ANÁLISE ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE DIFERENTES MATÉRIAS-PRIMAS
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1 ANÁLISE ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE DIFERENTES MATÉRIAS-PRIMAS Mônica de Moura Pires 1 Geovânia Silva de Sousa 2 Jaênes Miranda Alves 3 Cezar Menezes Almeida 4 José Adolfo de Almeida Neto 5 Rosenira Serpa da Cruz 6 Sabine Robra 7 Ana Maria de Oliveira 6 RESUMO Neste trabalho determinam-se os custos de produção do biodiesel a partir dos óleos de mamona, dendê e OGR, analisando sua viabilidade econômica a partir dessas diferentes matérias-primas. O preço final da mistura B2 praticamente iguala-se ao preço do diesel, independentemente da matéria-prima empregada. Os indicadores econômicos VPL, TIR e B/C apontam viabilidade econômica para produção de biodiesel. PALAVRAS-CHAVE: biocombustível, formação de preço, viabilidade econômica. 1 INTRODUÇÃO O biodiesel, combustível de composição química semelhante ao diesel, obtido a partir do processo de transesterificação de óleos vegetais in natura ou residuais de origem vegetal ou animal, constitui-se hoje em uma alternativa de mitigação dos problemas ambientais associados aos combustíveis fósseis. Além do apelo ambiental, a produção desse combustível a partir de diversas oleaginosas (mamona, dendê, soja, entre outras), deverá constituir-se em fonte de emprego e renda, especialmente para a agricultura familiar, pela necessidade de expansão da produção dessas culturas para atender a esse novo mercado. Espera-se que o aumento da procura proporcione uma realocação de renda, principalmente em regiões mais carentes, Norte e Nordeste do país. Partindo-se dessa premissa inicial, o Governo Federal, através do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, lançado em dezembro de 1 DS em Economia Rural, Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), mpires@uesc.br 2 Estudante de economia, Bolsista PIBIC/CNPq/UESC, gsilvadsousa@yahoo.com.br 3 DS em Economia Aplicada, UESC, jaenes@uesc.br 4 Mestrando em DRMA/UESC, cezaralmeida@terra.com.br 5 Mestre em Engenharia Agrícola /UESC, jalmeida@uesc.br 6 DS em Química/UESC; roserpa@uesc.br; amaria@uesc.br 7 Mestranda em DRMA/UESC, srobra@web.de 711
2 2004, estabeleceu as medidas de política para produção desse combustível em todo o território nacional, priorizando a mamona e o dendê, como matéria-prima, produzidos sob condições de agricultura familiar, nas regiões Norte e Nordeste. A utilização comercial do biodiesel no Brasil está amparada no marco regulatório, lançado em dezembro de 2004 pelo Governo Federal, em que autorizou-se a mistura de 2% de biodiesel ao diesel (B2-2% de biodiesel e 98% de diesel), desde janeiro de 2005, tornando essa mistura obrigatória em 2008, quando será autorizado o uso da mistura de 5% de biodiesel ao diesel (B5). Esse marco regulatório é formado por atos legais como: percentuais de mistura do biodiesel ao diesel, forma de utilização e regime tributário diferenciação de alíquotas com base na região de plantio, nas oleaginosas utilizadas e na categoria de produção (agronegócio ou agricultura familiar), além de outras diretrizes políticas. De acordo com a legislação em vigor, compete à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) autorizar, regular e fiscalizar a comercialização de biocombustíveis (RANP 40 e 41/2004). Nesse novo cenário, introduz-se o biodiesel na matriz energética do país, tendo como fonte de matéria-prima diversas oleaginosas in natura ou gorduras animais e vegetais residuais, e utilizando diferentes rotas de produção (etílica e metílica). No caso da Bahia, a mamona e o dendê são as oleaginosas que se destacam na produção estadual de biodiesel, dada a adaptabilidade dessas culturas às condições edafoclimáticas da região do semi-árido e da região costeira, respectivamente. A mamoneira (Ricinus communis L.), por exemplo, é uma espécie de oleaginosa que possui uma adaptabilidade produtiva em quase todas as zonas tropicais e subtropicais do mundo (Pires et al, 2004). Da mamona, pode-se extrair o óleo e outros co-produtos, sendo o óleo o produto mais nobre. Em cada amêndoa, pode-se retirar cerca de 43% a 52% de óleo, segundo experimentos realizados pela EMBRAPA em Campina Grande. Constitui-se em importante alternativa agrícola para o semi-árido nordestino, por sua resistência à seca, gerando emprego e renda para a região, além de fonte de matéria-prima para a indústria química do país. No Brasil, o cultivo da mamona tem sido, tradicionalmente, realizado por pequenos produtores, consorciado com feijão e milho. O modelo de produção consorciado possibilita à população situada naquelas localidades, a criação de novos postos de trabalho, contrapondo-se ao modelo de monoculturas e favorecendo o desenvolvimento local. Tais características representam um cenário favorável para a utilização dessa cultura como fonte de matéria-prima na produção de biodiesel. A mamona possui também grande apelo social, por fixar mão-de-obra e gerar emprego em uma região do estado com poucas alternativas de trabalho e renda para o agricultor. Além disso, os co-produtos gerados, como a torta, para uso 712
