NOTA TÉCNICA Nº 18/2014
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- Marco Bonilha Farinha
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1 NOTA TÉCNICA Nº 18/2014 Brasília, 04 de Agosto de ÁREA: Finanças TÍTULO: Taxas, Preços Públicos e Tarifas REFERÊNCIA(S): Constituição Federal de 03 de outubro de 1988; Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964; Lei nº 5.172, de 25 de Outubro de 1966 CTN; Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000 LRF; Súmula 545 do STF, Acórdão da Primeira Turma do STF, RE SP; Lei nº 8.429, de 02 de junho de 1992 e Lei nº 9.670, de 29 de dezembro de 1983 do Município de São Paulo SP. 1. Introdução Os Municípios enfrentam grandes dificuldades em relação à correta aplicação de taxas, preços públicos e tarifas. Portanto, a área técnica de Finanças da CNM apresenta este instrumento de forma sucinta e objetiva com o intuito de diminuir as dificuldades e contribuir para o emprego mais adequado e possível da arrecadação desses emolumentos pelas administrações municipais. Inicialmente, antecipando algumas das questões mais importantes que diferenciam esses itens, vale destacar que preço público, tarifa e taxas podem ser cobrados pelo Poder Público, sendo que taxa está relacionada aos princípios orçamentários, enquanto que preço público e tarifas, não. Para isso, a seguir serão apresentados cada uma dessas nomenclaturas com suas respectivas características e aplicações.
2 2. Taxas Uma das principais finalidades da cobrança de taxas é restituir ao Poder Público, no mínimo, as despesas necessárias para executar o serviço prestado, a prestar ou colocado à disposição do contribuinte. A Constituição Federal de 1988 (CF), no inciso II do artigo 145, permite aos Entes federados instituir taxas em razão do poder de polícia ou de serviços públicos, específicos e divisíveis, prestados ou colocados à disposição do contribuinte, e que somente podem ser prestados pelo Poder Público. Já em seu parágrafo 2º, salienta que as taxas não podem ter como base de cálculo nada pertinente a impostos. TÍTULO VI DA TRIBUTAÇÃO E DO ORÇAMENTO CAPÍTULO I DO SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL Seção I DOS PRINCÍPIOS GERAIS Art A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: I - impostos; II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas. A taxa é considerada um tipo de tributo, sua instituição está sujeita aos princípios do regime tributário definidos no artigo 150 da CF: Princípio da legalidade: deve ser instituída ou majorada por lei; Princípio da anterioridade: não alcança fatos geradores ocorridos antes da vigência do dispositivo legal que a instituiu; Princípio da anualidade: não deve ser cobrada no mesmo exercício em que foi criada;
3 Princípio da noventena: somente poderá ser cobrada decorrido os noventa dias da publicação da lei que a instituiu. Uma observação deve ser feita em relação ao inciso VI deste mesmo artigo da CF: taxas não são alcançadas pela imunidade recíproca, ou seja, a União, os Municípios, DF e os Estados são considerados também contribuintes. Contudo, os Entes, respeitando o dispositivo do artigo 14 da Lei Complementar 101/2000, por sua vez, também têm competência para conceder incentivos fiscais. O Código Tributário Nacional (CTN), Lei 5172/1966, em seu artigo 5º, instituiu o que são tributos, e dentre eles está prevista a taxa : Art. 5º Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria (grifo nosso). No CTN, o Título IV trata exclusivamente de taxas - originada pelo poder de polícia do Ente ou pela prestação de serviços colocados à disposição -, diferenciando-a de impostos ; define seu fato gerador e indica a formação de sua base de cálculo, a saber: TÍTULO IV Taxas Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição. Parágrafo único. A taxa não pode ter base de cálculo ou fato gerador idênticos aos que correspondam a imposto nem ser calculada em função do capital das empresas. (Vide Ato Complementar nº 34, de ) (..) Art. 79. Os serviços públicos a que se refere o artigo 77 consideram-se: I - utilizados pelo contribuinte: a) efetivamente, quando por ele usufruídos a qualquer título; b) potencialmente, quando, sendo de utilização compulsória, sejam postos à sua disposição mediante atividade administrativa em efetivo funcionamento; II - específicos, quando possam ser destacados em unidades autônomas de intervenção, de utilidade, ou de necessidades públicas; III - divisíveis, quando suscetíveis de utilização, separadamente, por parte de cada um dos seus usuários.
