Uberlândia (MG) - Tombada, Estação Sobradinho está caindo ao pedaços

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1 Uberlândia (MG) - Tombada, Estação Sobradinho está caindo ao pedaços Apesar da pompa dos dizeres Patrimônio Histórico Cultural, prédio parece, na verdade, um imóvel abandonado ao tempo. (Foto: Celso Ribeiro) Na página da Prefeitura de Uberlândia (PMU) na internet, a imagem que ilustra o texto sobre a Estação Ferroviária do Sobradinho remonta aos tempos áureos da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro principal responsável pela ascensão do município no mercado nacional. Mas o bem cultural, tombado pelo Patrimônio Histórico há exatos 10 anos, segue em contínuo processo de degradação. Em posse provisória do imóvel desde julho de 2015, a PMU iniciou melhorias no local. Porém a restauração do prédio deve ser concluída apenas em março de Até lá, Sobradinho se mantém de pé pela sustentação de

2 estacas. Embora esteja situado na Fazenda Sobradinho, particular, o imóvel é propriedade da União, herdado após a extinção da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), em Por isso, até a formalização da transferência da Estação, da União ao Município, a Prefeitura não tinha jurisdição para intervir no local. As negociações para doação do bem cultural foram iniciadas em 2013, depois que as partes foram acionadas pelo Ministério Público Federal, segundo o secretário de Cultura, Gilberto Neves. Em agosto de 2014, a Superintendência do Patrimônio da União (SPU) e Prefeitura de Uberlândia firmaram um Termo de Compromisso que indicou um cronograma de ações de preservação e restauração da Sobradinho, de 30 meses, que deveria ser iniciado 120 dias após a efetiva posse do imóvel, formalizada em regime provisório somente em julho de 2015 ou seja, entre novembro de 2015 e maio de Até então, segundo Neves, foi realizada a capina do terreno e a substituição das estacas do escoramento da estrutura externa do imóvel. Neste mês, vamos abrir licitações para contratação de empresas especializadas no combate de pragas e no estudo do impacto causado na estrutura por uma represa às margens da Sobradinho, diz o gestor. Ele afirma ainda que, em razão das dificuldades financeiras do Município, o cronograma prevê a elaboração dos projetos de restauração do prédio em até 180 dias, entre fevereiro e agosto deste ano. O prazo para executar as obras de restauração vai até março de 2017, diz Neves. Conforme o secretário, a PMU possui o recurso orçamentário para a contratação da empresa que vai elaborar os projetos de restauração. Solicitamos à Secretaria de Finanças o provisionamento dos recursos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) Cultural no orçamento da Secretaria de Cultura para requisitarmos o processo

3 licitatório e estamos aguardando resposta, diz Neves. Porém, para a realização das obras, o recurso ainda deverá ainda ser captado a partir de três fontes de financiamento: a Prefeitura, o fundo de apoio do Ministério Público e as leis de incentivo. Área desocupada Entre os dificultadores da intervenção da Prefeitura de Uberlândia no local, estava a ocupação de uma área da Fazenda Sobradinho, a poucos metros da estação, por cerca de 85 famílias do Movimento Terra e Moradia (MTM), desde janeiro de A reintegração de posse da propriedade foi concluída neste mês pela Polícia Militar (PM), após negociações para saída pacífica dos ocupantes. Estação é a única construída no período de 1800 Única inaugurada em 1896, na zona rural de Uberlândia, a Sobradinho é uma das oito estações que compunham a Linha de Catalão da Companhia Mogiana partindo de Campinas e passando por Delta, Uberaba, Uberlândia e Araguari. Atualmente, apenas Stevenson, Irara e Sobradinho seguem de pé, como ícones da principal fonte de deslocamento de passageiros e mercadorias da região no século 19. Segundo o arquiteto patrimonialista Gláucio Henrique Chaves, o imóvel constitui um dos principais exemplares da arquitetura típica das estações ferroviárias da Mogiana, mas corre sério risco de existência. Em 2011, foi ele quem fez a solicitação ao Ministério Público Federal (MPF) de uma intervenção no local, depois que um dos módulos do imóvel, já tombado pelo Patrimônio Histórico em nível municipal, foi ao chão após as chuvas de verão de 2007 destruindo um dos frontões de tijolos aparentes da fachada lateral à esquerda da Estação. A cobertura da plataforma, onde se tomavam os trens, também desabou. Se, em março de 2015, a Reportagem do CORREIO de Uberlândia constatou o abandono do local, o atual cenário é ainda mais desolador.

