Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO ESPECIAL Nº PE (2012/ ) RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN RECORRENTE : PADRÃO DISTRIBUIDORA DE PRODUTOS E EQUIPAMENTOS HOSPITALARES PADRE CALLOU LTDA ADVOGADO : FÁBIO ALEXANDRE QUEIROZ TENÓRIO DA SILVA E OUTRO(S) RECORRIDO : UNIÃO EMENTA ADMINISTRATIVO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RESPONSABILIDADE DO ESTADO. AQUISIÇÃO DE ESTOJO DE PRIMEIROS SOCORROS. REVOGAÇÃO DA NORMA QUE ESTABELECEU A OBRIGATORIEDADE. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. 1. Trata-se, originariamente, de Ação Ordinária movida por empresa que comprou, para comercialização, kits de primeiros socorros de uso inicialmente obrigatório em veículos automotores por determinação de norma revogada apenas dois meses após sua vigência. A sentença de improcedência foi mantida pelo Tribunal de origem 2. Os dispositivos legais não foram prequestionados no acórdão da Apelação e, a despeito da oposição de Embargos de Declaração (cujo acórdão também não se pronunciou sobre os dispositivos), a recorrente não aponta violação do art. 535 do CPC. 3. A solução da controvérsia depende do exame de matéria constitucional relacionada com a responsabilidade do Estado. É o que se extrai de diversos fundamentos do Recurso Especial e de precedente análogo. 4. Recurso Especial não conhecido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da SEGUNDA Turma do Superior Tribunal de Justiça: "A Turma, por unanimidade, não conheceu do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, sem destaque." Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Eliana Calmon, Castro Meira e Humberto Martins votaram com o Sr. Ministro Relator. Dr(a). NEREIDA DE LIMA DEL AGUILA(mandato conferido pela LC 73/93), pela parte RECORRIDA: UNIÃO Brasília, 23 de outubro de 2012(data do julgamento). MINISTRO HERMAN BENJAMIN Relator Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 31/10/2012 Página 1 de 7

2 RECURSO ESPECIAL Nº PE (2012/ ) RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN RECORRENTE : PADRÃO DISTRIBUIDORA DE PRODUTOS E EQUIPAMENTOS HOSPITALARES PADRE CALLOU LTDA ADVOGADO : FÁBIO ALEXANDRE QUEIROZ TENÓRIO DA SILVA E OUTRO(S) RECORRIDO : UNIÃO RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Trata-se, originariamente, de Ação Ordinária movida por empresa que comprou, para comercialização, kits de primeiros socorros de uso inicialmente obrigatório em veículos automotores, por determinação de norma, revogada apenas dois meses após sua vigência. A sentença de improcedência foi mantida pelo Tribunal a quo nos termos de acórdão assim ementado: CONSTITUCIONAL E CIVIL. DANOS MORAIS E MATERIAIS. EMPRESA DISTRIBUIDORA DE MEDICAMENTOS E MATERIAL HOSPITALAR. COMÉRCIO DE ESTOJO DE PRIMEIROS SOCORROS. REVOGAÇÃO DA RESOLUÇÃO Nº 42/98 DO CONTRAN PELA LEI Nº 9.792/99. IMPOSSIBILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO DA UNIÃO PELOS PREJUIZOS DA AUTORA. AUSÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE. RISCOS INERENTES À ATIVIDADE DE COMÉRCIO. - Não se pode responsabilizar a União pelos prejuizos sofridos pela empresa autora que estocou milhares de kits de primeiros socorros e deixou de vendê-los em razão da revogação da Resolução nº 42/98 do CONTRAN pela Lei nº 9.792/99. - Não há nexo de causalidade entre a revogação da norma apontada e os prejuízos sofridos pela empresa promovente, primeiro porque não se pode apontar a Lei nº 9.792/99 como causadora dos danos sofridos pela demandante, dada a generalidade de seu alcance, não podendo ser vista como uma forma de perseguição aos lucros que seriam auferidos por ela; segundo porque o investimento da empresa autora foi uma escolha dela não havendo aí nenhum traço de obrigatoriedade. Apelação improvida. Os Embargos de Declaração foram desacolhidos (fls /STJ). O Recurso Especial foi interposto com fundamento no art. 105, III, "a" e Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 31/10/2012 Página 2 de 7

