Efeito do porta-enxerto no desempenho ecofisiológico e agronômico da videira Cabernet Sauvignon durante o ciclo de outono-inverno

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1 Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica, 9., 2012, Belo Horizonte Efeito do porta-enxerto no desempenho ecofisiológico e agronômico da videira Cabernet Sauvignon durante o ciclo de outono-inverno Daniela Vieira Cardozo França (1), Claudia Rita de Souza (2), Danilo Vieira Cardozo França (1), Renata Vieira da Mota (2), Rodrigo Meirelles de Azevedo Pimentel (3), Murillo de Albuquerque Regina (3) (1) Bolsistas PIBIC FAPEMIG/EPAMIG, daniela.zencker@yahoo.com.br; (2) Pesquisadores/Bolsistas BIP FAPEMIG/EPAMIG - Caldas, crsouza@epamig.br; (3) Pesquisadores EPAMIG - Caldas INTRODUÇÃO A tendência crescente na comercialização nacional de vinhos finos e o fato de Minas Gerais importar 70% dos vinhos que consomem indicam que o setor vinícola pode-se tornar uma atividade econômica promissora para o agronegócio mineiro. No entanto, um dos principais entraves da produção de vinhos finos, originados a partir de variedades europeias, é a dificuldade de colher uvas com índices satisfatórios de maturação e de sanidade, por causa do excesso de chuvas de verão que coincide com o período de maturação e colheita da uva (GUERRA, 2002). A transferência da colheita da uva do verão chuvoso para o inverno seco, por meio do manejo da dupla poda, tem sido uma das alternativas para viabilizar a produção de vinhos finos no sul de Minas Gerais (REGINA et al., 2006). A escassez de chuva e a maior amplitude térmica durante o outonoinverno favorecem o acúmulo de açúcares e de compostos fenólicos nas bagas, conforme demonstrado para variedade Syrah em Três Corações, no sul de Minas Gerais. Apesar dos estudos preliminares revelarem o potencial de cultivo da videira durante o outono-inverno em regiões de inverno ameno, o manejo da dupla poda ainda precisa ser estudado em outras variedades de copa e porta-enxertos, para oferecer alternativas que viabilizem esta nova técnica de cultivo em regiões de invernos rigorosos, como a região de Caldas, Minas Gerais. Dentro deste contexto, este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de diferentes porta-enxertos sobre o desempenho agronômico e

2 EPAMIG. Resumos expandidos 2 ecofisiológico da videira Cabernet Sauvignon (Vitis vinifera), uma variedade de maior plasticidade de adaptação às diferentes condições edafoclimáticas. MATERIAL E MÉTODO O estudo foi realizado no Núcleo Tecnológico EPAMIG Uva e Vinho, da EPAMIG Sul de Minas, localizado no município de Caldas (21 o 55 S, 44 o 23 W), em Minas Gerais, a uma altitude de m. O trabalho foi desenvolvido em um vinhedo de Cabernet Sauvignon de 5 anos de idade, conduzido em espaldeira, com três fios de arame e podado em duplo cordão esporonado com poda curta (duas gemas). O espaçamento entrelinhas é de 2,5 e 1,5 m entre plantas. Os tratamentos consistiram de diferentes combinações de enxertia utilizando os porta-enxertos 1103 P, , SO4, Rupestris du Lot, 1045 P, R110, Kober 5BB e IAC 766. Durante o ciclo de produção (janeiro a julho de 2011) foram realizadas as seguintes avaliações: concentração de amido foliar, de acordo com Mota et al. (2010) e Bergmeyer (1974); potencial hídrico do caule ( caule ) e taxa fotossintética, de acordo com Souza et al. (2009); área foliar, de acordo com Regina et al. (2006); produção por planta e composição química das bagas, de acordo com Mota et al. (2010). RESULTADOS E DISCUSSÃO O estado hídrico e a taxa fotossintética das videiras Cabernet Sauvignon não foram afetados pelos porta-enxertos nas duas datas avaliadas (Gráficos 1A e 1B). Os valores do caule registrados entre os diferentes porta-enxertos variaram de -0,32 MPa a -0,48 MPa (Gráfico 1A), demonstrando ausência de deficiência hídrica no vinhedo (OJEDA, 2007). Ao final do pintor (período de maturação), apesar de não ter sido observado queda do caule, verificou-se uma redução de 17% na taxa fotossintética entre os porta-enxertos (Gráfico 1B). Essa redução pode ter sido ocasionada pela queda na temperatura no mês de junho (25 ºC) comparada à temperatura registrada durante as medições em maio (30 ºC). O desenvolvimento vegetativo de Cabernet Sauvignon foi afetado pelo porta-enxerto, e foi possível observar a menor área foliar (0,8 m 2 ) nos portaenxertos , 1103P e Kober 5BB, enquanto que a maior área foliar (1,22 m 2 )

