PLANTAS APÍCOLAS NATIVAS DA REGIÃO DE CAMPO MOURÃO-PR
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- Oswaldo Padilha Amaro
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1 PLANTAS APÍCOLAS NATIVAS DA REGIÃO DE CAMPO MOURÃO-PR L.S. BRAGA*; S. M. CURTI*; M. K.UMADA*; E.S. SEKINE** *Graduandos de Engenharia Ambiental/UTFPR, Campo Mourão, Brasil **Coordenação de Engenharia Ambiental/UTFPR, Campo Mourão, Brasil Resumo/Abstract O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados parciais de um guia de plantas nativas apícolas da região de Campo Mourão- PR, feito a partir de material depositado em Herbário, referencial bibliográfico e trabalhos anteriores de origem floral do mel da região. Foram registradas 51 espécies florais, sendo a maioria da famíla Asteraceae, com predominância do hábito arbóreo e arbustivo e flores de coloração alva. Produtores rurais podem utilizar o guia para planejar a produção de mel, utilizando as informações de floração das espécies. Abstract The aim of this study is to present partial results of a native bee plants guide in the region of Campo Mourão-PR, made from material deposited in Herbarium, bibliografic references and previous studies of floral origin of honey in the region. It was registered 51 floral species, most of the Asteraceae family, with a predominance of three and bush habit and white flowers. Farmers can use the guide to plan the production of honey, using the information of flowering species. Palavras-chave: plantas melíferas; mel apicultura; levantamento florístico Key-words: melliferous plants; honey; beekeeping; floristic survey Introdução A relação abelha-planta pode ser considerada co-evolução, pois a abelha utiliza o pólen como fonte de carboidratos em sua alimentação e o néctar como matéria-prima para a produção do mel, já a planta necessita da abelha como agente polinizador para a sua reprodução [1]. Atualmente tem-se buscado uma agricultura menos impactante como a produção orgânica e agroecológica. A apicultura se enquadra em uma produção agroecológica, já que existe essa co-evolução benéfica tanto nas monoculturas quanto para as plantas nativas de remanescentes florestais. Existem estudos que comprovam a relação da polinização por abelhas com o aumento na produção de morango, laranja, maracujá, café, pimentão, soja, canola, girassol, urucum, etc. [2]. Segundo Mendonça (2008) [3], pesquisas de identificação da flora apícola são necessárias para um uso racional e para a preservação de ecossistemas. 1/8
2 Regiões agrícolas podem ter na criação de abelhas uma alternativa de utilização de floradas de remanescentes florestais e de cultivos agrícolas. Como a região em estudo foi intensamente devastada por atividades agropastoris, o levantamento destas espécies, especialmente as nativas, representa um subsídio para trabalhos futuros de recuperação de áreas degradadas, incluindo a utilização destas espécies fornecedoras de néctar e pólen para as abelhas. O presente trabalho tem por objetivo apresentar os resultados parciais de um guia com as principais espécies de plantas nativas que possuem importância para a produção do mel na região de Campo Mourão, Paraná. Materiais e Métodos A determinação da época de floração das espécies identificadas foi feita com base nas datas das coletas de plantas no estado do Paraná e depositadas no Herbário da Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Campo Mourão (HCF), bem como com base em registros fotográficos das plantas em coletas anteriores. Para a classificação das espécies por hábito foi utilizada a definição adotada pelo HCF: árvore - acima de 5m de