A EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE FÍSICA E A MOTIVAÇÃO DO ALUNO PARA A APRENDIZAGEM
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- Eric Fidalgo Bergmann
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1 A EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE FÍSICA E A MOTIVAÇÃO DO ALUNO PARA A APRENDIZAGEM Michel Corci Batista 1, *Polônia Altoé Fusinato 2, Ricardo Brugnolle Blini 3, Ricardo Franscisco Pereira 4 1 Universidade Estadual de Maringá/ Departamento de Física/ Programa de Mestrado em Educação para a Ciência e o Ensino de Matemática, profcorci@hotmail.com 2 Universidade Estadual de Maringá/ Departamento de Física/ Programa de Mestrado em Educação para a Ciência e o Ensino de Matemática, poly@dfi.uem.br 3 Universidade Estadual de Maringá/ Programa de Mestrado em Educação para a Ciência e o Ensino de Matemática, ricardobblini@hotmail.com 4 Universidade Estadual de Maringá/ Departamento de Física/ Programa de Mestrado em Educação para a Ciência e o Ensino de Matemática, ricardoastronomo@gmail.com Resumo Tradicionalmente o ensino de Física é realizado de forma mecânica basicamente pela aplicação de problemas tipo que visam instrumentalizar os algoritmos de resolução característicos de cada problema. Esta metodologia conduz o aluno à mera aprendizagem mecânica por meio da repetição de fórmulas matemáticas para situações semelhantes. Embora, segundo Ausubel, essa aprendizagem mecânica possa conduzir a uma transferência de aprendizagem com alguma associação com os conhecimentos prévios dos estudantes, a aprendizagem dos alunos do ensino fundamental se torna mais significativa quando os novos conhecimentos, transmitidos pelo professor, venham se relacionar e interagir com a estrutura cognitiva existente somando e servindo de suporte para novas informações. Este trabalho pretende discutir a importância que a experimentação tem no ensino de física, para isso foi realizado um projeto com 18 alunos de uma turma de 1º ano do ensino médio de uma instituição privada de Maringá/PR, durante o 3º bimestre do ano letivo de 2006 A proposta didática do projeto tinha por objetivo fugir do ensino tradicional e despertar o interesse dos alunos pelas aulas de Física. O trabalho de pesquisa e produção era feito pelos alunos no contra turno. Durante as aulas, percebemos que, apesar das dificuldades encontradas pelos alunos, o que efetivamente ocorreu foi uma situação marcada pela alegria, pelo entusiasmo e pela motivação por parte dos mesmos, o que nos chamou muita atenção, pois eles estavam frente ao novo. Durante esse período foi feito uma coleta de dados através dos relatos dos participantes do projeto, fotografias e vídeos, tudo produzido por eles. Dez meses depois da execução do projeto foi realizada uma entrevista com cada um dos alunos que participaram do projeto com o intuito de verificar se a experimentação pode contribuir efetivamente no processo ensino-aprendizagem, garantindo um aprendizado significativo por parte do aluno. Palavras-chave: Educação. Experimentação. Ensino Médio. Mo tivação do aluno.
2 I. Introdução No ensino de Física, a ausência da experiência e do pensamento crítico são questões que podem ser percebidas pela dificuldade ou, até mesmo, impossibilidade de o aluno relacionar a teoria observada em sala com a realidade a sua volta, comprometendo-se, assim, a percepção do conteúdo pelo insucesso do processo. O processo de aprendizagem compreende uma série de analogias e inferências necessárias à abstração das leis científicas, sendo incapaz de compreender a teoria o aluno que não reconhece o conhecimento científico em situações cotidianas. (SERAFIM, 2001). Freire (1997) e Bazin (1987) apostam na experiência de ensino não formal de ciências como metodologia para a aprendizagem, ao contrário da simples memorização da informação, método tradicionalmente empregado nas salas de aula. Aliado a estas questões tem-se o grande desafio de tornar o ensino de Física prazeroso e instigante sendo capaz de desenvolver no aluno a educação científica fazendo-o alcançar o conhecimento e permitindo que este tenha sentido e possa ser utilizado na compreensão da realidade que o cerca. A partir dessa concepção, propõe-se um projeto que tem como objetivo a construção do conceito científico através da experimentação com o intuito de verificar se a experimentação pode contribuir efetivamente no processo ensino-aprendizagem, garantindo um aprendizado significativo por parte do aluno. II. Fundamentação Teórica O modelo de ensino tradicional é ainda amplamente utilizado por muitos educadores nas nossas escolas de Ensino Fundamental e Médio. Tal modelo de educação trata o conhecimento como um conjunto de informações que são simplesmente transmitidas pelos professores para os alunos, não resultando em um aprendizado efetivo. Os alunos têm o papel de ouvintes e, na maioria das vezes, os conhecimentos transmitidos pelos professores não são realmente absorvidos por eles, são apenas memorizados por um curto período de tempo e, geralmente, esquecidos posteriormente, comprovando a não ocorrência de um aprendizado significativo. Segundo Ausubel, uma aprendizagem mecânica possa conduzir a uma transferência de aprendizagem com alguma associação com os conhecimentos prévios dos estudantes, a aprendizagem dos alunos do ensino fundamental se torna mais significativa quando os novos conhecimentos, trabalhados pelo professor, venham se relacionar e interagir com a estrutura cognitiva existente somando e servindo de suporte para novas informações. De acordo com as reflexões que embasam tal justificativa, propõem-se que dois sejam os alicerces pedagógicos no ensino de Física para uma aprendizagem significativa (1) a contextualização do fenômeno a ser estudado; (2) a organização de um ambiente de aprendizagem diferente do tradicional, com a participação de professores mediador-orientadores e de alunos interessados.
