C U R S O D E F O R M A Ç Ã O PSICANÁLISE
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- Mikaela Furtado Lancastre
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1 C U R S O D E F O R M A Ç Ã O PSICANÁLISE PSICOPATOLOGIA 1 Dr FRANCIS BITTENCOURT OLIVEIRA 2015
2 CLASSIFICAÇÃO QUANTO A CATEGORIA PARA FINS DIDÁTICOS 1) PSICOSES; 2) ESTADOS PSICÓTICOS; 3) CONDIÇÕES PSICÓTICAS. PSICOSES Perturbação grave das funções psíquicas que se caracteriza principalmente pela perda de contato com a realidade, pela incapacidade de adaptação social, por perturbações da comunicação e ausência de consciência da doença. A prejuízo de contato com a realidade é a principal característica de uma psicose à luz da psiquiatria, da psicologia e da psicanálise. Para Freud, a psicose é resultado do conflito entre o ego e o mundo exterior. Diante da frustração de fortes desejos infantis, o ego nega a realidade externa e procura construir através do delírio um mundo interno e externo de acordo com as tendências do id.
3 A psiquiatria distingue duas classes de psicoses: as orgânicas, onde uma enfermidade orgânica é o princípio causal e as funcionais, onde não há lesão orgânica demonstrável. Três formas de psicose funcional são reconhecidas: a esquizofrenia, a psicose maníaco-depressiva (transtorno bipolar, a partir da edição do CID-10) e a paranóia. O quadro clínico pode ser de surgimento agudo ou crônico, ao evoluir de forma muito lenta e gradativa, quando são de prognóstico bastante difícil. As formas agudas possuem uma sintomatologia muito mais ruidosa e quando bem diagnosticadas e tratadas, podem ser de excelente prognóstico. Entende-se por prognóstico, o conhecimento ou juízo antecipado, prévio, baseado necessariamente no diagnóstico médico e nas possibilidades terapêuticas, acerca da duração, da evolução e do eventual termo de uma doença ou quadro clínico. É predição do médico de como a doença do paciente irá evoluir, e se há e quais são as chances de cura. Já diagnóstico, é o processo analítico de que se vale o especialista ao e- xame de uma doença ou de um quadro clínico, para chegar a uma conclusão. É também o nome dado à conclusão em si mesma.
4 ESTADOS PSICÓTICOS Pressupõem a preservação de áreas do ego que atendem a duas condições: a) Permitem uma relativa adaptação ao mundo exterior; b) Possibilitam um recuperação sem seqüelas, após um surto psicótico. São exemplos de estados psicóticos por permitirem uma relativa adaptação ao mundo externo, os pacientes borderline ou fronteiriços, personalidades paranóides ou narcisistas, alguns tipos de perversão, psicopatias e neuroses graves. Já os quadros de reações esquizofrênicas agudas ou de transtornos afetivos (antiga psicose maníaco-depressiva) são exemplos de estado psicóticos que bem demonstram a segunda condição supracitada. Cabe aqui uma atenção especial aos pacientes borderline em virtude do seu alto grau de incidência clínica. Todos os aspectos inerentes à parte psicótica da personalidade estão presentes nesses pacientes. No entanto, diferem dos pacientes com psicose clínica por conservarem o juízo crítico e o senso da realidade.
5 CONDIÇÕES PSICÓTICAS Refere-se a pacientes que, apesar de bem adaptados, possuem uma acentuada presença dos núcleos psicóticos que Bion chamou de a parte psicótica da personalidade.nos legados de Bion, um ponto muito importante é a distinção que ele faz da parte psicótica e não psicótica da personalidade. Essa parte psicótica não equivale a um diagnóstico psiquiátrico, mas sim a um modo de funcionamento mental, coexistente a outros tantos. A PPP designa comportamentos mais regressivos, com núcleos primitivos enquistados na personalidade de qualquer indivíduo. Pode-se afirmar, com absoluta convicção, que uma análise que não tenha tratado dessa parte psicótica está inconclusa e corre o risco de ter produzido resultados analíticos superficiais. Entre a parte psicótica de um paciente neurótico até a franca esquizofrenia clínica, existe o fator quantitativo que pesa consideravelmente, determinando o grau de sanidade de uma pessoa, ou seja, toda pessoa não-psicótica é portadora, mesmo que em grau diminuto, em estado latente, de um resíduo de sua majestade o bebê, do seu psiquismo primitivo. A clínica comprova que quanto mais o paciente entra em contato com esses núcleos psicóticos, mas vai se alindo e mais o seu self vai se estruturando e integrando-se. Um dos objetivos do tratamento psicanalítico é propiciar que essas partes da personalidade dialoguem entre si.
