte, um instrumento a mais na liturgia. Não é um ornamento, mas verdadeira liturgia: canto, o Verbo, ritos, vestes litúrgicas, gestos, imagens, todos inseparáveis, formam uma unidade celebrativa. 5. A presença do diácono é igualmente fundamental. Em toda celebração litúrgica ele deve estar presente e auxiliando. (Os ortodoxos não celebram sem a presença de um diácono). É o interlocutor entre o celebrante e a assembleia. Entre ele e o celebrante deve existir um sincronismo, tanto no tom do canto, na altura, no ritmo e nos rituais. Hoje, principalmente no Brasil, muitos o veem como um estorvo que complica e atrapalha o celebrante. 6. No canto litúrgico bizantino não há espaço para o silêncio, tanto valorizado na Igreja latina. Para os latinos, o silêncio litúrgico é um valor. Para os bizantinos, simplesmente não existe silêncio na liturgia. Todos os espaços de tempo são preenchidos pelo canto da assembleia, do diácono ou do celebrante. 7. O canto litúrgico bizantino segue rígidas normas de execução. Por isso é indispensável a presença de alguém que sabia, goste e o entenda. Em algumas comunidades ainda existe a figura do diak o cantor principal que comanda os cantos, inicia no tom certo, dá o ritmo e a altura. Nos mosteiros e seminários este papel é exercido pelo protopsalter o primeiro cantor. Para ser considerado um profundo conhecedor do canto litúrgico bizantino, o diák deve saber, de memória, mais de 65 melodias diferentes (aplicáveis no decorrer das celebrações), prescritas, com regras bem precisas de execução, que giram em torno dos 8 tons ou melodias musicais. Isso sem considerar as diferentes e variáveis melodias utilizadas durante a Divina Liturgia ou em cantos para-litúrgicos. Com essas, o número de melodias a serem memorizadas aumenta em muito. Portanto, é um canto complexo e não para todos. É difícil encontrar alguém que realmente domine. São melodias fixas, ainda do primeiro milênio, diferentes em cada povo que as influenciou com a sua cultura, mas que permanecem sempre as mesmas Não basta somente profissionalismo e competência, mas também espiritualidade, dignidade e dedicação. Tudo isso forma um conjunto. Um bom cantor deve conhecer teologia, espiritualidade e iconografia. 9. O diák necessariamente deve conhecer muito bem o Typik livro das normas e regras de celebração. É ele que vai resolver todas as dúvidas em relação às celebrações, o que é e como se deve cantar. Ele é o Dicionário Aurélio para as celebrações. 10. No canto litúrgico participa todo o povo, cantando melodias simples e de memória - chamadas de obêtchni ou samoilkas. São melodias cantadas a 2 vozes e são bastante diversificadas. Nas paróquias, onde existe coral, o mesmo canta em dias de maior solenidade (Natal, Páscoa, festa do Padroeiro). Nos outros dias celebrativos, todo o povo participa, sustentados pelo diak ou pelo protopsalter.

54 11. O canto simples, a samoilka, faz parte do canto litúrgico ucraniano. No entanto, de igual valor e peso, são os corais a 4 vozes. Formam juntos uma grande tradição musical, especialmente na Ucrânia, onde em cada Igreja existem até 3 corais que cantam as Divinas Liturgias dominicais (adultos, jovens e crianças). 12. Quase todo o canto litúrgico bizantino (com exceções da Grande Quaresma) gira em torno dos 8 tons - melodias, que vão se repetindo durante todo o ano litúrgico, começando a partir do dia da Ressurreição. Eles dão um sentido de eternidade, como se pertencessem ao Oitavo Dia, dia eterno, sem poente. Estes 8 tons se ramificam em mais de 60 entre prokímenos, kontakions e tons ressurrecionais. Eles seguem os seguintes temas: domingo, tema da Ressurreição; segunda e terça-feira, tema da compunção, arrependimento e conversão; quarta e sexta-feira, o tema da cruz; na quinta-feira lembram os Santos Apóstolos e São Nicolau; aos sábado, celebram os mártires ELEMENTOS PRÓPRIOS Tropários estrofes poéticas que cantam o tema da Festa. Contáquios hinos poéticos que cantam o mistério da Festa. Íkos - hino que sempre acompanha o tropário, no cânone. Cânones Hino Akasthistos, cânon à Mãe de Deus, da Ressurreição. Estrofes, hinos. Proquímenos versos que antecedem uma leitura. Ectenias orações de súplicas e respostas. 4. AUTORES DE TEXTOS LITÚRGICOS São Basílio, São João Crisóstomo, S. Gregório o Teólogo, S. Efrem Siríaco. S. Romano, o melode; S. Andrea de Creta; S. João de Damasco; S. Cosme de Maiuma; nos mosteiros Studitas Teodoro, José, Anatólio, Clemente...

55 Teofanio; Cassia (monja) Monges, monjas, Patriarcas, imperadores 5. LIVROS LITÚRGICOS HOROLÓGIO compreende as partes fixas e móveis das Vésperas e Matinas, Ofício das Horas, Ofício do Meio-Dia, Ofício da Meia-Noite, Pequeno e Grande Noturno; IRMOLÓGIO contém os irmos- cantos poéticos que seguem os tropários. OCTÓICO livro que contém os textos dos 8 tons (melodias) para cada dia. MENEIA - 12 volumes, um para cada mês, e traz as partes variáveis do santoral para as celebrações das vésperas e da matina. Começa com o dia 1º de setembro. 55 TRIÓDIO QUARESMAL livro que traz as partes variáveis para a Grande Quaresma TRIÓDIO LUMINOSO (ou PASCAL) contém as partes variáveis para os 50 dias após Pentecostes. TYPIK regras de celebrações, normas para cada caso, festa... LUZHEBNYK (Missal) livro da Divina Liturgia EUCOLÓGIO ( Trebnyk) livro dos rituais dos sacramentos, sacramentais, bênçãos, orações ocasionais. 6. MAIORES COMPOSITORES MUSICAIS MAKSYM BEREZOVSKYI Nasceu em 1745, em Hluxіv e viveu apenas 32 anos. Foi o primeiro compositor profissional de fama internacional. Iniciou os seus estudos musicais em Kiev ( ) e neste período já compunha cantos litúrgicos. Em 1769 foi estudar música em Bolonha contemporaneamente com Mozart. Dois anos

56 depois, foi convidado para fazer parte da Academia Filarmônica de Bolonha. Também participou da Academia de Milão entre outras. Ele dele, só Mozart conseguiu tanto sucesso na Itália. Seu nome, junto com o de Mozart, foi escrito com letras de ouro numa placa de mármore na Academia de Bolonha. Em 1774 foi para São Petersburgo. Escreveu a ópera Maria. Desejou fundar em Kiev uma academia como em Bolonha, mas não recebeu apoio. DEMÉTRIO BORTNIANSKYI Nasceu em 1753, também em Hluxov. Por 10 anos estudou música na Itália. Além de composições litúrgicas, compôs óperas, sonatas, composições musicais. Uma de suas óperas Sokil chegou a ser encenada em Veneza e Módena. Morreu em As suas composições são características e inconfundíveis, com um estilo próprio, dócil e suave. 56 ARTEM VEDEL ( ) Nasceu em Kiev e desde os 9 anos estudou música na Academia de Kiev. Em seguida estudou em São Petersburgo e na Itália. Em 1841 estreou cantando na Ópera de Firenze e no ano seguinte na ópera de São Petersburgo. Além de composições litúrgicas, também compôs óperas, uma delas Zaporozhetz za Dunajem. MYKHAILO VERBYTSHKYI ( ) Um grande seguidor e admirador de Bortnjans kyj. e. IVAN LAVRIVSHKYJ f. Mykola Lycenko ( ) g. KYRYLO StetSenko ( ) h. Mykola DmytrovyTCH ( )

57 Compositores e maestros dos nossos tempos: i. Oleksandyr KoshytS Viveu no Canadá, compositor e regente de coral. Deixou muitas composições, especialmente para concertos religiosos. j. Myron Fedoriv 1907 Compositor para corais, nasceu em Berezhany. Compôs 2 Divinas Liturgias, quase 300 cantos religiosos e 100 cantos de Natal. Mora nos EUA. l. Andrij Hnatyshyn Nasceu no dia em Lviv czyzhykiv. Viveu na Australia e por muitos anos ( ) foi regente do coro na Igreja de S. Bárbara. Foi compositor, dirigente, pedagogo e professor. Morreu em ESPIRITUALIDADE DO CANTO LITÚRGICO A característica essencial do canto litúrgico é a glorificação de Deus. Ele é liturgia verdadeira e própria. Inseparável de todo o mais que acontece na celebração litúrgica. Através dele, a Igreja participa do coro dos anjos e une a sua voz na constante glorificação da Santíssima Trindade. Para isso é necessária a ação do Espírito Santo. O seu sopro, a sua presença em nós, é indispensável e nos transforma em instrumentos que, por Ele movidos, produzem sons, cantam e celebram ao Criador. Disso decorre a grandeza do canto litúrgico: simultaneamente rezam o Espírito Santo e a pessoa que canta. O Canto litúrgico é um ícone terrestre do canto celeste, perenemente entoado pelo coro dos anjos. Por isso ele não é um concerto de música espiritual, onde os presentes são divididos em executores e ouvintes, mas une todo o povo de Deus numa só oração comunitária. Isto é um momento único e irrepetível, assim como o é toda a ação litúrgica. O ritmo prepara e disciplina a alma na oração; a melodia fortalece e purifica os sentimentos; a harmonia faz concentrar e cria sentimentos de beleza, eleva o espírito e constrói a comunidade. O canto litúrgico leva a viver e degustar o transcendente, o diferente, o eterno. Algo totalmente distante da completa banalidade dos cantos que não se adaptam à oração e que são apenas barulho.

58 Segundo os Santos Padres, a oração torna-se canto e o canto torna-se oração. Uma maneira humana e divina de louvar e glorificar a Deus: poesia, sons, voz e sentimentos unidos ao coração, em uníssono, representando misticamente os Querubins. CONCLUSÃO 58 O canto litúrgico bizantino ucraniano é de uma grande riqueza eclesial e cultural, que identifica e caracteriza o povo ao qual pertence. Nele estão contidas a alma, a espiritualidade, a religiosidade e a tradição do povo. Nestes 120 anos de imigração ucraniana no Brasil, o povo soube preservá-lo, especialmente a samoilka - canto simples, à memória, comandado por um diak ou protopsalter. É verdade que, em nossa realidade brasileira, já não existem muitos diak pessoas devidamente e especialmente preparadas para isso - mas as catequistas e as pessoas consagradas continuam essa missão de transmitir de geração a geração a beleza e a grandeza de uma viva participação litúrgica. O Canto litúrgico deve ser preparado anteriormente às celebrações. Exige empenho e dedicação. Já no séc. VI, um escritor cristão dizia sobre a banalidade e a pouca importância dispensada ao canto litúrgico. Dizia Cassiodoro: Se continuarmos a cometer injustiça, Deus nos deixará sem música. CONCERTO 1. Bud Imia Hospodnie Que o nome do Senhor seja bendito hoje e sempre. Canta-se no final da Divina Liturgia ou no início, nas Liturgias Solenes, durante a procissão do Bispo com os celebrantes. Autor: Demétrio Bortnjans kyj. 2. Ektenia pedidos insistentes, aos quais o coral responde com o Kyrie Eleison. Compositor Oleksander Koshyts. 3. Aleluia cantado logo após a leitura da Epístola, antes do Evangelho. Tem por objetivo louvar o Senhor pela Palavra e preparar à escuta do Evangelho. Autor: Mykhailo Verbytshkyj. 4. Znamy Boh - Emanuel - Deus conosco. Usado na Grande Completa que antecede as festas do Natal, Epifania e Anunciação. Autor: Myron Fedoriv. 5. Radiemo Nyni - nos alegramos hoje. Canto à Mãe de Deus, mostrando a alegria gerada pela sua aparição na rocha. Autor: Andrij Hnatyshyn.

59 6. Isaie Lykij Alegre-se Isaias, porque a Virgem vai gerar um filho... tropário à Mãe de Deus. Autor: Artem Vedel 7. Xrystu Tvoemu Senhor, à Tua cruz nos prostramos e veneramos a tua Ressurreição. Tropário próprio da festa de hoje, da Exaltação da Santa Cruz. Melodia popular. 8. Cei Denh - este é o dia que o criou o Senhor. Canto próprio da Festa da Ressurreição. Autor: Demétrio Bortnjanshkyi. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BABBAR, Lara Janek Características, transformações e adaptações da música religiosa ucraniana no Paraná dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Música, PUC, Curitiba, FEDORIV, Jurij Obriady ukrjinshkoi Tserkvy (ritos da Igreja ucraniana), Roma- Toronto, MATSENKO, Pavlo Narysy do istorii ukrainshkoi muzyky (anotações para a história da música ucraniana), edição M.T.B., Vinipeg, XRYSTOS NASHA PASKHA (Cristo nossa Páscoa) Catecismo da Igreja Ucraniana Greco-Católica, Svitchado, Lviv, MUZYCZKA, Ivan Spiv, muzyka i molytva (canto, música e orações) Aula lecionada em Lviv, Ucrânia. SEMINÁRIO DO ESPÌRITO SANTO Skrypt z historii ukrainshkoi relihiinoi muzyky. (Apostila sobre a história da música religiosa ucraniana), Lviv-Rudno, Artigos do L Osservatore Romano e do Zenit.

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61 Artigos HINO AKÁTHISTOS EM HONRA À MÃE DE DEUS Edson Ternoski * RESUMO: Neste estudo apresentamos o venerável hino Akáthistos em honra à Mãe de Deus, o qual representa uma das mais culminantes e notáveis expressões da piedade mariana na tradição bizantina. Uma composição inserida na Igreja Oriental fundamentada na tradição histórica e na sua praxe. O Akáthistos possui vinte e quatro estrofes, doze chamados de Kontakia (pequenos hinos) e doze Ikoi (hinos maiores) que cantam o fato, o sentido da festa e o elogio a Mãe de Deus. Os Kontakia abordam a encarnação de Jesus Cristo e os Ikoi proclamam os privilégios e graças da Mãe de Deus. No Akáthistos canta-se a maternidade, virgindade, pureza, virtudes, privilégios e a fé da Igreja Oriental na intercessão da Santíssima virgem Maria. É um hino que expõe aquilo que o povo cristão oriental acredita e professa conforme a Sagrada Escritura e os Concílios Ecumênicos. 61 PALAVRAS CHAVE: Hinografia, Liturgia, Akáthistos, Mãe de Deus, Igreja Oriental. ABSTRACT: This study presents the venerable Akathist Hymn in honor of the Mother of God, which represents one of the most noteworthy and culminating expressions of Marian piety in the Byzantine tradition. The composition inserted in the Eastern Church founded on the historical tradition and practice. The Akathist has twenty-four stanzas, twelve called Kontakia (short hymns) and twelve Ikoi (major hymns) which sing the event, the sense of celebration and the praise to the Mother of God. The Kontakia address to the incarnation of Jesus Christ while the Ikoi proclaim the privileges and the grace of the Mother of God. Akathist sing the motherhood, virginity, purity, virtue, the privileges and the faith of the Eastern Church in the intercession of the Blessed Virgin Mary. It s a song that exposes what eastern Christian people believe and profess according to the Holy Scripture and the Ecumenical Councils. Keywords: Hymnography: Liturgy: Akathist: Mother of God: Eastern Church. * Bacharel em Teologia.