altura e arvoreta - abaixo de 5m, ambas formando fruste (tronco); arbusto com tecido lenhoso e até 5m de altura, sem formar fruste; erva sem tecido lenhoso. A classificação em estágios sucessionais foi feita de acordo com [6], [7], [8] e [9]. Para o levantamento botânico foram feitas pesquisas de plantas coletadas anteriormente na região e depositadas no Herbário da Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Campo Mourão. A classificação das espécies foi feita de acordo com o proposto por Cronquist (1983) [4]. A determinação do potencial apícola foi realizada utilizando referencial bibliográfico e dados de pólen encontrados em amostras de mel de Apis mellifera da região [5]. Os registros fotográficos foram feitos utilizando uma câmera digital Sony-DSC-H9 (8.1MP-15x de Zoom ótico). Resultados A tabela 1 contém os registros fotográficos de plantas apícolas nativas da região de Campo Mourão, bem como suas características com relação ao hábito, estágio sucessional e meses em que as coletas foram feitas. 2/8
3 Tabela 1- Plantas nativas com potencial melífero da região de Campo Mourão, PR e suas características quanto ao hábito, estágio sucessional e período de floração. NP: nome popular; NC: nome científico. Família/ espécie Anacardiaceae NP: aroeira pimenteira NC: Schinus terebinthifolius Amaranthaceae NC: Chamissoa sp. Araliaceae NP: acariçoba NC: Hydrocotyle leucocephala Asteraceae NP: vassoura NC: Baccharis dracunculifolia NC: Centratherum punctatum NC: Calyptocarpus bianstatus NC: Chromolaena pedunculosa NP: cipó-guaco NC: Mikania cordifolia NP: losna-branca NC: Parthenium hysterophorus L. NP: berneira, flor-dasalmas NC: Senecio brasiliensis NP: serralha NC: Sonchus oleraceus Bignoniaceae NP: cipó-de-são-joão NC: Pyrostegia Informações Coletas: jan-mai/ago-nov Estágio: Coletas: mai Flores amareladas Coletas: fev-mai Coletas: Jan-mai/ out Coletas: jan-out Flores roxas Coletas: mar, mai, nov, e dez Coletas: fev-mai Hábito: trepadeira volúvel Coletas: abr/ago Coletas: fev-ago Coletas: jul-nov Estágio:pioneira Coletas: jul-set Hábito: trepadeira com gavinha venusta NP: Urucum NC: Bixa orelana L. Boraginaceae NP: Café de bugre NC: Cordia ecalyculata NP: óleo-pardo, louropardo NC: Cordia trichotoma Caesalpinaceae NP: pata-de-vaca NC: Bauhinia forficata NP: Sibipiruna NC: Cesalpinia peltophoroides Caricaceae NP: mamoeiro NC: Carica papaya Combretaceae NP:escova-de-macaco NC: Combretum fruticosum NP: amarilho, sarandi NC: Terminalia australis Euphorbiaceae NP: fruta-de-pombo NC: Alchornea glandulosa NP: tapiá, tanheiro NC: Alchornea triplinervia NC: Bernardia pulchella Fabaceae NP: paufarinha NC: Lonchocarpus campestris Coletas: abr-nov Flores: alaranjadas Coletas: fev-ago Flores roseadas Coletas: out-jan Coletas: fev-abr/ jul Coletas: jan-mai/ out Coletas: out-nov/ fev/ma Hábito: Árvore Coletas: jan-abr/ jul-set escandente Coletas: jan-mar Flores amarela-alaranjadas Estágio: secundário Coletas: ago-out Coletas:Mai/ago/nov Coletas: abr-nov Flores alvo-ameraldas Coletas: fev/ jul-dez Coletas: dez- abr Continua... 3/8
4 NC: Lonchocarpus subglaucescens NC: Myrocarpus frondosus Mimosaceae NP: Esponjinha NC: Calliandra foliolosa NP: orelha-de-nego NC: Enterolobium contorstisiliquum NP: dormideira NC: Mimosa pudica Myrtaceae NP: jabuticabeira NC: Eugenia hiemalis NC: Eugenia sp. NP: pêra-do-mato NC: Hexaclamys edulis NP: goiabera NC: Psidium guajava Rhamnaceae NC: Gouania ulmifolia Rosaceae NP: pessegueiro-bravo NC: Prunus sellowii Rubiaceae NP: café-de-bugre NC: Psychotria carthagenensis Hábito: Eságio: secundária tardia Coletas: nov Coletas: set-out Estágio: secundário