REAÇÃO AO ASSÉDIO SEXUAL

Transcrição

1 REAÇÃO AO ASSÉDIO SEXUAL SETEMBRO/2016

2 INTRODUÇÃO A presença da mulher no mercado de trabalho passa por inúmeras barreiras culturais. É muito comum, por exemplo, ouvirmos frases como existem trabalhos de homens e trabalhos de mulheres ou ainda que um trabalho feito por homens vale mais do que um feito por mulheres. Essa carga cultural reflete diretamente na realidade das trabalhadoras, que recebem em média 70% do valor salarial em comparação com os homens, segundo pesquisa IPEA. A presença da mulher no mercado de TI é de apenas 20% dentre os mais de 580 mil profissionais do ramo, segundo a PNAD. Existe também a previsão de que a equidade de gênero no mercado de trabalho mundial, ou seja, condições igualmente justas para homens e mulheres, deve ser alcançada somente em 2095, segundo o Fórum Econômico Mundial. Além de todos esses obstáculos, há ainda um fator que afasta ainda mais as mulheres de uma carreira profissional plena: o assédio sexual, sofrido por uma parcela de 30 a 80% das mulheres que estão no mercado de trabalho, segundo pesquisas. É importante lembrar que essas estatísticas são comprometidas pelo baixo número de denúncias estima-se que apenas 12% dos casos são denunciados -, devido a fatores como o medo de demissão ou mesmo pela vergonha da vítima, que muitas vezes se culpa pelo que acontece. Existem também casos de homens assediados por mulheres, homens assediados por outros homens ou ainda mulheres assediadas por outras mulheres. Mesmo sendo casos de menor incidência, eles também são configurados como assédio sexual. O quadro do CCE é composto por 68 colaboradores, entre servidores, funcionários terceirizados e estagiários, dos quais temos 45 homens e 23 mulheres. Este diálogo pretende esclarecer o que caracteriza um assédio sexual e conscientizar a todos os colaboradores e colaboradoras do CCE sobre quais as consequências deste crime para a vítima e para o assediador, bem como discutir sobre as formas de enfrentamento e denúncia.

3 AS RELAÇÕES NO AMBIENTE DE TRABALHO A todo momento estamos cercados de pessoas, inclusive no trabalho, onde passamos grande parte da nossa vida. A convivência com os colegas no ambiente de trabalho é fundamental para criar um bom clima organizacional. Esse relacionamento interpessoal deve ser pautado principalmente pela cordialidade e pela ética/moral, fazendo com que a troca de informações e a colaboração no geral se torne proveitosa. Somos seres sociáveis e, por isso, é essencial que saibamos manter estas conexões de forma positiva e permanente. Muitas vezes, desse relacionamento entre colegas, surgem relacionamentos afetivos, tanto entre homens e mulheres quanto entre dois homens ou duas mulheres. Essas relações são comuns e naturais, devido à aproximação que ocorre entre as pessoas na convivência profissional, que evolui para namoros e até mesmo casamentos. Um dos objetivos dessa campanha é diferenciar uma aproximação saudável de um assédio, facilitando a identificação de situações que fujam de um bom convívio dentro do ambiente do CCE. QUAIS OS LIMITES ENTRE ASSÉDIO SEXUAL E PAQUERA? Podemos considerar paquera uma abordagem respeitosa que uma pessoa faz a outra com finalidades afetivas. Não é, necessariamente, recíproca, mas quando a pessoa abordada não demonstra interesse, as investidas devem parar. No assédio sexual, que muitas vezes tem origem na paquera, existe a insistência por parte do assediador, causando constrangimento e a sensação de ameaça e ofensa na vítima. O assediador não respeita os limites de privacidade que a vítima coloca, tanto físicos quanto verbais.

4 O QUE É ASSÉDIO SEXUAL? Uma das principais dificuldades das vítimas está em reconhecer se um fato ocorrido no ambiente de trabalho pode ser considerado assédio sexual ou não. Vejamos a definição de assédio sexual nas relações de trabalho na Lei nº de 2001: Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Pena: detenção, de 1 a 2 anos. O assédio sexual é uma das formas de abuso de poder no trabalho, principalmente de homens sobre mulheres. Existem basicamente dois tipos de assédio sexual: Chantagem: definido no texto da lei, onde o assediador visa obter vantagens sobre a vítima através do assédio sexual. Intimidação: criar uma situação abusiva ou ofensiva no local de trabalho, provocando insegurança na vítima até que ela ceda às investidas do assediador. Não tem, necessariamente, relação com a hierarquia profissional. QUAL É A DIFERENÇA ENTRE ASSÉDIO SEXUAL E ASSÉDIO MORAL? Assédio moral car acter iza-se por atos de humilhação e constrangimento, repetitivos e prolongados durante a jornada de trabalho. Pode ocorrer do chefe para os subordinados, entre colaboradores ou dos subordinados para a chefia. O assédio sexual pode ser considerado uma forma agravada do assédio moral, já que também é definido por situações constrangedoras e agressivas, com a diferença de procurar vantagem ou favorecimento sexual. Entretanto, não precisa ser reincidente para que seja caracterizado e denunciado.