62 1 INTRODUÇÃO: O LUGAR DA MÃE DE DEUS NA HINOGRAFIA BIZANTINA A presença da Santíssima Mãe de Deus nos hinos das celebrações litúrgicas bizantinas mostra a riqueza doutrinal que permeia os hinos e qual o lugar que Maria ocupa nas celebrações litúrgicas. A vasta presença dos hinos nas celebrações litúrgicas do rito Bizantino desempenhou uma enorme importância para salvaguardar a reta doutrina da Igreja definida pelos Concílios Ecumênicos ao longo da história. Muitos hinos levam explicitamente o nome de hinos doutrinais por apresentarem e expressarem de forma poética conteúdos referentes aos principais dogmas de fé, como por exemplo, a Encarnação, as duas naturezas de Jesus Cristo, a maternidade de Maria etc. Dessa forma, eles tornaram a liturgia uma verdadeira e autêntica fonte de catequese para todos os fiéis. 62 No Oriente cristão os estudos sistemáticos de teologia não abordam Maria separadamente; mas, intimamente unida ao seu Filho, Jesus Cristo. Por isso, não é possível entender o estudo da mariologia oriental fora do contexto da cristologia, ou seja, Maria é compreendida através do mistério da realização progressiva da salvação em Jesus Cristo. Portanto, o estudo da mariologia oriental está inserido totalmente no mistério da salvação, através da Encarnação do Verbo divino. Por não fixar sistematicamente a doutrina mariana em tratados, os Padres Orientais procuraram expressar de forma consistente a mariologia por meio de hinos e homilias. Desta forma, a doutrina e o culto prestado a Theotokos, título que contém todo o mistério mariano, são expressos quase que exclusivamente por meio das celebrações litúrgicas, especialmente através dos hinos chamados Theotókion, que celebram Maria no mistério da Encarnação, e Staurotheotókion, que celebram a Mãe de Deus aos pés da Cruz. A hinografia mariana não está apenas presente nas celebrações litúrgicas do quadro das festas dedicadas à Mãe de Deus, mas se encontra igualmente ao longo de todo o ano litúrgico, nos Ofícios das horas e na Liturgia Eucarística. Ela é parte integrante em todas as orações litúrgicas, demonstrando a sua louvada presença na história da salvação. A presença de Maria no mistério da Encarnação representa o conteúdo primeiro e original do culto mariano bizantino. A figura da Theotókos, como Mãe virginal de Deus, descreve quanto o mistério foi importante para a humanidade. Por isso, os fiéis bizantinos nunca se cansam de contemplá-la. A hinografia bizantina também exprime seu louvor a Maria sob a Cruz. Os hinos contemplam a Mãe de Deus diante de Cristo crucificado e a louvam

63 como Mãe dolorosa de Deus. Maria, contemplando amargamente o Crucificado, se torna modelo da comunidade eclesial e paradigma para todos os cristãos Uma forma expressiva para celebrar a Santíssima Mãe de Deus no mistério da Encarnação se encontra no hino Akáthistos. O hino é uma profissão de fé centrada totalmente em Jesus Cristo, porém contemplado à luz de Maria, sua Mãe. É através da Mãe de Deus que os fiéis bizantinos são inseridos no autêntico conhecimento de Deus. Ela aponta o caminho e conduz os cristãos para o encontro com o seu Filho, Redentor da humanidade. O presente artigo, doravante se deterá neste mais importante hino mariano, nesta composição mariana mais bela do rito bizantino: o Akáthistos. Buscar-se-á uma contextualização histórica geral do hino: o título, o autor e a época da composição, e por fim a apresentação da estrutura, da teologia e do conteúdo doutrinal. Antes, porém, eis o hino completo: 2 AKÁTHISTOS EM HONRA À MÃE DE DEUS 1 Ó Mãe, nosso guia sempre vitorioso, a ti a vitória! Eu, cidade por ti protegida, te ofereço esse hino de louvor! Com tua força invencível, salva-me de todos os perigos para que te aclame: Ave, Virgem e Esposa! 1 O mais sublime dos anjos foi enviado dos céus para dizer «Ave» à Mãe de Deus. Vendo-te, Senhor, feito homem à sua angélica saudação, deteve-se extasiado diante da Virgem, aclamando-a assim: Ave, por ti a alegria resplandece; Ave, por ti a dor se apaga. Ave, levantas o Adão decaído; Ave, resgate do pranto de Eva. Ave, mistério que excede a mente humana; Ave, insondável abismo aos olhos dos anjos. Ave, em ti foi erguido o trono do Rei; Ave, tu levas Aquele que tudo sustenta. Ave, ó estrela que o sol anuncia; Ave, ó ventre do Deus Encarnado. Ave, por ti a criação se renova; Ave, por ti o Criador se faz menino. Ave, Virgem e Esposa LASAGNA, M. Luigi. Akathistos: hino litúrgico Bizantino a Mãe de Deus. Música do M.Luigi Lasagna. Roma/São Paulo: Centro di Cultura Mariana Mater Ecclesiae/Curia Provincial, s/d

64 64 2 Sabendo Maria de ser a Deus consagrada, assim a Gabriel dizia: «A tua mensagem é misteriosa aos meus ouvidos e incompreensível ressoa à minha alma. De uma Virgem um parto tu anuncias», exclamando: Aleluia! 3 Desejava a Virgem entender o mistério, e ao divino mensageiro pergunta: «Poderá uma virgem dar à luz um menino? - Dize-me!». Com reverência, o anjo respondia, cantando assim: Ave, tu guia ao supremo Conselho; Ave, tu prova d arcano mistério. Ave, primeiro prodígio de Cristo; Ave, compêndio de suas verdades. Ave, escada celeste por quem veio o Eterno; Ave, ó ponte que levas os homens ao céu. Ave, prodígio cantado por coros celestes; Ave, da horda infernal odioso flagelo. Ave, inefável, a Luz acendeste; Ave, o mistério a ninguém revelaste. Ave, ciência que aos sábios transcende; Ave, do crente iluminas a mente. Ave, Virgem e Esposa! 5 Tendo em seu seio o Senhor, solícita Maria visitava sua prima Isabel. O menino no ventre materno, ouvindo a saudação, exultou, e, saltando de alegria, à Mãe de Deus aclamava: Ave, sarmento do santo rebento; Ave, ó ramo do fruto ilibado. Ave, cultivas o teu Criador; Ave, tu plantas a Quem planta a vida. Ave, ó campo que brota riquíssimas graças; Ave, ó mesa, farta de todos os dons. Ave, tu que germinas um prado ameno; Ave, às almas preparas seguro abrigo. Ave, incenso de todas as súplicas; Ave, suave oferenda do mundo. Ave, clemência de Deus para o homem; Ave, confiança do homem em Deus. Ave, Virgem e Esposa! 6 Com o coração tumultuado e cheio de dúvidas, o prudente José se debatia. Sabe que és Virgem intacta e suspeita secretos esponsais. Reconhecendo-te Mãe pela ação do Espírito Santo, exclama: Aleluia! 4 A virtude do Altíssimo a cobriu com sua sombra e tornou Mãe a Virgem sem núpcias: o seio por Deus fecundado tornouse campo abundante para todos aqueles que buscam a salvação e assim aclamam: Aleluia! 7 Os pastores ouviram os coros dos Anjos que cantavam ao Senhor feito homem. Correndo, vão ver o Pastor. Contemplam o Cordeiro inocente alimentando-se do seio materno e à Virgem entoam um canto:

65 Ave, ó Mãe do Cordeiro-Pastor; Ave, aprisco da grei fiel. Ave, defesa das feras malignas; Ave, tu abres a porta do céu. Ave, por ti o céu exulta com a terra; Ave, por ti a terra se alegra com os céus. Ave, tu és dos apóstolos a voz perene; Ave, tu és do mártir indómito ardor. Ave, sustento possante da fé; Ave, estandarte glorioso da graça. Ave, por ti é despojado o inferno; Ave, por ti nos revestimos de glória. Ave, Virgem e Esposa! 8 Observando a estrela que a Deus os guiava, os magos seguiram seu fulgor. Era lâmpada segura em seu caminho, que os conduziu ao Rei poderoso. Chegados ao Deus inatingível, o aclamam felizes: Aleluia! 9 Contemplaram os magos, no colo materno, Aquele que plasmou o homem em suas mãos. Compreenderam ser ele o seu Senhor, escondido sob o aspecto de servo. Solícitos, oferecem-lhe seus dons e à Mãe aclamam: Ave, ó Mãe do Sol sem ocaso; Ave, aurora do místico dia. Ave, tu apagas a forja dos erros; Ave, Deus-Trino ao crente revelas. Ave, o odioso tirano arrancas do trono; Ave, nos mostras o Cristo Senhor e Amigo. Ave, és tu que nos tiras dos ritos cruéis; Ave, és tu que nos salvas das obras do mal. Ave, destróis o culto do fogo; Ave, extingues a chama dos vícios. Ave, tu guia da ciência aos crentes; Ave, alegria de todos és povos. Ave, Virgem e Esposa! 10 Mensageiros de Deus tornaram-se os Magos de volta para suas terras. Cumpriuse o antigo oráculo quando a todos falavam do Cristo, sem pensar no estulto Herodes, incapaz de cantar: Aleluia! 11 O Egito tu iluminas com o resplendor da verdade, afugentando as trevas do erro. À tua passagem os ídolos caíam não podendo te suportar, Senhor. E os homens, libertados do engano, à Virgem aclamam: Ave, levantas o gênero humano; Ave, derrota do reino infernal. Ave, esmagas o erro e a mentira; Ave, revelas o engano dos ídolos. Ave, ó mar que engoles o grão Faraó; Ave, rochedo que verte as águas da vida. Ave, coluna de fogo que guia nas trevas; Ave, ó nuvem mais ampla que cobre o mundo. Ave, nos deste o maná celestial; 65

66 66 Ave, ministra de santas delícias. Ave, ó terra por Deus prometida; Ave, em ti corre o mel e o leite. Ave, Virgem e Esposa! 12 Simeão, o velho, já no fim dos seus dias, estava para deixar a sombra deste mundo. A ele foste apresentado como Menino, mas, vendo-te qual Deus poderoso, admirou o arcano desígnio e exclamava: Aleluia! 13 Renovou o Excelso as leis deste mundo quando veio habitar entre nós. Germinado no seio de uma Virgem, conserva-o intacto como sempre o fora. Nós, admirados por este prodígio, à Virgem Santa cantamos: Ave, ó flor de vida ilibada; Ave, coroa de casta postura. Ave, tu mostras a vida futura; Ave, revelas a vida dos anjos. Ave, pomar aprazível que nutre os crentes; Ave, árvore umbrosa que a todos abriga. Ave, no seio levaste Quem guia os errantes; Ave, tu deste à luz Quem resgata os cativos. Ave, suplicas ao justo Juiz; Ave, perdão para todo perverso. Ave, tu veste os despidos da graça; Ave, do homem supremo desejo. Ave, Virgem e Esposa. 14 Contemplando o parto milagroso, e afastados do mundo, dirigimos a mente para o céu. O Altíssimo apareceu entre nós no humilde aspecto humano de um pobre e eleva ao mais alto da glória aqueles que cantam: Aleluia! 15 A Palavra do Deus Infinito habitava na terra e enchia os céus. Sua descida amorosa até o homem não fez mudar sua suprema morada. Era o divino parto da Virgem que ele ouvia cantar: Ave, morada do Deus infinito; Ave, tu porta do santo mistério. Ave, mensagem que inquieta os ímpios; Ave, dos crentes certíssima glória: Ave, tu coche de Deus que os anjos transportam; Ave, tu assento de Deus que os anjos adoram. Ave, só tu que converges duas coisas opostas; Ave, só tu és aque1a que é Virgem e Mãe. Ave, por ti foi remida a culpa; Ave, por ti Deus abriu os céus. Ave, tu chave do reino de Cristo; Ave, esperança de eternos tesouros. Ave, Virgem e Esposa. 16 Toda a multidão dos Anjos, admirada, contempla o mistério do Deus Encarnado. Ao Senhor inacessível, feito homem, admira-o, acessível, caminhando

67 pelas sendas humanas, ouvindo cantar: Aleluia! 17 Os eloquentes oradores, como peixes emudecem diante de ti, santa Mãe do Verbo. Não compreendem como foi possível permanecer Virgem depois de ser Mãe. Nós, teus devotos, o prodígio admiramos e com fé proclamamos: Ave, sacrário da arcana sapiência; Ave, tesouro de sua Providência. Ave, por ti se confundem os sábios; Ave, ao rétor impões silêncio. Ave, por ti se confundem os grandes doutores; Ave, por ti desfalecem os autores de mitos. Ave, desfazes enredos de grandes sofistas; Ave, tu enches as redes dos pescadores. Ave, nos livras da grande ignorância; Ave, nos enches da ciência divina. Ave, tu barca pra quem quer salvar-se; Ave, ó porto dos nautas da vida. Ave, Virgem e Esposa! 18 Para salvar o mundo, o Criador de todas as coisas quis vir a ele. Sendo Deus, tornou-se nosso Pastor e apareceu entre nós como Cordeiro. Sendo homem, atrai a si os homens e como Deus ouve cantar: Aleluia! 19 Ó Virgem, Mãe de Cristo, vindo morar em teu seio, o divino Criador te fez o baluarte das virgens e de quantos a ti recorrem. Ele nos convida a cantar em tua honra, ó Ilibada : Ave, coluna de santa pureza; Ave, tu porta da vida perfeita. Ave, início de nova linhagem; Ave, dispensas as graças divinas. Ave, tu deste a vida aos nascidos na culpa; Ave, tu deste a ciência aos insensatos. Ave, ó tu que aniquilas o grão sedutor; Ave, ó tu que dos castos nos dás o Autor. Ave, regaço de núpcias divinas; Ave, tu unes os crentes com Deus. Ave, das virgens tu és Mãe e Mestra; Ave, tu levas as almas a Deus. Ave, Virgem e Esposa! 20 É sempre inferior o canto que presuma engrandecer as tuas inúmeras virtudes. Tantos como é a areia da praia podem ser os nossos hinos, ó Rei Santo, porém, nunca alcançariam as graças que destes a quem canta: Aleluia! 21 Como tocha luminosa a iluminar os que jazem nas trevas, resplandece a Virgem Maria. Foi ela quem acendeu a Luz eterna. Seu fulgor ilumina as mentes e é guia à Sabedoria divina, inspirando este canto: 67

68 68 Ave, ó raio do Sol verdadeiro; Ave, ó facho de Luz perene. Ave, clarão que ilumina as mentes; Ave, trovão que os ímpios espanta. Ave, vieram de ti os radiosos mistérios; Ave, brotaram de ti tios de águas copiosas. Ave, a imagem és tu da antiga piscina; Ave, tu lavas as manchas dos nossos pecados. Ave, ó fonte que lava as almas; Ave, ó taça que verte alegria. Ave, fragrância do óleo de Cristo; Ave, ó vida do sacro banquete. Ave, Virgem e Esposa! 22 Querendo nos perdoar o primeiro pecado, Aquele que paga as dívidas de todos busca asilo no meio dos seus prófugos, exilando-se livremente do céu. Rasgado o antigo rescrito, ouve cantar: Aleluia! 23 Glorificando o teu parto, todo o universo te louva qual tabernáculo vivente, ó Senhora. Colocando sua morada no teu seio Aquele que segura tudo em sua mão, o Senhor, te fez santa e gloriosa, e nos convida a te louvar: Ave, ó tenda do Verbo divino; Ave, maior que o Santo dos Santos. Ave, ó arca dourada do Espírito; Ave, tesouro infinito da vida. Ave, precioso diadema dos reis piedosos; Ave, ó glória dos teus sacerdotes devotos. Ave, tu és para a Igreja qual torre possante; Ave, tu és para o mundo qual forte defesa. Ave, por ti levantamos os troféus; Ave, por ti são vencidos os maus. Ave, remédio eficaz para o meu corpo; Ave, ó salvação da minha alma. Ave, Virgem e Esposa! 24 Digna de todo louvor, Santa Mãe do Verbo, Santíssimo entre todos os Santos, recebe, nesse canto, a nossa oferta. Salva o mundo de todo perigo; de todos os males e dos castigos futuros livra nós que cantamos: Aleluia!