3 Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica, 9., 2012, Belo Horizonte 3 foi obtida com SO4, 1045P, R110, Rupestris du Lot e IAC 766 (Gráfico 2A). Entretanto, as maiores diferenças significativas foram observadas entre o IAC 766 e o , porta-enxertos conhecidos na literatura por apresentar alto e baixo vigor, respectivamente. A concentração de amido foliar também variou entre as diferentes combinações de enxertia e entre os horários avaliados (Gráfico 2B). Em todos os porta-enxertos, a concentração de amido nas folhas coletadas às 7 h foi inferior à das folhas coletadas às 13 h. Essa variação provavelmente está relacionada com o aumento da radiação ao meio do dia e com a degradação do amido que ocorre durante a noite. Nos dois horários, as folhas das videiras enxertadas sobre os porta-enxertos e 1103P apresentaram concentrações de amido superiores aos demais porta-enxertos. O menor vigor vegetativo das videiras enxertadas sobre estes porta-enxertos pode estar associado ao maior acúmulo de amido nas folhas por causa da redução da força do dreno (ramos, folhas e frutos), conforme demonstrado por alguns autores (MOTA et al., 2010). Na colheita, as maiores produções (kg/planta) pelo maior número de cachos foram observadas nas videiras enxertadas sobre o porta-enxerto Kober 5BB, seguido dos porta-enxertos 1045P, SO4, R110 e IAC 766, enquanto que as menores produções foram observadas nos porta-enxertos 1103P, Rupestris du Lot e (Tabela 1). As bagas foram colhidas com teor de sólidos solúveis em torno de 21 ºBrix, sem diferenças significativas entre as combinações de enxertia (Tabela 1). As bagas das videiras enxertadas sobre os porta-enxertos que induziram as maiores produções apresentaram, de modo geral, os menores valores de ph e maiores valores de acidez que variaram, respectivamente, de 3,46 a 3,59 e de 8,25 g/l a 9,90 g/l. Essa elevada acidez é consequência das baixas temperaturas de inverno que limitam a degradação dos ácidos (CONDE et al., 2007). Embora esses valores sejam considerados altos comparados às bagas de Cabernet Sauvignon, cultivada nas principais regiões vitícolas do Hemisfério Norte (BLOUIN; GUIMBERTEAU, 2002), eles estão dentro da faixa de valores encontrados nas uvas Cabernet Sauvignon durante o ciclo de verão na região Sul do Brasil (RIZZON; MIELLE, 2002) e no sul de Minas Gerais (SOUZA et al., 2002).

