Índices para catálogo sistemático: Cultura e Processos Culturais 301.2

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2 Conselho Editorial Av. Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP contato@editorialpaco.com.br Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins Prof. Dr. Romualdo Dias Profa. Dra. Thelma Lessa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt 2014 Thífani Postali; Paulo Celso da Silva Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. P8458 Postali, Thífani; Silva, Paulo Celso da. Cidade e Comunicação: A Miopia Sobre o Mundo e Outros Textos/Thífani Postali; Paulo Celso da Silva. Jundiaí, Paco Editorial: p. Inclui bibliografia. ISBN: Comunicação 2. Cultura 3. Informação 4. Cidade I. Postali, Thífani; II. Silva, Paulo Celso da. CDD: Índices para catálogo sistemático: Cultura e Processos Culturais IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal

3 SUMÁRIO Prefácio...5 No Trânsito Somos Todos Estrangeiros...11 Pichação: A Inovação do Bombing em Nova York...15 Fazendo Turismo em Sorocaba...19 Fazendo Mais Turismo em Sorocaba...23 O Facebook e os Muros das Grandes Cidades...27 Gosto Dela Assim...31 Manifesto para Manifestar-se...35 O Bombing Moldado de Montevideo UY e a Função Ideológica do Pichar...41 Um Roteiro para/do Outro Lado...45 Cidades e Novos Paradigmas...49 Além dos Seriados de TV...55 Economia da Mídia...59 A Miopia sobre o Mundo e do Outro...63 A Força do Capital Erótico...67 Somos Americanos?...71 Além das Campanhas da Coca-Cola...75 Cidade Informacional...79 Esse Cara é Ele...83 O Rock Brotou do Lixo Estadunidense...87 Arte Made In Zhongguó, Cin, Cina...91 O Hip Hop Mudou a Minha Vida...95 O que é Anarquismo?...99 A Indústria da Música e a Redução das Ideias Antiglobalização Brasil: O Caldeirão de Culturas Saudade da Yoko O que é Antropofagia Durruti, Maruja Ruiz, Mulheres Livres, Iaio Flautas: 75 Anos..125 O Funk Invade os Sons da Classe A...129

4 O Real Não Tem Mais Graça! Ouvindo o Jornal: Cultura Jovem e Música O Hip Hop é a Atualização do Blues Posfácio...163

5 PREFÁCIO Arrancar as cascas e chegar mais dentro... Paulo Celso da Silva e Thífani Postali, neste livro, materializam aquilo que considero como papel fundamental da Academia, a construção colaborativa do conhecimento, da crítica, de olhares múltiplos sobre o universo que nos cerca e, especialmente, sobre as realidades que nos chegam, recortadas pelas mídias. Eles nos fazem lembrar que os meios de comunicação oferecem realidades parciais, signos, aspectos de culturas multifacetadas, às quais assimilamos e reproduzimos sem compreender devidamente, dada a nossa miopia. Os textos, aparentemente leves, resultam de longa pesquisa, consolidada a partir de discussões, dúvidas, sugestões, mas principalmente das instigações propostas pelo próprio cotidiano. O que se percebe é que tudo pode vir a ser investigado, graças à capacidade de se continuar duvidando, sempre, pois a curiosidade (que se tenta matar na criança desde os primeiros porquês), a dúvida, é o que os faz, Paulo e Thífani, críticos bem-humorados da conversa banal, do dia a dia na cultura e na comunicação. Para eles, não existe a máxima pau é pau, pedra é pedra. Tudo guarda nuanças que requerem cuidadosa decupagem. E este decupar acontece na observação das cidades, nas viagens, na leitura profunda dos textos midiáticos, na ironia ácida, no cuidado em dialogar com múltiplas referências, vistas por dois olhares atentos e distintos, que ora convergem, ora divergem, mas que se encontram e sabem aproveitar as possibilidades que somente a comunicação efetiva pode trazer: a vinculação. São dois pesquisadores para sempre vinculados. Mesmo que cada um disseque a realidade a partir de suas idiossincrasias e contradições, os dois seguem colaborando mutuamente para que o outro avance em seu pensar o mundo. Ao dividir sua curiosidade conosco, avançamos com eles. 5