3 Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, p.123), uma proposta governamental no Brasil, e a primeira com abrangência nacional, pode-se ler: Os desafios para experimentar ampliam-se quando se solicita aos alunos que construam o experimento. De acordo com Manacorda(2001) a mais de trezentos anos, John Locke ( ) apontou a necessidade do uso de atividades práticas pelos estudantes. O reconhecimento da importância das atividades práticas na educação das crianças também pode ser encontrado em Rousseau ( ), Pestalozzi ( ), Montessori ( ), Dewey ( ), e outros. As atividades práticas são vistas por estes sob diferentes enfoques, ora tomadas como suportes para o desenvolvimento dos conhecimentos da criança, ora tomadas como indutoras de conhecimentos existentes. Na verdade, a experimentação no ensino de Física como é feita em nosso país, não resume todo o processo investigativo no qual o aluno está envolvido na formação e desenvolvimento de conceitos científicos. Há que se considerar também que o processo de aprendizagem dos conhecimentos científicos é bastante complexo e envolve múltiplas dimensões, exigindo que o trabalho investigativo do aluno assuma, então, varias formas que possibilitem o desencadeamento de distintas ações cognitivas, tais como: manipulação de materiais, questionamento, direito ao tateamento e ao erro, observação, expressão e comunicação, verificação das hipóteses levantadas. Não podemos deixar de destacar a importância da afetividade, em termos de emoções, motivação e interesse no processo ensino-aprendizagem vem sendo apontada na literatura como uma forma de superação de uma dicotomia entre os processos cognitivos e afetivos, presentes nos currículos escolares. Autores da psicologia cognitiva, como Jean Piaget, Henri Wallon e Lev Semenovich Vygotsky, por exemplo, mencionavam a grande importância que a afetividade possui nos processos cognitivos, evidenciando a impossibilidade de desconsiderar tal associação. Mas quem deu grande ênfase à dimensão afetiva para o aprendizado foi Wallon, que de forma mais explícita destacou a associação entre afetividade e cognição. A dimensão afetiva, em especial as emoções, ocupa lugar central, tanto na construção do sujeito, como na construção do conhecimento. A importância dessa relação é explicitada por Wallon ao mencionar que o aparato orgânico sem a componente afetiva, não é capaz de construir a obra completa da natureza humana, que pensa, sente e se movimenta em um mundo material. (LA TAILLE et al, 1992). III. Procedimentos metodológicos Foi realizado um projeto com 18 alunos de uma turma de 1º ano do ensino médio de uma instituição privada de Maringá/PR, durante o 3º bimestre do ano letivo de 2006 para a confecção de experimentos destinados a apresentação em uma mostra de ciências. O trabalho de pesquisa e produção foi feito pelos alunos no contra turno. Durante a confecção percebemos que, apesar das dificuldades encontradas pelos alunos, o que efetivamente ocorreu foi uma situação marcada pela alegria, pelo entusiasmo e pela motivação por parte dos mesmos. Durante esse período foi feito uma coleta de dados através dos relatos dos participantes do
4 projeto, fotografias e vídeos, tudo produzido por eles. Dez meses depois do projeto realizado e a mostra científica realizada na instituição de ensino, foi feito uma entrevista com cada um dos alunos que participaram do projeto com o intuito de verificar se a experimentação pode contribuir efetivamente no processo ensinoaprendizagem, garantindo um aprendizado significativo por parte do aluno. IV. Análise dos resultados Quando a proposta da atividade foi lançada para os alunos no 3º bimestre de 2006, não percebemos uma postura muito otimista por parte dos mesmos, pois as primeiras falas se referiam ao trabalho que eles teriam para organizar tudo. Postura essa aceitável pois os mesmos estavam frente ao novo e segundo o relato de um aluno, até então, nunca tiveram que realizar