HABEAS CORPUS NAS TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES MILITARES

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Aparecida da Fonseca Antunes
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1 HABEAS CORPUS NAS TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES MILITARES Autor: TC Alexandre CARVALHO de Araújo Credenciais: - Curso de Direção para Engenheiros-Militares (ECEME, 2006); - Graduação em Direito (UERJ, 2000); - Mestrado em Ciências Nucleares (IME, 1993); - Curso de Formação de Oficiais Engenheiros- Militares (IME, 1988); - Graduação em Engenharia Mecânica e de Automóvel (IME, 1988);

2 2 RESUMO O presente trabalho reflete sobre soluções para a adequada interpretação que se deve dar ao artigo 142, parágrafo 2º, da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, o qual veda o cabimento do habeas corpus em relação a punições disciplinares militares. Inicialmente, são abordados aspectos constitucionais, administrativos e militares. Analisa-se a doutrina correlata. Há opiniões que defendem a exegese literal do dispositivo, enquanto há outras que não consideram a vedação constitucional uma regra absoluta. São analisados também casos em que o Poder Judiciário é instado a apreciar em sede de habeas corpus a legalidade e a legitimidade do ato administrativo punitivo disiciplinar militar. Há julgados em que tal apreciação limita-se tão-somente a verificar aspectos da regularidade formal do ato. Por outro lado, há decisões que apreciam aspectos fáticos da conduta do militar acusado de transgressão. Com base nos resultados das análises, discute-se sobre o limite do controle judical, sistematizando princípios do ordenamento jurídico, e ao fim conclui-se por uma solução exegética justa. Palavras-chave: Direito, habeas corpus, transgressão disciplinar militar.

3 3 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento do tema habeas corpus nas transgressões disciplinares militares tem por foco a vedação ao cabimento do writ em relação a punições disciplinares militares, consoante reza o artigo 142, parágrafo 2º, da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de Tal vedação é objeto de incansáveis estudos, sobre os quais se debruçam doutos e magistrados, na busca de soluções para o seguinte problema: qual a adequada interpretação que se deve dar ao indigitado dispositivo? Diante desta vexata quaestio, o presente trabalho, analisando entendimentos doutrinários e jurisprudenciais e seus respectivos fundamentos, tem por objetivo apresentar uma solução exegética justa. A busca desta solução é orientada pela seguinte hipótese: o apontado dispositivo constitucional deve ser interpretado por meio de um prisma que sistematize princípios do ordenamento jurídico. 2 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS A Constituição estabelece os limites da ação do Estado, regulamentando direitos fundamentais individuais e respectivas garantias. Portanto, o Estado possui poderes limitados, devendo exercê-los com observância a preceitos constitucionais adequadamente interpretados. Para a adequada interpretação constitucional, é preciso verificar, no interior do sistema, quais as normas que foram prestigiadas pelo legislador constituinte ao ponto de convertê-las em princípios. Leva-se em conta a posição de determinados preceitos constitucionais e o sentido que o constituinte atribui às palavras do texto constitucional. 3 ASPECTOS ADMINISTRATIVOS Faz-se mister atentar para os conceitos fluidos, também chamados indeterminados ou plurissignificativos, em muitos casos presentes na hipótese de incidência da norma administrativa, empregados para designar vocábulos ou expressões que não têm um sentido preciso, objetivo, determinado, mas que são encontrados com grande freqüência nas normas jurídicas dos vários ramos do direito. São termos tais como boa-fé, bem comum, conduta irrepreensível, pena

