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1 Patrocínio Institucional Parcerias Apoio

2 O Grupo Cultural AfroReggae é uma organização que luta pela transformação social e, através da cultura e da arte, desperta potencialidades artísticas que elevam a autoestima de jovens das camadas populares. Tem por missão promover a inclusão e a justiça social, utilizando a arte, a cultura afro-brasileira e a educação como ferramentas para a criação de pontes que unam as diferenças e sirvam como alicerces para a sustentabilidade e o exercício da cidadania. O InfoReggae é uma publicação semanal e faz parte dos conteúdos desenvolvidos pela Editora AfroReggae. Sede Rio de Janeiro Rua da Lapa, nº 180 Centro Rio de Janeiro (RJ) InfoReggae - Edição 37 Assassinatos no Brasil 30 de maio de 2014 Coordenador Executivo José Júnior Coordenador Geral Adjunto Danilo Costa Gerência de Informação e Monitoramento Thales Santos Assistentes de Pesquisa Nataniel Souza Pedro Henrique Nunes Coordenação Editorial Marcelo Garcia Representação São Paulo Rua João Brícola, nº 24 18º andar Centro São Paulo (SP) Contatos facebook.com/afroreggaeoficial twitter.com/afroreggae inforeggae@afroreggae.org É permitida a reprodução dos conteúdos desta publicação desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. Patrocínio Institucional Parcerias Apoio

3 Apresentação Esta Edição do InfoReggae foi produzida pela nossa equipe da Gerência de Informação e Monitoramento que, a cada dado levantado, aumentava sua tristeza. Para o AfroReggae, estudar dados de violência que aumentam e atingem, cada vez mais, a população mais vulnerável do Brasil, nos causa tristeza e até mesmo um pouco de dor. Nosso trabalho é a afirmação da vida e não a aceitação da morte por motivos de violência. O conceito editorial do InfoReggae é a mediação de informações para a equipe da instituição e para parceiros diretos e estudantes. Esta edição, no entanto, está nos dando uma forte indicação de que precisamos avançar ainda mais no nosso trabalho e nas nossas defesas. Os dados que vamos apresentar e comentar são fundamentais para que todo o brasileiro exija que a violência não seja uma paisagem normal do Brasil. Sem dúvida fazer este InfoReggae não foi igual a fazer tantos outros, pois a cada linha escrita, pensamos no fim da vida por motivos de violência de mais de 56 mil Brasileiros. A vida não pode mais ser secundária nas lutas sociais e não vai haver vida segura se não houver um VIVA real a Paz. 3

4 Mapa da Violência no Brasil O Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americano (CBELA), criado em 1982 promove a articulação entre intelectuais, cientistas sociais e pesquisadores brasileiros comprometidos com o desenvolvimento do país. Anualmente, o CBELA divulga os dados sobre violência no Brasil a partir de base de dados do Ministério da Saúde e da Secretaria de Segurança Pública. Recentemente publicou-se o Mapa de Violência com dados do ano de 2012, são estes dados que alimentam o nosso debate neste InfoReggae. Quem é morto no Brasil? De acordo com o Mapa da Violência, foram registrados homicídios em todo o país. É importante destacar que os crimes ocorrem de forma desigual entre a sociedade. Características socioeconômicas como a raça/cor, o sexo, a idade e a região geográfica em que mora a população são determinantes para as estatísticas. Gráfico 1: Taxa de Crimes Letais Intencionais (Por 100 Mil Habitantes) Brasil ,37 12,77 7,3 8,03 7,0 8,13 8,17 7,17 7,13 8,6 Norte Nordeste Sul Sudeste Centro-Oeste Fonte: Sistema Nacional de Estatísticas em Segurança Pública e Justiça Criminal (SINESPJC) / Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) /Ministério da Justiça; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE; Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN); Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 4

5 Os Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) compreendem os homicídios dolosos (quando existe intenção de matar), latrocínio (roubo seguido de morte) e os atos de lesão corporal seguida de morte. A partir dos dados do Gráfico 1, podemos observar que existe uma grande diferença nas ocorrências de violência entre as regiões brasileiras. O nordeste, por exemplo, é onde se registraram as maiores taxas em todos os tipos de homicídios. Enquanto em regiões como o sudeste se observa queda de 1 ponto percentual, no nordeste houve aumento de 0,4 pontos percentuais. A cada 3 homicídios, 2 pessoas são negras, demonstrando assim o quadro de vulnerabilidade a que está sujeita a população afrodescendente. Ainda segundo o relatório, os jovens (idades entre 15 e 29 anos) continuam sendo as maiores vítimas com taxas médias de 42,5, ao passo que entre os não jovens as taxas são de 10,7. Os homens foram o principal alvo dos homicídios, 94% dos casos. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 85,8% dos moradores do nordeste têm muito medo de serem assassinados, ainda de acordo com o Instituto, o nordeste é a região com o menor investimento em segurança pública. Gráfico 2: Taxa de Crimes Contra a Liberdade Sexual (Estupro) Por 100 Mil Habitantes Brasil Estupro Tentativa de Estupro 34,6 5,9 15,8 40,9 28,8 23,5 1,9 5 1,7 2,8 Norte Nordeste Sul Sudeste Centro-Oeste Fonte: Sistema Nacional de Estatísticas em Segurança Pública e Justiça Criminal (SINESPJC) / Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) /Ministério da Justiça; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE; Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN); Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 5

