JAILTON GREGÓRIO PELARIGO COORDENAÇÃO DA AÇÃO DOS BRAÇOS NO NADO CRAWL ANALISADA EM DIFERENTES INTENSIDADES, NOS EXERCÍCIOS CONTÍNUO E INTERMITENTE
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- Yasmin Madeira Tuschinski
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1 JAILTON GREGÓRIO PELARIGO COORDENAÇÃO DA AÇÃO DOS BRAÇOS NO NADO CRAWL ANALISADA EM DIFERENTES INTENSIDADES, NOS EXERCÍCIOS CONTÍNUO E INTERMITENTE Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do titulo de Mestre em Ciências da Motricidade (Área de Biodinâmica da Motricidade Humana) Orientadora: Profa. Dra. Camila Coelho Greco Rio Claro Abril
2 APOIO FINANCEIRO
3 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a MEU PAI e a MINHA MÃE Muito suor, garra e amor incondicional Vocês são a Minha Vida E dedico a mim Período de mudanças, maturidade Período de muito aprendizado, perdas e aflições Porém sempre dentro do meu ser: Avance em águas mais profundas
4 AGRADECIMENTOS Agradeço a Profa. Dra. Camila Coelho Greco pela oportunidade dada a mim, pela sua grande força e garra para com o trabalho, humildade e eficiência, amizade e pelos muitos ensinamentos. Muito obrigado. Agradeço a FAPESP que pelo auxílio dado ao Laboratório de Avaliação da Performance Humana, financiando indiretamente minha pesquisa. Ao Laboratório de Avaliação da Performance Humana: Prof. Dr. Benedito Sérgio Denadai e seus pesquisadores, momentos em que necessitei, sempre estenderam as mãos. Treinadores e Atletas. Obrigado pela disposição, transpiração e muito sangue que me deram... Continuam na luta mesmo no País do Futebol. Todos me ensinaram muito para a continuação de meu caminho. UNESP pelo investimento que não foi pequeno, e por ser minha segunda Casa. Ao amigo, cunhado e engenheiro Fábio Guedes, que desenvolveu toda a estrutura mecânica do meu projeto: trilhos, carro e os suportes para a câmera, muito trabalho, muito suor, muito calculo e pouco dinheiro, porém acreditou no meu sonho. Obrigado. A Tuta e Vó Candelaria, mulheres que me receberam e transbordaram amor, conforto e ensinamentos, mulheres que conheceram a vida e as ensinam sobre ela. Amo vocês. A Juliana Ueda, uma mulher que irei guardar por toda a vida...companheira, guerreira, amante da vida e que caminhou comigo para a melhor direção, direção da Vida e do Conhecimento para mudarmos, sempre acreditaremos. Amo-a e respeito-a muito. Muito obrigado Juliet. E vamos crescendo juntos, sempre. Agradeço a meus Pais pelo eterno investimento que fazem a mim, vivem para fazer o melhor a nós, filhos, e que me ensinaram a ser simples, humilde e respeitar a todos. As minhas irmãs, Narahana e Janaina, por me ensinarem o quão são importantes às mulheres e merecem muito respeito, mulheres de raça e gana, amantes e mulheres, irmãs e amigas. Obrigado. Agradeço a Deus por me dar um alicerce e não me deixar escorregar para as coisas que atrapalham o crescimento do ser humano. Vamos andando juntos. Aos meus amigos e amigas, vários, todos necessários para a minha construção. Obrigado a todos que me ajudaram e estiveram ao meu lado para acrescentar ensinamentos para o Eterno Caminho do Aprendizado. Só me basta agradecer... Agrade-cer...
5 Resumo O principal objetivo deste estudo foi analisar a resposta do lactato sanguíneo e a coordenação dos braços no nado crawl durante o exercício contínuo e intermitente realizado na máxima fase estável de lactato sanguíneo (MLSSC e MLSSI, respectivamente) e acima dessa intensidade (ACIMA MLSSC e ACIMA MLSSI, respectivamente). Participaram deste estudo nove nadadores de meio-fundo e fundo (idade = 18,56 ± 2,13 anos, massa corporal = 68,06 ± 6,48 Kg, estatura = 176,00 ± 6,36 cm e envergadura = 181,42 ± 9,68 cm) do sexo masculino, com pelo menos cinco anos de experiência na modalidade. Os indivíduos realizaram os seguintes testes em diferentes dias: 1) Testes máximos nas distâncias de 200 e 400 m (V200 e V400) para a determinação da velocidade crítica (VC); 2) 2 a 4 tentativas de até 30 min para a determinação da MLSSC, e; 3) De 2 a 4 tentativas de 12 repetições de 150 s com 30s de recuperação passiva para a determinação da MLSSI. A freqüência de braçada (FB) foi calculada por meio do tempo para realizar cinco braçadas. O comprimento de braçada (CB) foi calculado dividindo-se a velocidade pela FB. As fases da braçada e o índice de coordenação (IdC) foram determinados por meio de filmagens externa e subaquática. A velocidade correspondente à MLSSI (1,26 ± 0,06 m.s -1 ) foi significantemente maior do que a MLSSC (1,23 ± 0,05 m.s -1 ). No entanto, a concentração de lactato sanguíneo ([La]) (3,53 ± 1,34 mm e 3,22 ± 0,99 mm, respectivamente) foi similar. Houve aumento significante entre o 10 o e o 30 o min da FB nas condições MLSSC (30,66 ± 3,61 e 31,73 ± 3,58 ciclos.min -1 ), ACIMA MLSSC (30,98 ± 3,44 e 32,26 ± 3,56 ciclos.min -1 ), MLSSI (30,36 ± 2,36 e 31,25 ± 2,51 ciclos.min -1 ) e ACIMA MLSSI (32,66 ± 3,42 e 33,85 ± 2,84 ciclos.min -1 ). Para o CB, houve redução significante do 10 o para o 30 o min na MLSSC (2,43 ± 0,24 e 2,35 ± 0,23 m.ciclo -1 ), ACIMA MLSSC (2,47 ± 0,22 e 2,38 ± 0,24 m.ciclo -1 ), MLSSI (2,51 ± 0,20 e 2,44 ± 0,20 m.ciclo -1 ) e ACIMA MLSSI (2,40 ± 0,24 e 2,30 ± 0,17 m.ciclo -1 ). Os valores obtidos no 10 o e 30 o min nas condições MLSSC e MLSSI foram significantemente diferentes. Houve aumento significante na fase B do 10 o para o 30 o min nas condições ACIMA MLSSC e ACIMA MLSSI. Não houve efeito significante do tempo e do tipo de exercício no IdC. Desta forma, podemos concluir que, é possível realizar um esforço de forma intermitente acima da MLSS determinada por meio de protocolo contínua, com [La] similar. Além disso, o comprometimento da técnica de nado, representado pela redução do CB ocorre provavelmente por um efeito da duração do exercício e não da forma de execução ou da condição metabólica. O comprometimento da fase B em condições de não estabilidade metabólica sugere que a organização das braçadas pode ser mais sensível do que a FB e o CB à condição metabólica. Palavras-chave: natação, coordenação dos braços, lactato, treinamento.