4 Art. 80. Para efeito de instituição e cobrança de taxas, consideram-se compreendidas no âmbito das atribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, aquelas que, segundo a Constituição Federal, as Constituições dos Estados, as Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos Municípios e a legislação com elas compatível, competem a cada uma dessas pessoas de direito público. A taxa tem natureza impositiva e independe da vontade ou da escolha do cidadão. O contribuinte, como sujeito passivo da obrigação principal ou acessória, estando enquadrado no dispositivo que a instituiu, é responsável pelo crédito tributário usando ou não os serviços. Sendo assim se o serviço foi prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição fica caracterizada a incidência da taxa. Para efeitos contábeis, considerando o disposto pela Lei 4320/1964, que regulamenta a contabilidade pública, a taxa é considerada uma receita derivada (art. 9º), isto é, incide sobre o patrimônio ou serviços de terceiros. E ainda, também é classificada, nas receitas correntes, como receita tributária (art. 11, 4º). 2.1 Base de Cálculo Para definir a base de cálculo das taxas, o Ente federado deverá considerar a despesa total necessária, exclusivamente, para prestar o serviço ou colocar à disposição do contribuinte. O Poder Público jamais deverá usar parâmetros aleatórios ou presuntivos de custos. Em recente julgado do Supremo Tribunal Federal (STF), foi declarado inconstitucional o artigo 6º da Lei 9.670/83 do Município de São Paulo (SP) que estabelecia o valor da taxa de licença de localização e funcionamento, considerando o número de funcionários da empresa. Em primeiro plano, a base legal que deve ser seguida para este item é o que está definido no art. 77, único, do CTN: Parágrafo único. A taxa não pode ter base de cálculo ou fato gerador idênticos aos que correspondam a imposto nem ser calculada em função do capital das empresas..
5 Assim, a CNM sugere que o Município reveja os parâmetros adotados para o lançamento das taxas vigentes e, caso opte pela instituição de uma nova taxa, é preciso, primeiramente, construir sua base de cálculo, o que poderá ser feito a partir do levantamento do custo total (pessoal, material, tecnológico, insumos,...) para a prestação daquele serviço ou para sua disponibilização ao contribuinte. Atualmente, entre as taxas mais usuais existentes em âmbito local, podemse elencar as seguintes: - taxa por coleta de lixo; - taxa de localização, licença e funcionamento; - taxa para execução de obras de construção civil; - taxa sanitária; - taxa de aprovação de projeto e vistoria de prevenção de sinistro; e - taxa de emissão de documentos para comprovação de inscrição cadastral de contribuinte. 3. Preço Público A cobrança de preço público tem como finalidade: remunerar o Poder Público, ao fornecer mercadoria ou serviço aos consumidores que optarem pela utilização destes. A CF assim como o CTN não contém qualquer inciso relacionado a preço público. Isso significa que o preço público não pode ser considerado um tipo ou uma modalidade de tributo. Portanto, o mesmo é totalmente desvinculado de qualquer legislação que regulamente tributos. Importante esclarecer que preço público não é sinônimo de taxa, e para tanto, citamos a Súmula 545 do STF: Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm a sua cobrança condicionada a prévia autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu. O preço público não está sujeito ao arcabouço tributário, portanto, não há
6 que se falar em imunidade reciproca e tão pouco nas vedações prevista no artigo 150 da CF. O preço público também não está sujeito aos princípios contidos no artigo 150 da CF. Logo, não depende de lei para sua instituição, nem majoração. A eliminação destes pilares, para fins de preço público, exclui portanto os princípios da anualidade e noventena. Os valores a serem cobrados passam a ter vigência em qualquer tempo, inclusive podem ser majorados no mesmo exercício, e ainda, não há que se falar no princípio da anterioridade com relação a preço público. O pagamento de preço público não desobriga o consumidor, quando na posição de contribuinte, a recolher tributos incidentes na atividade desenvolvida. O Ente federado, através de seus agentes fiscais, deve efetuar o lançamento de taxas e impostos, se for o caso. O preço público tem origem em um contrato firmado entre o Poder Público e um terceiro para que este obtenha geralmente a prestação de um serviço. Portanto, o valor referente ao mesmo é assumido voluntariamente ou facultado por quem tem a intenção de usar um serviço disponibilizado por um Ente público, não se tratando, portanto, de obrigação compulsória proveniente de legislação. Depois de recebido pelo Ente federado, o preço público será contabilizado como receita originária, ou seja, proveniente do uso de bens integrantes do patrimônio público e classificado como receita patrimonial. 3.1 Definição de Valores de Preço Público Embora não esteja sujeito ao Direito Tributário, o preço público deve respeitar os princípios do Direito Administrativo. Sua cobrança está diretamente ligada ao uso do serviço ou aquisição do bem, na proporção usada ou na quantidade adquirida. Reajustes devem ser definidos em cláusulas contratuais, quando for o caso, ou considerar os preços praticados no mercado - o que pode ser feito a qualquer momento.