6 Thífani Postali paulo celso da silva Postali e Silva nos reforçam a percepção de que estamos perdidos entre janelas sintéticas, como são chamadas as muitas telas nas quais mergulhamos e nos viciamos, de acordo com Norval Baitello Júnior, na obra O pensamento Sentado: Sobre glúteos, cadeiras e imagens. Baitello defende o pensamento em saltos, capaz de surpreender, pois perdemos a mobilidade do corpo, mas sobretudo a das ideias, já que estamos todos sentados e sedados. Fechados em nossas casas, confortáveis e oprimidos, espiamos pelas frestas, a fim de apreender a vida. Temos contato com recortes da realidade e ensaiamos uma existência reduzida, parcial e simplificada. É contra isto que este livro se coloca: contra a simplificação, a banalização, a repetição e as frases-feitas, tantas vezes ditas, que acabam por se consolidar como verdades inquestionáveis. Importante ressaltar que, originalmente, os textos circularam em um jornal local, lugar para o factual, para a banalidade e para o efêmero, mas também, como prova o que está aqui exposto, para a intervenção lúcida e acessível, também um grito de alerta para que o leitor desperte de sua letargia preguiçosa e costumeira, como se nos dissessem: Preste atenção! Nada é exatamente como parece ser. Há que se mudar o ângulo! Desta forma, o que se tem são fragmentos atemporais, ainda que em sua evidente atualidade, pois funcionam como um estimulante, ao introduzir dúvidas que nos inquietam e convidam a novas leituras. Com textos curtos, linguagem simples e discussão densa, muitos conceitos referendados são passados a limpo, desnudando-se as camadas escondidas por trás das ideias recorrentes e aparentemente inofensivas. Quem somos nós, como vemos o outro, de que modo a mídia reforça preconceitos e estereótipos, a que ponto a educação é omissa e cúmplice na construção de um pensamento pouco reflexivo, nada criativo e tampouco questionador, são pontos em que os autores tocam com precisão e ousadia. São feridas cuja casca é impiedosamente arrancada. 6

7 Cidade E comunicação: A MIOPIA SOBRE O MUNDO E OUTROS TEXTOS Creio que seja isto o que tanto necessitamos. Alguém que arranque as cascas e exponha o que está abaixo da superfície. Por mais que doa, olhar mais para o fundo das coisas, das teorias e dos fatos, poderá nos conduzir a uma complexa inteireza, o que promete vir a ser um encontro com a nossa própria complexidade. Míriam Cris Carlos 7

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11 NO TRÂNSITO SOMOS TODOS ESTRANGEIROS 1 Paulo Celso da Silva A semana do trânsito fecha o mês de setembro de cada ano. O que é um alívio, pois nos tira o peso das costas e da cabeça de que temos que ser melhores no convívio diário entre homens e máquinas nas ruas. Uso como referencial, para visitar o comportamento sorocabano, o divã vermelho que é a ciclovia de Sorocaba. Por ali passam os mais diversos tipos, alguns são usuários ou frequentadores assíduos desse espaço urbano de lazer e saúde, mas também de socialização, de mostrar ou negar hospitalidade aos demais. O tema da hospitalidade foi muito bem demonstrado na dissertação de mestrado do Prof. Pedro Zille (Uniso), em que trata da hospitalidade humana, sobre a questão do estrangeiro, da lei da hospitalidade, do outro, do acolhimento, do lugar e do espaço; a tolerância e a hospitalidade que se estabelecem como alicerce para a compreensão da questão da hospitalidade, e é leitura obrigatória aos que desejam compreender como colocar-se no lugar do outro. É uma prática importante e necessária para entendermos os meandros do conviver. Mas, voltemos ao divã vermelho que é a ciclovia. Pedalando na ciclovia pela manhã, sempre encontramos as mesmas pessoas caminhando ou pedalando também. A maioria delas está disposta e bem humorada nessa hora do dia e não reclama de responder ao bom dia! dado como uma saudação e não apenas um cumprimento burocrático. Afinal, todas as manhãs com as mesmas pessoas, e elas já são companheiras de atividade física. Apesar disso, podemos verificar algumas atitudes destoantes. No trânsito, muitos motoristas acreditam que aqueles 20 cm 1. Artigo publicado na edição de 20 de novembro de 2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do Caderno A. 11

12 Thífani Postali paulo celso da silva invadindo a faixa de segurança ou os 3 segundos que esperam alguém que atravessa a mesma faixa será crucial para ganhar(?) tempo durante o seu dia. Motoristas ficam bravos quando o outro condutor (de carro ou moto), na passagem da Av. Dom Aguirre para a Av. São Francisco, deixa um espaço que cabe outro carro, recusando-se a colocar a frente do carro quase na outra pista, enquanto o semáforo, que ali existe, não abre. Ocorre que, caso o bombeiro, ou uma ambulância e até mesmo a polícia, em uma emergência, necessitarem contornar ali, se o condutor deixou espaço, eles poderão seguir sem problemas, mas, se o condutor está no limite, a complicação será maior. Também o pedestre faz das suas. No cruzamento da mesma Av. Dom Aguirre com a Rua Pedro Álvares Cabral, temos um semáforo e uma pequena ilha, que divide para aqueles que seguem pela Dom Aguirre e os que vão para a Ponte. Algumas pessoas, para ganhar mais espaço e tempo, em vez de esperarem dentro dessa ilha, ficam abaixo do meio fio (aquele limite entre a calçada e a rua). Será que a medida padrão mudou de metro para pé? Já que o pedestre ganha um pé (30,48 cm) de vantagem e coloca a vida em risco. O ganho de 30,48 cm vale a vida? Seria possível medir quanto tempo se ganha esperando na rua? Alguns milésimos de segundos talvez? O certo é que o risco não vale o tempo ganho, não são necessárias pesquisas e tratados para se chegar a essa conclusão. Um pouco de bom senso resolveria. Outra situação corriqueira é o fato de as pessoas caminharem pela ciclovia. A função inicial e original da ciclovia é servir para bicicletas, skates, talvez. Para caminhar, a calçada seria o mais indicado. Mas não é isso o que acontece. Pessoas caminham na ciclovia, provavelmente por ser mais cômoda, sem tantas imperfeições, etc. Entendemos que não existe problema nenhum, assim como, em outras esferas da vida social, o uso é determinado pelas pessoas. Mal comparando com a língua falada, o dono da língua é o falante e não o teórico. Assim também com o espaço 12