3 "c", da Constituição da República. A recorrente sustenta, além de divergência jurisprudencial, violação dos arts. 43, 186, 187 e 927 do CC. Alega a) que houve revogação implícita do art. 112 do CTB, dispositivo que autorizava o CONTRAN a regulamentar materiais e equipamentos de primeiros socorros; b) por não mais vender os produtos, sofreu crise financeira; c) a conduta do Poder Público causou-lhe prejuízo. Contraminuta apresentada às fls /STJ. O recurso foi admitido para melhor exame da matéria, após o provimento do Ag /PE. É o relatório. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 31/10/2012 Página 3 de 7

4 RECURSO ESPECIAL Nº PE (2012/ ) VOTO O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Os autos foram recebidos neste Gabinete em Não se pode conhecer da irresignação. O acórdão recorrido afastou a pretensão da recorrente nos seguintes termos: No caso dos autos, não vejo proceder os argumentos da parte autora, pois não há nexo de causalidade entre a revogação da norma apontada e os prejuízos sofridos pela empresa promovente. Primeiro, porque não se pode apontar a Lei nº 9.792/99 como causadora dos danos sofridos pela demandante, dada a generalidade de seu alcance a todos do país, não podendo ser vista como uma forma de perseguição aos lucros que seriam auferidos pela autora, caso a obrigatoriedade do kit houvesse permanecido. Segundo, porque o investimento da empresa autora foi uma escolha da mesma, não havendo traço algum de obrigatoriedade. Se resolveu comprar uma quantidade enorme destes equipamentos de primeiros socorros, confiante de que a norma iria se manter, e, então, o produto seria gênero de consumo necessário a todo proprietário de veículo automotivo, tal ato decorreu do livre arbítrio da demandante, que, ao fazê-lo, assumiu os riscos inerentes à atividade de comércio. Pelas razões acima elencadas, não vejo como responsabilizar a União pelas perdas sofridas pela parte autora. Não há pois, no presente caso, danos a serem ressarcidos, sejam de ordem material ou moral. Neste contexto, tenho por irretocável a sentença atacada e ratifico os seus termos, acolhendo seus fundamentos para negar o pleito da autora. Nenhum dos dispositivos legais tidos por violados foram prequestionados no acórdão da apelação e, a despeito da oposição de Embargos de Declaração (cujo acórdão também não se pronunciou sobre os dispositivos), a recorrente não aponta violação do art. 535 do CPC. Não bastasse isso, a solução da controvérsia depende do exame de matéria constitucional relacionada com a responsabilidade do Estado. É o que se extrai de diversos fundamentos do Recurso Especial (fls. 352, 355 e 357/STJ). Nesse Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 31/10/2012 Página 4 de 7