6 Abstract The main objective of this study was to analyze the blood lactate response and arm coordination in front crawl swimming crawl during the continuous and intermittent exercise at maximal lactate steady state (MLSSC and MLSSI, respectively) and above this intensity (ABOVE MLSSC and ABOVE MLSSI, respectively). Nine male swimmers (age = ± 2.13 years, body mass = ± 6.48 Kg, stature = ± 6.36 cm and arm span = ± 9.68 cm), specialized in middle- and long-distance events, with at least five years of experience participated of this study. The subjects performed the following tests on different days: 1) Maximal tests in the distances of 200 and 400 m (V200 and V400) to determine the critical speed (CS), 2) 2 to 4 repetitions with a maximal duration of 30 minutes to determine the continuous maximal steady state blood lactate (MLSSC), and 3) 2 to 4 trials of 12 repetitions of 150 s with 30 s of passive recovery between repetitions to determine the intermittent maximal lactate steady state (MLSSI). The stroke frequency (SF) was calculated using the time necessary to perform five strokes. The stroke length (SL) was calculated dividing the speed by the SF. The stroke phases and the stroke coordination index (SCI) were determined trough external and subaquatic recordings. The speed corresponding to MLSSI (1.26 ± 0.06 m.s -1 ) was significantly higher than MLSSC (1.23 ± 0.05 m.s -1 ). However, the blood lactate concentration ([La]) (3.53 ± 1.34 mm and 3.22 ± 0.99 mm, respectively) was similar between these conditions. There was a significant increase of SF between 10 th and 30 th min at the conditions MLSSC (30.66 ± 3.61 and ± 3.58 ciclos.min -1 ), ABOVE MLSSC (30.98 ± 3.44 and ± 3.56 cycles.min -1 ), MLSSI (30.36 ± 2.36 and ± 2.51 cycles.min -1 ) and ABOVE MLSSI (32.66 ± 3.42 and ± 2.84 cycles.min -1 ). For SL, there was a significant reduction from 10 th to 30 th min at MLSSC (2.43 ± 0.24 and 2.35 ± 0.23 m.cycle -1 ), ABOVE MLSSC (2.47 ± 0.22 and 2.38 ± 0.24 m.cycle -1 ), MLSSI (2.51 ± 0.20 and 2.44 ± 0.20 m.cycle -1 ) and ABOVE MLSSI (2.40 ± 0.24 and 2.30 ± 0.17 m.cycle -1 ). The values obtained at the conditions MLSSC and MLSSI were significant different. There was a significant increase in phase B from 10 th to 30 th min at the conditions ABOVE MLSSC and ABOVE MLSSI. There was no significant effect of time and exercise type on SCI. Thus, we can conclude that, it is possible to perform an intermittent effort above the MLSS determined trough a continuous protocol with similar [La]. In addition, the behavior of swim technique, represented by the reduction of SL occurs probably by a time effect and not exercise type or metabolic condition. The compromising of phase B at the conditions of non metabolic stability suggests that the strokes organization may be more sensible than SF ad SL to metabolic condition.
7 Key words: swimming, arm coordination, lactate, training.
8 Figura 1 LISTA DE FIGURAS Pág. Avaliação dos valores de média ± DP da freqüência de braçada e comprimento de braçada com valores de velocidades médias correspondente a distâncias de prova (1500 a 50m) em nadadores de elite no nado crawl (Adaptado de PELAYO et al., 1996) Figura 2 Protocolo de determinação da MLSSI com os esforços e intervalos e os momentos de coletas de sangue e imagens...17 Figura 3 Figura ilustrativa do carro e trilho alinhados na borda lateral da piscina, em conjunto com a câmera subaquática...20 Figura 4 Figura ilustrativa das filmadoras sincronizadas por meio do acionamento de sinais luminosos simultâneos, ocorrendo um momento único para início das análises de imagens...21 Figura 5 Deslocamento manual do carro sobre os trilhos com velocidade semelhante à velocidade de deslocamento do nadador e alinhado ao ombro do nadador...22 Figura 6 Figura ilustrativa das Fases A, B C e D com seus respectivos pontos de início de cada fase...23 Figura 7 Representação esquemática dos três modelos de coordenação da ação de braços. Adaptado de Chollet et al. (2000)...25 Figura 8 Figura ilustrativa de um sujeito que realizou três cargas constantes de 30 minutos em diferentes porcentagens da V400 para encontrar a velocidade de MLSS, acima e abaixo da MLSS...30 Figura 9 Figura ilustrativa de um sujeito que realizou três cargas constantes de 12 repetições de 150 s com intervalos de recuperação de 30 s em diferentes porcentagens da V400 para encontrar a velocidade de MLSSI, acima e abaixo da MLSSI...31
9 LISTA DE TABELAS Pág Tabela 1 Valores médios ± DP das características antropométricas dos voluntários...28 Tabela 2 Valores médios ± DP da performance de 200 (V200) e 400 m (V400), velocidade crítica (VC) e do percentual da V400 correspondente à VC (%V400)...29 Tabela 3 Valores médios ± DP da velocidade (v), concentração de lactato ([La]), freqüência cardíaca (FC) e intensidade relativa (%V400) correspondentes à máxima fase estável de lactato sanguíneo e acima desta, nas condições contínua (MLSSC e ACIMA MLSSC, respectivamente) e intermitente (MLSSI e ACIMA MLSSI, respectivamente)...32 Tabela 4 Valores médios ± DP da frequência de braçada (FB) (ciclos.min -1 ) e comprimento de braçada (CB) (m.ciclo -1 ) no 10 o e 30 o minuto nas intensidades de máxima fase estável de lactato contínuo (MLSSC), acima desta (ACIMA MLSSC), máxima fase estável de lactato intermitente (MLSSI) e acima desta (ACIMA MLSSI)...33 Tabela 5 Valores médios ± DP das fases A, B, C e D (%) no 10 o e 30 o minuto nas intensidades de máxima fase estável de lactato contínuo (MLSSC), acima desta (ACIMA MLSSC), máxima fase estável de lactato intermitente (MLSSI) e acima desta (ACIMA MLSSI) em valores nas intensidades de máxima fase estável de lactato contínuo (MLSSC) e acima desta (ACIMA MLSSC)...34 Tabela 6 Valores médios ± DP das fases propulsivas e fases não-propulsivas (%) no 10 o e 30 o minuto nas intensidades de máxima fase estável de lactato contínuo (MLSSC), acima desta (ACIMA MLSSC), máxima fase estável de lactato intermitente (MLSSI) e acima desta (ACIMA MLSSI)...35
10 Tabela 7 Valores médios ± DP do índice de coordenação da ação dos braços (IdC) (%) no 10 o e 30 o minuto nas intensidades de máxima fase estável de lactato contínuo (MLSSC), acima desta (ACIMA MLSSC), máxima fase estável de lactato intermitente (MLSSI) e acima desta (ACIMA MLSSI)...36
11 LISTA DE QUADROS Quadro 1 Pág. Exemplo do cálculo correspondente a cada fase da braçada...18