69 3. O TEXTO E SEU SIGNIFICADO 3.1 APRESENTAÇÃO DO HINO O hino Akáthistos é uma obra-prima literária, poética, métrica, rítmica e teológica da tradição bizantina que representa uma das mais altas e celebres expressões litúrgicas. É celebrado em forma de louvor tanto pelos fiéis católicos como ortodoxos. Foi composto com base em dois planos, o histórico e o da fé, e em duas perspectivas entrelaçadas e complementares, a cristológica e a eclesial, nas quais se aprofunda e esclarece o mistério de Maria, Mãe de Deus. Sua fonte inspiradora está baseada na Sagrada Escritura, nos Concílios Ecumênicos de Nicéia (325), de Éfeso (431) e de Calcedônia (451), nos padres do oriente dos séculos IV e V e na liturgia. Segundo ErmanoToniolo, este hino foi invocado pela primeira vez durante uma vigília na cidade de Constantinopla, como forma de agradecimento à intercessão atribuída a Maria pelo fato de a cidade ser salva das invasões dos bárbaros 2. Deste fato histórico resta o proêmio do Hino: 69 Ó Mãe, nosso guia sempre vitorioso, a ti a vitória! Eu, cidade por ti protegida, te ofereço esse hino de louvor! Com tua força invencível, salva-me de todos os perigos para que te aclame: 3 Mesmo quando o Império Bizantino, em 1453, acabou caindo sob a dominação turca, a confiança da população em Maria não foi abalada, mas engrandecida no âmbito da graça. Não mais, diz Jorge Scholarios, importunariam novamente a Mãe de Deus para salvar a cidade, mas que apenas os conservasse sempre na fé dos pais, dos antepassados 4. Assim, o hino Akáthistos permanece até hoje como testemunha da fé dos antepassados, este, é preservado intensamente no coração dos fiéis do Oriente cristão. Também no Ocidente este hino começa a ser conhecido e apreciado a partir da tradução, feita pelo bispo de Veneza, Cristovão, por volta do ano 800, 2 TONIOLO, Ermanno. Akáthistos. In: FIORES, Stefano de MEO, Salvatore (Dir). Dicionário de mariologia. São Paulo: Paulus, 1995, p LASAGNA, M. L. Akathistos... p Jorge Scholarios. Apud., TONIOLO, E. M. Akáthistos. In: FIORES, S. MEO, S. (Dir). Dicionário...p. 24.

70 para a língua latina. Atualmente é traduzido e celebrado comunitariamente em várias línguas modernas. 3.2 TÍTULO, AUTOR E ÉPOCA DA COMPOSIÇÃO Título Este hino não possui um nome específico, mas uma rubrica convertida em título. O termo Akáthistos, proveniente da língua grega: composto de um a privativo e do verbo kathizomai, sentar-se, quer dizer literalmente não sentado ou estando de pé. Portanto, é um hino que deve ser cantado ou escutado em pé, como no momento da proclamação do Evangelho, em sinal exterior de reverência e respeito à Mãe de Deus Autor Vários livros litúrgicos e autores não hesitam em afirmar que o autor do hino Akáthistos é anônimo. Durante muitos séculos estudiosos procuraram encontrar ou ao menos indicar um possível autor deste hino. De acordo com Hilda Graef, por muito tempo se tem atribuído a autoria a Romano, o Melodista (século VI), e a outros hinógrafos do Oriente, como Sérgio de Constantinopla (século VII), Jorge da Psídia (século VII) 5 e Germano de Constantinopla (século VIII). Porém, não existem razões suficientes para manter esta hipótese, pois nenhum desses autores conseguiu chegar à profundidade dos conteúdos e a grandeza métrica deste hino. ErmanoToniolo quando se refere à autoria anônima do Akáthistos, afirma: [...] Certamente seu autor foi um grande poeta, um insigne teólogo, um consumado contemplativo: tão grande que soube traduzir em síntese de oração a fé professada pela igreja; tão humilde que desapareceu anonimamente. O seu nome É conhecido por Deus e ignorado pelo mundo 6. 5 GRAEF, Hilda. María: la mariología y culto mariano a través de la historia. Barcelona: Herder, 1968, p TONIOLO, E. M. Akáthistos. In: FIORES, S. MEO, S. (Dir). Dicionário...p. 28.

71 Portanto, o autor continua sendo um mistério para os pesquisadores e estudiosos desta composição.enquanto não se descobre o autor, o Akathistos é um patrimônio de todos os féis que louvam a Mãe de Deus no mistério da Encarnação Época da composição Segundo Stefano Rosso, os escritos atuais trazem que o hino Akáthistos foi composto entre a segunda metade do século V e os primeiros anos do século VI 7. É impossível datar com precisão o ano da autoria, sabe-se ao menos que é posterior a uma homilia sobre a Mãe de Deus de Basílio de Selêucia (século V), do qual uma parte depende verbalmente, e anterior ao kontakion de Romano, o Melodista 8. Do ponto de vista litúrgico, segundo Toniolo, o hino Akáthistos: [...] revela-se anterior à instituição da festa da Anunciação, sob o imperador Justiniano, em torno do ano 535: com efeito, o hino não segue o formulário da Anunciação, mas sim o da primitiva e única festa da Mãe de Deus, que caía no dia seguinte ao santo Natal ou no ciclo natalício Portanto, é difícil fixar uma data precisa para a composição do Hino Akáthistos, mas uma coisa é certa: ele nos leva ao estimado valor e espírito das primeiras expressões de culto à Mãe de Deus. 3.3 ESTRUTURA LITERÁRIA O hino Akáthistos pertence ao gênero dos antigos hinos chamados kontakia, que não são baseados na quantidade de sílabas breves e longas, mas no acento tônico que anima os versos. De acordo com Toniolo, na estrutura original do hino: 7 LASAGNA, M. L. Akathistos... p Basílio de Selêucia. Apud.,AA. VV. Testi mariani del primo millenio: padri e altri altori greci. Roma: Città Nuova, 1988, p TONIOLO, E. M. Akáthistos. In: FIORES, S. MEO, S. (Dir). Dicionário... p. 28.

72 [...] as estrofes são arquitetadas, os versos ordenados, as acentuações predispostas, as sílabas numeradas, as pausas fixadas. Trata-se de uma armação perfeita, embelezada por elegantíssimo entrelaçamento, o mais variado que se possa pensar, de rimas perfeitas, assonâncias e contrastes homofônicos 10. Desta forma, segundo João Batista Camilotto, o hino era destinado às celebrações litúrgicas com finalidade catequético-pastoral, pelo fato de as estrofes introduzirem os fiéis aos poucos no mistério do sensível ao inteligível, do que é narrado ao que é crido, da história que o Evangelho narra, à fé que a Igreja vive e professa O hino é composto de vinte e quatro estrofes, das quais cada uma começa com uma respectiva letra do alfabeto grego. É organicamente dividido em duas partes bem distintas, cada uma com doze estrofes, que formam uma unidade poética e conceitual. As doze primeiras estrofes narram os episódios evangélicos do nascimento de Jesus (Lc 1-2; Mt 1-2); a segunda parte é mais dogmática e teológica, apresenta a doutrina mariana dos concílios e dos Padres da Igreja antiga, a concepção virginal, a maternidade divina, o mistério do parto virginal, a virgindade perpétua e a proteção celeste. Além dessas duas partes, as estrofes subdividem o hino em outros dois grupos de doze: impares e pares. As estrofes impares são mais longas que, depois de apresentarem o conteúdo histórico ou temático, se prolongam em uma ladainha com doze aclamações à Mãe de Deus e enceram com o refrão: Ave, Virgem e Esposa. Esta exclamação, para Camilotto: [...] fixa a mente dos fiéis sobre a Virgem-Mãe imersa no mistério de Deus: criatura tão intimamente unida ao Pai, que é chamada de Esposa com termo literário elegante que subentende sua virginal doação à divindade, para tornar-se-lhe vivo o instrumento no mistério que, em Cristo, une pessoalmente o divino e o humano. Desposada a Deus, mas não desposada a homem (nympheanympheute= esposa inesposada), posse pessoal exclusiva do Pai, Filho e Espírito Santo, mas virgem de toda pertença humana Id. 11 CAMILOTTO, J. B. Hino Acatisto... p Ibid., p. 48.

73 Desta forma a exclamação do refrão insere a figura da Mãe de Deus no mistério entre o criado e o incriado, como o ponto mais elevado da ascensão do ser humano que se envolve no esplendor divino. As estrofes pares, que compreendem o segundo grupo da subdivisão, são mais breves, terminando com a exclamação: Aleluia, doze vezes. Estas exclamações glorificam somente o Senhor, de quem parte a iniciativa, surge à vida, o qual inicia a história, se difunde a graça e em quem termina todo caminho espiritual do ser humano. Assim, fica claro que a estrutura do hino Akáthistos parece se apoiar no número doze: dividido em duas partes com doze estrofes; subdivido em dois grupos com doze estrofes; o número das sílabas de duas estrofes combinadas e do hino é múltiplo de doze. Segundo Toniolo, há alguns que se referem sutilmente a alusão do número doze à misteriosa mulher presente no Apocalipse, que é coroada com doze estrelas e outros, recordam aludindo às doze tribos de Israel e aos doze apóstolos de Cristo TEOLOGIA DO HINO AKÁTHISTOS 73 O hino Akáthistos é uma profissão de fé no mistério da Encarnação do Verbo de Deus que envolve a Virgem Maria. Por isso não deve ser considerado como um tratado de teologia propriamente dito, mas um verdadeiro e autentico hino da Igreja antiga que expõe aquilo que o povo cristão acredita e professa conforme a Sagrada Escritura e os Concílios Ecumênicos. A elaboração do hino utiliza a intuição dos Padres do Concílio de Éfeso (431), especialmente de Cirilo de Alexandria, que durante a sessão saudava Maria desta maneira: Ave de nossa parte, ó Maria Mãe de Deus, venerada relíquia de toda a terra, lâmpada inextinguível, coroa da virgindade, cetro da ortodoxia, templo indissolúvel, mãe e virgem. Ave, tu que, na santa e virginal matriz, contiveste o Incontível. Por ti é santificada a Trindade; por ti a cruz é dita digna de honra e é adorada em toda a terra; por ti exulta o céu; por ti alegram-se os anjos e arcanjos; por ti são expulsos os demônios; por ti o homem decaído é elevado aos céus; por ti todo o mundo, escravo da idolatria, alcança o conhecimento 13 TONIOLO, E. M. Akáthistos. In: FIORES, S. MEO, S. (Dir). Dicionário...p. 25.

74 da verdade; por ti há o santo batismo para aqueles que crêem e por ti há o óleo da exultação; por ti foram fundadas as igrejas sobre a terra; por ti as pessoas chegam à conversão; por ti predisseram os profetas; por ti os apóstolos anunciam a salvação a todas as pessoas; por ti os mortos ressuscitam 14. Essa saudação mostra claramente a tendência de atribuir à Maria forças e atividades que, estritamente falando, pertencem somente a Deus, e que mais tarde influência outros poetas. De acordo com Graef, Maria é saudada desta maneira por ser justamente a Theotókos, a Mãe do Criador, porém, é necessário ter sempre presente que estas saudações se caracterizam como gêneros literários e, por isso, não podem ser consideradas afirmações teológicas exatas 15. Colocando a Virgem Maria e Cristo num só plano, Santo Irineu afirma: 74 Aqueles que o prenunciaram Emanuel nascido da Virgem manifestavam a união do Verbo de Deus com sua obra, isto é, que o Verbo se teria feito carne e o Filho de Deus filho do homem: o puro que, de modo puro, iria abrir aquele puro seio que regenera os homens para Deus, seio que ele próprio tornou puro 16. É neste contexto de união entre Filho e Mãe, ou seja, na causa principal divina e na causa instrumental humana, que toda a teologia do hino é desenvolvida. De acordo com Camilotto, nessa extensão do mistério, Maria está presente e operante onde quer que a humanidade de Cristo seja fonte e vida, ali esta Maria que lhe deu a carne, ali esta inscrita sua figura de Virgem e sua ação de Mãe 17. Portanto, o hino Akáthistos se articula em torno de dois pilares: o Cristo da história e da fé, ou seja, em torno da manifestação divina e da teologia. E é neste mistério fundamental da obra salvífica que a Mãe de Deus participa ativamente. 3.5 CONTEÚDO DOUTRINAL Mencionamos acima que o hino Akáthistos é dividido em duas partes: a parte narrativa, que relata algumas perícopes dos evangelhos, e a parte dogmática, que expressa à doutrina mariana estabelecida pela Igreja antiga. Levando em 14 Cirilo de Alexandria. Apud., TONIOLO, E. M. Akáthistos. In: FIORES, S. MEO, S. (Dir). Dicionário... p GRAEF, Hilda. María: la mariología... p Irineu de Lyon. Apud., E. TONIOLO. Akáthistos. In: FIORES, S. MEO, S. (Dir). Dicionário...p

75 conta o conteúdo das estrofes das duas partes, podemos subdividi-las em quatro partes: a) As primeiras seis estrofes (1-6), de cunho cristológico, encenam e louvam a Encarnação do Verbo no seio de Maria e a sua manifestação às primeiras testemunhas: Virgem Maria, João Batista, Isabel e José. Este mistério, incompreensível à mente humana, atinge o seu ápice em Maria, na qual se realiza a nova criação. b) As estrofes 7 a 12 possuem uma conotação eclesial, e apresentam a manifestação de Deus no mundo, a qual é portadora de luz e graça para todos aqueles que entram em contato com o mistério do Verbo encarnado: os pastores de Belém, os magos e o justo Simeão. c) As estrofes 13 a 18 apresentam os dogmas de fé relacionados á Maria no mistério de Cristo: a concepção virginal, a maternidade divina e o parto virginal. d) As últimas estrofes 19 a 24 celebram e louvam a Mãe de Deus no mistério da Igreja e propõem três verdades mariológicas: virgindade perpétua de Maria, maternidade espiritual e a proteção celeste da Mãe de Deus na Igreja. Em seguida abordaremos somente os dois aspectos marianos centrais do hino: Maria no mistério de Cristo e Maria no mistério da Igreja Maria no mistério de Cristo Entraremos na primeira temática fundamental que percorre todo o hino Akáthistos: Maria no mistério do Verbo encarnado, redentor da humanidade. Como fundamento da estrutura e da exposição doutrinal está à definição cristológica do Concílio de Calcedônia (451): Jesus Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Segundo Hans Kessler, essa afirmação contém a seguinte fórmula: um e mesmo Jesus Cristo em duas naturezas, que de modo inconfuso e inseparável se reúnem formando uma só pessoa ou hipóstase 18. Deste modo, Jesus Cristo é consubstancial ao Pai pela divindade e, com o ser humano, pela humanidade. Deus se manifestou a este mundo humildemente como ser humano e, para salvar o mundo, o Criador de todas as coisas quis vir a ele. Sendo Deus, tornou-se nosso Pastor e apareceu entre nós como Cordeiro. Sendo homem, atrai a si os homens CAMILOTTO, J. B. Hino Acatisto... p KESSLER, H. Cristologia. In: SCHNEIDER, Teodor (org). Manual de dogmática. Volume I. Petrópolis: Vozes, 2000, p LASAGNA, M. L. Akathistos... estrofe 18, p. 20.

