- Observatório de Política Externa Brasileira - Informe Mensal nº 05 Dezembro de 2004
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- Aparecida Graça Brezinski
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1 - Observatório de Política Externa Brasileira - Informe Mensal nº 05 Dezembro de 2004 Apresentação O Observatório de Política Externa Brasileira está em atividade desde março de 2004 e se dedica a acompanhar a veiculação dos temas de Política Externa Brasileira pela imprensa escrita. O Observatório PEB é um dos projetos do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional GEDES, do Centro de Estudos Latino-Americanos CELA, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Unesp campus de Franca. O presente informe mensal propôs-se a fazer uma análise dos principais acontecimentos da Política Externa Brasileira veiculados pelas imprensas comercial e oficial durante o mês de dezembro de No que concerne às fontes da imprensa comercial, utilizaram-se opinativos e editoriais dos periódicos Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo, bem como as revistas Primeira Leitura e Caros Amigos. Foram consultados, ainda, como fonte de informações oficiais, os sítios do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e da Agência Brasil de notícias Radiobrás. Introdução Durante o mês de dezembro, a política externa brasileira foi assunto bastante visado pelos periódicos analisados, com destaque para as negociações travadas no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), priorizada pelo Ministério das Relações Exteriores na esfera comercial e para Mercosul, apesar da persistência das antigas assimetrias. Em relação a estes temas, tanto as visitas oficiais ao Brasil quanto às negociações bilaterais tiveram menor notificação. No que se refere à integração regional, percebeu-se o descrédito dado por diversos chefes de Estado à Comunidade Sul-americana das Nações, devido à escassez de ações práticas. Houve continuidade nos comentários a respeito da ajuda brasileira a países pobres (com destaque ao auxílio às vítimas do tsunami), embora sua incidência nos periódicos tenha diminuído em relação ao mês
2 anterior. O mesmo deu-se em relação ao Conselho de Segurança, apesar do Brasil continuar buscando apoio à sua candidatura a membro permanente. Na questão do Haiti, destacou-se a divergência entre o Brasil e a comunidade internacional quanto aos moldes da reconstrução do país caribenho. Por fim, as negociações multilaterais foram freqüentes e atingiram as esferas financeira, comercial, militar e ambiental. A política externa brasileira no mês de dezembro Durante o mês de dezembro, foram noticiadas duas visitas oficiais ao Brasil. No primeiro caso, os periódicos continuaram relatando a visita do presidente russo, Vladmir Putin, dando continuidade ao assunto iniciado em novembro. Por ocasião da visita, foi discutido o apoio à entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC), que ficou condicionada aos termos de acesso de produtos brasileiros no mercado russo, trazendo a tona o assunto do embargo da carne bovina nacional. Tratou-se, ainda, do controle sanitário, da venda de aviões da Embraer e de etanol ao país asiático e do apoio russo à candidatura do Brasil a membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). A segunda visita refere-se à vinda do ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Joshka Fischer, ao Brasil, com o objetivo de interromper a construção de usinas nucleares. O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, frente à proposta, afirmou que o Brasil não depende do acordo nuclear para criar tecnologia no setor, ressaltando, também, que a energia nuclear produzida será utilizada para fins pacíficos. Além disso, diversas negociações bilaterais foram noticiadas pelos periódicos consultados durante o mês de dezembro. Dando continuidade ao noticiado nos meses anteriores, a integração com a China foi bastante reincidente, com destaque para o polêmico reconhecimento do país como economia de mercado pelo Brasil. Em resposta aos críticos, Celso Amorim afirmou que o reconhecimento não é definitivo e pode ser revisto caso os chineses não cumpram o acordado, que prevê a abertura de seu mercado para a carne bovina brasileira,