4 EPAMIG. Resumos expandidos 4 CONCLUSÃO Os resultados iniciais deste estudo permitem concluir que é viável produzir uvas Cabernet Sauvignon durante o outono-inverno, em Caldas, MG, e que o uso de determinados porta-enxertos, como o Kober 5BB, 1045P, IAC 766, SO4 e R110, pode ser considerado as melhores combinações de enxertia para esta variedade na região. AGRADECIMENTO À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), pelo financiamento do projeto de pesquisa e pelas bolsas concedidas. À EPAMIG, pelo apoio técnico do Núcleo Tecnológico EPAMIG Uva e Vinho. REFERÊNCIAS BERGMEYER, H.U. (Ed.). Methods of enzymatic analisis. 2.ed. New York: Academic Press, v.3, p BLOUIN, J.; GUIMBERTEAU, G. Principales componentes de la uva y evolución durante la maduración. In: BLOUIN, J.; GUIMBERTEAU, G. Maduración y madurez de la uva. Madrid: Mundi-Prensa, cap.5, p CONDE, C. et al. Biochemical changes throughout grape berry development and fruit and wine quality. Food, v.1, n.1, p.1-22, GUERRA, C.C. Maturação da uva e condução da vinificação para a elaboração de vinhos finos. In: SIMPÓSIO MINEIRO DE VITICULTURA E ENOLOGIA, 1., 2002, Andradas. [Anais...] Viticultura e enologia: atualizando conceitos. Caldas: EPAMIG-FECD, p MOTA, R.V. da et al. Biochemical and agronomical responses of grapevines to alteration of source-sink ratio by cluster thinning and shoot trimming. Bragantia, Campinas, v.69, n.1, p.17-25, 2010.

5 Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica, 9., 2012, Belo Horizonte 5 OJEDA, H. Irrigation qualitative de précision de la vigne. Le Progrès Agricole et Viticole, ano 124, n.7, p , REGINA, M. de A. et al. Novos pólos vitícolas para produção de vinhos finos em Minas Gerais. Informe Agropecuário. Vinhos finos: rumo a qualidade, Belo Horizonte, v.27, n.234, p , set./out RIZZON, L.A.; MIELE, A. Avaliação da cv. Cabernet Sauvignon para elaboração de vinho tinto. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v.22, p , maio/ago SOUZA, C.M. de et al. Indicação de cultivares de videira para o sul de Minas Gerais. In: SIMPÓSIO MINEIRO DE VITICULTURA E ENOLOGIA, 1., 2002, Andradas. [Anais...] Viticultura e enologia: atualizando conceitos. Caldas: EPAMIG-FECD, p SOUZA, C.R. de et al. Water relations of field-grown grapevines in the São Francisco Valley, Brazil, under different rootstocks and irrigation strategies. Scientia Agricola, Piracicaba, v.66, n.4, p , July/Aug Gráfico 1 - Potencial hídrico e taxa fotossintética das videiras Cabernet Sauvignon em diferentes porta-enxertos NOTA: Gráfico 1A - Potencial hídrico do caule ( caule ); Gráfico 1B - Taxa fotossintética. ns - Teste não significativo a 5% de probabilidade.

6 EPAMIG. Resumos expandidos 6 Gráfico 2 - Efeito do porta-enxerto no desenvolvimento vegetativo da Cabernet Sauvignon NOTA: Gráfico 2A - Efeito do porta-enxerto sobre a área foliar; Gráfico 2B - Concentração de amido nas folhas durante o período de floração. As médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas (7h) e maiúsculas (13h) não diferem entre si pelo teste LSD a 5% de probabilidade. Tabela 1 - Efeito do porta-enxerto sobre o número de cachos e produção (kg/planta), teor de sólidos solúveis (ºBrix), ph e acidez das bagas maduras da videira Cabernet Sauvignon Porta-enxerto N o cachos/planta kg/planta Brix ph Acidez (g/l) Rupestris du Lot 8,42 ab 0,30 a 20,73 a 3,59 c 8,25 a Kober 5BB 13,92 c 1,11 c 20,75 a 3,47 a 9,71 b SO4 12,42 c 0,73 b 20,73 a 3,52 ab 9,98 b ,50 a 0,29 a 20,15 a 3,60 c 9,19 ab 1045 P 12,58 c 0,82 b 20,40 a 3,52 ab 8,51 a R110 11,00 bc 0,66 b 20,80 a 3,46 a 9,04 ab 1103 P 6,33 a 0,30 a 20,83 a 3,57 bc 8,29 a IAC ,67 c 0,62 b 21,00 a 3,52 ab 9,90 b NOTA: As médias seguidas pelas mesmas letras não diferem entre si pelo teste LSD a 5% de probabilidade.