76 Vemos desta forma que a doutrina marina está toda embasada no mistério do Verbo encarnado, segundo a doutrina proposta por Calcedônia. Maria está profundamente iniciada no mistério a ponto, como louva a terceira estrofe, de se tornar guia para a humanidade: ave, tu guia ao supremo Conselho; ave, ó ponte que levas os homens ao céu; ave, escada celeste por quem veio o Eterno; ave, do crente iluminas a luz 20. Neste contexto, no dizer da estrofe 15, Maria é a porta que leva os fiéis a Cristo, Verbo encarnado. Considerada o vértice supremo, o trono de Deus, gera o Verbo e participa ativamente do mistério fundamental da obra salvífica e redentora de seu Filho, por isso, o hino a louva: ave, morada de Deus infinito; ave, tu porta do santo mistério; ave, por ti foi redimida a culpa; ave, por ti Deus abriu os céus Assim, o mistério da salvação da humanidade é iniciado através da profunda participação ativa de Maria: o Verbo de Deus, por meio do Espírito Santo, desceu do céu e se encarnou no seio da Virgem Maria no mistério da Igreja O segundo aspecto central que constitui a temática do hino Akáthistos, se refere ao mistério de Maria na Igreja. Maria é presença viva e ativa na assembléia dos fiéis; prefiguração dos apóstolos, mártires e pastores que anunciam e testemunham Cristo, o qual reveste os fiéis de glória. Por isso, a estrofe 7 louva assim a Mãe de Deus: ave, aprisco da grei fiel; ave, tu és dos apóstolos a voz perene; ave, tu és do mártir indômito ardor; ave, estandarte glorioso da graça; ave, ó Mãe do Cordeiro-Pastor 22. A presença de Maria é constante no meio eclesial, que atravessa o tempo e a história. Segundo Toniollo, Maria está: Presente na Igreja desde o seu nascimento no mistério pascal como fonte que contém a água salutar, essência perfumada, que compõe o crisma sagrado, vida do banquete eucarístico -, ela está sempre presente na sua peregrinação em direção à pátria Ibid., p Ibid., p Ibid., p TONIOLO, E. M. Akáthistos. In: FIORES, S. MEO, S. (Dir). Dicionário...p. 29.

77 A Mãe de Deus na sua mediação celeste protege a Igreja peregrina na conquista da pátria celeste e ao mesmo tempo é refugio e esperança para cada fiel. Assim louva a estrofe 23: ave, tu és para a Igreja qual torre possante; ave, tu és para o mundo qual forte defesa; ave, ó tenda do Verbo divino; ave, ó arca dourada do Espírito; ave, tesouro infinito da vida; ave, por ti são vencidos os maus; ave, ó salvação da minha alma 24. Deste modo, o hino Akáthistos em honra à Mãe de Deus é celebrado em três dimensões: passado, presente e futuro da história da salvação que converge na encarnação do mistério pascal. Diante desse mistério insondável, Maria é celebrada e louvada a partir de toda a história salvífica do Verbo de Deus, feito homem. 4 CONCLUSÃO O Akathistos em honra a Mãe de Deus, teve como objetivo apresentar a riqueza espiritual mariana do Oriente presente no mais belo hino das celebrações litúrgicas do rito bizantino. Desde o inicio, verificou-se que os cristãos orientais buscaram expressar de várias formas a sua fé e uma delas se manifesta através dos hinos presentes na liturgia. O hino Akáthistos apresenta-se como uma teologia em forma de oração, pois as verdades de fé apresentam-se como meditações de caráter poético e acessível aos fiéis. O hino converge a uma teologia em forma de oração que expressa à experiência da Igreja das primeiras comunidades cristãs que professavam a fé em Maria. 77 Por meio das celebrações litúrgicas e da hinografia, a Igreja bizantina conseguiu expressar de forma consistente a autêntica devoção à Theotókos, isto é, à Mãe de Deus. Esta acentuada presença de Maria demonstra uma riqueza teológica e uma harmonia doutrinal que é revertida para uma piedade iluminadora. Não é por acaso que a liturgia bizantina é considerada a mais mariana de todas as liturgias cristãs. No Akáthistos, os orientais condecoram a Virgem Maria com belíssimos versos que a enaltecem como Santíssima Mãe de Deus. Neste hino delineia-se o mistério da Encarnação, o divino que desposou o humano e toda a matéria foi cristificado. Mas, para que tudo isso fosse realidade, houve a necessidade do consentimento livre por parte do ser humano. Tal consentimento foi dado por Maria que colaborou no projeto salvífico de Deus para com a humanidade. 24 LASAGNA, M. L. Akathistos... p. 25.

78 Nos versos do Akathistos esboça-se a presença da Igreja que desempenha um papel importantíssimo no ensino e consolidação dos fiéis na verdadeira fé cristã, na verdadeira doutrina da Igreja definida pelos primeiros grandes Concílios Ecumênicos. Por isso, podemos afirmar, que a liturgia e a hinografia bizantina, tornaram-se fonte inesgotável de catequese e espiritualidade para todos os cristãos. Salientamos que o hino Akáthistos em honra à Mãe de Deus é parte integrante da cristologia, pois, Maria está presente de modo permanente no conjunto orgânico do mistério e da história da salvação, por isso, o culto a ela prestado está inserido no culto a Jesus Cristo, salvador e redentor da humanidade. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 78 AA. VV. Testi mariani del primo millennio: padri e altri altori greci. Roma: Cittá Nuova, BAUMSTARK, Anton. Liturgia comparada: principios y métodos para el estudio histórico de las liturgias cristianas. (2): la poesía litúrgica; La salmodía; Las lecturas litúrgicas; La acción litúrgica; Origen de las fiestas litúrgicas; El tiempo cuaresmal. Barcelona: Centro de Pastoral Litúrgica, 2005 CAMILOTTO, João Batista. Hino Acatisto em honra da Virgem Maria. Porto Alegre: EDIPUCRS, GLINKA, Luis. Introducción a la liturgia bizantina ucraniana: una reflexión histórico-teológica. Buenos Aires: Lumen, GRAEF, Hilda. María: la mariología y el culto mariano a través de la historia. Barcelona, Herder, GHARIB, Georges. Oriente Cristão. In: FIORES, Stefano de MEO, Salvatore (Dir). Dicionário de mariologia. São Paulo: Paulus, 1995 KESSLER, Hans. Cristologia. In: SCHNEIDER, Teodor (org). Manual de dogmática. Volume I. Petrópolis: Vozes, LASAGNA, M. Luigi. Akathistos: hino litúrgico Bizantino a Mãe de Deus. Música do M. Luigi Lasagna. Roma/São Paulo: Centro di Cultura Mariana Mater Ecclesiae/ Curia Provincial, s/d. ROSSO, Stefano. La celebrazione della storia della salvezza nel rito bizantino: misteri sacramentali feste e tempi liturgici. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2010.

79 TONIOLO, Ermanno. Akáthistos. In: FIORES, Stefano de MEO, Salvatore (Dir). Dicionário de mariologia. São Paulo: Paulus, PARRAVICINI, Giovanna (org.). A vida de Maria em ícones. São Paulo: Loyola, SPIAZZI, Raimondo (dir). Enciclopédia Mariana Theotocos. Genova / Milao: Bevilacqua & Solari / Massimo, VALENTINI, Giuseppe. Teologia e poesia mariana nella liturgia bizantina. In: SPIAZZI, Raimondo (dir). Enciclopédia Mariana Theotocos. Genova / Milao: Bevilacqua & Solari / Massimo, E-BOOK: Akáthistos.net - Akathistos Net 79

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81 Artigos IGREJA UCRANIANA NO BRASIL práticas pastorais, tensões com a Igreja romana, encontros, desencontros e desafios Pe. Dr. Teodoro Hanicz, OSBM * RESUMO: A Igreja católica ucraniana chegou ao Brasil há 120 anos. E tinha primordialmente a tarefa de atender e manter a fé daqueles emigrantes. A maior parte deste tempo foi vidida em tensão com a mesma Igreja católica latina, por causa de incompreensões teológicas, mas, sobretudo pastorais. Questões de administração de sacramentos, ao lado da assimilação de comportamentos religiosos nativos mais por ignorância de ambos os lados criaram impasses pastorais a ponto de o bispo latino dever recorrer à Santa Sé. A partir de uma orientação do papado em relação aos imigrantes ucranianos da América Latina começou-se um processo novo, que levou, por fim, a criação de Eparquia em Curitiba (1971). E desde então as relações entre as autoridades eclesiásticas tem sido sempre melhores, apesar de perdurarem problemas pastorais mas, não mais por causa do clero, e sim por causa da assimilação de comportamentos culturais e religiosos ou ignorância religiosa. Na parte final, o texto apresenta como um desafio a posssibilidade de o rito greco-bizantino ucraniano tornar-se um rito válido também para os próprios brasileiros. 81 PALAVRAS CHAVE: Imigrante; Tradições religiosas: Dificuldades pastorais; Administração de sacramentos: Assimilação. ABSTRACT: The Ukrainian Catholic Church arrived in Brazil 120 years ago. Moreover, the task was primarily to attend and maintain the faith of those emigrants. Most of this time was experienced in tension with the Latin Catholic Church itself, because of theological misunderstandings, but above all pastoral questions. Issues of administration of the sacraments, next to the assimilation of native religious behavior - more by ignorance on both sides - have developed a pastoral point of impasse that the Latin bishop should refer to the Holy See. From an orientation of the papacy towards Ukrainian immigrants from Latin America started a new process that led, ultimately, the creation of the Eparchy in Curitiba (1971). Since then relations between the church authorities have always been better, although pastoral problems persisted - but not anymore because of the clergy, but because of the assimilation of religious or cultural attitudes and religious ignorance. In the end, the text presents a challenge as the possibility of the Greek-Byzantine Ukrainian rite to become a rite valid also for the Brazilians themselves. KEY WORDS: Assimilation. Immigrant; Religious traditions; Pastoral difficulties; Administration of sacraments; * Mestre em Teologia Dogmática (História da Evangelização na América làtina). Doutor em Ciências da Religão.

82 Introdução Ao se instalar no Paraná no final do século XIX, o imigrante ucraniano, logo no início, procurou espaço para viver a sua religiosidade conforme os rituais que são próprios da sua cultura. Essa busca de espaço provocou uma teia de impasses e embates, diferentes e múltiplos, com o catolicismo latino na diocese de Curitiba. A presença greco-católica ucraniana abriu um novo expediente dentro do universo cultural e religioso paranaense. 82 Este texto tem por objetivo discutir as tensões entre católicos romanos e greco-católicos ucranianos geradas pelas práticas pastorais-sacramentais das duas Igrejas e apontar para alguns desafios contemporâneos. As tensões entre as duas Igrejas estão presentes desde o início da organização da diocese de Curitiba e da vinda dos primeiros padres que vieram atender os imigrantes a partir de Elas ganham força a partir da expedição de um decreto da Sagrada Congregação de Propaganda Fide com o intuito de normatizar e harmonizar as relações entre fiéis católicos romanos e greco-católicos ucranianos. O decreto foi elaborado no calor do Concílio Plenário Latino Americano em Roma, em O primeiro bispo, D. José de Camargo Barros ( ), vai se deparar com um enorme problema dentro da Igreja Católica romana: o catolicismo grecocatólico ucraniano trazido pelos imigrantes vindos da Ucrânia que vai curtocircuitar com o catolicismo romano. No artigo, vai-se focalizar os seguintes tópicos: 1. A origem das tensões nos tropeços jurídico-canônicos e nas práticas pastorais. 2. A tentativa de encontrar uma solução: os decretos de 1899 e Sob a jurisdição da Igreja latina. 4. Problemas e desafios contemporâneos. 1 A origem das tensões nos tropeços jurídico-canônicos e nas práticas pastorais Os estudiosos da história da Igreja greco-católica ucraniana no Brasil afirmam que foi o padre Nicolau Michalevitch o primeiro sacerdote que veio ao Brasil no início da imigração, no final de junho de 1896, enviado pelo metropolita de Lviv, Silvestre Symbratovytch. O padre Nicolau era diocesano casado e encontrou inúmeros problemas com a hierarquia eclesiástica do rito latino. Como tivesse vindo com sua esposa, o bispo de Curitiba, D. José de Camargo Barros, negou-lhe a jurisdição canônica, permitindo apenas que visitasse os núcleos de Prudentópolis, Rio Claro e Curitiba e, em seguida, voltasse a seu país de origem. Logo no mês seguinte, em julho, a comunidade de Rio Claro celebrava a chegada do padre Nicon Rozdolsky, que permaneceu entre os colonos até 1906, ano de