7 A CNM sugere que os valores de preços públicos municipais sejam revistos periodicamente considerando a variação e o contexto sócio-econômico e que essas revisões sejam baseadas em pareceres técnicos. Após sua revisão, os preços devem ser registrados em ato administrativo e publicados, de forma a atender aos princípios da transparência e da publicidade. Caso o agente público permita a alienação, a permuta ou locação de bem integrante do patrimônio público por preço inferior ao de mercado pode incorrer em improbidade administrativa (inciso IV, do artigo 10, da Lei nº 8.429/92): Seção II Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam Prejuízo ao Erário Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: (...) IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado; (grifos nossos). O Poder Público municipal, com relação à cobrança e lançamento de crédito, deve discernir com clareza a atividade desenvolvida ou posta à disposição de usuários e contribuintes, definindo corretamente se o valor a ser cobrado é um preço público ou uma taxa. Assim o Poder Público, desde que remunerado de maneira a cobrir a despesa, pode prestar os serviços que entender imprescindível para os munícipes, desde que tenha condições técnicas, bem como a logística necessária para tal, principalmente quando o mesmo não é prestado no território do Município pela iniciativa privada. Aliás, em serviços como esse, o Ente pode fixar o valor unilateralmente, caso a caso, pelo órgão competente, ressalvadas as situações de concorrência pública.
8 Para exemplificar, podem ser mencionados serviços a serem definidos como preço público: - remoção de entulho; - terraplanagem; - sepultamento; e - pavimentação de pátios de estacionamentos particulares. 4. Tarifas O artigo 175 da CF estatuiu que através de lei deve ser regulamentada a concessão ou permissão de serviços públicos e a política tarifária. A Lei nº 8.987, de 1995, disciplinou o assunto e em seu Capítulo IV trata especificamente da política tarifária. O Estado concede à pessoa jurídica ou consórcio de empresas, via processo licitatório e contrato de concessão, a prestação de serviços de interesse público e a tarifa é o valor estipulado que deve ser pago voluntariamente pelos usuários desses serviços às concessionárias. Como remuneração do serviço prestado por concessionárias, a tarifa é caracterizada como receita da iniciativa da privada e estará sujeita à incidência de ISS quando o serviço estiver compreendido na lista anexa à Lei Complementar 116/2003. Destaca-se que tarifa não é tributo e sua instituição e formas de reajuste devem constar no edital de licitação e serão cláusulas essenciais do contrato de concessão, tal afirmativa está prescrita nos artigos 18 e 23 da Lei 8.987/95: Art. 18. O edital de licitação será elaborado pelo poder concedente, observados, no que couber, os critérios e as normas gerais da legislação própria sobre licitações e contratos e conterá, especialmente: (...) VIII - os critérios de reajuste e revisão da tarifa; (...)
9 Art. 23. São cláusulas essenciais do contrato de concessão as relativas: (...) IV - ao preço do serviço e aos critérios e procedimentos para o reajuste e a revisão das tarifas; (grifos nossos). A tarifa não poderá ser objeto de isenção, muito menos de imunidade recíproca. A critério do poder concedente (Estado), o serviço prestado pela concessionária poderá sofrer reduções no valor ou ser gratuito. Exemplos de aplicação de tarifa: - transporte público; - serviços de telefonia; e - fornecimento de água e esgoto. Como exemplo de tarifa gratuita, pode ser citado o estatuto do idoso que garante a gratuidade da passagem a pessoas com mais de 65 anos 5. Diferença entre Taxa, Preço Público e Tarifa Por fim, de modo a contribuir para a diferenciação e definição entre taxas, preço público e tarifas, assim como melhor elucidar o gestor, cabe neste tópico aplicar alguns direcionamentos: - Taxa = quando a atividade a ser executada é competência exclusiva do Poder Público. - Preço público = quando a atividade ou serviços a serem prestados podem ser executados tanto pelo Poder Público, quanto pela inciativa privada. - Tarifa = remuneração paga às concessionárias, pelo usuário, na utilização de serviços públicos.
10 Abaixo, algumas outras situações que evidenciam as possíveis diferenças: Situação Licença para Execução de Obras de Construção Civil Por quem pode ser prestado esse serviço? Poder Público Taxa, Preço Público ou Tarifa Taxa Emissão de documento comprobatório de inscrição cadastral de contribuinte Poder Público Taxa Espaço para sepultamento em cemitério Poder Público Iniciativa privada Preço Público Remoção de Entulho Poder Público Iniciativa privada Preço Público Transporte Público Concessionária Tarifa 6. Considerações Finais A Confederação Nacional de Municípios (CNM) destaca a importância de que sejam sempre bem aplicadas essas nomenclaturas (taxa, preço público e tarifa) e que o Município efetue as devidas e possíveis distinções de acordo com as orientações neste documento apresentadas. O não-atendimento a essa diferenciação, poderá ensejar o enquadramento equivocado, caracterizando-o como renúncia de receita, além de ser objeto de apontamento pelos Tribunais de Contas dos Estados (TCE) e de questionamentos
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