12 LISTA DE ABREVIATURAS [La] concentração de lactato sanguíneo CB comprimento de braçada EM economia de movimento Fase A entrada e agarre da mão na água Fase B puxada Fase C empurre Fase D recuperação FB freqüência de braçada FC freqüência cardíaca IdC índice de coordenação da ação dos braços LAn limiar anaeróbio LT1 intervalos de tempo entre o começo da propulsão (Fase B) do braço direito e o final da propulsão (Fase C) do braço esquerdo LT2 intervalos de tempo entre o começo da propulsão (Fase B) do segundo movimento do braço esquerdo e o final da propulsão (Fase C) do braço direito MLSS máxima fase estável de lactato sanguíneo MLSSC máxima fase estável de lactato sanguíneo contínua MLSSI máxima fase estável de lactato sanguíneo intermitente MP3 leitor de mídia portátil V - velocidade V200 velocidade máxima de 200m V400 velocidade máxima de 400m V50 velocidade máxima de 50m V800 velocidade máxima de 800m VC velocidade crítica vmlssc velocidade correspondente a máxima fase estável de lactato sanguíneo contínua vmlssi velocidade correspondente a máxima fase estável de lactato sanguíneo intermitente VO 2max consumo máximo de oxigênio
13 SUMÁRIO Pág 1. INTRODUÇÃO OBJETIVOS Geral Específicos REVISÃO DE LITERATURA Variáveis técnicas Índice de coordenação da ação dos braços Máxima fase estável de lactato contínua Máxima fase estável de lactato intermitente JUSTIFICATIVA MATERIAL E MÉTODOS Delineamento experimental Sujeitos Avaliação antropométrica Determinação da velocidade crítica Determinação da máxima fase estável de lactato contínua Determinação da máxima fase estável de lactato intermitente Determinação das variáveis cinemáticas Determinação das variáveis técnicas ANÁLISE ESTATÍSTICA RESULTADOS DISCUSSÃO Velocidade e concentração de lactato correspondentes à MLSSC e MLSSI Frequência de braçada, comprimento de braçada e índice de braçada Fases da braçada CONCLUSÕES REFERÊNCIAS...45 ANEXO I Termo de consentimento livre e esclarecido...53
14 1 1. INTRODUÇÃO Na natação, os aspectos relacionados à técnica de nado tendem a ser tão ou mais importantes do que os aspectos fisiológicos para o rendimento. Os aumentos de velocidade nesta modalidade em geral são gerados por aumento da força propulsiva e/ou pela redução do arrasto. Desta forma, o nível de habilidade técnica do nadador pode reduzir o arrasto hidrodinâmico (HOLLANDER et al., 1986; KOLMOGOROV et al., 1992) e aumentar a força de propulsão (SCHLEIHAUF et al., 1988; ROUARD et al., 1996). O arrasto hidrodinâmico representa a resistência oferecida pela água e pode ser classificado como arrasto passivo e ativo, já a força de propulsão expressa o nível de força aplicado na água que resulta em deslocamento (TOUSSAINT; BERG, 1992; SMITH et al., 2002). Esses aspectos biomecânicos interferem em variáveis como o gasto energético e na eficiência propulsiva (CHATARD et al., 1990; WAKAYOSHI et al., 1995). Entre as variáveis técnicas de nado, está a frequência de braçada (FB), que representa o número de ciclos de braçadas realizados por unidade de tempo, o comprimento de braçada (CB), que expressa à distância deslocada em cada ciclo de braçada e o índice de braçada (IB), que corresponde ao produto da velocidade e o CB. Em geral, estas variáveis podem ser determinadas visualmente, através da contagem do número de braçadas em um determinado tempo e da velocidade de nado. Para isso, esta contagem pode ser feita diretamente pelo avaliador ou através de filmagens externas. Para se desenvolver uma determinada velocidade, os nadadores podem adotar diferentes combinações de FB e CB, dependendo do nível de habilidade técnica (DEKERLE et al., 2005b). Em geral, um maior CB para uma mesma velocidade está associado a uma maior habilidade técnica, e possivelmente também a uma melhor eficiência propulsiva (TOUSSAINT; BERG, 1992; ZAMPARO, 2006; PELARIGO et al., 2007). Ao se analisar nadadores habilidosos exercitando-se em diferentes velocidades, geralmente observa-se, os maiores valores de FB nas maiores velocidades (SEIFERT et al., 2004a). Assim, o recurso de filmagens externa e subaquática também pode ser de grande valia, pois possibilita uma análise da trajetória dos membros e da integração dos movimentos dentro e fora d água, resultando
15 2 em uma análise mais específica das fases propulsivas e não-propulsivas da braçada (CHOLLET et al., 2000). Recentemente, Chollet et al. (2000) propuseram um índice denominado índice de coordenação da ação de braços (IdC) para quantificar e qualificar a coordenação da ação dos braços direito e esquerdo no nado crawl. Para a determinação deste, são utilizadas as filmagens externa e subaquática. Segundo os autores, a ação dos braços é dividida em fases propulsivas (puxada e empurre) e não-propulsivas (entrada e encaixe da mão na água e recuperação). O IdC é calculado através do tempo entre o começo da fase propulsiva de um braço e o final da fase propulsiva do outro braço e é expresso em percentagem da duração total da braçada. No momento em que há um intervalo de tempo entre as fases propulsivas dos dois braços, o valor é negativo (alcançar), quando um braço começa a fase de puxada enquanto o outro braço esta terminando a fase de empurre o valor é zero (oposição) e no momento em que as fases propulsivas dos dois braços se sobrepõem parcialmente, o valor é positivo (superposição) (CHOLLET et al., 2000). Entre os fatores que podem influenciar as fases propulsivas e não-propulsivas, está a velocidade de nado. Quando se analisa os atletas em longas distâncias (800, 1500 e 3000 m) e velocidades proporcionalmente mais baixas, os mesmos tendem a adotar uma maior proporção das fases não-propulsivas (60%) em relação as fases propulsivas (40%). Já em menores distâncias (50 e 100 m) e velocidades proporcionalmente maiores, o modelo adotado das fases não-propulsivas diminui (52-50%) e as fases propulsivas aumentam (48-50%), tornando-as proporcionalmente iguais (SEIFERT et al., 2004a; SEIFERT et al., 2004b). Essas estratégias de nado permitem que, em provas de velocidade, os nadadores apresentem maiores fases de puxada e empurre, aumentando assim a força propulsiva de nado. Já em provas longas, há um aumento nas fases de entrada e agarre para reduzir o arrasto hidrodinâmico e aumentar a velocidade (CHOLLET et al., 2000; SEIFERT et al., 2004b). Enfim, são variáveis bastante interessantes, já que possibilita analisar os ajustes realizados pelos nadadores em relação a diferentes velocidades de nado. No entanto, para que se possa observar mudanças importantes nestas variáveis, em um mesmo nadador, são necessárias grandes diferenças de velocidade (SEIFERT et al., 2004b). A fadiga é um fenômeno multifatorial, que em geral está associada à redução da capacidade de manter uma determinada intensidade de exercício. Em situações de fadiga, o indivíduo tende a adotar estratégias de movimentos a fim de manter a intensidade do exercício. Em modalidades como o ciclismo e a corrida, em geral a fadiga está associada à redução na freqüência dos movimentos. Dentre os fatores que podem explicar a redução na