3 como fertilizante, a polpa, para ração animal, e o caule, utilizado na fabricação de papel e tecidos rústicos, fabricação de cola, nailon, lubrificantes de avião, tinta, cosméticos, papel, entre outros, constituem em outras fontes de renda. Assim, o cultivo da mamona tem grandes perspectivas de expansão no nordeste brasileiro, em especial no semi-árido, seja pelo uso atual do óleo, dado que as empresas que extraem óleo operam com capacidade ociosa, pela pouca disponibilidade do produto, seja como matéria-prima, na produção de biodiesel. Historicamente, a Bahia tem-se revelado como principal produtor nacional. Segundo o IBGE (2005), em 2003, a área plantada foi de 125 mil hectares (93% de toda a área plantada com mamona no país), distribuída, basicamente, em quatro microrregiões: Irecê ( ha 68%), Jacobina ( ha 15%), Senhor do Bonfim (7.475 ha 6%) e Seabra ( %). No nordeste brasileiro há, aproximadamente, 45 milhões de hectares de terras agronomicamente aptas ao cultivo da mamona (PIRES et al., 2004). Nesse cenário, percebe-se que há terras disponíveis para a expansão da produção atual. Vale lembrar que existe hoje um déficit na produção de óleo de mamona, que tem obrigado o país a importar o produto (FAO, 2004). A produção de biodiesel a partir da mamona dependerá, portanto, da ampliação da área plantada. Outra potencial fonte de matéria-prima para produção de biodiesel é o dendê na região costeira do sul do estado da Bahia. A maior parte dos plantios do país está localizada nos estados da Bahia e do Pará. Na Bahia, os plantios são constituídos, em sua maior parte, por dendezais subespontâneos e, ou de plantios antigos (acima de 20 anos), o que implica em baixos níveis de produtividade. Esses fatores, associados ao manejo, principalmente na colheita, e à deficiências no processo de extração e refino, conferem ao óleo, da maioria das indústrias instaladas na região, baixa qualidade, com elevados índices de acidez (acima de 3%) quando comparado ao produto de indústrias mais modernas, como as localizadas no Norte do país. As condições atuais de produção na Bahia são, portanto, limitantes para o emprego do dendê como combustível, no curto prazo, diferentemente do estado do Pará que tem ampliado a área produtiva e utilizado manejos adequados à cultura, o que permitiu a implantação de uma planta de produção de biodiesel, em março de 2005, tendo como fonte de matéria-prima os ácidos graxos, oriundos do processo de refino do dendê. Do total atualmente cultivado, a Bahia possui, segundo dados do IBGE (2005), cerca de 42 mil hectares, localizados predominantemente na microrregião de Valença, região costeira do estado, distribuídos em propriedades que variam entre 4 a 5 hectares. O rendimento de óleo por hectare é de três a seis toneladas/hectare/ano. Diferentemente da mamona, o uso energético do dendê concorre com seu uso alimentar, pois seu óleo é utilizado 713
4 na culinária regional brasileira, especialmente na Bahia. Posto isto, observa-se a grande relevância que o cultivo dessas oleaginosas possui no Programa Nacional e Estadual do Biodiesel, especialmente pela característica de agricultura familiar e pela geração de renda nessas regiões. Além das matérias-primas in natura, pode-se, também, utilizar alguns tipos de resíduos para tais finalidades, especialmente os óleos e gorduras residuais (OGR), como forma de reduzir os descartes inadequados e de agregar valor para tal resíduo. Nesse contexto, faz-se a estruturação dos custos de produção de biodiesel a partir dos óleos de mamona, dendê e OGR, determinando o preço final do B2 e analisando a viabilidade econômica de instalação de mini-usinas processadoras para fins energéticos. 