6 As características básicas que estão presentes na PPP são: 1- Fortes pulsões destrutivas, com predomínio da inveja e da voracidade. 2- Baixa tolerância às frustrações, no lugar de modificá-las. 3- As relações interpessoais mais íntimas são caracterizadas pelo vínculo sadomasoquista. 4- Uso excessivo de dissociações e identificações projetivas patológicas. 5- Uso excessivo de projeções e sentimentos e pensamentos persecutórios. 6- Grande ódio à realidade interna e externa, com preferência pelo mundo das ilusões. 7- Ataque aos vínculos de percepção e aos de juízo crítico, resultando num prejuízo do pensamento verbal, da formação de símbolos e do uso da linguagem. 8- A onipotência, a onisciência e a imitação substituem o processo de aprender com a experiência. O orgulho dá lugar à arrogância, o desconhecimento leva à estupidez e a curiosidade se transforma em intrusividade. 9- A pouca capacidade de discriminação leva a uma confusão entre o verdadeiro e o falso, tanto do próprio self como do que está fora. 10- Fuga à verdade, prevalecendo a negação através de distorções, camuflagens, omissões ou mentiras deliberadas.
7 MANEJO TÉCNICO DR FRANCIS BITTENCOURT Em relação às psicoses propriamente ditas, tal como são descritas na psiquiatria, existe uma evidente lacuna entre os profundos avanços de nossa complexa metapsicologia e os limitados alcances de nossa prática analítica. O método psicanalítico aplicado a esses pacientes abriu um enorme leque na investigação teórica, abrangendo os casos bastantes regredidos, como os borderline, transtornos narcisistas, perversões, etc. Entretanto, não houve grande eficácia clínica no manejo das psicoses. A maioria dos psicanalistas da atualidade preconiza o uso de métodos alternativos, em um arranjo combinatório de múltiplos recursos, como o uso de psicofármacos, por exemplo. Na época de Freud, as psicoses não encontravam guarida na terapia analítica, sob o argumento e que tais pacientes não depositavam sua libido no mundo exterior, impossibilitando assim, uma transferência, que é fundamental para o processo analítico. Atualmente, é aceitável a combinação dos recursos psiquiátricos abrindo as portas para o tratamento psicanalíticos. Fora então identificada uma transferência psicótica do paciente em relação ao analista. Essa transferência é diferente da chamada psicose de transferência descrita por Rosenfeld (1978), verificada em pacientes não-psicóticos. A Psicose de Transferência consiste em pacientes não-psicóticos ingressarem em um estado transferencial de grande negativismo e distorção dos fatos reais em relação ao analista,
8 que chega a dar uma impressão de uma situação psicótica. Porém essa psicose fica restrita à situação da sessão analítica e termina quando o paciente retoma a sua vida normal. Já a transferência psicótica apresenta três aspectos típicos: é prematura, se instala logo no início da terapia; é pertinaz, se agarra ao analista de uma forma forte; é perecível, nas primeiras decepções esfriam o vinculo com o terapeuta chegando a abandonar a análise. Todo paciente psicótico por mais desagregado que seja tem uma parte não-psicótica, e é a ela que o analista tem que se aliar. Dessa forma. O analista respeita a parte doente, porem faz aliança com o lado sadio, de sorte que ficam dois contra um, aumentando a chance de êxito. O setting básico instituído deve ser preservado, a fim de assegurar a manutenção dos limites, da valorização do principio da realidade e diferenciação dos papéis. Em virtude da transferência psicótica, é possível que surja uma idealização extremada do analista pelo paciente. Essa não pode ser destruída de forma abrupta e nem perpetuada em função das necessidades narcisistas do analista. Deve ser dada especial atenção aos actings como forma de comunicação primitiva de sentimentos que o paciente não tem condições de verbalizar. Cresce de importância o surgimento de ideogramas na mente do paciente e do analista. São imagens que expressam uma linguagem não denotativa (de natureza conceitual), mas sim expressiva (de natureza afetiva). É importante ressaltar que o analista não deve assumir o papel de mãe, ou pai, ou faltante, mas sim suprir por meio de uma adequada função de maternagem essa deficiência do paciente. É natural que o paciente tenha sentimentos de agressividade, de ódio, o que é positivo, desde que o analista consiga ser continente desses ataques. Um obstáculo às mudanças psíquicas ocorre quando o analista não percebe as transformações do paciente. Em linhas gerais, todos os aspectos presentes no campo analítico devem ser observados atentamente como forma de linguagem em quaisquer que sejam os casos clínicos, desde a psicose propriamente dita até os núcleos psicóticos da personalidade. O esquema apresentado a seguir ressalta alguns elementos do manejo técnico que trazem a tona
9 conteúdos que comunicam a afetividade (energia psíquica) do paciente. 1. Contrato Terapêutico Via diálogo e anamnese da vida do paciente 2. Catarse Processo de relaxamento e liberdade concedida para desabafar as frustrações e sentimentos. 3. Livre Associação Liberdade para jar com os pensamentos de acordo com as motivações internas e emocionais. 4. Transferência Contratransferência Processo natural em que o paciente transfere para o terapeuta circunstâncias e funcionalidade de determinados indivíduos em sua vida. 5. Reconhecimento do Trauma Indagações e condução dialética do terapeuta em que o paciente descobre o que aconteceu e por que, como reagiu aos eventos traumatizantes. 6. Uso de Recursos Egóicos Descoberta dos pontos fortes e recursos pessoais do paciente para vencer os fatores causadores do trauma. 7. Resposta Terapêutica Uso dos recursos egóicos realinhamento de reações e mudança de postura diante dos fatos da vida é corretivo e resolutivo.
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