16 3 frequência de movimentos nestas modalidades, está a alteração no recrutamento das unidades motoras e perfusão muscular, fadiga neuromuscular e muscular (VERCRUYSSEN et al., 1997; LEPERS et al., 2000). Na natação, apesar destes mecanismos ainda não terem sido bem definidos, sabe-se que os aspectos biomecânicos podem ficar bastante comprometidos por mecanismos fisiológicos associados à fadiga, particularmente o CB. Esses dados, juntamente com o fato do CB ter uma relação significante com o gasto energético e a eficiência propulsiva (ZAMPARO, 2006), sugerem que uma ou as duas fases propulsivas da braçada podem ter sido comprometidas nestas condições. Nessa modalidade, a prescrição do treinamento aeróbio, mesmo em atletas fundistas, é feita em sua maioria de forma intermitente, o que permite que as mesmas sejam feitas em intensidades proporcionalmente maiores do que se realizadas de forma contínua (MAGLISHO, 1993). Esta melhora da performance no exercício intermitente tem sido atribuída a fatores como remoção de lactato (recuperação ativa e passiva) e restauração de creatina fosfato (recuperação passiva). Bentley et al. (2005) analisaram as respostas fisiológicas e a técnica de nado durante o treinamento intermitente submáximo, realizado através de duas séries diferentes, porém com a mesma intensidade, e com distância total e relação esforço/pausa proporcional com ao tempo de estímulo. Nesse estudo, os valores de freqüência cardíaca (FC), concentração de lactato sanguíneo ([La]), FB e CB foram mantidos constantes durante as duas séries, sem diferenças significantes entre elas. Assim, o aumento da duração das séries no treinamento intermitente na natação não influencia a duração mantida acima 90% VO 2MAX e FC MAX, porém a duração dos intervalos de recuperação é um parâmetro chave para a elaboração das sessões de treinamento intermitente (BENTLEY et al., 2005). No entanto, parece importante analisar se exercícios realizados em intensidades acima da MLSS provocam modificações na contribuição das fases da braçada e se, a realização do exercício de forma intermitente pode modificar o comportamento destas. Nesse sentido, as principais hipóteses do estudo são as de que, ao nadar em uma intensidade acima da MLSS determinada de forma contínua ou intermitente, poderá haver um comprometimento no CB em função da redução de uma ou duas fases propulsivas da braçada, e que desta forma torna-se possível realizar um esforço intermitente acima da MLSS determinada de forma contínua, com estabilidade de variáveis fisiológicas e da técnica de nado.
17 4 2. OBJETIVOS 2.1 Geral - O objetivo desse estudo foi analisar as respostas fisiológicas e a coordenação dos braços no nado crawl no exercício contínuo e intermitente realizado em diferentes intensidades. 2.2 Específicos - Comparar a velocidade e concentração de lactato sanguíneo correspondentes à MLSS obtida de forma contínua (MLSSC) e intermitente (MLSSI); - Analisar e comparar a coordenação dos braços e a duração de cada fase da braçada na MLSSC e na MLSSI; - Analisar e comparar o comportamento da FB e do CB na MLSSC e na MLSSI; - Verificar se acima da MLSSC e da MLSSI há comprometimento da ação propulsiva dos braços e do CB.
18 5 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Variáveis técnicas Na natação competitiva, os aspectos biomecânicos, que representam a técnica e a habilidade de nado podem contribuir igualmente para o rendimento quando comparados com os aspectos ligados aos sistemas de produção de energia (PELARIGO et al., 2007). Entre os aspectos biomecânicos, estão o nível de aplicação da força propulsiva (SCHLEIHAUF et al., 1988; ROUARD et al., 1996) e o arrasto passivo e ativo (HOLLANDER et al,. 1986; KOLGOMOROV; DUPLISCHEVA, 1992). Estudos têm verificado que os aspectos biomecânicos interferem em variáveis como o gasto energético e a eficiência propulsiva, sendo esses fatores fundamentais para o deslocamento no meio líquido (CHATARD et al., 1990; WAKAYOSHI, et al., 1995). Entre as variáveis que expressam a habilidade de nado, está a frequência de braçada (FB), que representa o número ou ciclos de braçadas realizados em uma unidade de tempo, o comprimento de braçada (CB), que representa a distância que o nadador realiza em cada ciclo de braçada e o índice de braçada (IB), que corresponde ao produto da velocidade e o CB. Essas variáveis têm apresentado correlação significante com a economia de movimento (EM) em uma dada velocidade submáxima e com a performance (100, 200, 368 e 400 m) nessa modalidade (COSTILL et al., 1985; CHATARD et al., 1990). Mesmo em nadadores altamente treinados, a melhora da FB também tem sido associada com o aumento do rendimento (HUOT-MARCHAND et al., 2005). Arellano et al. (1994) sugerem que o sucesso e o aumento da velocidade de nado em nadadores do estilo crawl na Olimpíada de 1992 nas distâncias de 50, 100 e 200m tinham algumas variáveis técnicas modificadas, apresentando um maior CB e uma menor FB, além de apresentarem maiores estaturas quando comparados com a elite da Olimpíada de No entanto, em condições de aumento de velocidade (SEIFERT et al., 2004b) ou de exercício prolongado (Dekerle et al., 2005b) pode haver uma modificação na relação entre a FB e o CB, para promover um aumento ou manutenção da velocidade, respectivamente. Craig e Pendergast (1979) e Craig et al. (1985) sugerem que a redução no CB observada durante uma prova está relacionada à menor capacidade de desenvolver força necessária para vencer a resistência ao movimento, que pode estar relacionada com à fadiga (TOUSSAINT; BERG,
19 6 1992). Porém, os aspectos que podem explicar a redução do CB ao longo do tempo ainda não são bem compreendidos. A velocidade de nado representa o produto da FB pelo CB (HUGSHON et al., 1987; SMITH et al., 2002), portanto, para manter uma dada velocidade, os nadadores em geral adotam uma combinação de FB e CB que julgam ser a mais eficiente. No entanto, segundo Dekerle et al. (2002) nadadores de elite adotam diferentes combinações FB e CB em relação aos menos experientes, podendo ser esse um dos fatores que determinam seus maiores níveis de rendimento, isso ocorrendo também entre gênero, nível de performance, modalidade e distância de nado (MILLET et al., 2002; GRECO et al., 2006, 2007; PELARIGO et al., 2007; SEIFERT et al., 2007). A relação existente entre as variáveis técnicas FB e CB e intensidade de nado é inversamente proporcional, ou seja, em intensidades mais baixas, o CB tende a ser maior e a FB tende a ser menor quando comparadas com intensidades mais altas, em que o CB é mantido ou reduzido e a FB é aumentada (MILLET et al., 2002; SEIFERT et al., 2004b; GRECO et al., 2006, 2007; PELARIGO et al., 2007;). A figura 1 apresenta o comportamento da FB e do CB entre distâncias de 1500 a 50m em nadadores de elite. Figura 1. Valores de média ± DP da freqüência de braçada e comprimento de braçada com valores de velocidades médias correspondente a distâncias de prova (1500 a 50m) em nadadores de elite no nado crawl (Adaptado de PELAYO et al., 1996).
