Zumbido: um breve panorama
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- Marco Antônio de Barros Azenha
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1 : um breve panorama Descrição sobre zumbido O zumbido é uma condição em que indivíduo percebe um som sem a existência de uma fonte sonora externa. Este som é geralmente descrito como zunidos, assobios ou ruídos ao invés de um som convencional, como por exemplo, a fala ou música. 1 O zumbido pode ocorrer em um ou ambos os ouvidos, ou ser percebido dentro da cabeça. Eles também podem variar em intensidade, qualidade e tom (Tabela 1). É importante distinguir a experiência de zumbido das alucinações auditivas que às vezes acontecem durante surtos de doença mental. Existem fatores de risco bem estabelecidos para o zumbido: 1 perda auditiva envelhecimento gênero (masculino) exposição ao ruído Pessoas que sofrem com o zumbido podem ser profundamente afetadas por sua condição, decorrente de problemas psicológicos significativos. 2, 3 Estes são descritos com mais detalhes na página 2. Estima-se que 10% a 15% da população geral no mundo todo sofrem com o zumbido. 1 Equivalendo a cerca de 280 milhões de pessoas. O fator zumbido deve crescer ainda mais nos próximos anos devido a dois fatores principais: 1. O aumento da população de idosos, aumentando assim o número de pessoas com risco de zumbido. 2. Exposição ao ruído generalizada, tanto em ambientes de trabalho quanto nas horas de lazer. A severidade do zumbido varia consideravelmente. Algumas pessoas são capazes de viver uma vida plena sem ser afetada pela sua condição, enquanto outras experimentam níveis leves a severos e que afeta a sua capacidade de viver uma vida normal. Em 1% a 2% da população a severidade do zumbido é tão grave que a vida cotidiana torna-se substancialmente prejudicada. 1 Critério do ruído Início Padrão Lado Intensidade Qualidade Tom Possíveis características Súbito, gradual Pulsátil, intermitente, constante, flutuante Orelha direita ou esquerda, ambas as orelhas, dentro da cabeça Faixa ampla, variedade ao longo do tempo Tom puro, ruído, polifônico Muito alto, alto, médio, baixo Tabela 1. Características do zumbido O que causa o zumbido? Vários fatores estão associados com o aparecimento do zumbido (Figura 1). Estes tendem a ter relação direta com a orelha (por exemplo, trauma acústico) e indireta (drogas ototóxicas). No entanto, atualmente reconhece-se que o zumbido têm origem de alterações do sistema nervoso central no cérebro, gerando os ruídos fantasmas que compõem o zumbido. 1, 4 Outros fatores também são necessários para o desenvolvimento e/ou persistência do zumbido. A perda auditiva desempenha um papel em muitos casos de zumbido. Isto é descrito em mais detalhe na página 3. Perdaauditiva Trauma acústico drogas ototóxicas Anomalidades do nervo auditivo Anomalidades neuronais da via auditiva central Início do zumbido Persistência do zumbido Figura 1. Vários fatores podem causar zumbido resultantes de alterações no sistema nervoso central responsável pelo processamento do som 1
2 O impacto psicológico do zumbido... severidade percebida do zumbido correlaciona muito mais próximo de fatores psicológicos e de saúde em geral, tais como dor ou insônia, do que fatores audiológicos... 3 Para muitas pessoas, a experiência de um som na ausência de um estímulo externo pode ser emocionalmente perturbadora. Se a condição é compreendida, algumas pessoas são capazes de controlar as suas reações emocionais. No entanto, em outros casos, há uma reação emocional adversa aos sons do zumbido. Essas reações resultam algumas vezes em sons cada vez piores, levando a reações mais negativas. Por fim, este processo cria um ciclo vicioso, aumentando a severidade do zumbido e levando a níveis elevados de estresse emocional (Figura 2). Há uma associação direta entre problemas psicológicos e o zumbido. 2,3,5 Belli et al relataram que problemas psicológicos foram observados em 26.7% do grupo de pessoas que sofriam de zumbido. 5 Isto corresponde ao resultados autorelatados de tristeza, depressão e ansiedade por pessoas que sofrem de perda auditiva severa relacionada à idade. 6 Problemas de ansiedade, depressão, desempenho cognitivo reduzido e sono são comumente relatados por pessoas com zumbido (Figura 3). Diferentes estudos mostram diferentes índices de problemas psicológicos relacionados ao zumbido. No entanto, muitos mostram que os índices de ansiedade e/ou depressão regularmente excedem a 50%. 2,3,5 Portanto, a intervenção para minimizar a severidade do zumbido deve ser tentada para diminuir o impacto psicológico da doença. Estresse emocional Figura 2. e estresse emocional podem interagir para formar um ciclo vicioso Hipocondria Ansiedale Hiperacusia Depressão Dificulddae cognitiva Insônia Figura 3. O zumbido está associado a várioas fatores que podem afetar gravemente a vida cotidiana 2