4 4 adequada, interesse público, ordem pública, notório saber, notória especialização, moralidade, razoabilidade. Em que pese a opiniões em contrário, corrente doutrinária defende que a Administração Pública deve, ao verificar a adequação do caso concreto à norma, interpretar os eventuais conceitos fluidos à luz da legalidade e legitimidade, e não segundo critérios de oportunidade e conveniência. Assim, provocada judicialmente a questão, é cabível a apreciação pelo juiz da interpretação dada pelo administrador ao conceito fluido, decidindo se o caso concreto a ele se adequa. 4 ASPECTOS MILITARES Seja para reeducar o militar transgressor, seja para afastá-lo em definitivo da vida da caserna, a aplicação das punições disciplinares tem por fim preservar a hierarquia e a disciplina, princípios por meio dos quais se organizam as Instituições Militares. Historicamente alicerces da estabilidade política do País, a hierarquia e a disciplina militares necessitam serem tuteladas jurisdicionalmente pelo Estado. Ressalte-se entretanto que, a par de toda importância que se reveste a preservação da incolumidade hierárquica e disciplinar castrenses, a punição disciplinar militar decorre de ato exarado por autoridade no exercício de função administrativa e, em assim sendo, é imprescindível serem atendidos também os requisitos do ato administrativo em geral. 4 DESENVOLVIMENTO A interpretação dos dispositivos constitucionais deve ser feita de maneira sistêmica, enfatizando princípios que foram valorizados pelo constituinte, tais como dignidade da pessoa humana, separação de poderes, inafastabilidade do Poder Judiciário, direito à liberdade de locomoção, instituto do habeas corpus e outros direitos e garantias do cidadão contra a ação do Estado. Destarte, corroborado pela topografia do texto constitucional, a vedação ao cabimento de habeas corpus em relação a punições disciplinares militares é norma hierarquicamente inferior aos mencionados direitos e garantias. Em que pese a opiniões em contrário, resta portanto afastada a exegese puramente literal do dispositivo. Por conseguinte, é cabível o controle judicial via

5 5 habeas corpus do ato punitivo disciplinar militar que, por sua natureza administrativa, deve atender os mandamentos da lei e os princípios básicos da Administração Pública e das Instituições Militares. Assim, o controle judicial limita-se apenas à verificação de legalidade e legitimidade do ato punitivo, vedado qualquer exame de mérito. Nesse sentido, a melhor doutrina preconiza que, tanto na subsunção da conduta do acusado à norma punitiva, quanto na fixação da sanção disciplinar pela autoridade militar, se não houver legalidade ou legitimidade do ato punitivo, compete ao Poder Judiciário, desde que provocado, anulá-lo. Na jurisprudência, entretanto, verifica-se que há uma zona de incerteza entre o controle judicial da legalidade e da legitimidade e o exame do mérito do ato punitivo, principalmente quando a norma punitiva contém algum conceito fluido em sua hipótese de incidência. Por um lado, há julgados em que a apreciação da legalidade e da legitimidade limita-se tão-somente a verificação de aspectos da regularidade formal: competência da autoridade militar, oportunidade de defesa do acusado pela transgressão disciplinar, existência de razões expressas na motivação do ato punitivo, dentre outros. Por outro, todavia, há julgados que admitem a apreciação judicial de aspectos fáticos, a fim de verificar principalmente a razoabilidade da subsunção da conduta do militar acusado à norma punitiva, bem como a proporcionalidade da fixação da sanção disciplinar. 5 CONCLUSÃO Haja vista as reflexões até então expostas durante o desenvolvimento do tema habeas corpus nas transgressões disciplinares militares, conclui-se ser da mais inteira justiça adotar um ponto de vista principiológico amplo pelo qual o juiz, uma vez provocado a apreciar a legalidade e a legitimidade do ato punitivo, verifique a razoabilidade da subsunção da conduta do militar acusado à norma punitiva, bem como a proporcionalidade da fixação da sanção disciplinar, devendo para tanto sopesar em sua decisão princípios básicos da Administração Pública e das Instituições Militares.

6 6 6 BIBLIOGRAFIA BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Discricionariedade e controle jurisdicional. 2ª ed., 7ª tiragem. São Paulo: Malheiros, DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Discricionariedade administrativa na Constituição de ª ed., 3ª tiragem. São Paulo: Atlas, FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira, Comentários à Constituição brasileira de São Paulo: Saraiva, GRAU, Eros Roberto. Poder discricionário. Revista de Direito Público, São Paulo, v. 23, n. 93, p , jan./mar MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 26ª ed. São Paulo: Malheiros, MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 9ª ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, MOSSIN, Heráclito Antônio. Habeas corpus. 7ª ed. rev. e atual. São Paulo: Manole, NORONHA, Edgard Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 25ª ed. atual. São Paulo: Saraiva PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários a Constituição de São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Historia e prática do habeas corpus. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 26ª ed. São Paulo: Malheiros, TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. 16ª ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2000.

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