20 7 Em estudos que analisamos a FB na velocidade máxima de 30 minutos em nadadores com diferentes níveis de performance, verificaram valores similares de FB. Nesses estudos, os maiores valores de CB apresentados pelos nadadores mais habilidosos explicam as maiores velocidades dos mesmos (GRECO et al., 2006; PELARIGO et al., 2007). O IB também tem sido utilizado como um índice importante na avaliação da técnica de nado, pois utiliza a velocidade e o CB, ou seja, nadadores com elevados IB conseguem nadar em altas velocidades e com elevados CB. Costill et al. (1985) analisaram o gasto energético durante o nado crawl na natação e correlacionaram o VO 2 max com a performance máxima nos 365,8 m, os melhores preditores do VO 2 max dos nadadores foram o peso da massa magra e IB (r = 0,97), sugerindo que IB é uma importante variável técnica nu custo energético e nas variações da performance na natação. Outros estudos sugerem que esforços realizados em intensidades acima do limiar anaeróbio (LAn) (WELLS; DUFFIN; PLYLEY, 2001) e da MLSS (DEKERLE et al., 2005b), que é considerada o método padrão-ouro (gold-standard) na avaliação da capacidade aeróbia (BENEKE; VON DULLIVARD, 1996), podem reduzir o CB, em função da fadiga. Estes dados sugerem que pode haver uma relação entre parâmetros fisiológicos e parâmetros relacionados à técnica de nado. Porém, apesar de terem encontrado redução no CB, nenhum estudo investigou quais partes da braçada ficam comprometidas nessas condições. 3.2 Índice de coordenação da ação dos braços A coordenação da ação dos braços é descrita classicamente na literatura em quatro fases, entrada e encaixe, puxada, empurre e recuperação. A braçada pode ser comprometida por diversos fatores: tipo de nadador (velocista, meio-fundo e fundista), padrão de pernada (duas, quatro ou seis pernadas por ciclo), condição de arrasto e velocidade e nível dos nadadores (MILLET et al., 2002). O movimento dos braços no nado crawl é feito de forma alternada, no qual cada braço realiza quatro fases, sendo duas propulsivas (puxada e empurre) e duas não-propulsivas (entrada da mão e encaixe e recuperação). De acordo com Costill et al. (1992) a coordenação da ação dos braços ocorre de três formas: oposição, alcançar e superposição. A forma oposição, na qual um braço começa a fase da puxada, que é a primeira fase propulsiva, quando o outro está terminando a fase do empurre, que é a segunda e mais importante fase propulsiva. Já na forma alcançar há um pequeno intervalo de tempo entre as fases propulsivas dos dois braços, em que, quando um braço começa a fase da puxada, o outro braço já faz a fase de recuperação. Na forma superposição, há uma breve sobreposição, pois um braço inicia
21 8 a propulsão quando o outro ainda não terminou de realizar a segunda fase de propulsão (CHOLLET et al., 2000; MILLET et al., 2002; SEIFERT et al., 2004b, 2007). Posteriormente, a duração de cada fase e a proporção das mesmas em relação à duração do ciclo de braçada foram quantificadas através do índice de coordenação dos braços (IdC) (CHOLLET et al., 2000). O IdC expressa o tempo que separa o começo da fase propulsiva de um braço e o final da fase propulsiva do outro braço. Esse índice é negativo quando há um intervalo de tempo entre as fases propulsivas dos dois braços, igual a zero quando a fase propulsiva de um braço começa imediatamente ao terminar a fase propulsiva do outro braço, e positivo quando parte das fases propulsivas dos braços se sobrepõem (CHOLLET et al., 2000; MILLET et al., 2002; SEIFERT et al., 2004b, 2007). Entre os fatores que podem influenciar as fases propulsivas e não-propulsivas, está a velocidade de nado. Quando se analisa os atletas em longas distâncias (800, 1500 e 3000 m) e velocidades proporcionalmente mais baixas, os mesmos tendem a adotar uma maior proporção das fases não-propulsivas (60%) em relação às fases propulsivas (40%). Já em menores distâncias (50 e 100 m) e proporcionalmente maiores velocidades, o modelo adotado das fases não-propulsivas diminui (52-50%) e as fases propulsivas aumentam (48-50%), tornando-as proporcionalmente iguais (SEIFERT et al., 2004a,b). Essas estratégias de nado permitem que, em provas de velocidade, os nadadores apresentem maiores fases de puxada e empurre, aumentando assim a força propulsiva de nado. Já em provas longas, há um aumento nas fases de entrada e encaixe para reduzir o arrasto hidrodinâmico e aumentar a velocidade (CHOLLET et al., 2000; SEIFERT et al., 2004b). Enfim, são variáveis bastante interessantes, já que possibilitam analisar os ajustes realizados pelos nadadores em relação a diferentes velocidades de nado. No entanto, para que se observe em um mesmo nadador variações importantes nestas variáveis, são necessárias grandes diferenças de velocidade (SEIFERT et al., 2004b). Chollet et al. (2000) analisaram as fases da braçada e a coordenação dos braços durante o nado crawl e verificaram o efeito da velocidade de nado e nível de performance. O grande achado foi que as durações das fases propulsivas (puxada e empurre) aumentaram significantemente com o aumento de velocidade, ocorrendo o mesmo com o IdC. Já entre o nível de performance, os mais habilidosos apresentaram um menor valor de IdC, com o aumento de performance, comparados aos menos habilidosos (-1,76% e -6,07%, respectivamente). Millet et al. (2002) compararam a coordenação dos braços e o efeito da especificidade de exercício em diferentes velocidades, triatletas e nadadores de elites mostraram similares