5 COMO SABER SE ESTOU SENDO ASSEDIADA SEXUALMENTE? As atitudes que caracterizam um assédio sexual podem ser claras ou sutis, faladas ou escritas, por meio de gestos, mensagens, brincadeiras, toques indesejados, etc. Por exemplo: PIADAS COM CONTEÚDO SEXUAL ELOGIOS ABUSIVOS PRESSÃO PARA PARTICIPAR DE ENCONTROS E SAÍDAS CONVITES IMPERTINENTES PROMESSA DE DEMISSÃO OU PROMOÇÃO CONVERSAS INDESEJÁVEIS DE CONTEÚDO SEXUAL CARÍCIAS E/OU CONTATOS FÍSICOS INDESEJADOS Não sou obrigada a ouvir papinho! Qualquer destas atitudes, mesmo que tenha ocorrido uma única vez, pode ser considerada assédio sexual. O ASSÉDIO SEXUAL POR UM COLEGA PODE SER ASSIM CONSIDERA- DO MESMO SE NÃO FOR PRATICADO NO LOCAL DE TRABALHO? Sim, uma vez que o assediador tenha relações de trabalho com a vítima, as atitudes abusivas tanto dentro quanto fora da empresa configuram assédio sexual no trabalho. Convites impertinentes para caronas e encontros, feitos por um colega de trabalho, por exemplo, podem ser considerados assédio sexual.

6 O QUE FAZER SE EU FOR VÍTIMA DE ASSÉDIO SEXUAL? Podemos dividir as ações em dois momentos importantes: DURANTE O ASSÉDIO SEXUAL Seja firme. Diga não! Procure afastar-se do assediador e sair da sala/ambiente em que você estiver. Tenha em mente que a culpa não é sua de maneira alguma e tente ficar calma. Dirija-se a um local que tenha mais movimento ou procure algum colega de sua confiança. Se o local estiver vazio, localize algum segurança ou porteiro, evitando ficar sozinha por muito tempo. Quando possível, aproveite os recursos do seu celular ou computador para gravar áudios e/ou vídeos do assédio. Se um sujeito está te deixando desconfortável, comece a registrar os momentos em que ele está perto de você, mesmo como forma de prevenção. Esses materiais servirão como provas contundentes contra o assediador. APÓS O ASSÉDIO SEXUAL Conte o ocorrido para familiares ou amigos. Utilize o canal Conte Conosco, em para falar sobre o que aconteceu. O canal fornece o devido acolhimento à vítima, através de profissionais preparados e o fornecimento de informações para que a vítima possa ser encaminhada da maneira correta para a denúncia ou qualquer outra medida, com total sigilo. Se possível, reúna provas contra o assediador como bilhetes, mensagens, presentes e testemunhas. É importante ressaltar que o assédio sexual não precisa ser praticado repetidamente antes de ser denunciado.

7 QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS PARA O ASSEDIADOR? O assediador pode ser punido tanto administrativamente, através de uma denúncia interna, quanto criminalmente, por meio de um Boletim de Ocorrência. As medidas administrativas são feitas por um processo disciplinar, que pode resultar em advertência, suspensão e até demissão do servidor assediador, conforme Regimento Interno da UFPR. Em relação aos servidores terceirizados, o assédio sexual é considerado uma falta grave prevista pela CLT, e pode levar a demissão por justa causa. Entretanto, dependendo da gravidade do caso, podem ser aplicadas medidas administrativas e punições disciplinares. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSÉDIO MORAL E SEXUAL NO TRABALHO. Brasília. Ministério do Trabalho e Emprego, p. Disponível em < CARTILHAASSEDIOMORALESEXUAL%20web.pdf>. Acesso em 29 ago BBC BRASIL. Metade dos brasileiros já sofreu assédio no trabalho, aponta pesquisa. Disponível em: < Acesso em 29 ago BBC BRASIL. Você provavelmente não estará viva para ver igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Disponi vel em: < tuguese/ noticias/2015/07/150715_desigualdade_salarios_genero_cc>. Acesso em: 25 mai BENDER et al. Cartilha sobre o assédio sexual. Disponível em < Cartilha_AssedioSexual.pdf>. Acesso em: 30 ago CARTILHA DE ASSÉDIO MORAL E SEXUAL. Senado Federal, p. Disponível em < www12.senado.leg.br/institucional/programas/pro-equidade/pdf/cartilha-de-assedio-moral-e-sexual>. Acesso em: 29 ago HYPENESS. Campanha incentiva mulheres a denunciar assédio sexual e moral no trabalho. Disponi vel em: < -no-trabalho/>. Acesso em: 29 ago HUFFPOST. Pesquisa revela dados alarmantes sobre abusos sexuais contra mulheres. Disponi vel em: < Acesso em: 29 ago JUS BRASIL. Conceito de assédio sexual é mais amplo na justiça trabalhista. Disponível em: < t- 10.jusbrasil.com.br/noticias/ /conceito-de-assedio-sexual-e-mais-amplo-na-justicatrabalhista>. Acesso em: 22 ago MULHERES NA COMPUTAÇÃO. Cunhantã digital: movimento busca aumentar participação das mulheres na área de exatas. Disponível em: < esnacomputacao.com/2015/08/22/cunhantadigital-movimento-buscar-aumentar-participacao-das-mulheres-na-area-de-exatas/>. Acesso em: 01 set PINHEIRO et al. Mulheres e trabalho: breve análise do período IPEA, Disponível em < Acesso em: 23 mai