83 sua morte. 1 Era viúvo, e só depois de meio ano obteve Provisão para trabalhar entre os imigrantes ucranianos. Os padres da Ordem de São Basílio Magno, popularmente chamados de basilianos, estão presentes aqui no Brasil desde O primeiro missionário basiliano a desembarcar no Rio de Janeiro foi o padre Silvestre Kizema, em junho de Imediatamente procurou o Inter Núncio Apostólico a fim de obter orientações para continuar a viagem para o Paraná. Em carta de 31 de julho do mesmo ano, ele escrevia a seus confrades como fora a viagem e como chegara ao Brasil, inclusive relatando o seu encontro com o Inter Núncio. O encontro com o Núncio diminuiu pela metade as minhas preocupações que eram muitas desde que pisei em solo brasileiro. Ele me recebeu com gentileza, mas apresentou dificuldades quanto à aceitação de padres ucranianos no Brasil. 2 Ao chegar a Curitiba enfrentou grandes problemas com a hierarquia latina. Ignorando sua presença, D. José de Camargo Barros não o recebeu, disparou-lhe um volte à Europa. 3 Só depois de muita insistência e intervenção do Inter Núncio Apostólico do Rio de Janeiro, a situação do missionário se normalizou. 4 O impasse que se criou entre os padres ucranianos e o bispo de Curitiba se situam na esfera jurídico-canônica da Igreja. Os trâmites para a vinda deles não seguiram os caminhos canônicos que normatizavam a vinda do clero estrangeiro para o Brasil. Não passaram nem pelo conhecimento do bispo nem pela Sagrada Congregação de Propaganda Fide. Um documento da Sagrada Congregação de Propaganda Fide de 14 de novembro de 1897 diz: 83 Esta Sagrada Congregação nem expressa nem tacitamente deu o seu consenso a Silvestre Kizyma de ir para o Brasil, nem lhe designou províncias onde o mesmo pudesse exercer a missão pelos fieis rutenos. Além disso, nem se pode dar a licença ao mesmo de percorrer, às próprias custas, as províncias do Paraná e Santa Catarina, já que o R.P.D. Bispo de Curitiba deu somente autorização para tomar cuidado dos fieis rutenos residentes em Prudentópolis. Nem, por fim, se lhe pode conceder o direito de conduzir missões nos locais acima mencionados, porque, no que toca ao direito, a palavra pertence exclusivamente a esta Sagrada Congregação. 5 1 Valdomiro HANEIKO, Uma centelha de luz: clero diocesano ucraíno no Brasil, p MISSIONAR, ano I, maio de 1897 abril de 1898,p (tradução nossa). Sobre o encontro com o Núncio Apostólico no Rio de Janeiro Kizema relata em carta datada de 18 de maio de 1902 e endereçada ao metropolita de Lviv, Andrey Sheptysky. 3 ARQUIVO PROVINCIAL DA ORDEM DE SÃO BASÍLIO MAGNO. Curitiba. Relatório apresentado ao metropolita Andrey Sheptysky pelo padre Markiano Skirpan, em ARQUIVO PROVINCIAL DA ORDEM DE SÃO BASÍLIO MAGNO. Curitiba. Relatório apresentado ao metropolita Andrey Sheptysky pelo padre Markiano Skirpan, em ARQUIVO PROVINCIAL DA ORDEM DE SÃO BASÍLIO MAGNO. Curitiba. Sagrada Congregação para a expansão da Fé para os assuntos Orientais. Protocolo n. 7446, Roma, 14 de novembro de 1897.

84 Superados os problemas iniciais relacionados à recepção da parte de D. José de Camargo Barros ( ), o clero greco-católico ucraniano, seja ele diocesano ou religioso, de alguma forma teve que se adaptar à realidade da diocese de Curitiba, pois estavam sob a jurisdição canônica dos prelados que ocupavam a Sé curitibana. 84 À medida que os obstáculos dos primeiros contatos vão sendo transpostos e o clero greco-católico vai se infiltrando nas colônias e intensificando o trabalho pastoral junto aos imigrantes, vão emergindo problemas de ordem pastoral, canônica e econômica em relação à administração dos sacramentos, principalmente do batismo, crisma e matrimônio. Aos poucos, a presença do imigrante ucraniano greco-católico vai se tornando um problema para o exercício das atividades pastorais da Igreja latina. Do mesmo modo, os ucranianos vão queixar-se que os latinos estavam colocando obstáculos para obstruir as atividades religiosas de acordo com as tradições religiosas trazidas da Ucrânia. Os problemas e as dificuldades se avolumaram de tal maneira que foi necessário Roma interferir e normatizar as atividades pastorais entre greco-católicos ucranianos e católicos romanos. 2 A tentativa de encontrar uma solução: os decretos de 1899 e 1916 Que problemas pastorais os greco-católicos trouxeram para a diocese de Curitiba? Por que eles se tornaram um problema para o bispado de Curitiba no final do século XIX e início do século XX? A presença de fiéis do rito greco-católico ucraniano nos territórios do bispado de Curitiba trouxe uma nova configuração eclesial para a diocese, colocou D. José de Camargo Barros ( ) numa situação extremamente difícil e complicada e abriu uma crise sem precedentes na diocese. Era o choque de modelos diferentes de catolicismo. Era o encontro de duas expressões eclesiais, ambas católicas, mas de tradições diferentes. A presença dos greco-católicos curto-circuitou com os fundamentos universalizantes e homogeneizantes do catolicismo romano. Os ucranianos são católicos, mas católicos de outra tradição, a Oriental Bizantina. Foi uma convivência difícil. Dom José de Camargo Barros (e depois seus sucessores) teve dificuldades pastorais gigantescas em lidar com esse grupo católico diferente, sobretudo com o clero que o servia. Além da língua, esse grupo trouxe um rito diferente, uma liturgia, um calendário e particularidades sacramentais diferentes da realidade sacramental e litúrgica do rito latino. Quanto à língua, ao calendário litúrgico e ao rito parece que os problemas, embora existissem, não foram tão expressivos entre os bispos da Sé curitibana e o clero greco-católico. O problema maior residia na administração dos sacramentos, principalmente em relação ao batismo, confirmação e matrimônio. A administração desses sacramentos vai desenhar um triângulo de

85 longos e intensos conflitos entre os padres greco-católicos, os bispos de Curitiba e os padres latinos, sobretudo, poloneses. O problema não era de fácil solução. Então, por ocasião de sua ida ao Concílio Plenário Latino Americano, realizado em Roma entre os dias 28 de maio e 9 de julho de 1899, D. José de Camargo Barros recorreu à Sagrada Congregação de Propaganda Fide expondo suas dúvidas e pedindo instruções de como deveria agir diante da nova situação relacionada à administração do batismo, confirmação e matrimônio aos fiéis greco-católicos ucranianos ministrados pelos padres latinos, e também quanto a esses mesmos sacramentos ministrados aos latinos pelos padres greco-católicos. Constituía um problema à parte e motivo de desentendimento entre o clero, os matrimônios mistos. Afinal, nesses casos, a qual rito deveria pertencer a prole? Em documento datado de 20 de maio de 1899, D. José expõe o problema e pede solução à Sagrada Congregação de Propaganda Fide. Na diocese de Curitiba moram quase cinqüenta mil católicos rutenos, não numa só comunidade, mas dispersos em várias colônias, das quais algumas com mil, outras duas mil e até cinco mil almas; não vivem isolados, mas misturados com outros de rito latino. Entretanto, devido a essa mistura de fiéis de ritos diferentes, surgem não poucas dificuldades, para cuja solução venho, súplice, aos pés de Vossa Santidade, propondo humildemente as seguintes dúvidas: 1. Podem dois nubentes, pertencentes aos dois diferentes ritos, entre si contrair matrimônio sem licença da Santa Sé? Em caso negativo, solicito solução para esse caso. Em caso afirmativo, precisam eles talvez licença do bispo? 2. Qual pároco presidirá esse matrimônio: o latino ou o grego? 3. E assim, celebrado o casamento, que rito deve seguir a prole a nascer dele? 4. Nas colônias em que residem sacerdotes de rito grego, poderão eles, com minha licença, ministrar os sacramentos a fiéis de rito latino? Em caso negativo, peço com todo empenho que tal se permita, em atenção à falta de sacerdotes, sobejamente conhecida de Vossa Santidade. 5. Posto isso, posso eu proibir que sacerdotes gregos ministrem o Crisma também a crianças latinas simultaneamente com o batismo? 6. Caso já exista alguma instrução da Santa Sé sobre esse assunto, peço encarecidamente que ela me seja transmitida D. José de Camargo Barros obteve resposta da Sagrada Congregação em dois turnos. A primeira, em caráter provisório e sem responder todas as questões, ainda durante o Concílio Plenário Latino Americano em carta-decreto de 6 de julho. A segunda resposta saiu das oficinas da Sagrada Congregação de Propaganda Fide um pouco mais tarde, dia 18 de agosto, quando a Congregação reúne-se 6 ARQUIVO PROVINCIAL DA ORDEM DE SÃO BASÍLIO MAGNO. Curitiba. Original em latim. Tradução de Elmar Joenck. Este documento também foi publicado na COLLECÇÃO das Pastoraes, Circulares, Mandamentos, Etc. de Sua Exa. Rvma. o Sr. Bispo de Corytiba, durante o primeiro quinquennio de sua administração. Corytiba, 1900, p. 168.

86 para tratar da questão e dar o parecer definitivo, como informa o Prefeito da dita Congregação, cardeal Ledochowski, através da carta-decreto enviada o prelado curitibano datada de 1º de setembro. 7 Tendo recebido o decreto, acompanhado de uma Circular, D. José envia-o ao clero ucraniano e latino. O documento tem data de 26 de novembro de ARQUIVO PROVINCIAL DA ORDEM DE SÃO BASÍLIO MAGNO. Curitiba. Original em latim. Tradução de Elmar Joenck. Este documento também foi publicado na COLLECÇÃO das Pastoraes, Circulares, Mandamentos, Etc. de Sua Exa. Rvma. o Sr. Bispo de Corytiba, durante o primeiro quinquennio de sua administração. Corytiba, 1900, p PRIMEIRA RESPOSTA Roma, 06 de julho de Ilmo. e Rvmo. Senhor. Foram submetidos a diligente exame os assuntos expostos por V. Excia., em carta do dia 21 do mês passado, e referentes aos fiéis do rito ruteno habitantes da diocese de Curitiba. No que diz respeito à primeira dúvida, referente a matrimônio de rito diverso, não se requer nenhuma licença da Santa Sé e do Ordinário, já que não ocorre nenhum impedimento canônico. Quanto à segunda dúvida se responde que é o pároco latino que deve presidir tanto matrimônios contraídos entre marido grego e mulher latina quanto entre marido latino e esposa grega. Deixase para outro dia a resposta à 3ª dúvida, respeitante aos filhos deles nascidos, e à 4ª dúvida, sobre a administração dos sacramentos; delas far-se-á relação na cessão Geral dos Eminentíssimos Padres desta Congregação. Quanto à 5ª dúvida, é absolutamente proibido aos sacerdotes do rito grego assinalar os recém-batizados com o crisma na fronte. Nesse meio tempo, rogo a Deus que te conserve são e salvo por muito tempo.segunda RESPOSTA Roma, 1º de setembro de Ilmo. e Revmo. Sr. Esta Sagrada Congregação, em reuniões gerais ocorridas no dia 18 de agosto próximo passado, submeteu a exame as dúvidas propostas por V. Excia. através da carta do dia 21 de maio do ano corrente, no que se refere à prole nascitura de matrimônios de ritos mistos, e à licença pedida para sacerdotes greco-rutenos administrarem os sacramentos a fiéis latinos desta diocese. Por conseqüência, os Exmos. Padres determinaram que se respondesse: Quanto à 1ª dúvida Tome-se por norma que, antes da celebração do casamento, os nubentes estabeleçam entre si um acordo sobre a educação de toda a prole no rito próprio das Igrejas do Brasil, isto é, no rito latino. Se isso não agradar aos nubentes, que a prole seja educada no rito dos pais, conforme o sexo, de maneira que os filhos homens sigam o rito do pai, e as filhas, o rito da mãe. Quanto à 2ª dúvida A resposta é afirmativa em casos de necessidade e de grave dificuldade, nos quais devem ser observadas as seguintes instruções: A) No que diz respeito ao batismo. Sacerdotes ruteno-católicos poderão ministrar o sacramento do batismo à prole pertencente ao rito latino, usando seu próprio rito. É claro que o batismo conferido em tais circunstâncias não envolve mudança de rito nem poderá, assim, oferecer qualquer pretexto para mudança. A realização do batismo, nesses casos, deve ser registrada em livro separado, especial para o registro de batismo de filhos de outro rito e nele se anote que a prole batizada pertence a outro rito. Finalmente, o mais cedo possível, seja o respectivo pároco informado da celebração desse batismo. B) Quanto ao sacramento da penitência, os fiéis de ambos os ritos podem confessar os seus pecados e obter o benefício da absolvição sacramental, de modo válido e lícito, de sacerdote tanto do rito latino quanto do rito ruteno, desde que aprovado por seu Ordinário. C) Quanto ao Santíssimo sacramento da Eucaristia, aos fiéis de ambos os ritos seja facultado comungar no outro rito, naqueles lugares em que não posam ter nem igreja nem sacerdote do próprio rito, conforme estabelecido pelo Decreto desta Sagrada Congregação, datado de 18 de agosto de 1893, a esta anexo. D) Na falta de sacerdote do próprio rito, o enfermo latino poderá receber o Sagrado Viático em pão fermentado de presbítero ruteno e o enfermo ruteno poderá receber em pão ázimo de sacerdote latino. E) Existindo a mesma falta (de sacerdote do rito), em benefício de doentes em perigo de morte, qualquer sacerdote de um dos dois ritos poderá ministrar-lhe a Extrema Unção por meio do óleo sagrado usado em seu rito. F) Na verdade, nem o batismo conferido por um sacerdote de outro rito, em caso de necessidade ou grave dificuldade, como exigido acima, nem a confissão de pecados feita diante de tal sacerdote, nem a Santa Comunhão recebida de acordo com outro rito, nem o Sacramento da Extrema Unção recebida de sacerdote de outro rito em caso de risco de morte, podem produzir a passagem de um rito para outro.