22 9 aumentos no IdC com o aumento de velocidade, porém, triatletas reduziram a fase propulsiva (-0,6%) enquanto nadadores aumentaram (3,2%). A menor velocidade dos triatletas foi associada ao menor CB comparado aos nadadores e a FB não foi estatisticamente diferente. Seifert et al. (2004b) demonstraram ainda que nadadores de elite mantém uma alta FB (53,7 ciclos.min -1 ) e se ajustam ao modelo de superposição em velocidades máximas e distâncias curtas. Já em menores velocidades e longas distâncias eles se ajustam no modelo alcançar, com menores valores de FB (29,7 ciclos.min -1 ). Esses achados concordam com Keskinen e Komi (1993), que verificaram diminuição da fase de entrada da mão na água e aumento nas fases de puxada e empurre com aumentos de velocidade, com variabilidade entre 1,1 m.s -1 para 1,8 m.s -1. Portanto, esses estudos sugerem que a velocidade de nado e o nível de performance são fatores determinantes do IdC, ou seja, quando analisados em distâncias mais longas e velocidades proporcionalmente baixas (800, 1500 e 3000 m) os nadadores adotam o modelo de oposição. Já em curtas distâncias e altas velocidades (50 e 100 m), os mesmos adotam o modelo de superposição. Nesses estudos, os autores sugerem que, com essas estratégias, em provas curtas os nadadores conseguem aumentar a força de propulsão na água e nas provas longas, os mesmos conseguem se deslocar em uma posição mais hidrodinâmica, minimizando a resistência da água. 3.3 Máxima fase estável de lactato contínua O exercício de alta intensidade causa no organismo um estresse fisiológico em que estimula a produção do ácido lático para que seja utilizado na forma de lactato pelo músculo. No entanto, o organismo utiliza de ajustes fisiológicos para que isso seja o mais estável possível, mas pode chegar um momento em que a intensidade de exercício é tão aumentada, que a produção de lactato supera a remoção, causando o acúmulo de íons H +, e a incapacidade de manutenção da intensidade de exercício com o passar do tempo. Durante o repouso e em moderadas intensidades de exercício, até 50-60% do consumo máximo de oxigênio (VO 2 max), o lactato é produzido e removido em taxas iguais (BILLAT et al., 2003), resultando em um equilíbrio na concentração desse metabólito. Quando o indivíduo exercita-se em intensidades acima das descritas acima, há um desequilíbrio dessas taxas, o que pode resultar em aumento do lactato sanguíneo (BENEKE et al., 2003). A MLSS é a maior intensidade de exercício na qual ocorre um equilíbrio entre a produção e a remoção de lactato durante um exercício prolongado de carga constante (BENEKE; VON DUVILLARD, 1996; BENEKE et al., 2003). A intensidade correspondente
23 10 à MLSS tem sido fortemente relacionada com a performance em esportes de endurance (BILLAT et al., 2003), podendo ser usada para avaliação da capacidade aeróbia dos atletas, e também como um dos principais parâmetros para prescrição do treinamento aeróbio (BENEKE; VON DUVILLARD, 1996; BILLAT et al., 2003). A sua determinação requer 3-5 testes submáximos de carga constante realizados em diferentes intensidades (BENEKE et al., 2003). O critério mais utilizado para a determinação dessa variável é o proposto por Heck et al. (1985), onde a concentração de lactato não aumente mais do que 1 mm nos últimos 20 minutos de exercício. Como as cargas submáximas têm até 30 min de duração, os testes devem ser realizados em dias diferentes e com o indivíduo recuperado da carga anterior. Estudos que tentaram analisar os fatores que potencialmente poderiam influenciar na MLSS, não encontraram relação entre diversas variáveis fisiológicas (e.g. atividade da enzima citrato sintase, capacidade de tamponamento celular, transportadores de lactato, tipo de fibra muscular, estado de treinamento aeróbio e idade) e a MLSS (BENEKE et al., 2000; PEDERSEN et al., 2002; MATTERN et al., 2003; DENADAI et al., 2004). Beneke et al. (1996) não verificaram efeito da idade na concentração de lactato correspondente à MLSS (4,2 mm) e na intensidade correspondente à MLSS (% potência máxima atingida em um teste incremental) (%MLSS) (66,5%), em indivíduos de 11 a 20 anos. Denadai et al. (2004) verificaram no ciclismo que, indivíduos sedentários apresentaram uma menor intensidade correspondente à MLSS do que os ciclistas, porém a MLSS foi similar entre os grupos (4,9 e 5,0 mm, respectivamente). Um aspecto que parece influenciar a MLSS é o tipo de exercício e a variabilidade interindividual. Beneke e Von Duvillard (1996) realizaram um estudo analisando atletas de elite (remadores, patinadores e ciclistas), cada um realizando seu tipo específico de exercício, e obtiveram MLSS de 3,1, 6,6 e 5,4 mm, respectivamente, mostrando que a MLSS parece depender da quantidade de massa muscular envolvida. Posteriormente, Beneke (2003) verificou em remadores, um menor valor de MLSS no remo (3,4 mm) em relação ao ciclismo (4,8 mm). No entanto, a intensidade relativa ao consumo de oxigênio pico (%VO 2 pico) foi similar nos dois tipos de exercício (75,2 e 74,2%, respectivamente). Os autores sugerem que a MLSS parece diminuir com o aumento da massa muscular utilizada. Figueira et al. (2007) determinaram a MLSS na corrida e no ciclismo nos mesmos indivíduos. Nesse estudo, a MLSS foi de 3,8 mm na corrida e 5,8 mm no ciclismo, mostrando que a teoria que alguns autores trazem que a [La] parece depender no tipo de exercício e unidade de músculo envolvida.