2 MATERIAL E MÉTODOS Foram estruturados os custos de produção de biodiesel para cada oleaginosa e para o OGR tomando como referência a unidade piloto instalada na Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, Bahia. O modelo adotado para a determinação do preço final do biodiesel foi o modelo baseado no custo. Para determinar o preço final do biodiesel, agregou-se ao custo médio uma margem de comercialização de 10%. A partir dos custos e receitas, construiu-se o fluxo de caixa para um horizonte de 15 anos (média de vida útil dos equipamentos) e uma taxa de atratividade de 14,5%, percentual considerado pelo Banco do Nordeste do Brasil para projetos dessa natureza. A partir desse fluxo, calcularam-se os indicadores econômicos (CONTADOR, 1988): Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR), e relação Benefício/Custo (B/C), objetivandose a análise de viabilidade econômica de investimentos em unidades de produção de biodiesel, com capacidade de 1400 L/dia e 8 horas diárias de operação. Neste estudo, o processo de produção do biodiesel restringiu-se à rota metílica, otimizada pelo Grupo Bioenergia e Meio Ambiente da UESC, com consumo de metanol baseado na estequiometria da reação e de hidróxido de potássio determinado em função da acidez da matéria-prima, considerada, para efeitos dos cálculos, em 1%. A produção de biodiesel é isenta de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), conforme legislação em vigor. Considerou-se também isenta de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), pois não existe ainda uma alíquota definida pelo estado da Bahia para esse produto. Quanto ao PIS/PASEP e COFINS, como a produção estadual, tanto de dendê como de mamona, é, basicamente, advinda de agricultura familiar, isentou-se também a produção 714
5 desses custos, mesmo sabendo-se que parte da produção dessas oleaginosas não está incluída no PRONAF, o que asseguraria alíquota zero. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Conforme Tabela 1, verifica-se que o custo do biodiesel a partir de OGR é inferior, comparativamente, ao de mamona e dendê. O preço final do litro do biodiesel puro (B100), de acordo com as condições analisadas, para mamona e dendê, é superior ao preço médio do diesel comercializado em maio de 2005 no estado da Bahia (R$ 1,475/L). Como a Lei nº /2005, sancionada pelo Governo Federal em janeiro de 2005, autoriza a adição de apenas 2% de biodiesel ao diesel, o preço do B2 deverá se situar na mesma faixa do diesel (Tabela 1). Todos os indicadores econômicos analisados (Tabela 2) indicam viabilidade para a implantação de mini-usinas, de acordo com a estruturação de custo empregada para as matérias-primas analisadas. Tabela 1 Custo médio e preço final do biodiesel e diesel, Bahia, 2005 Preço do diesel (R$/L) 1,475 Mamona Dendê OGR Custo médio (R$/L) 1,39 1,49 1,05 Preço final B100 (R$/L) 1,529 1,639 1,155 Preço final B2 (R$/L) 1,476 1,478 1,469 Tabela 2 Valor dos indicadores econômicos para produção de biodiesel, em 2005 Indicadores Econômicos Dendê Mamona OGR VPL (R$) , , ,96 TIR (%) B/C 1,16 1,15 1,17 4 CONCLUSÕES A isenção da carga tributária tem papel fundamental na viabilidade da introdução do biodiesel na matriz energética, pois faz com que o B2 torne-se competitivo, uma vez que seu preço é, praticamente, o mesmo do diesel comercializado. Dentre as matérias-primas analisadas, o OGR é o que se mostra mais competitivo. Isto pode ser explicado em função do seu custo, no entanto existem problemas relacionados à logística de coleta e quantidade gerada tanto em pequenas cidades quanto em regiões metropolitanas, o que inviabiliza plantas de produção exclusivamente com esta matéria-prima. Apesar dos indicadores econômicos apontarem viabilidade, dentro das condições analisadas, deve-se observar que o preço no mercado dos óleos brutos de mamona (R$ 2,80/Kg) e dendê (R$ 1,69/Kg), cotação em 29/6/2005, é superior ao B100. Na prática, serão 715
6 necessários, portanto, mecanismos compensatórios ao produtor. O desafio, portanto, será a aplicação de políticas que garantam a competitividade do biodiesel e que permitam, assim, que os agricultores se apropriem de parte da renda gerada. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANP.(2005). Disponível em Acesso em 10de jun CONTADOR, C. R. Avaliação Social de Projetos. Editora Atlas, São Paulo, 2 ed.,1988. IBGE (2004). Disponível em / bda / acervo2 aps. Acesso em jan PIRES, Mônica de M. et al. Biodiesel de Mamona: uma avaliação econômica. In: Congresso Brasileiro de Mamona, I, 2004,Campina Grande. Anais do I Congresso Brasileiro de Mamona. Energia e Sustentabilidade. Campina: Embrapa,
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