87 Para norma de V. Revma. e para manter a boa harmonia que deve reinar entre o clero e fiéis do rito latino e do rito grego, que ambos existem nesta Diocese, tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Revma. as respostas da Santa Sé a algumas consultas que fiz a propósito das relações entre os dous ritos. Sirva-se a Vossa Revma. transcrever integralmente no livro do tombo da paróquia ou capellania o teor desta Circular, das consultas e respostas e do Decreto da Congregação de Propaganda Fide, abaixo exarados, e deles dar conhecimento aos fiéis, nos casos particulares que ocorrem. 8 O decreto de 1899 produz uma reação violenta de descontentamento do clero e dos fiéis greco-católicos ucranianos. É uma espécie de divisor de águas nas relações entre os dois catolicismos. Percebe-se nitidamente através da correspondência epistolar que, depois do decreto, as relações entre o clero greco-católico e D. José de Camargo Barros (e seus sucessores), mudam de tom e de cor. O decreto produz uma enorme controvérsia quanto à sua interpretação. Teve um efeito deletério nas relações entre os dois catolicismos. Do lado greco-católico, tanto da parte do clero quanto do povo, os ânimos se exaltam e se alteram. Os ucranianos interpretaram-no como latinização, polonização, perseguição e até promoção de uma política de extermínio do rito greco-católico aqui no Brasil. Viram o decreto como uma investida fatal de Roma, uma tentativa de aniquilamento do rito. Roma dizia o contrário, que se tratava da defesa do catolicismo greco-católico aqui no Brasil. Por longos anos, os padres ruminam e alimentam um imaginário muito negativo em relação aos bispos de Curitiba e à Igreja latina. Em carta-relatório datada de 18 de maio de 1902 ao metroplita Andrey Sheptysky, revoltado, Kizema pinta um verdadeiro cenário de guerra que se estabeleceu na colônia. Ele acusa Roma de ser a principal responsável pela situação que se criou e pelo arruinamento das relações entre católicos romanos e greco católicos ucranianos Durante os 16 anos que se seguiram ao primeiro decreto, inúmeras cartas do clero e de fiéis foram endereçadas ao metropolita de Lviv, Andrey Sheptysky, em tom às vezes bastante agressivo, expressam boa dose de ódio contra a Igreja latina. Nas linhas seguintes vamos arrolar alguns textos epistolares que refletem queixas, revoltas e descontentamento com a situação que se estabeleceu com o decreto de Isso significa que as relações haviam se arruinado. Em vez da boa harmonia entre o rito latino e o rito grego como bem desejava D. José, o decreto derramou mais combustível na fogueira. Em 1910, o padre Rafael Krenetsky escrevia ao metropolita: aí na Galícia fala-se muito do Brasil, mas ninguém descreveu como a situação é na realidade [...] Todos dizem que a imigração que veio para o Brasil está perdida, que aqui não há futuro, que tudo 8 ARQUIVO PROVINCIAL DA ORDEM DE SÃO BASÍLIO MAGNO. Curitiba. Este documento também foi publicado na COLLECÇÃO das Pastoraes, Circulares, Mandamentos, Etc. de Sua Exa. Rvma. o Sr. Bispo de Corytiba, durante o primeiro quinquennio de sua administração. Corytiba, ARQUIVO PROVINCIAL DA ORDEM DE SÃO BASÍLIO MAGNO. Curitiba.

88 88 passará ao rito latino. E vai acontecer porque para isso empenha-se o atual bispo de Curitiba, D. João Braga. 10 No ano seguinte, este mesmo padre queixava-se de D. João Franscisco Braga ( ) ao metropolita Andrey Sheptysky. O bispo de Curitiba nos tem humilhado e tratado com muita negligência. Isso é um escândalo! Não responde às nossas cartas e não temos ninguém em nosso favor [...] Aqui os bispos são brasileiros fanáticos como por exemplo no meu caso, o bispo se colocou contra mim e foi a favor de um traidor da colonização do governo. 11 Esse mesmo missionário, quando recebeu a notícia da nomeação de um bispo greco-católico para o Canadá, em carta ao metropolita Sheptysky datada de 12 de maio de 1912, assim reagiu: Estamos contentes que, graças à Vossa Excelência, o Canadá terá um bispo. Agora é a vez do Brasil. O episcopado canadense simpatiza com o nosso rito. Aqui será mais difícil porque os bispos são contrários a nós e ao nosso rito. 12 Em 1913, o padre Eustáquio Turkoved escrevia ao metropolita: a desgraça nossa aqui é que não temos apoio. De acordo como as coisas andam, parece que querem varrer o nosso rito da face do Brasil. 13 Logo após sua chegada, em 1912, o padre João Michalczuk, teve uma grande decepção ao encontrar-se com D. João Francisco Braga. [...] queixei-me ao bispo, dizendo que nós, padres católicos, temos uma única e mesma mãe, a Santa Igreja, e ela não é madrasta nem nós somos órfãos, mas filhos. Ao que ele respondeu: a Santa Sé deseja que no Paraná todos sejam católicos. Eu perguntei se nós não éramos católicos? Ele disse: sim católicos, mas greco-católicos, e eu me refiro aos verdadeiros católicos. Eu nada respondi, porque vi que o Excelência irritou-se comigo. 14 Através dos textos aqui arrolados percebemos que as relações entre os dois catolicismos se arruinaram consideravelmente depois do decreto de Conforme informações que as fontes nos dão, o terror para os padres grecocatólicos ucranianos parece ter sido D. João Francisco Braga ( ), que sob ameaça exigia o cumprimento de tais instruções. 15 Em carta datada de 9 de julho de 1912 ao padre Marciano Szkirpan, D. João Francisco Braga advertia: 10 ARQUIVO ESTATAL HISTÓRICO DA REPÚBLICA DA UCRÂNIA. Fundo 358: Metropolita Andrey Sheptysky, Ordem 2, Assunto 59. Lviv. Carta de 12 de fevereiro de Os documentos do ARQUIVO ESTATAL HISTÓRICO DA REPÚBLICA DA UCRÂNIA foram gentilmente cedidos pela pesquisadora professora Dra. Oksana Boruszenko. 11 ARQUIVO ESTATAL HISTÓRICO DA REPÚBLICA DA UCRÂNIA. Fundo 358: Metropolita Andrey Sheptysky, Ordem 2, Assunto 59. Lviv. 12 ARQUIVO ESTATAL HISTÓRICO DA REPÚBLICA DA UCRÂNIA. Fundo 358: Metropolita Andrey Sheptysky, Ordem 2, Assunto 59. Lviv. 13 ARQUIVO ESTATAL HISTÓRICO DA REPÚBLICA DA UCRÂNIA. Fundo 358: Metropolita Andrey Sheptysky, Ordem 2, Assunto 59. Carta de 10 de outubro de ARQUIVO ESTATAL HISTÓRICO DA REPÚBLICA DA UCRÂNIA. Fundo 358: Metropolita Andrey Sheptysky, Ordem 2, Assunto 59. Carta datada de 31 de dezembro de Lviv. 15 ARQUIVO PROVINCIAL DA ORDEM DE SÃO BASÍLIO MAGNO. Curitiba. Relatório ao metropolita Andrey Sheptysky, 1922.

89 A natural interpretação das Faculdades concedidas a V.R. nesta diocese, é que ellas se referem exclusivamente aos fiéis ruthenos. Sendo assim, peço a V. R. que me poupe o pezar de lhe haver de retirar as Faculdades, logo que me conste que V.R. continua a proceder contrariamente. Si em vez de corresponder a este meu pedido, entender V. R. de recalcitrar a quem só por hipothese ouso suppôr sirvam as presentes linhas de trina admoestação, em vista da pena que serei obrigado a fulminar. 16 A crise entre as Igrejas latina e ucraniana greco-católica criada pelo decreto de 1899 estendeu-se até Nesse interim, os padres ucranianos encaminharam a Roma pedidos de liberação de tais instruções, mas não foram atendidos. 17 Somente em 1916 a Congregação de Propaganda Fide promulga um novo decreto DA ASSISTÊNCIA ESPIRITUAL DOS FIÉIS DO RITO GRECO-RUTENO QUE EMIGREM PARA A AMÉRICA DO SUL, que teria validade por 10 anos, mas acabou vigorando por muito mais tempo. Em 1922, os padres greco-católicos, reunidos com o metropolita Sheptysky, solicitam que se leve este assunto à Propaganda Fide, pedindo a prorrogação do prazo previsto. Isso significa que o decreto havia dado significativa autonomia pastoral aos padres ucranianos e, pelo menos parcialmente, afastado o perigo da tão temida latinização, como também dava condições para estabelecer uma certa harmonia e boa convivência entre as duas Igrejas. Um de seus parágrafos explicitava que não era permitido aos sacerdotes de rito latino, sob as penas decretadas e definidas pela Santa Sé, induzir quem quer que seja do rito greco-ruteno a passar para o rito latino. Em 20 parágrafos o documento se esforça para normatizar e normalizar as relações entre os dois ritos. 18 Longe de resolver todos os problemas, o decreto torna possível um clima de tolerância e respeito nas relações entre as duas Igrejas como também estabelece parâmetros para delimitar as fronteiras entre os dois catolicismos. Talvez seja esse um dos maiores ganhos para os dois catolicismos nesse período. Porém, vez ou outra, os ucranianos vão ao baú da história e às raízes culturais arrancar motivos e razões para reacender velhas intrigas e contendas, sejam elas no campo social, cultural ou religioso. 89 Observa-se uma grande diferença no teor e na própria construção dos dois textos, o de 1899 e o de Este último parece ser o resultado de um trabalho mais sensível e ajustado à realidade e aos problemas do catolicismo greco-católico ucraniano no território brasileiro. Afinal, já havia passado uma década e meia de tensões, atritos, confrontos, queixas, acusações e desgaste para ambas as Igrejas. A falta de documentação nos impossibilita estudar melhor o processo que levou à produção do documento final. Parece ser importante situar a sua elaboração no contexto de elaboração do Código Canônico de 1917, visto que este decreto foi o código canônico que regeu as relações entre os dois ritos aqui no Brasil. 16 ARQUIVO PROVINCIAL DA ORDEM DE SÃO BASÍLIO MAGNO. Curitiba. 17 ARQUIVO PROVINCIAL DA ORDEM DE SÃO BASÍLIO MAGNO. Curitiba. 18 ARQUIVO PROVINCIAL DA ORDEM DE SÃO BASÍLIO MAGNO. Curitiba.

90 90 As relações dos bispos com a comunidade greco-católica ucraniana, no período em estudo, foram formais e protocolares. Pessoalmente, os bispos não foram mais além daquilo que era de sua competência e obrigação canônica. 19 As visitas pastorais se reduziam a protocolos, formalidades e obrigação canônica tanto da parte dos bispos quanto do clero, embora os bispos, como bons e zelosos pastores, procuravam elogiar a comunidade e animar os fiéis grecocatólicos a perseverarem na sua fé. Podemos imaginar a situação de um bispo latino visitando uma comunidade ucraniana. Sem exageros nem preconceitos, devia ser no mínimo constrangedora, e quem sabe, até frustrante para o bispo. Além das formalidades protocolares ele não tinha nada a fazer. Não presidia a Divina Liturgia, apenas concelebrava, não batizava, não crismava nem casava, considerando isso como um momento forte de uma visita pastoral àquela época. Era uma situação inevitável criada pelas circunstâncias das conjunturas da época. Certamente não havia uma relação e um sentimento de filiação e paternal respeito ou até de intimidade dos fiéis com o seu pastor. Muitos ucranianos, por questões étnicas e histórico-políticas trazidas do seu país de origem, não simpatizavam com os bispos latinos e certamente não curvavam suas frontes fazendo-lhe nobre genuflexão para oscular o seu sagrado anel. 3 Sob a jurisdição da Igreja latina Desde o início, clero e fiéis greco-católicos ucranianos pensaram na criação e organização hierárquica de sua Igreja. Isso pode ser levantado através da correspondência epistolar tanto do clero quanto do povo às dignidades eclesiásticas da Ucrânia. Em carta dirigida ao metropolita de Lviv, Andrey Sheptysky, datada de 18 de maio de 1902, o padre Silvestre Kizema, tratando do envio de mais padres, da organização da Igreja e rebatendo o que chama de política ritualista da Sagrada Congregação, diz: devem nos dar um bispo ou um Delegado Apostólico ucraniano, não para paradas ou para ser visto, mas com autoridade. Quanto à vinda de padres para trabalhar com os imigrantes, exige Condictio sine qua non, para não serem subordinados ao bispo latino local, senão o ódio e a perseguição do rito nunca terá fim. É difícil também continuar pagando taxas e sermos obrigados a dar grossas contribuições para as finalidades do rito latino Esta questão aparece no PROTOCOLO do Encontro do Metropolita Andrey Sheptysky com o Clero Greco- Católico do Brasil, realizado em Dorizon (PR), entre os dias 26 a 29 de abril de Devido à falta de Autoridade própria não há quem se interesse pelos padres. Até o momento, o bispo latino não pediu que da Ucrânia viessem nossos padres para trabalhar aqui. ARQUIVO PROVINCIAL DA ORDEM DE SÃO BASÍLIO MAGNO. Curitiba. 20 ARQUIVO ESTATAL HISTÓRICO DA REPÚBLICA DA UCRÂNIA. Fundo 358: Metropolita Andrey Sheptysky, Ordem 2, Assunto 59. Lviv.

91 Da mesma forma, desde o início do século XX, os fiéis greco-católicos ucranianos frequentemente escrevem ao metropolita de Lviv para que, através de sua influência junto à Roma, ajude-os a resolver os agudos problemas, enviando clero casado e um bispo para o Brasil. Através da latinização para a assimilação. Assim proclamavam os nossos eternos inimigos com os seus bispos. Eis porque nós lutamos com tanto entusiamo contra a latinização aqui nesta terra estranha, porque sabemos que só seremos ucranianos enquanto estivermos mantendo a nossa Igreja [...] Por isso, declaramos que nunca nos afastaremos da Igreja greco-católica ucraniana, mas ao mesmo tempo, não vamos silenciar nem parar de exigir que Roma nos dê um bispo greco-católico ucraniano próprio e clero casado. 21 Em 1922, por ocasião da visita do metropolita Sheptysky, as discussões sobre a necessidade de uma autoridade e hierarquia eclesiástica própria ganham relevo. Tudo foi em vão. Todas as tentativas foram frustradas. Por mais de 70 anos a Igreja greco-católica ucraniana do Brasil permaneceu sob a jurisdição de bispos latinos. É só em 1958, com a nomeação de D. José Romão Martenetz, osbm, na condição de auxiliar de D. Jaime de Barros Câmara, cardeal do Rio de Janeiro, que a Igreja greco-católica ucraniana tem seu primeiro bispo. 22 Em 1962, o bispado foi transformado em exarcado pelo Papa João XXIII, e D. José Martenetz seu primeiro exarca. A eparquia greco-católica ucraniana de São João Batista, com sede em Curitiba, só foi erigida em 1971 pelo Papa Paulo VI, e D. José Martenetz, seu primeiro eparca. Nesse mesmo ano foi nomeado bispo coadjutor, com direito à sucessão, D. Efraim Basílio Krevey, osbm, que fora sagrado bispo em Roma, pelo Papa Paulo VI, a 13 de fevereiro de Em 1978, D. José Martenetz solicitou dispensa do cargo. Portanto, dessa data em diante assumiu a eparquia D. Efraim Basílio Krevey, osbm Problemas e desafios contemporâneos O embate havido entre a Igreja romana e a Igreja greco-católica ucraniana reflete uma ampla conjuntura de fatores e os documentos citados mostram como determinados problemas foram tratados em circunstâncias históricas específicas. 21 ARQUIVO ESTATAL HISTÓRICO DA REPÚBLICA DA UCRÂNIA. Fundo 358: Metropolita Andrey Sheptysky, Ordem 2, Assunto 59. Lviv. Este documento é uma carta seguida de um abaixo-assinado datada de 29 de junho de 1913, sem local, provavelmente tenha sido escrita por colonos da região de Marechal Mallet, Paraná. 22 D. Jaime de Barros Câmara, Cardeal e arcebispo do Rio de Janeiro, foi Ordinário dos Católicos Orientais no Brasil. O Ordinariato dos Católicos Orientais no Brasil foi criado dia 22 de fevereiro de 1952 pelo Papa Pio XII. Neste mesmo ano, D. Jaime criou o Vicariato Geral para os católicos ucranianos, nomeando como Vigário Geral o Monsenhor Clemente Preima.