24 11 Na natação, alguns estudos verificaram valores médios de MLSS de 3,2 mm (WAKAYOSHI et al., 1993), 2,8 mm (DEKERLE et al., 2005a) e 3,3 mm (DEKERLE et al., 2005b), correspondendo a aproximadamente 88% da velocidade máxima de 400 m (V400) (DEKERLE et al., 2005a,b). Esses dados sugerem que a MLSS é inversamente proporcional à massa muscular primariamente envolvida no exercício (BENEKE, 2003). Portanto, a concentração de MLSS é maior quanto menor a massa muscular envolvida. Wakayoshi et al. (1993) realizaram um estudo em que verificaram a [La] e a MLSS proporcional a VC (98, 100 e 102%). A VC correspondeu à MLSS, onde os nadadores nadaram 1600 m (4 x 400 m) e a [La] foi de aproximadamente 3,2 mm entre o décimo e trigésimo minuto. Neste estudo, a VC foi determinada com as distâncias de 200 e 400 m. Baron et al. (2004) analisaram se as variáveis fisiológicas e técnicas permanecem estáveis durante um teste máximo de duas horas e as associaram com os valores de MLSS. Os valores de MLSS foram de 1,22 m.s -1 e relativo a 86,5% V400, com [La] de lactato de 2,8 mm e demonstraram, desta forma, que a velocidade e CB mantiveram semelhantes até 68 min, posteriormente diminuindo e apresentando diferença significante entre o teste máximo de duas horas e a MLSS, entretanto não ocorrendo o mesmo com a TB, que se manteve similares. Dekerle et al. (2005a) compararam a VC e a MLSS realizada de forma contínua e encontraram valores de VC (92,7%V400) diferentes estatisticamente dos valores de MLSS (88,3%V400), porém altos valores de correlação (r = 0,87), demonstrando que a VC superestima a velocidade de MLSS. Em um outro estudo, o mesmo grupo de autores analisou as respostas das variáveis técnicas e fisiológicas em relação a intensidade de MLSS e 5% acima dessa intensidade, onde os valores de MLSS foram 1,22 m.s -1, relativo a 88,9%V400, FB de 27,7 ciclos.min -1 e CB de 2,64 m.ciclo -1, porém quando os nadadores realizaram a intensidade acima MLSS houve um comprometimento nas variáveis técnicas, sugerindo que a fadiga parece comprometer a FB e CB nos nadadores (DEKERLE et al., 2005b). 3.4 Máxima fase estável de lactato intermitente Exercícios intermitentes são freqüentemente utilizados em programas de treinamento a fim de melhorar o VO 2max (TABATA et al., 1996) e/ou a capacidade aeróbia (BENTLEY et al., 2005). A performance e as adaptações fisiológicas associadas com os exercícios intermitentes dependem da interação entre diferentes parâmetros como intensidade de exercício, tipo de recuperação, exercícios e período de recuperação e número de repetições (DUPONT et al., 2004).
25 12 Além do tipo de exercício e do estado de treinamento aeróbio, os protocolos utilizados também podem interferir na intensidade correspondente à MLSS (BENEKE, 2003). Segundo alguns estudos (BILLAT, 2001; LAURSEN; JENKINS, 2002; TARDIEU-BERGER et al., 2004; THEVENET et al., 2007), a interrupção do exercício através de recuperações ativas ou passivas pode interferir de forma significativa nas respostas fisiológicas, já que nos períodos de recuperação pode haver uma restauração das reservas de creatina fosfato (pausa passiva) e uma remoção do lactato sanguíneo (pausas passiva e ativa). Esses fatores podem contribuir para uma redução significativa da concentração de lactato sanguíneo e com isso, a maior intensidade que o indivíduo consegue realizar em uma determinada duração é maior. Na corrida, Heck (1990) verificou em um protocolo incremental, com pausas de 30 s, um aumento na intensidade correspondente a 4 mm de lactato sanguíneo quando o tempo das pausas foi aumentado para 90 s. Em um estudo realizado no ciclismo, Beneke et al. (2003) verificaram que a intensidade correspondente à MLSS foi significantemente maior quando feitos intervalos de 30 e 90 s a cada 5 min de exercício, em relação ao exercício feito de forma contínua. No entanto, a concentração de lactato correspondente a essa intensidade não foi modificada. Na natação, Bentley et al. (2005) analisaram as repostas fisiológicas e da técnica de nado em duas séries diferentes (16 x 100 m e 4 x 400 m) em uma mesma intensidade absoluta, que correspondeu a 25% do delta entre o limiar ventilatório e o VO 2 max, que em média representou 89% V400. Nesse estudo, os nadadores apresentaram valores similares e estáveis de lactato sanguíneo nas duas séries (2,8 a 3,3 mm). Da mesma forma, os valores de FB e CB também apresentaram estabilidade e foram similares entre as duas séries. Porém, apesar da intensidade ter sido próxima da MLSS (89% V400) (DEKERLE et al., 2005b), a mesma não foi determinada. Ribeiro et al. (2008) analisaram em seu estudo a relação das variáveis técnicas e fisiológicas em uma série (5 x 400 m) com intervalos de 90 s entre as repetições e que foi realizada na VC (200 e 400 m), que correspondeu a 93% V400. Os nadadores apresentaram aumentos significantes na [La] (5,7 7,9 mm), FB (29,6 32,1 ciclos.min -1 ) e FC ( bpm) e diminuição significante no CB da primeira para o quinta repetição (2,48 2,31 m.ciclo -1 ). Na natação, a maioria das séries para a melhora da potência e da capacidade aeróbia são realizadas de forma intermitente. Portanto, como nessa modalidade a técnica é um aspecto importante para a performance, o controle da mesma durante o exercício em intensidades próximas à MLSS pode contribuir para o entendimento dos aspectos que envolvem a queda de
26 13 performance, como também na elaboração das sessões de treinamento nessa modalidade esportiva. Além disso, sugere-se que os atletas conseguem manter os aspectos fisiológicos e da técnica de nado em intensidades acima da MLSS, quando o exercício é feito de forma intermitente.
27 14 4. JUSTIFICATIVA Tradicionalmente, a FB e o CB têm sido utilizados como importantes parâmetros de análise da técnica de nado. Recentemente, Chollet et al. (2000) propuseram o IdC que fornece uma avaliação qualitativa e quantitativa da ação dos braços, mensurando as durações das fases propulsivas e não-propulsivas da braçada do crawl. Como alguns estudos sugerem que ao realizar o exercício em intensidades acima do limiar anaeróbio e da MLSS podem reduzir o CB em função da fadiga, possivelmente uma ou as duas fases propulsivas da braçada podem estar comprometidas. Assim, é possível hipotetizar que, o CB apresentará uma redução ao se realizar o exercício acima da MLSS de forma contínua ou intermitente em função da redução de uma ou duas fases propulsivas da braçada. Além disso, é possível nadar de forma intermitente acima da MLSS determinada de forma contínua, mantendo-se o CB e consequentemente uma ou as duas fases propulsivas da braçada. Como na natação, a prescrição do treinamento aeróbio é feita em sua maioria de forma intermitente, o conhecimento dessas respostas no exercício intermitente nesta modalidade esportiva contribuirá de forma significativa para a avaliação e a prescrição do treinamento aeróbio.