4 O mato alto impossibilita a entrada na estação. De fora, é possível avistar que os tijolos ingleses, telhas francesas e vigas de madeira das áreas que desabaram perecem alojados no interior da estação. As madeiras do assoalho, forro, janelas e portas estão em avançado processo de degradação, pela ação de cupins e ausência de manutenção. Segundo Gilberto Neves, a secretaria de Cultura realizou capinas no entorno do prédio, em maio e outubro de Nova capina será realizada tão logo a Secretaria de Serviços Urbanos conclua o cronograma de capina nos canteiros da zona urbana. Escoramento Depois de denúncia das condições de conservação da Estação Ferroviária Sobradinho do Ministério Público Federal, pelo arquiteto Gláucio Henrique Chaves, a gestão municipal da época tomou uma medida paliativa para atrasar o desabamento da estrutura o escoramento das paredes externas do imóvel, orçado em cerca de R$ 16,5 mil. Mas a medida que deveria ser emergencial, completa cinco anos. Segundo o arquiteto, o imóvel estava conservado antes que fosse aberta, pelo proprietário do terreno, uma represa que chegou até a plataforma da estação. Infiltrou água na fundação e as madeiras empenaram, forçando as paredes, que foram se abrindo. Com isso, o telhado desencaixou e desabou. Se não tivesse sido feito o escoramento, a estação já teria desabado, afirma Chaves. O arquiteto Clayton Carili foi responsável pelo laudo e proposta de escoramento. Segundo o especialista em restauro, o abandono ao longo do tempo é o principal agravante das patologias de qualquer bem. Na época, pedi o cercamento da estação, porque o gado dormia dentro do imóvel, forçando as paredes. O grande desafio é dar um uso para esses edifícios que estão no meio do mato, de preferência ligado às necessidades da comunidade local, para que ele não continue abandonado depois da restauração, afirma Carili.

5 Entenda o Caso: A Estação Ferroviária Sobradinho foi inaugurada em 15 de novembro de 1896, como parte do ramal de Catalão da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro. Partindo de Campinas, a linha passava por Delta, Uberaba, Uberlândia e Araguari. A chegada dos trilhos às duas últimas cidades foi resultado da influência política do Coronel José Teófilo Carneiro. O ramal foi uma rota indispensável de deslocamento de passageiros e mercadorias entre o Centro-Oeste e Sudeste. Situada na zona rural de Uberlândia, dentro da Fazenda Sobradinho, a estação reuniu no local um pequeno núcleo urbano, com escola, comércios e pensão. Na década de 1930, com o declínio da produção de café e problemas econômicos originados pela Segunda Guerra Mundial, a Mogiana entrou em dificuldades financeiras. De propriedade de empresários de São Paulo, a companhia passou a ser controlada pelo Governo do Estado de São Paulo, em Em novembro de 1971, a Mogiana foi incorporada pela Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa), atualmente desativada. No mesmo ano, com a desativação do trecho original entre as estações de Ômega e Araguari, a Sobradinho foi fechada definitivamente. Os trilhos da estação foram retirados do local entre 1981 e 1983 e recolocados na Companhia de Armazéns e Silos do Estado de Minas Gerais (Casemg), de Uberaba. Em 1996, para saldar dívida com a União, o Estado de São Paulo trocou as ferrovias pela dívida. A ferrovia passou ser Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), mas já

6 estava desativada. A estação foi tombada como patrimônio histórico por decreto municipal, assinado em 30 de março de 2006 pelo então prefeito de Uberlândia, Odelmo Leão. Em 2007, com a extinção da RFFSA, a União herdou a Estação Sobradinho. Em 2011, o arquiteto Gláucio Henrique Chaves observou que, embora tombado, o imóvel havia perdido um dos módulos. Ele solicitou providências ao Ministério Público Federal (MPF). No mesmo ano, a partir de laudo e projeto assinados pelo arquiteto Clayton Carili, a PMU conduziu o escoramento da estrutura, com estacas nas paredes externas. O orçamento foi de R$ ,86. No primeiro semestre de 2013, o Ministério Público Federal acionou a PMU para tratar da preservação e restauração da Sobradinho. Porém, como o imóvel pertence à União, a PMU não tinha jurisdição para intervir no local. Em agosto de 2014, as partes firmaram um Termo de Compromisso que indicou um cronograma de ações de 30 meses, a ser iniciado 120 dias após a posse do imóvel pela PMU. Em março de 2015, a PMU fez a primeira capina no entorno do imóvel. Em 13 de julho de 2015, a doação provisória do imóvel à PMU foi formalizada pela Superintendência do Patrimônio da União (SPU). Em novembro de 2015, a PMU fez nova capina e renovou as estacas do escoramento das paredes externas do prédio. Próximos passos: Ainda para março, está prevista a abertura de licitações

7 para contratação de empresas especializadas no combate de pragas e estudo do impacto causado na estrutura pela represa às margens da Sobradinho. Em razão das dificuldades financeiras do Município, o cronograma prevê a elaboração dos projetos de restauração do prédio em até 180 dias, entre fevereiro e agosto deste ano. Depois de pronto, o projeto de restauração vai ser encaminhado para vistoria do Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico Nacional (IPHAN), que terá até 90 dias para aprovação. Em dezembro de 2016, a destinação do imóvel vai ser definida junto ao IPHAH, Secretaria de Educação e Secretaria de Turismo. A Prefeitura de Uberlândia tem até março de 2017 para finalizar a obra de restauração da Estação Sobradinho. Por Carolina Monteiro Fonte original da notícia: Correio de Uberlândia