13 Cidade E comunicação: A MIOPIA SOBRE O MUNDO E OUTROS TEXTOS urbano, todos somos donos e fazemos uso social conforme acordos tácitos que nem sempre estão no papel. No caso da ciclovia, volto à hospitalidade citada anteriormente, para insistir na compreensão e na tolerância entre pessoas. Todos somos usuários potenciais ou frequentadores da ciclovia, e há espaço para que todo mundo possa caminhar ou pedalar, desde que a compreensão e a tolerância entre os usuários e os frequentadores sejam uma máxima repetida todos os dias, e por todos. Certamente, regras ajudam a organizar as coisas, mas no trânsito, muitas vezes, coisas simples demoram a acontecer; um exemplo que muitos lembrarão: quantos anos para ter o acesso da Praça Edmundo Valle para a Rua Moacyr Figueira aberto? Uma pequena mudança no tráfego, nesse pedaço de rua, eliminou a necessidade de fazer o contorno no posto de gasolina e o perigo de acidente para motoristas e pedestres. Um exemplo que ainda não teve resultados o da Rua Profa. Ossis Salvestrini Mendes e as duas mãos dessa rua que se encontram na Praça do Bombeiro rumo a Rua Padre Madureira... Quem deve parar, o da esquerda ou da direita? Claro que a sinalização existe, mas... Nestes exemplos, o que mais conta na hora de resolvê-los é uma boa dose de tolerância e compreensão por parte de motoristas e pedestres. Não espere pela tolerância e compreensão do outro, pratique você esse exercício. Na Suécia, se bem me lembro, os primeiros funcionários a chegarem às empresas colocam seus carros no fim do estacionamento. A ideia é deixar as vagas do início para aqueles que chegam com horário justo, ou mesmo atrasados. Estes chegarão mais rápido aos seus lugares de trabalho. É um exemplo de compreensão que cria ou recria uma cultura, e vai ajudando os novos a formar valores diferentes daqueles de que o outro apenas existe ou como competidor ou para servir-lhe. Hospitalidade é colocar-se no lugar do outro, que no momento da chegada é, verdadeiramente, um estrangeiro. E todo estrangeiro está deslocado, sem suas referências e precisando de um apoio. Imaginem, no trânsito, se todos nós tratássemos uns aos outros como esse estrangeiro que precisa de apoio. 13

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15 PICHAÇÃO: A INOVAÇÃO DO BOMBING EM NOVA YORK 1 Thífani Postali Dizem que os habitantes das cidades não são capazes de enxergar o conteúdo dos espaços, pois, com o passar do tempo, adquirem certa cegueira. Constatei essa suposição em uma visita a Nova York, em setembro de Ao percorrer as ruas da cidade mais populosa dos Estados Unidos, percebi algo inusitado: os automóveis, principalmente os furgões e vans pertencentes a empresas de transportes, estão tomados pela prática do bombing, que é o bombardeio de traços, derivado da pichação. Nela, seus autores registram apelidos e números de identificação. Curiosa com a descoberta, questionei um motorista da empresa de taxi High Class NY, para desvendar há quanto tempo a prática estava sendo realizada. Para minha surpresa, William, que atua diariamente pelas ruas de Nova York, disse nunca ter visto as pichações, duvidando, inclusive, da minha afirmação. Foi então que começou a reparar, ficando impressionado com a quantidade de automóveis espalhados por todos os distritos e bairros da cidade, que apresenta o bombing. Sobre essa atitude de cegueira, o geógrafo Paulo Celso da Silva, também pesquisador de Comunicação Urbana, esclarece que o cidadão não presta atenção ao seu entorno, como se a cidade fosse a mesma de todos os dias, percebendo apenas as ocorrências mais pragmáticas do espaço, como preocupações com ruas interditadas, caminhos alternativos, inauguração de monumentos, eventos, etc. 1. Artigo publicado na edição de 21 de dezembro de 2010 do Jornal Cruzeiro do Sul, página 4, Caderno Turismo Sorocaba/ SP. 15