5 sentido, em caso análogo ao presente, confira-se: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ADMISSIBILIDADE. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INDENIZAÇÃO. AQUISIÇÃO DO ESTOJO DE PRIMEIROS SOCORROS (ART. 112 DO CTB). 1. A admissão do Recurso Especial pela alínea "c" exige a comprovação do dissídio na forma prevista pelo RISTJ, com a demonstração das circunstâncias que assemelham os casos confrontados, não bastando, para tanto, a simples transcrição das ementas dos paradigmas. 2. Visando a demonstração do dissídio jurisprudencial, impõe-se indispensável avaliar se as soluções encontradas pelo decisum embargado e paradigmas tiveram por base as mesmas premissas fáticas e jurídicas, existindo entre elas similitude de circunstâncias. In casu, não restou demonstrada a divergência, porquanto os acórdãos paradigmas colacionados pelo recorrente concluíram, em ações de repetição de valores indevidamente recolhidos a título de empréstimo compulsório sobre combustíveis, pela exigência, para o recebimento da quantia, tão-somente da prova da propriedade do veículo. 3. É inviável a apreciação, em sede de Recurso Especial, de matéria sobre a qual não se pronunciou o Tribunal de origem, porquanto indispensável o requisito do prequestionamento. 4. "É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada." (Súmula 282/STF) 5. "O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento." (Súmula 356/STF). 6. Ausência de prequestionamento dos arts. 333 e 335 do CPC. 7. A ausência de indicação da lei federal violada revela a deficiência das razões do Recurso Especial, fazendo incidir a Súmula 284 do STF: "É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia." 8. Incide a Súmula 284 do STF, acarretando a inadmissibilidade do recurso especial, quando os motivos que embasaram a alegação de violação não guardam pertinência com o disposto no dispositivo legal indicado (Precedentes: REsp /CE, 5ª T., Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ 06/05/2004; AGREsp /PE, 2ª T., Rel. Min. Paulo Medina, DJ 04/11/2002). 9. O que a União parece sustentar, mas o faz com atecnia, é a violação do artigo que exclui a antijuridicidade do estrito cumprimento de dever legal, que, como evidente, não é o art. 112 do CTB. 10. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC, quando o Tribunal de origem, embora sucintamente, pronuncia-se de forma clara e suficiente sobre a questão posta nos autos. Ademais, o magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a decisão. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 31/10/2012 Página 5 de 7

6 11. Recurso especial do Ministério Público Federal não conhecido. 12. Recurso especial da União parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido (REsp /RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, DJ 25/04/2005). Destaco o voto vencedor do eminente Ministro Teori Albino Zavascki: Tampouco pode ser conhecido o recurso especial da União, na parte em que indica ofensa ao art. 112 do CTB e à Resolução 42/98 do CONTRAN. É que a questão sobre a existência ou não da responsabilidade civil do Estado, em decorrência da sua atividade legislativa, é matéria que diz respeito ao alcance do art. 37, 6º da Constituição, e não, propriamente, à norma infraconstitucional que teria acarretado o dano indenizável. Trata-se, portanto, de tema que, por sua natureza eminentemente constitucional, refoge à competência atribuída ao STJ pelo art. 105, III, da CF, e que de forma alguma está compreendido na exegese dos dispositivos legais alegadamente violados (art. 112 do CTB, complementado pela Resolução 42/98 do CONTRAN). Diante do exposto, não conheço do Recurso Especial. É como voto. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 31/10/2012 Página 6 de 7

7 CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEGUNDA TURMA Número Registro: 2012/ PROCESSO ELETRÔNICO REsp / PE Números Origem: PAUTA: 23/10/2012 JULGADO: 23/10/2012 Relator Exmo. Sr. Ministro HERMAN BENJAMIN Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro HERMAN BENJAMIN Subprocuradora-Geral da República Exma. Sra. Dra. MARIA SÍLVIA DE MEIRA LUEDEMANN Secretária Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI RECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO AUTUAÇÃO : PADRÃO DISTRIBUIDORA DE PRODUTOS E EQUIPAMENTOS HOSPITALARES PADRE CALLOU LTDA : FÁBIO ALEXANDRE QUEIROZ TENÓRIO DA SILVA E OUTRO(S) : UNIÃO ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Responsabilidade da Administração - Indenização por Dano Material SUSTENTAÇÃO ORAL Dr(a). NEREIDA DE LIMA DEL AGUILA(mandato conferido pela LC 73/93), pela parte RECORRIDA: UNIÃO CERTIDÃO Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, não conheceu do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, sem destaque." Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Eliana Calmon, Castro Meira e Humberto Martins votaram com o Sr. Ministro Relator. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 31/10/2012 Página 7 de 7