92 Decorridos 120 anos de presença dos ucranianos no Brasil, em boa medida, os problemas pastorais relativos ao batismo, crisma e matrimônio permanecem. Acrecente-se ainda a esses a primeira eucaristia e a catequese. Hoje, o que temos na realidade é um grupo de descendente de ucranianos integrado e assimilado à sociedade brasileira. Da mesma forma, uma Igreja não mais tão escondida atrás do veu do rito e das suas tradições, mas ainda temerosa. Muito se tem caminhado no sentido de construir um bom relacionamento entre as duas Igrejas. Alguns problemas desapareceram, outros ainda permanecem. Entre muitos clérigos e leigos, ainda permanece a opinião que a Igreja ucraniana não deveria existir, que ela é um problema pastoral para a Igreja romana. Como também, entre alguns padres ucranianos existe a opinião que os ucranianos deveriam de se latinizar de vez e, assim, os problemas acabariam. 92 A Igreja greco-católica ucraniana deve ser menos temerosa, menos tíbia. Ela não se impõe na realidade brasileira, ela simplesmente está aí. Ela precisa superar um discurso vitimizante e romântico, superar o complexo de inferioridade. Se os brasileiros não conhecem suficientemente esta Igreja, a culpa não é só deles. Não é só eles que são ignorantes. A culpa recai também sobre ela que não se faz conhecer. Que não se revela. Que não partilha as suas riquezas, que não procura superar os entraves canônicos e as burocracias pastorais. Hoje, a Igreja greco-católica deve se perguntar como ela se autocompreende, qual é a compreensão que ela tem de si mesma como portadora de uma tradição bizantina na realidade brasileira. Ela deve se perguntar quem são os seus destinatários, os seus fieis. Da compreensão que ela tem de si mesma depende o rumo que vai tomar, como vai lidar com a assimilação, com o hibridismo, com o sincretismo, com os matrimônios mistos, haja vista que os matrimônios impõem uma série de mudanças e de redefinições porque trazem elementos novos com perguntas novas que exigem respostas novas. Urge, portanto, a necessidade de fazer uma nova leitura, uma nova reinterpretação, cuidadosa e séria, da bagagem litúrgica, do rito e de todo complexo canônico, tendo em vista a realidade brasileira e os questionamentos provenientes desta realidade, sejam eles da parte dos descendentes de ucranianos ou dos brasileiros. É necessário reler e reinterpretar os documentos, os decretos da Igreja (Orientalium Ecclesiarum, Orientale Lumen e Orientalium Redintegratio) e o Direito Canônico a partir da nossa realidade atual para perceber, para ver, se, de fato, estão salvaguardando e protegendo a integridade da Igreja ou, se, de repente, na intenção de proteger criam obstáculos para o seu desenvolvimento e crescimento empurrando cada vez mais longe para um beco sem saída. Hoje, qual é o significado e o sentido de uma autorização para batizar um fiel da Igreja latina na Igreja greco-católica ucraniana? A Igreja greco-católica precisa ver essa proteção com uma certa suspeita e não se contentar muito com isso. Ela não

93 pode se acomodar. Ela precisa ver quais são os aspectos positivos e negativos. Porque pode correr o risco de se aniquilar. Por que coloco a questão dessa maneira? Porque preservar a liturgia, o rito, a tradição bizantina, tendo em vista o grupo ucraniano tradicional e seus descendentes como beneficiário único e exclusivo, parece não ser mais uma ideia sustentável para o futuro, pois cada vez mais ficará difícil saber o que significa ser ucraniano e identificar quem são os descendentes de ucranianos aqui no Brasil. Gostaria de concluir esta fala colocando duas questões importantes. Diante desse quadro de problemas e desafios, quem serão os fiéis da Igreja grecocatólica aqui no Brasil no futuro? Por que a Igreja greco-católica não pode ser uma opção religiosa também para os brasileiros? FONTES E REFERÊNCIAS 93 ARQUIVO PROVINCIAL DA ORDEM DE SÃO BASÍLIO MAGNO. Curitiba. ARQUIVO ESTATAL HISTÓRICO DA REPÚBLICA DA UCRÂNIA. FUNDO 358: Metropolita Andrey Sheptysky, ORDEM 2, ASSUNTO 58, 59. Lviv. BORUSZENKO, Oksana. Os Ucranianos. 2.ed., BOLETIM INFORMATIVO DA CASA ROMÁRIO MARTINS. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, v. 22, n. 108, outubro/1995. CHEVTCHUK, Mikhailo. Sorok líttia ukrainskoi imigratsii v Brazêlii, PRACIA, ano 23, n. 33, COLLECÇÃO DAS PASTORAES, CIRCULARES, MANDAMENTOS ETC. de S. Exa. Rvma. o Sr. Bispo de CORYTIBA durante o primeiro quinquenio de sua administração, Corytiba: Typografia da Imprensa Paranaense, HANEIKO, Valdomiro. Uma centelha de luz: clero diocesano ucraíno no Brasil. Curitiba: Editora Kindra, HEC, Nicola. Perchi ukrainski imigrante u Brazêlii, TZVIRKUN, ano 46, nº 203, out-dez MISSIONAR, ano 1, maio de 1897 abril de Zhovkva: Editora dos PP. Basilianos, RELATÓRIO APRESENTADO AO METROPOLITA ANDREY SHEPTYSKY. Dorizon, ZINKO, Basílio. Potchatkê vasselianskoi missii u Brazêlii, PRÁCIA, nº 17, 1972.

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95 Homilia HOMILIA DE ENCERRAMENTO DA SEMANA TEOLÓGICA /2011, NA CATEDRAL SÃO JOÃO BATISTA Dom Volodemer Koubetch, OSBM * 95 Epístola: Efésios, 4,1-13 Evangelho: João 17,17-21 Слава Iсусу Кристу! Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Prezados Reitores, Diretores, Alunos do Studium Theologicum, Caros Participantes da Semana Teológica! Quero agradecer ao pessoal do Diretório Acadêmico do Studium Theologicum, com seus diretores e professores, pelo ótimo trabalho da organização da XXXIII Semana Teológica, que tratou da Teologia Litúrgica Oriental e Ocidental nas raízes de uma só fé nas duas tradições: a tradição oriental bizantino-ucraniana e a tradição ocidental dita latina. Creio que essa semana de estudos conjuntos foi muito proveitosa para todos os participantes. * Bispo Eparca da Eparquia São João Batista da Igreja greco-bisantina ucraciana de Curitiba. Mestre em Ciências Eclesiásticas Orientais no Pontifício Instituto Oriental, Roma.

96 O trabalho acadêmico dessa semana foi muito significativo, principalmente no sentido da busca de uma união maior entre a Igreja Latina e a Igreja Oriental. Tudo o que agrega valores é bom e é belo, e deve ser sempre incentivado e cultivado com muito amor. É a busca da unidade na diversidade. Mas não deve ser uma mera busca da unidade pela unidade, como se fosse um modismo, mas em vista de algo maior, que é a Igreja e sua missão, que, sob o poder do Espírito Santo, atualiza a presença libertadora e salvadora de Cristo. Falando em termos da Teologia oriental, a Igreja é a presença transfiguradora e divinizadora do mundo, do cosmos e da humanidade. 96 Trata-se do fortalecimento da Igreja de Cristo, que se torna mais rica, que mostra sua força espiritual e moral exatamente na unidade de seus servidores e fiéis. E o Apóstolo Paulo, na Carta aos Efésios, nos exorta à unidade, porque há um só Corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; há um só Deus e Pai de todos... E ele é que concedeu a uns serem apóstolos, a outros evangelistas, a outros pastores e mestres, para aperfeiçoar os santos em vista do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo, até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef 4,4-6; 11-13). Lembremos que o conceito de Homem Perfeito deve ser compreendido não simplesmente como o estado perfeito do cristão, mas num sentido coletivo: o próprio Cristo, o Homem Novo, arquétipo de todos os regenerados, o Cristo total, Cabeça e membros constituindo o seu Corpo (Bíblia de Jerusalém). Considerando a totalidade crístico-eclesial das duas faces geográficas e culturais do Cristianismo Oriental e Ocidental, trata-se de um único Corpo, uma única Igreja, a Igreja de Cristo, que respira com os dois pulmões, como costumava repetir o Beato Papa João Paulo II. Essa expressão foi utilizada pela primeira vez pelo poeta e filósofo russo ortodoxo Vjacieslav Ivanov ( ), o qual, desejando pertencer à plenitude da Igreja, aderiu à Igreja Católica em 1926, sem abandonar, todavia, as riquezas do Cristianismo Oriental (D. HUGO DA SILVA CAVALCANTE, OSB: Introdução ao estudo do Código de Cânones das Igrejas Orientais. Loyola, São Paulo, 2009, p. 26). Por ocasião da promulgação do Código de Cânones das Igrejas Orientais (CCEO), em documento assinado no dia 18 de outubro de 1990, João Paulo II disse: Desde o início da codificação canônica das Igrejas Orientais, a mesma e constante vontade dos romanos pontífices de promulgar dois códigos, um para a Igreja Latina e outro para as Igrejas Orientais Católicas, demonstra muito claramente que esses queriam conservar o que aconteceu por providência divina na Igreja, isto é, reunida por um único Espírito, deve respirar com os dois

97 pulmões, o do Oriente e o do Ocidente, e arder na caridade de Cristo, como com um coração composto por dois ventrículos. As diversas tradições devem se completar, sempre em vista de algo maior, em vista de uma missão não somente transcendental e escatológica da salvação eterna, mas também histórica, ecológica e social. Lendo os sinais dos tempos, no mundo contemporâneo, as grandes tradições religiosas, principalmente as Igrejas cristãs, devem buscar o bem comum, a felicidade de toda a humanidade, a salvação do planeta. Então, precisamos unir os cristãos latinos protestantes, que gostam muito do Apóstolo São Paulo, os cristãos latinos católicos, que gostam do Apóstolo São Pedro, e os cristãos orientais ortodoxos e católicos, que gostam do Apóstolo São João. Os paulinos são mais missionários. Os petrinos são predominantemente legisladores e organizadores. Os joaninos são mais místicos e gostariam de resolver tudo pela oração e pelo amor. Para que tenhamos um Cristianismo mais autêntico e coerente, mais vivo e presente, mais penetrante e atuante, mais profético e transformador, como uma força realmente transfiguradora da realidade, temos que juntar os três grandes Santos Paulo, Pedro e João e trabalhar com eles, inspirando-se neles. Portanto: união, unidade, integração, participação. 97 Jesus Cristo, tendo cumprido a sua missão terrena, em sua oração de despedida chamada sacerdotal, faz a grande prece de oblação e de intercessão, na hora de seu sacrifício iminente. Jesus pede a sua glorificação; mas, com isso, não procura a sua glória; a sua glória e a do Pai são uma só. Jesus pede ao Pai para que santifique seus apóstolos, ou seja, que sejam separados, destinados e consagrados para Deus e seu serviço. Ele se santifica apresentando-se diante do Pai para ser um com ele e, diante dos homens, como a revelação perfeita. Pede ardentemente que seus discípulos vivam na verdade de Deus, santificados pela fé no Pai que ele lhes revelou. Por fim, Jesus ora pela Igreja dos fiéis, congregados pelo testemunho dos apóstolos, a fim de que a sua unidade suscite a fé na sua missão (Bíblia de Jerusalém). Jesus reza humildemente: não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim: a fim de que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste (Jo 17,20-21). Ele quer que entre os apóstolos exista a mesma unidade que existe entre ele o Pai; que o Pai, ele e os apóstolos formem uma unidade maior, unidade mística, trinitária, porque ali também está presente o Espírito Santo. Somente desta forma os apóstolos e nós, seus sucessores e seguidores, poderemos realizar a união do povo de Deus no Reino de Cristo. Um Reino de justiça, fraternidade e paz.

98 Que todos sejam um (Jo 17,21): é a nossa prece, é o nosso ideal, é a nossa dinâmica, é o nosso objetivo e a nossa missão como única Igreja de Cristo. D. Volodemer Koubetch Eparca da Igreja Greco-Católica Ucraniana, na Eparquia São João Batista, com sede em Curitiba.è professor do Studium Teologicum e autor de: Da criação à parusia, S. Paulo: Paulinas, 2001 Amém. 98

99 Artigos A QUESTÃO DO PATRIARCADO NA IGREJA UCRANIANA CATÓLICA Pe. Basilio Koubetch, OSBM * RESUMO: O texto se propõe a uma discussão atualizada sobre as implicações da ascenção de um patriarcado para a Igreja Ortodoxa Ucraniana com suas possibilidades e implicações históricas e atuais. Para tanto é apresentada inicialmente uma visão muito breve do status quaestionis a partir de duas linhas de proposta da ascensão de um patriarcado o que deve ser fundamentado nas possibilidades jurídico-canônicas. Discorre-se, em seguida, sobre o significado de um possível patriarcado e suas perspectivas futuras e por fim o autor emite um parecer pessoal sobre a questão. 99 PALAVRAS CHAVE: canônica. Patriarcado: Questão ucraina: Estrutura eclesiástica; Autocefalia; Questão ABSTRACT: The paper proposes an updated discussion on the implications of the ascension a patriarchy to the Ukrainian Orthodox Church with its possibilities and implications of historical and current. For this purpose is initially displayed a very brief status quaestiones from two lines of proposed of the ascension of patriarchy - which shall be based on legal and canonical possibilities. Discusses was then on the possible meaning of a patriarchy and its future prospects and - finally - the author sends a personal opinion on the issue. KEY WORDS: question. Patriarchy; Ukraine Question; Ecclesiastical structure; Autocephalous; Canonical * Mestre em Ciências Eclesiásticas Orientais no Pontifício Instituto Oriental, Roma.