28 15 5. MATERIAL E MÉTODOS 5.1 Delineamento Experimental Inicialmente, foram obtidas as medidas antropométricas massa corporal, estatura e dobras cutâneas (triciptal, suprailíaca e abdominal), para a determinação da composição corporal. Posteriormente, foram realizados os seguintes procedimentos experimentais: repetições máximas nas distâncias de 200 (V200) e 400 m (V400) para a determinação da velocidade crítica (VC) e de 2 a 4 repetições submáximas com duração de até 30 minutos em diferentes intensidades, para a determinação da MLSSC. Posteriormente, foram realizadas 2 a 4 repetições submáximas de 12 x 150 segundos em diferentes intensidades com 30 s de recuperação passiva, para a determinação da MLSSI. Todos os testes foram realizados em diferentes dias e em uma piscina de 25m. Os indivíduos compareceram ao local do teste, com um intervalo entre os testes de um a três dias, também foram instruídos a não treinarem exaustivamente no dia anterior à avaliação e a comparecerem alimentados e hidratados no dia do teste. Todos os testes foram executados no mesmo horário do dia Sujeitos Participaram desse estudo nove nadadores meio-fundistas e fundistas, especialistas em provas de 400, 800, 1500m ou águas abertas do sexo masculino, com pelo menos cinco anos de experiência e que treinavam pelo menos 12 horas semanais na respectiva modalidade. Foram selecionados indivíduos considerados saudáveis após exame clínico, não fumantes e que não façam uso regular de qualquer tipo de medicamento. Os mesmos foram submetidos a um questionário e, após serem informados textual e verbalmente sobre os objetivos e a metodologia desse estudo, assinaram um termo de consentimento. Toda e qualquer informação individual obtida durante o estudo foi totalmente sigilosa entre o pesquisador e o voluntário, inclusive um relatório final, o qual foi entregue ao voluntário. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade e foi aprovado (CEP: 097/2007) Avaliação antropométrica Inicialmente foram mensuradas as seguintes variáveis antropométricas: massa corporal (kg), estatura (cm), envergadura (distância entre os dedos médios, o indivíduo em pé, braços
29 16 estendidos e ombros em abdução de 90 graus em cm), dobras cutâneas (tríceps braquial, suprailíaca e subescapular) e percentual de gordura corporal (GUEDES; GUEDES, 1998; SIRI, 1962) Determinação da velocidade crítica Para a determinação da velocidade crítica (VC), foram realizadas performances máximas nas distâncias de 200 e 400 m, anotando-se os respectivos tempos. Estas tentativas foram realizadas durante as sessões de treinamento, com saída de dentro da piscina e um aquecimento de 800 a 1000 m feitos em intensidade moderada. Foi realizado um teste por dia. A VC foi determinada através do coeficiente angular (b) da reta de regressão linear entre as distâncias e os respectivos tempos obtidos em cada repetição. Estudos anteriores verificaram a validade da determinação da VC com duas distâncias em nadadores treinados (WAKAYOSHI et al., 1993; DEKERLE et al., 2002; RODRIGUEZ et al., 2003) Determinação da máxima fase estável de lactato contínua Para a determinação da MLSSC foram realizadas de 2 a 4 tentativas de 30 min de duração, velocidade constante, com a primeira mantida na intensidade correspondente à 88,5%V400. Nas próximas tentativas foram utilizados aumentos ou reduções de 2,5% da V400 entre cada teste até que um aumento menor ou igual a 1 mm de lactato entre o décimo e trigésimo minuto fosse observado como critério para determinação da velocidade correspondente à MLSSC (HECK et al., 1985). No 10 o e ao final do teste, 25 l de sangue arterializado foram coletados do lóbulo da orelha através de um capilar heparinizado e imediatamente transferidos para microtúbulos de polietileno com tampa tipo Eppendorff de 1,5 ml contendo 50 l de NaF (1%) para a mensuração do lactato (YSL 2300 STAT, Yellow Springs, OH, U.S.A.). A FC foi monitorada durante todo o teste através do frequencímetro (Polar S810i Polar Electro, Finland). A velocidade foi controlada através de sinais sonoros emitidos em intervalos constantes de tempo por um aparelho leitor de mídia portátil (MP3) (MP120B/F, Oregon, São Paulo) e de marcações feitas no fundo da piscina com tijolos encapados escritos BIP colocados a cada 5 m. Ao ouvir cada sinal sonoro, o nadador tinha que estar com a cabeça em cima da marcação. A concentração de lactato correspondente a essa velocidade foi expressa como a média dos valores obtidos no décimo minuto e ao final do teste Determinação da máxima fase estável de lactato intermitente
30 17 Para a determinação da MLSSI foram realizadas de 2 a 4 tentativas de 12 repetições de 150 s, com intervalos de recuperação passiva de 30 s para a determinação da MLSSI, em velocidade constante, com a primeira mantida a 102,5%MLSSC. A relação esforço/pausa utilizada foi de 5:1, ou seja, para cada 5 s de nado, 1 s de recuperação. Essa relação foi escolhida por ser próxima da utilizada nas sessões de treinamento de capacidade aeróbia e por proporcionar uma individualização pela performance dos nadadores. Nas próximas tentativas foram utilizados aumentos ou reduções de 2,5% da V400 entre cada teste até que um aumento menor ou igual a 1 mm de lactato entre o décimo e trigésimo minuto de exercício fosse observado como critério para determinação da velocidade correspondente à MLSSI (HECK et al., 1985). Os procedimentos de coleta e análise do lactato e da mensuração da FC foram já descritos anteriormente. Caso o nadador estivesse no meio da piscina ao final da repetição para coleta de sangue, ele foi parado e se deslocou até o alinhamento da piscina lateral para a coleta e posteriormente voltou ao mesmo lugar para recomeço do teste. A FC foi monitorada durante todo o teste através do frequencímetro (Polar S810i Polar Electro, Finland). O controle da velocidade foi realizado como descrito anteriormente no protocolo da MLSSC. A Figura 2 ilustra o protocolo de determinação da MLSSI. Figura 2. Protocolo de determinação da MLSSI com os esforços e intervalos e os momentos de coletas de sangue e imagens Determinação das variáveis cinemáticas As fases da braçada e o modelo de coordenação adotado por cada atleta foram mensurados por meio da análise das imagens capturadas por duas câmeras de vídeo
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