na disciplina de Ciências (disciplina esta que antecede a Física do ensino médio), uma atividade que explorasse criatividade e principalmente muito estudo do tema. Com o passar dos dias, influenciados com a empolgação do professor, os alunos começaram a se envolver e a buscar dados e materiais concretos para produção do experimento. Sem contar que, em todos os encontros eles traziam algo novo sobre a teoria e a aplicação do seu trabalho. Esta etapa foi marcada pelo entusiasmo de estar reproduzindo experiências que seus conceitos, aos olhos da física e da tecnologia, são aplicáveis em larga escala. Ao fim do trabalho veio a animação de ter concluído todas as etapas e junto a preocupação com a apresentação para os colegas, mas isso não fez com que os alunos perdessem o entusiasmo inicial. Com a realização da apresentação tivemos um momento caracterizado pela alegria, pela satisfação pessoal, percebemos neste momento uma motivação clara por parte dos alunos. Após dez meses da realização da mostra, o responsável pelo projeto, lança mão de um questionário para verificar se os alunos trazem consigo os conceitos estudados para realização da atividade, e se conseguem associar os conteúdos que aprenderam durante a mostra com seu cotidiano, tudo com o intuito de verificar se o processo envolvendo a experimentação é realmente válido, para que a aprendizagem do aluno seja realmente significativa. Ao analisar as questões, o que nos chamou muita atenção foi que a mostra de maneira geral teve para cada aluno uma representação muito especial, que foi muito além de simplesmente produzir experimentos, mostrou o despertar para o estudo da física.... me mostrou outro lado da física. Porque até então eu via a física como uma matéria chata, sem dinâmica, só com conta, em fim, não tinha nenhum interesse pela física. Depois da experiência eu vi que a física é bem maior e bem mais interessante do que eu pensava.
5 Este pequeno relato faz com que se verifique, que a mostra significou muito para ele, bem como para os outros alunos. Tanto que hoje não sentem repulsão pela física. Temos um número expressivo de alunos que responderam o questionário classificando a produção de experimentos como atividade de fundamental importância para o aprendizado.... eu acho que o aluno aprende muito mais na prática do que só na teoria, pois quando você está fazendo um experimento, você vai vendo o resultado, o que te deixa com vontade de fazer o melhor possível. Percebemos na fala deste aluno que a experimentação se deu para ele como um fator motivante no estudo de física, pois neste momento seu papel ia muito além de um simples aprendiz, estava ele participando ativamente nas reflexões e principalmente na execução do trabalho.... nós alunos gostamos de aprender de uma forma leve, descontraída, e porque além de ser uma coisa nova e diferente para nós, nós aprendemos. Fica claro, quando analisamos o depoimento desta aluna, que mesmo dez meses depois ela se empolga ao falar da maneira como vê a experimentação no ensino de física.... o aluno interage com o meio da física, ele tem mais vontade aprender, por que existem coisas que nós só aprendemos como funciona através da física, coisas que nos atraem. Percebe-se que após a experimentação este aluno começa a buscar na física explicações para suas curiosidades pessoais, isso é de suma importância pois esta matéria de colégio começa a fazer sentido para sua vida, para seu crescimento intelectual.... o aluno se sente mais motivado a aprender, a estudar, a fazer, a interagir mais com a matéria. Neste relato, o termo motivação é explicito por parte do aluno. Em todas as falas observadas até então, o aluno tem se apresentado mais disposto e motivado a aprender física. Para outro grupo de alunos a produção de experimentos se deu como uma atividade lúdica, pois, pelo fato de terem muita liberdade para escolher o material e produzir a atividade, classificaram o processo como divertido.