6 Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), revelam que pessoas mais jovens estão mais propensas a sofrer este atos de violência sexual. As vítimas desse crime são em sua maioria crianças de até 13 anos de idade (50,7%) e adolescente entre 14 e 17 anos (19,4%). Estes atos são praticados, em 88,5% dos casos contra meninas. Ainda segundo o IPEA, o consumo de álcool está associado ao estupro em uma média entre 20% a 40% dos casos. Entre os agressores das crianças de até 13 anos, 24,1% são os próprios pais ou padrastos, e 32,2% são amigos ou conhecidos da vítima. O próprio lar é onde acontecem a maioria das ocorrências quando o estuprador é conhecido da família. São Paulo é o estado onde ocorreram a maioria dos estupros no Brasil, em No total, ocorreram casos de estupros. O Rio de Janeiro vem em seguida com casos registrados. Apesar destes estados estarem na região sudeste, a região sul apresenta a maior taxa de tentativas e ocorrências de estupro no país. 6

7 Onde mais se mata no Brasil Gráfico 3: Taxas de Homicídio no Brasil segundo as Capitais (Por 100 Mil Habitantes) 2011 Alagoas Espírito Santo Paraíba Pará Pernambuco Bahia Distrito Federal Goiás Amazonas Sergipe Ceará Rio Grande do Norte Mato Grosso Paraná Amapá Rondônia Rio de Janeiro Mato Grosso do Sul Tocantins Maranhão Acre Minas Gerais Roraima Rio Grande do Sul Piauí São Paulo Santa Catarina 47,4 42, ,1 38,7 37,4 36,4 36,4 35,4 32,7 32,6 32,3 31,7 30,4 28,4 28, ,5 23,7 22,5 21,5 20,6 19,2 14,7 13,5 12,6 72,2 Fonte: Subsistema de Informações sobre mortalidade (Ministério da Saúde). Para entendermos onde se mata no Brasil é preciso mapear os crimes em cada estado. Alagoas se destaca entre as regiões mais violentas do país. Entre 2001 até 2011, a região Sudeste foi a única que teve uma redução expressiva nas taxas de homicídio, com os índices caindo quase pela metade Os estados do Sul se destacam entre as capitais com as menores taxas de homicídio em

8 Motivos pelos quais se mata no Brasil Gráfico 4: Taxa de Ocorrências Policiais Registradas Brasil Entorpecentes - Tráfico Entorpecentes - Posse e Uso Porte ilegal de arma de fogo 86,4 91,2 70, ,2 27,6 19,4 21,7 9,6 16,2 41,6 23,5 22,4 33,5 33,5 Norte Nordeste Sul Sudeste Centro-Oeste Fonte: Sistema Nacional de Estatísticas em Segurança Pública e Justiça Criminal (SINESPJC) / Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) /Ministério da Justiça; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE; Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN); Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Os dados informados correspondem ao volume de ocorrências policiais registradas. Em 2012, ocorreram ocorrências policiais em todo o Brasil. Como podemos observar pelo Gráfico 4, as maiores taxas foram registradas nas regiões Sul e Centro-Oeste. Apesar da região Nordeste apresentar as maiores taxas de homicídios, ela registra as menores ocorrências policiais. É Interessante notar que o tráfico de drogas ocorre com maior incidência nas regiões Sul e Norte, se apresentando como as principais vias de entrada de drogas no país. O uso ocorre em maior frequência nas regiões Centro-Oeste e Sul. 8

9 Violência no Mundo Lista com as cidades mais violentas em todo o mundo 2012 Cidade 1 San Pedro Sula Honduras 2 Caracas Venezuela 3 Acapulco México 4 Cali Colômbia 5 Maceió Brasil 6 Distrito Central Honduras 7 Fortaleza Brasil 8 Cidade da Guatemala Guatemala 9 João Pessoa Brasil 10 Barquisimeto Venezuela 11 Palmira Colômbia 12 Natal Brasil 13 Salvador Brasil 14 Vitória Brasil 15 São Luis Brasil 16 Culiacán México 17 Guayana Venezuela 18 Torreon México 19 Kingston Jamaica 20 Cidade do Cabo África do Sul 21 Chihuahua México 22 Victoria México 23 Belém Brasil 24 Detroit Estados Unidos 25 Campina Grande Brasil 26 Nova Orleans Estados Unidos 27 San Salvador El Salvador 28 Goiânia Brasil 29 Cuiabá Brasil 30 Nuevo Laredo México 9 País