3 aquisições de aviões da Embraer e que os investimentos entre os países sejam feitos por joint-venture. Também foi noticiado o embargo australiano à carne bovina brasileira devido à suspeita de casos de aftosa no Mato Grosso do Sul. Técnicos australianos seriam enviados ao Brasil para vistoria. Os periódicos levantaram a suspeita de que a suspensão das importações dever-se-ia à expansão das exportações brasileiras do produto, pois, nos anos anteriores, a Austrália liderava as exportações. Estados Unidos e União Européia (UE), por sua vez, consideraram que o Brasil deve diminuir e erradicar a pirataria, alegando que as medidas brasileiras já tomadas nesse sentido não seriam suficientes, principalmente no que tange à proteção dos direitos autorais. Os EUA reafirmaram a intenção de impor sanções ao Brasil, como já proposto em julho de 2004, caso não haja maiores esforços no combate à pirataria. As negociações bilaterais, na esfera regional, foram travadas com o Paraguai e com o Suriname, dois dos países vizinhos mais pobres do Brasil. O governo paraguaio solicitou o acesso a documentos confidenciais relacionados à Guerra do Paraguai ( ). O Itamaraty advertiu que o pedido será estudado e que a abertura deverá seguir as regras legais e constitucionais. Quanto ao Suriname, foram firmados um tratado de extradição e um acordo provisório de regularização dos imigrantes brasileiros, uma vez que milhões vivem ilegalmente no país, atraídos pelo garimpo de ouro. Amorim, que visitou o país, reafirmou a proposta de cooperação quanto aos dados obtidos pelo Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM). Em relação ao Mercosul, nota-se grande incidência nos periódicos consultados durante o mês de dezembro, sobretudo em relação aos impasses entre o Brasil e a Argentina. O país vizinho persistiu na exigência de adoção de salvaguardas, de modo a evitar assimetrias entre os membros do bloco. O Brasil recusou-se a aceitar tais medidas, alegando que estas seriam contrárias à integração comercial. Alguns avanços, no entanto, foram observados, como, por exemplo, a proposta brasileira de efetivação de políticas industriais comuns e o
4 financiamento de compras governamentais e de exportação de produtos brasileiros com componentes argentinos por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Programa de Financiamento das Exportações (Proex). Perante tal conjuntura, observou-se acentuada contraposição dos artigos opinativos pesquisados. Destacou-se, também, a realização da Cúpula de Ouro Preto, por ocasião do décimo aniversário do bloco sul-americano. Durante o encontro, o Mercosul concluiu acordos de preferência tarifária com Índia, África do Sul, Namíbia, Suazilândia, Botsuana e Lesoto, realizou acordos comerciais com Canadá, México, Japão, Israel, Paquistão e China e incorporou três novos membros (Colômbia, Equador e Venezuela). Foram também criados o Parlamento do Mercosul e o Fundo de Convergência Emergencial, voltado à redução das assimetrias econômicas dentro do bloco. Frente às reclamações do Paraguai, o Brasil prometeu ajuda do BNDES para que o país desenvolva atividades produtivas como alternativa à pirataria. Por fim, os membros do bloco queixaram-se do atraso na implementação das decisões, da confusão das agendas, da falta de mecanismos de combate às assimetrias e da desigualdade de distribuição de benefícios. Em âmbito regional, destacou-se o lançamento oficial da Comunidade Sulamericana das Nações (CSN), com bastante incidência nos periódicos consultados. Com exceção do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, os demais presidentes dos países integrantes do Mercosul não compareceram ao evento. Eles queixaram-se do excesso de reuniões e da escassez de realizações práticas no que se refere à união, alegando que a integração não ultrapassou, ainda, o nível discursivo. Amorim declarou que a CSN é um alicerce para a União da América do Sul baseada no diálogo político e na integração econômica, comercial e de infra-estrutura transportes, energia e telecomunicações -, bem como uma porta de entrada para a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec). A partir das reclamações dos demais países sul-americanos, o Itamaraty iniciou estudos voltados à possibilidade de importar mais produtos oriundos dos mesmos, com vistas a rever a desigualdade entre exportação e importação na região, uma vez que o Brasil tem sido quase sempre superavitário.