6 ... também foi uma brincadeira, apesar de ser uma mostra de ensino, foi diferente.... foi lúdico, até por que foi apresentado para as crianças e elas gostaram muito. Mas isso não é suficiente para verificar se realmente se deu o aprendizado do aluno, ou seja, para que isso ocorra, o aluno deve refletir sobre seu experimento e ser capaz de estabelecer relações com suas atividades cotidianas, levantando hipóteses e se tornando um sujeito capaz de transformar o meio em que vive em prol do seu bem estar.... aprendi que se a área de contato do objeto com a minha mão for pequena, a pressão vai ser grande e ele pode me furar. O que nos deixou mais surpreso nesse ponto da análise, foi que 50% dos alunos entrevistados, não conseguiram fazer nenhum tipo de associação entre o experimento produzido e o seu dia a dia, isso nos leva a crer que esses alunos não assimilaram o conteúdo físico envolvido no trabalho, logo, a aprendizagem efetiva não aconteceu para eles. Porém não se pode descartar a utilização desta atividade no ensino de física, pois, ao fim do questionário todos os alunos responderam que gostariam de voltar a desenvolver atividades desse gênero, e desfilaram as seguintes justificativas.... eu prefiro muito mais um trabalho prático (experimento)do que um trabalho que você só precisa ir na internet e pronto.... achei legal esta atividade, bastante interessante, eu aprendi mais claramente.... com muito prazer e muita vontade faria tudo de novo.... foi algo que me interessou, que eu fiz com prazer.... é mais fácil aprender a matéria com esse tipo de atividade.... foi muito legal e eu amei fazer. Com isso podemos dizer que a experimentação não garante o aprendizado do aluno, no entanto é um fator de extrema importância para que o aluno se envolva no processo de ensino-aprendizagem, em outras palavras é o que move o aluno a estudar, fator este determinante para o processo.
7 V. Conclusões Com isso deve-se ressaltar que essa mudança de postura dos alunos se deu durante a produção do trabalho por que estavam motivados pelos propósitos que eles têm em mente e querem atingir, bem como diz Bzuneck(2002), o ser humano é dotado da capacidade singular de direcionar suas ações a metas definidas mentalmente, essas metas estabelecidas pelas equipes participantes do projeto podem ser influenciadas pelo contexto da sala de aula e principalmente pela ação docente. Mas não podemos nos afastar da idéia de que o aluno esteve motivado e buscando aprender, porém dez meses depois, um número muito expressivo de alunos não conseguiu fazer nenhum tipo de associação do tema trabalhado com seu cotidiano. Mesmo com a realização da experimentação, o aluno não construiu nenhum modelo de atividade que pudesse contribuir integralmente para o seu aprendizado. Diante deste panorama, o experimento produzido pelo aluno não pode ser caracterizado como instrumento de aprendizagem, pois ficou claro neste trabalho que ele não garante a assimilação do conteúdo. No entanto deve ser ressaltado que o experimento, como um fator motivante no processo ensino-aprendizagem, auxilia na predisposição do aluno para o estudo da ciência em questão, podendo assim interferir diretamente na aprendizagem do mesmo, mas não garanti-la. VI. Referências BECKER, F, O que é Construtivismo?, Revista de Educação AEC, Ano 21, Nº 23,Abri/Junho de BONDIA, J.L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira. Ed., 19, 20-28, BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, BZUNECK, J. A. A Motivação do Aluno: contribuições da psicologia contemporânea. Petrópolis: Vozes, LA TAILLE, Yves de; OLIVEIRA, Marta Kohl de; Dantas, Heloysa. (1992). Piaget,Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus. MANACORDA, Mario. A. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. 9.ed. Tradução por Gaetano Lo Mônaco. São Paulo: Cortez MELO, M. R. Ensino de Ciências: uma participação ativa e cotidiana. Net. Maceió PIAGET, Jean. A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro : Zahar, 1975.
8 PIAGET, J, O Nascimento da Inteligência na Criança, 4ª edição, Rio de Janeiro, Zahar, 1982 PIAGET, Jean. Epistemologia genética. São Paulo: Martins Fontes, RABONI, Paulo. C. A. Atividades Práticas de Ciências Naturais na Formação de Professores das Séries Iniciais, Dissertação (Doutorado) - UNICAMP, Brasil. RAMOS, Eugenio M. de F. Brinquedos e jogos no ensino de física f. Dissertação (Mestrado) - Universidade de São Paulo, USP, Brasil. PRIGOGINE, I. A Ciência Numa Era de Transição. Revista Parcerias Estratégicas. Ed.Tatiana Pires. 1997ª. WADSWORTH, Barry. Inteligência e Afetividade da Criança. 4. Ed. São Paulo, Enio Matheus Guazzelli, 1996.
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