10 Segundo dados do Levantamento do Escritório sobre Drogas e Crime das Nações Unidas, o Brasil é o país com a maior quantidade de cidades no ranking dos 30 países mais violentos do mundo, tendo como base os assassinados ocorridos em Segundo o relatório publicado, ocorreram 437 mil assassinados em todo o mundo no ano de 2012, sendo a América Latina a região com a maior quantidade de crimes cometido com 36%, seguido da África (31%), Ásia (28%), enquanto a Europa (5%) e Oceânia (0,3%), tem o menor índice. Este alto índice de homicídio na América Latina, segundo os pesquisadores da ONU, está ligado ao crime organizado e à violência política. Rio de Janeiro e São Paulo tiveram redução de 29% e 11%, respectivamente, nas taxas de homicídio. Porém, estados como Paraíba e Bahia contabilizaram um aumento de 150% e 75%, respectivamente. A média de homicídios em todo o mundo é de aproximadamente 6,2 mortes a cada grupo de 100 mil pessoas. Entretanto, o sudeste africano e a América Central contabilizam mais de 24 mortes em cada 100 mil pessoas, 3 vezes mais mortes que a média mundial. Em 2012, mais de 36 mil crianças com até 15 anos de idade foram assassinadas em todo o mundo, representando assim 8% de todos os homicídios. Mais da metade de todos os homicídios do mundo (51,3%) ocorreram entre crianças e jovens com até 29 anos de idade. O consumo de álcool e outras drogas aumenta o risco de violência em uma certa localidade juntamente com às armas de fogo. Na Suécia e na Finlândia, por exemplo, mais da metade de todos os assassinatos ocorreram com assassinos usuários que tinham usado de drogas. A nível global, a polícia tende a responder de forma rápida aos homicídios e consegue prender o agressor em 60% dos casos. Na Europa e Asia, aproximadamente 85% dos casos conseguem ser solucionados e o agressor preso. Na América, apenas 50%. 10

11 Um debate a ser feito A violência no Brasil não para de crescer. A violência no Brasil é uma epidemia sem controle e sem uma real política de ação que dê um basta à estatísticas que mostram a fragilidade vivida pelo brasileiro em seu dia a dia. As estátisticas mostradas e comentadas neste InfoReggae merecem atenção e urgência. Mata-se mais no Brasil do que em guerras como Iraque e Afeganistão. Mata-se no Brasil como se estivéssemos em Guerra civil na Síria. A morte no Brasil pro crimes violentos vai se consolidando na mente da população com um fim natural. Não é natural morrer assassinado. Não é natural que 11 das 30 cidades mais violentas do mundo sejam brasileiras. Não é natural que os mortos no Brasil por violência, sejam em sua maioria negros e pobres. Será que a sociedade brasileira não reage a este crime contra a humanidade pela cor e pela condição financeira dos assassinados? Esta pergunta precisa ser feita e precisa ser debatida com coragem e transparência. Será que se a maioria dos homicídios com violência fosse de jovens brancos e de classe media o Brasil já não teria reagido? O preconceito racial e desigualdade social mostram-se real quando estes dados são avaliados com atenção. A violência não para de crescer. O número de mortos aumenta mas a reação social e coletiva da sociedade mostra-se tímida frente ao desafio. O AfroReggae avalia que esta timides reflete o olhar carregado de preconceito sobre quem foi morto. Queremos e vamos debater cada vez mais a cor e a condição social de quem esta sendo assasinado no Brasil. Queremos e vamos ser a voz de brasileiros que em geral ja nasceram condenados a morte. 11

12 Queremos e vamos chamar atenção da sociedade sobre a omissão dos governos sobre a banalização da violência e da morte no Brasil. Queremos, de fato, ver o Brasil dando um basta a este quadro de terror e horror vivenciado no dia-a-dia dos brasileiros. Não esta fácil para a população negra e para os pobres lutar pela vida e ainda por cima estão sendo mortos todos os dias em todo canto do Brasil. Não podemos aceitar 154 homicídios por dia, pois se esta tragédia não parar pode sair de qualquer controle e levar o Brasil a um enorme caos social. O ponto agora é entender quem é que mata no Brasil, para desenhar estratégias de combate Nossa luta é pela vida. Nosso trabalho é pela igualdade. Nosso movimento quer construir a Paz e não pode demorar nem mais um minuto. Marcelo Reis Garcia 12

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