100 Instituída por Jesus Cristo Eterno Verbo encarnado, a Igreja forma o corpo místico de Cristo, uma comunidade espiritual e herdeira dos bens celestes. Por outro lado, as realidades espirituais nela são bem encarnadas. Desde o seu início, a Igreja também se caracteriza como organismo visível (Lumen gentium 8), ou seja, sociedade humana constituída de órgãos hierárquicos, de assembleias visíveis na realidade terrestre. Os elementos constitutivos desta comunidade, o humano e o divino, são unidos de tal forma que o Concílio Vaticano II compara a Igreja ao mistério do Verbo encarnado (cf. LG 8). Sendo uma comunidade terrena a serviço do Espírito de Cristo, ela necessita de órgãos hierárquicos e governativos como qualquer outra sociedade humana. Por isso, toda história da Igreja é marcada pelo seu constante desenvolvimento e adaptação organizativa com o objetivo de melhor corresponder às novas circunstâncias e necessidades do povo de Deus. Brevíssima fundamentação histórica 100 No Decreto sobre as Igrejas Orientais Católicas (OE), o Concílio Vaticano II menciona a vigência na Igreja, desde tempos antiquíssimos, da instituição patriarcal que tinha sido reconhecida pelos primeiros concílios ecumênicos (OE 7). Trata-se dos seguintes concílios: Nicéia I (ano 325), Constantinopolitano I (ano 381), Calcedônia (ano 451), Constantinopolitano IV (anos ), Lateranense IV (anos 1215) e Ferrara-Florença (ano ). Estes concílios ecumênicos representam a fonte histórica e canônica também para a questão da ereção do Patriarcado da Igreja ucraniana católica. Como questão relacionada ao território eclesiástico correspondente à Rus de Kiev, certos documentos indicam o seu início em Mas ações concretas determinadas para atingir tal objetivo se encontram somente no decorrer do século 17. Personagens importantes da história da Igreja ucraniana, tais como os metropolitas de Kiev José Veliamyn Rutskyj ( ), Rafael Korsak ( ), Antonio Sieliava ( ), Gabriel Kolienda ( ) e outros, colocaram a questão do patriarcado como pauta do dia, elaborando, argumentando, apresentando e defendendo-a perante as competentes autoridades eclesiásticas e civis em Roma, Varsóvia, Viena, atualizando-a por meio dos procuradores basilianos em Roma. Tais ações desaparecem no século 18 e reaparecem em novas circunstâncias e formas no século 19. Documentos de arquivo indicam que desde o início desta questão os Basilianos dedicaram-se ao trabalho em prol de um futuro patriarcado da Igreja ucraniana, destacando-se como inspiradores e principais executores das novas pesquisas em fontes históricas e canônicas sobre os personagens como os metropolitas de Kyiv e de Halyc ou outras instituições da Igreja ucraniana. Um dos frutos deste trabalho é a grande coleção ANALECTA OSBM uma verdadeira biblioteca para os estudiosos e pesquisadores do assunto. A elevação da Igreja ucraniana à dignidade de patriarcado neste longo período era concebida como conclusão da sua união e da sua estrutura eclesiástica.

101 Mas o momento de máxima importância histórica e eclesiástica para a questão do patriarcado da Igreja ucraniana foi o Concilio Vaticano II. O Pe. Atanásio Velykyj Protoarquimandrita da Ordem Basiliana, na seleção preparativa da temática do Concílio submeteu à revisão da Comissão para as Igrejas Orientais a questão dos patriarcados em geral e a ereção dos novos patriarcados em particular entre os quais constava a sede metropolitana de Kiev. Nos anos , esses projetos foram analisados, formulados, aprovados e transmitidos para a decisão do Sumo Pontífice, incluindo a proposta da Comissão competente para que fosse estudada e colocada em pauta a questão da elevação da Metropolia de Kiev à dignidade de patriarcado. Após ser discutida e aprovada pela Comissão Central Preparativa, a questão do patriarcado ucraniano foi submetida ao Papa, para que tomasse uma decisão segundo próprio parecer, levando em consideração as circunstâncias. Durante a segunda sessão (outubro de 1963), o Concílio assumiu um caráter ecumênico e manifestou vontade de decretar somente princípios e normas gerais sobre a renovação da Igreja católica, sem entrar em pormenores. Por parte dos ucranianos participantes, foi apresentada uma postulação aos Padres Sinodais: a ereção do patriarcado de Kiev para a Igreja ucraniana. No mesmo ano, após ter sofrido muitas perseguições contra a sua fé católica e ter sido liberado da prisão do regime totalitário soviético, chegou a Roma Sua Beatitude José Slipyj. Por sua vez ele, sendo nomeado pelo Papa como membro da Comissão Conciliar para as Igrejas Orientais, também fez um pronunciamento em assembleia, tocando no assunto da ereção do patriarcado da Igreja ucraniana. Mas tal postulação ficou fora do programa e não foi inserida no esquema do decreto sobre as Igrejas Orientais Católicas. Neste decreto, foram aprovados pelo Concílio somente alguns artigos sobre os patriarcados em geral e sobre a ereção de novos patriarcados em particular: Sendo a instituição Patriarcal nas Igrejas Orientais a forma tradicional do regime, o sagrado e ecumênico Concílio deseja que, onde for necessário, se erijam novos Patriarcados, cuja constituição é reservada ao Concílio Ecumênico ou ao Romano Pontífice (OE 10, cf. também n. 9). Desde então, a questão do patriarcado da Igreja ucraniana é de competência do Papa como segunda autoridade com poder de erigir patriarcados. 101 Nas décadas seguintes, esta questão continuou atual. Mas nem todos os que dedicaram o seu tempo com objetivo de obter a elevação da Igreja ucraniana católica à dignidade patriarcal souberam objetivamente o que e como deve ser feito. Inclusive, aconteceram muitos erros causados por ações de pessoas tendenciosas, que colocaram esta questão eclesiástica em chave demais nacionalística e/ou política. Sem dúvida, tais fatos até foram obstáculos para a ação da competente autoridade eclesiástica. Considero melhor não entrar em pormenores, pois o conteúdo desta abordagem poderia tornar-se pouco edificante.

102 De 1992 até hoje, em prática, há certa tensão entre duas linhas de ação em prol deste projeto: 1) edificar o patriarcado a partir das bases, evangelizando o povo ucraniano, organizando a estrutura eclesiástica, cumprindo todas as exigências canônicas para, finalmente, solicitar por parte do Sínodo dos Bispos que o Papa erija o patriarcado da Igreja ucraniana católica; 2) edificar o patriarcado a partir de uma ação de cima, isto é, do Papa: elevação da Igreja ucraniana católica à dignidade patriarcal para que ela depois cresça e se organize como Igreja patriarcal. Permito-me comentar só brevemente: é bom saber que a suprema autoridade da Igreja, em via de princípio, não age sob pressão e aprova somente o que é bem claro, definido e pronto. Jamais se fazem aprovações arriscadas e não se conhece um caso, onde a suprema autoridade da Igreja antes aprovou para depois ver com qual epílogo tal caso pode terminar. Isto significa, evidentemente, que a Santa Sé seguirá somente a primeira linha de ação, que é a canônica. 102 Base canônica Creio que seja de interesse comum responder à pergunta: O que realmente mudará se a nossa Igreja (Arcebispal maior) for elevada à dignidade patriarcal? Na prática, não há muita diferença. Já o Concilio Vaticano II (OE 10) e o Código dos Cânones das Igrejas Orientais (CCEO), can. 152 afirmam que o que foi dito no direito comum sobre os Patriarcas vale também para os Arcebispos maiores. A pertença à Igreja católica não muda nada. A Igreja patriarcal tem maior autonomia, seja na eleição do Patriarca, seja na dos Bispos. Mas para abordar todas as diferenças e analogias entre uma Igreja Patriarcal e uma Igreja Arcebispal Maior precisa fazer um adequado comentário dos cânones , , do CCEO, o que deixaremos para outra vez. O significado do patriarcado para a Igreja Ucraniana Católica Desde o início, a elevação da nossa Igreja à dignidade patriarcal era concebida como conclusão da sua união e da sua estrutura eclesiástica. Cada Igreja oriental em certo modo tende à tal elevação. Vários Bispos e pessoas bem dedicadas a esta causa vêem no patriarcado da Igreja ucraniana católica um significado ecumênico. De fato, muitos condividem a opinião de que o diálogo com os que presidem Igrejas da mesma origem e do mesmo rito, isto é, com os patriarcas ortodoxos, será mais frutuoso se tivermos também uma Igreja patriarcal. Para entender isso, precisase levar em consideração o fato que a Igreja ortodoxa na Ucrânia atualmente

103 está dividida em três patriarcados, reciprocamente opostos, além de outros problemas de divisão entre os cristãos neste país. A nossa abordagem não seria somente incompleta, mas também distorcida se deixássemos sem sequer acenar sobre a presença de concepções erradas na questão de um futuro patriarcado da Igreja ucraniana católica. Entre estes precisa citar os que vêem um significado predominantemente nacionalístico e político na dignidade patriarcal desta Igreja. Erro ainda mais relevante está nos que vêem no patriarcado um significado de autocefalia da Igreja, o que absolutamente não tem fundamento canônico. Dentre os defensores da linha 2 de ação (acima citada) encontram-se os que consideram o patriarcado quase somente um título ou um merecido presente que o Papa deveria dar aos ucranianos, considerando os seus grandes méritos por terem conservado a fé e a fidelidade ao Romano Pontífice durante todo o período comunista e ateísta da ex União Soviética. Considero também errada a atitude dos que consideram a elevação da nossa Igreja à dignidade patriarcal como prioridade, permitindo-se negligência nas questões da formação do clero, evangelização do povo, instrução catequética, missões, etc. E, para concluir este ponto, tratar a questão do patriarcado como um projeto não sujeito a nenhuma norma canônica e partir para uma espécie de nomeação autocéfala do Arcebispo Maior como Patriarca, inclusive comemorando-o como tal nas celebrações litúrgicas é um erro grave que tem duas causas: falta de conhecimento ou opção de cometer o erro. 103 Como conclusão, podemos afirmar que a elevação da nossa Igreja à dignidade patriarcal não é somente uma questão de título, status ou dignidade. O Concílio Vaticano II declarou a instituição Patriarcal nas Igrejas Orientais como forma tradicional do regime (OE, 10). Portanto, tornar-se uma Igreja patriarcal significa constituir, segundo as normas canônico-eclesiásticas, uma estrutura hierárquica e governativa própria das Igrejas orientais. Tal estrutura não tem finalidade em si mesma. Por ser incorporada à Igreja católica, ela condivide a sua natureza missionária e tem por finalidade colaborar ainda melhor com o sucessor de Pedro na sua missão de difundir e guiar a Igreja de Cristo. Perspectivas para o futuro Segundo os dados estatísticos recentes, a Igreja Ucraniana Católica atualmente conta com fiéis. É a maior Igreja católica oriental no mundo. A maior parte do clero ucraniano é jovem. A geração que diretamente sofreu perseguições pela fé já se tornou uma minoria, mas continua sendo um ponto positivo de referência para os jovens. Observa-se que fazemos parte de uma Igreja em rápido crescimento e maturação. O crescimento consiste em grande

104 parte no aumento de sacerdotes e bispos com adequada preparação acadêmica e profissional, capazes de assumir importantes compromissos. Temos bases suficientes para sermos otimistas e esperarmos por tempos melhores. Inclusive, temos bases sólidas para esperarmos pela elevação da nossa Igreja à dignidade patriarcal. De fato, a Igreja Ucraniana Católica já cumpriu vários requisitos previstos pelas normas canônicas para a sua elevação à dignidade patriarcal, especialmente a definição e organização das eparquias dentro e fora do território da Ucrânia, o funcionamento do Sínodo dos Bispos e do Sínodo permanente. Falta ainda uma sede fixa (já em construção) para a residência do Arcebispo Maior futuro Patriarca, o Tribunal eclesiástico e a Cúria Arcebispal mais tarde Patriarcal. 104 A recente eleição do jovem Arcebispo Maior Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk é um motivo a mais para esperar por tempos melhores para toda a Igreja. Sem dúvida, ele é uma pessoa apta para conduzir a Igreja Ucraniana Católica no mundo de uma forma sábia e equilibrada, inclusive no sentido de elevá-la à dignidade patriarcal no modo canonicamente estabelecido. Nas questões do patriarcado, evidentemente, ele adere à línea canônica, acima indicada, e estabeleceu como suas prioridades a evangelização do povo e o desenvolvimento da identidade teológica na Igreja Ucraniana Católica. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Documentos do Concílio Vaticano II Lumen gentium e Orientalium Eclesiarum. Código dos Cânones das Igrejas Orientais (CCEO). Василіянський Вісник, ч. 2/1964, ст Український Християнський Місячник СВІТЛО, Рік XXVIII, ч. 6, ст BABIAK, Augustyn, De la légitimité d un Patriarcat ucrainien, Ed. Missioner, Lyon Lviv 2004 (disponível nas traduções inglesa e ucraniana). Записки ЧСВВ, Серія ІІ, Нарис історії Василіянського Чину Святого Йосафата, Видавництво ОО. Василіян, Рим 1992.

105 RECENSÃO G. Lorizio (ed.), Teologia fundamental, 4 volumes: 1. Epistemologia; 2. Fundamentos; 3. Contextos; 4. Textos antológicos, Città Nuova, Roma Os últimos decênios nos testemunham a publicação de numerosos manuais de teologia fundamental (de agora em diante TF) e, em particular, do famoso Handbunch der Fundamentaltheologie, curado por W. Kern, H.J. Pottmeyer e M. Seckler, e editado pela Herder a Freiburg entre Em relação a todas essas obras, o trabalho curado por Giuseppe Lorizio se apresenta nem tanto como um manual posterior (se bem que em primeiro lugar conserve uma vocação didática), mas, sobretudo, como uma contribuição dotada de uma específica e peculiar originalidade. Confrontado com o famoso Handbunch der Fundamentaltheologie (também este em quatro volumes) é possível notar imediatamente a distância que o separa deste último, começando pela estrutura da obra: não mais os tratados sobre a religião, a revelação, a igreja, a gnosiologia teológica (correspondentes ao esquema moderno da apologética, escandido segundo o modelo da triplex demonstratio: religiosa-christiana-catholica), mas, sim: Epistemologia (vol. 1); Fundamentos (vol. 2); Contextos (vol. 3); Textos Antológicos (vol. 4). Além disso, diante do risco que corre toda obra fruto de várias mãos, isto é, o de uma justaposição de contribuições e perspectivas, que nem sempre podem ser reconduzidas a uma visão orgânica da matéria, se observa no texto em questão uma constante tensão em direção a uma unidade. De fato, embora os autores sejam provenientes de diversas realidades acadêmicas (e, portanto, não pertencem a uma única escola ), cada contribuição oferecida adquire significado e colocação à luz de uma idéia de TF que revela o estruturar-se do caminho. Para esclarecer do que se trata é necessário deter-se sobre o capítulo conclusivo do primeiro volume, escrito pelo curador Giuseppe Lorizio, e que tem o seguinte título: O projeto: em direção a um modelo de teologia fundamental fundativocontextual em perspectiva sacramental. 105 Nesta sua contribuição Lorizio distingue as três instâncias e o método da TF. A primeira instância é aquela epistemológica. No âmbito interno da epistemologia aparecem questões como a relação entre fé e razão e, depois, entre teologia, filosofia (qual filosofia para a teologia) e os outros saberes científicos, além

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