5 No que tange à missão de paz brasileira no Haiti, o governo brasileiro ameaçou não renovar a estadia das tropas em território haitiano, que expira em seis meses, caso a comunidade internacional insista em liberar os recursos financeiros e militares prometidos para a reconstrução do país apenas para intervenção militar e de segurança pública. O Brasil contrapõe-se a essa visão, pois acredita que tais problemas serão resolvidos apenas por meio de mudanças sociais. As contribuições brasileiras estenderam-se, ainda, à busca de empréstimos para o Haiti, ao fechamento de acordos de cooperação referentes à distribuição de merenda escolar e ao desenvolvimento das culturas de mandioca e castanha de caju na ilha. O Brasil contribuiu, também, com as vítimas do tsunami através do envio de roupas, remédios, alimentos, cobertores e água potável aos países atingidos. Ainda quanto às ações voltadas para a cooperação com países pobres, notou-se, durante o mês de dezembro, o financiamento do governo alemão para a construção de fábricas brasileiras de medicamentos anti-retrovirais genéricos nos países mais pobres do mundo, com o intuito de diminuir os custos governamentais no tratamento de pessoas com AIDS. As notícias referentes a esses assuntos foram pouco tratadas no período considerado. Da mesma maneira, também foram pouco freqüentes os artigos relacionados à candidatura brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. O Brasil seguiu em busca de apoio de sua candidatura e da reforma da instituição. No entanto, Argentina e Paquistão declararam que a única reforma viável do Conselho de Segurança seria a ampliação dos assentos nãopermanentes, contrapondo-se às intenções brasileiras. O Brasil tem apoio público do Paraguai, Uruguai, Bolívia, Peru, Chile, Equador e Venezuela, de todos os países de língua portuguesa da África, da África do Sul, Índia, China, Japão, Austrália, França, Alemanha, Rússia, entre outros. Em esfera multilateral, destacaram-se, principalmente, as notícias referentes à OMC, sobretudo pelo enfoque dado a essa organização pelo ministro de Relações Exteriores do Brasil. Celso Amorim declarou, que entre as três negociações comerciais em que o Brasil está engajado (Alca, Mercosul-UE e
6 OMC), a OMC é a mais importante porque corrige as maiores distorções do comércio internacional. Os assuntos relacionados a esta organização no mês de dezembro foram, ainda, o lançamento da candidatura oficial do embaixador Luiz Felipe de Seixas Correa à direção da organização, as tentativas brasileiras de convencer o Órgão de Apelação da mesma a ampliar a condenação dos Estados Unidos em virtude dos subsídios ao algodão e frente à acusação de apoio à exportação de arroz e de carne norte-americanos. Além disso, o governo brasileiro afirmou temer uma possível queixa da UE à instituição com base na impossibilidade de exportar ao Brasil pneus recauchutados, uma vez que a lei brasileira não permite a importação de produtos previamente utilizados. O Brasil também participou de eventos relacionados ao meio ambiente, como a 10 a. Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-10). Esta foi a primeira convenção realizada após a ratificação do protocolo de Kyoto. Destacou-se, no encontro, a medida que prevê a negociação de cotas excedentes atingidas por alguns países a outros que não atingiram suas metas, o que possibilitará ao Brasil receber investimentos estrangeiros. Além disso, foi notificado no mês de dezembro que o Brasil apresentou à ONU, em setembro, um pedido de reconhecimento para estender sua plataforma continental até o limite de 350 milhas. A resposta da organização, que seria dada em dezembro, foi adiada por mais quatro meses. Observando-se as instituições financeiras, foi aprovada a nona revisão do acordo do Fundo Monetário Internacional (FMI) com o Brasil, levando em conta que, segundo o Fundo, o país atingiu todas as metas estipuladas, como, por exemplo, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o esforço para o cumprimento da meta do superávit primário. O país participou, também, da reunião de ministros da Defesa das Américas ocorrida em Quito, liderando o bloco de países contrários à proposta estadunidense de utilizar as Forças Armadas como polícia. O ministro da Defesa do Brasil, José Alencar, tentou incluir a pobreza extrema como uma ameaça à segurança e rechaçou a possibilidade de se criar um exército regional para combater o terrorismo e o narcotráfico, como sugerido pelos Estados Unidos.
7 Conclusão Pode-se constatar que a política externa brasileira veiculada pelos periódicos analisados durante o mês de dezembro mostrou-se bastante heterogênea tanto no que se refere aos parceiros a quem se destinaram as ações brasileiras quanto aos temas abordados na cobertura jornalística. Apesar das poucas visitas oficiais recebidas, o Brasil participou ativamente das negociações multilaterais, que receberam destaque durante o mês. Grande parte das atividades brasileiras no cenário internacional lançou os alicerces para concretizações futuras, tendo havido poucas resoluções operativas e conclusivas. Percebe-se que há uma continuidade na notificação dos eventos de política internacional em relação aos meses anteriores, como, por exemplo, o Mercosul (que manteve as discussões sobre as assimetrias comerciais), a OMC e o Conselho de Segurança. A Alca, por sua vez, suscitou poucas notícias, como nos meses anteriores, apesar de ter como prazo de concretização 1 o. de dezembro de 2005.
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