3 e perda auditiva A perda auditiva é uma deficiência oculta e ter zumbido é uma espécie de golpe duplo (relato de um entrevistado por Southall et al 7 ). A associação entre perda auditiva e zumbido é bem documentada. 1 A maioria dos pacientes com zumbido apresentam algum grau de perda auditiva. 75% a 90% dos pacientes que têm otosclerose também possuem zumbido. Cerca de 80% dos pacientes com perda auditiva neurossensorial idiopática têm zumbido. Um estudo recente mostrou que a perda auditiva simulada, através da utilização de protetores auditivos por 7 dias, induziu a percepção do som fantasma. 8 Curiosamente, com a remoção do protetor auditivo, a experiência de sons fantasmas desapareceu em poucas horas. Em muitos casos, é possível que a perda auditiva preceda o zumbido. 4 Quando isto acontece, o zumbido pode ser percebido devido ao cérebro não realizar as alterações compensatórias decorrentes da perda auditiva. Isto representa um forte argumento para a identificação e correção precoce da perda auditiva. Tratamento do zumbido: a necessidade de atendimento multidisciplinar Até o presente momento ainda não foi encontrada a cura para o zumbido. No entanto, existem várias opções de tratamento para o paciente que sofre com o zumbido (Figura 4). A melhor opção de tratamento deve abordar tanto as causas físicas (ex.: perda auditiva), quanto os fatores psicológicos (ex.: ansiedade ou depressão).1 Aconselhamento ou psicoterapia, terapia cognitivo-comportamental e alguns medicamentos psiquiátricos podem ajudar a reduzir os sintomas e, em alguns casos, a severidade do zumbido. O médico clínico geral deve considerar o encaminhamento de um paciente com zumbido a um profissional de saúde auditiva para exames audiológicos. O tratamento a longo prazo poderá envolver uma equipe multidisciplinar que consiste do médico clínico geral, otorrinolaringologista, psicólogo/psiquiatra e profissional de saúde auditiva. A probabilidade de um paciente adquirir aparelhos auditivos aumenta para cinco quando há uma recomendação médica 9 Aparelhos auditivos Tratamento do zumbido com base em evidências ex.: Tinnitus Retraining Therapy Medicamentos Aconselhamento Terapia sonora Terapia cognitivo-comportamental Figura 4. As intervenções físicas e psicológicas para ajudar no tratamento do zumbido 3
4 Tratamento do zumbido: os aparelhos auditivos têm um papel fundamental A maioria dos estudos revisados apoiam o uso de aparelhos auditivos para o tratamento do zumbido. Os médicos devem se sentir seguros de que algumas evidências científicas apontam para a utilização de aparelhos auditivos no tratamento do zumbido Como mencionado anteriormente, a perda auditiva é frequentemente associada ao zumbido. Portanto, qual seria o impacto do uso de aparelhos auditivos nos sintomas e severidade do zumbido? Uma revisão recente do uso de aparelhos auditivos para auxiliar no tratamento do zumbido identificou 11 estudos de intervenção.10 Nestes estudos, um dos seis questionários de avaliação do zumbido foram utilizados: THI: Tinnitus Handicap Inventory; THQ: Tinnitus Handicap Questionnaire; TRQ: Tinnitus Reaction Questionnaire; TSI: Tinnitus Severity Index; TQ: Tinnitus Questionnaire; VAS: visual analogue scale (various). Embora houvesse diferenças entre os estudos, 10 dos 11 estudos revelaram melhoras nos sintomas do zumbido após a adaptação de aparelhos auditivos (Figura 5). A adaptação de um aparelho auditivo resultou na redução da severidade do zumbido em até 50%, e foram observadas melhora de pelo menos 10% em 10 dos 11 estudos. (Figura 5) % improvement da melhora na in severidade severity score THI THQ TRQ TSI TQ VAS Tinnitus measurement tool Figura 5. Vários estudos mostram que a intervenção com aparelhos auditivos ajuda a reduzir a severidade do zumbido 10 THI: Tinnitus Handicap Inventory THQ: Tinnitus Handicap Questionnaire TRQ: Tinnitus Reaction Questionnaire TSI: Tinnitus Severity Index TQ: Tinnitus Questionnaire VAS: visual analogue scale (various) 4
5 Resumo O zumbido pode ser uma condição angustiante, até mesmo incapacitante, que pode ter um grande impacto na vida dos pacientes. Muitas vezes, é causado pela resposta do cérebro à privação auditiva, e tem uma causa física clara. Quem sofre de zumbido muitas vezes também apresenta algum grau de perda auditiva e o tratamento do zumbido deve abordar ambos os fatores físicos e as consequências psicológicas. A adaptação de aparelhos auditivos com frequênciascorrespondidas pode reduzir a gravidade dos sintomas do zumbido e melhorar a qualidade de vida. Você pode ajudar seus pacientes que sofrem de zumbido, encaminhe-os para a realização de um exame audiológico com o seu profissional de saúde auditiva local. Referências /V1.00/ /MF/ Phonak AG All rights reserved 1. Langguth B, et al. (2013) Tinnitus: causes and clinical management. Lancet Neurol.12: Geocze L, et al. (2013) Systematic review on the evidence of an association between tinnitus and depression. Braz J Otorhinolaryngol.79: Zöger S et al. (2006) Relationship between tinnitus severity and psychiatric disorders. Psychosomatics. 47: Norena AJ, Farley BJ. (2013) Tinnitus-related neural activity: Theories of generation, propagation, and centralization. Hearing Res 295: Belli H, et al. (2012) Psychopathological dimensions of tinnitus and psychopharmacologic approaches in its treatment. Gen Hosp Psychiatry. 34: National Council on Aging. (1999) The consequences of untreated hearing loss in older persons. 7. Southall K et al. (2011) Factors that influence disclosure of hearing loss in the workplace. Int J Audiol 50: Schaette R et al. (2012) Reversible induction of phantom auditory sensations through simulated unilateral hearing loss. PLoS One /journal. pone Kochkin S. (2004) BHI physician program found to increase use of hearing healthcare. The Hearing Journal 57: Shekhawat GS, et al. (2013) Role of hearing aids in tinnitus intervention: a scoping review.j Am Acad Audiol. 24:
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