Coletas: jun-out Flores brancas e rosas inicial Coletas: set-out Estágio: Pioneira Colets: nov Flores roxas Hábito: Árvore Estágio: Pioneira Coletas: Mar-jun Hábito: Árvore Estágio: Pioneira Coletas: Ago Hábito: Arbusto Estágio: Pioneira Coletas: Ago-out Coletas: ago-nov/ mai Hábito: trepadeira com gavinhas Coletas: jan-jun Coletas: mar-nov inicial Coletas:fev-nov Rutaceae NP: mamica-de-porca NC: Zanthoxylum caribaeum NP: Mamica-de-porca NC: Zanthoxylum fagara Salicaceae NP: cafezeiro-bravo NC: Casearia sylvestris Sapindaceae NP: vacum, chau-chau NC: Allophylus edulis NP: saco-de-padre NC: Cardiospermum grandiflorum NP: Camboatá NC: Cupania vernalis NP: camboatá-branco NC: Matayba elaeagnoides NP: cipó-timbó NC: Serjania multiflora Solanaceae NP: maria-preta NC: Solanum americanum NP: fumo-bravo NC: Solanum mauritianum NP: juá-manso NC: Solanum sanctaecatharinae Tiliaceae NP: jangada NC: Heliocarpus americanus...continuação Coletas: jun Flores branca-esverdeadas Coletas: set Coletas: jul-nov Coletas: ago-out Flores alva-amareladas Hábito: trepadeira com gavinhas Coletas: jul-set tardia Coletas: mar-mai/ jul-out inicial Abr-dez Flores alvo-esverdeadas Hábito; trepadeira com gavinhas inicial Coletas: abr-set Coletas: jan-dez inicial Coletas: jan-abr/ ago-out Flores roxo-azuladas Coletas: jan-mar/ ago-out Coletas: jun-ago Continua... 4/8
5 ...continuação NP: açoita-cavalo NC: Luehea divaricata Verbenaceae NP: lixeirinha NC: Aloysia virgata NP: pingo-de-ouro NC: Duranta vestita NP: lantana NC: Lantana camara Coletas: fev-mai Flores rosa-arroxeadas Coletas: abr-out inicial Coletas: jan-jul/ nov Flores rochas Coletas: jan-mai/ago-nov Até o momento foram catalogadas 51 plantas com registros fotográficos. Observa-se que as famílias Asteraceae e Sapindaceae são bastante representativas, sendo também frequentes as famílias Fabaceae, Euphorbiaceae, Mimosaceae, Myrtaceae, Solanaceae e Verbenaceae. Pode-se também observar uma predominância de flores com coloração alva e de hábito arbóreo, seguido de arbustivo e herbáceo. As figuras 1 e 2 mostram os registros fotográficos das espécies pertencentes às famílias mais frequentes no guia. A C E G A. Baccharis dracunculifolia B. Calyptocarpus biaristatus C. Centratherum punctatum D. Chromolaena pedunculosa E. Parthenium hysterophorus F. Mikania cordifolia G. Senecio brasiliensis Figura 1. Plantas apícolas da família Asteraceae região de Campo Mourão-PR. A B D F B C D E A. Allophylus edulis B. Cardiospermum grandiflorum C. Cupania vernalis D. Matayba elaeagnoides E. Serjania multiflora Figura 2. Plantas apícolas da família Sapindaceae da região de Campo Mourão-PR. 5/8
6 Discussão Estudos feitos em fontes de pólen de Apis mellifera e de algumas espécies de Trigonini na cidade de Piracicaba, São Paulo, Carvalho, Marchini e Ros (1999) [10] confirmam as famílias Anacardiaceae, Areceaceae, Myrtaceae e Solanaceae como bons representantes em amostras de massas de pólen transportadas por abelhas. Segundo Ramalho, Kleinert-Giovannini e Imperatriz- Fonseca (1990) [11] as famílias Anacardiaceae, Arecaceae, Fabaceae, Myrtaceae e Solanaceae são mais procuradas por abelhas africanizadas e espécies de Trigonini, em compensação as abelhas da tribo Meliponini buscam as famílias Mimosaceae e Solanaceae. Em uma área de Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucária) a família Asteraceae é a mais visitada por membros da família Apidae, sendo a espécie Senecio brasiliensis com maior representatividade [12]. Já em um estudo de amostras de mel no sudoeste da Amazônia, Floresta Ombrófila Densa, as famílias mais encontradas foram: Amarantaceae, Asteraceae, Euphorbiaceae, Fabaceae, Mimosaceae, Myrtaceae e Rubiaceae, além disso, os hábitos botânicos mais procurados nessa fitogeografia são os extratos herbáceos, arbóreos e arbustivos, em ordem decrescente de procura [13]. Nesse mesmo estudo foi concluído que a região possui uma boa característica apícola, com uma safra no meio do ano devido ao período chuvoso que promove o aumento dos recursos tróficos para as abelhas e uma pequena produção no período de seca, o que faz necessário o uso de um manejo adequado como o plantio de espécies botânicas de pastoreio apícola com uma boa floração durante o período de seca. Nas espécies catalogadas neste trabalho, a coloração predominante das flores é a alva. Agostini e Sazima (2003) [14] observaram predominância das colorações alva, amarela e rosa e uma baixa representatividade das cores vermelha e azul em plantas ornamentais utilizadas por abelhas na cidade de Campinas. Rodarte, Silva e Viana (2008) [15] também observaram a predominância da coloração alva e amarela em vegetação da caatinga. Uma arborização urbana considerando o uso de plantas nativas visando atender uma maior variedade de abelhas conectaria remanescentes florestais próximos aos centros urbanos através de corredores biológicos [14]. Luz, Thomé e Barth (2007) [16] também salientaram a importância da conservação de espécies botânicas nativas para a manutenção das colmeias durante o período de falta de recursos tróficos das espécies exóticas, já que durante seus estudos concluíram que suas amostras de mel e de bolotas de pólen possuem uma grande variedade de grãos pólens. 6/8
7 Conclusão Entomology, v. 37, n. 5, p Pequenos produtores rurais podem utilizar as informações de floração contidas no guia para o plantio de recursos tróficos para as abelhas, visando a produção de mel em suas áres. Quando bem planejado, poderá fornecer recursos às abelhas ao longo do ano inteiro. Agradecimentos Ao Prof. Dr. Marcelo Galeazzi Caxambu pelas identificações e a sua equipe pelo auxílio durante as pesquisas no herbário; à Fundação Araucária pela bolsa concedida. Referências [1] Nogueira-Neto, P. (1997), Vida e criação de abelhas indígenas sem ferrão. ed. única. São Paulo. [2] Da Silva, N. R. (2004), Aspectos do perfil e do conhecimento de apicultores sobre manejo e sanidade da abelhas africanizada em regiões de apicultura de Santa Catarina, Dissertação de Mestrado, Centro de Ciências Agrárias, UFSC, Florianópolis, 128 p., ago. [3] Mendonça, k. et al. (2008) Plantas apícolas de importância para Apis mellifera L. (Hymenoptera: Apidae) em fragmento de Cerrado em Itirapina, SP. Neotropical [4] Cronquist, A. (1983), Na integraded system of classification of flowering planta. New York: Columbia University Press. [5] Sekine, E. K. (2011), Flora apícola, caracterização físico-química e polínica de amostrar de mel de Apis melífera L., 1758 em apiários no municípios de Ubiratã e Nova Aurora (PR), Tese de Doutorado, Departamento de Zootecnia, UEL, Maringá, 69 p., fev. [6] Reitz, R.; Klein, R.M.; Reis, A. (1978), Projeto madeira de Santa Catarina. Itajaí Santa Catarina,. n , 320 p. [7] Reitz, R.; Klein, R.M.; Reis, A. (1983), Projeto madeira do Rio Grande do Sul. Sellowia n , 525 p. [8] SPVS Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e educação ambiental Nossas arvores: Manual para recuperação da reserva florestal legal. Curitiba: FNMA. [9] Roderjan, C.V.; Kuniyoshi Y.S.; Galvão F. (1998) As regiões fitogeográficas do estado do Paraná. 2 ed. Curitiba: Acta Forestalia brasiliensis v. 1. 7/8
8 [10] Carvalho, C. A. L.; Marchini, L. C.; Ros, P. B. (1999) Fontes de pólen utilizadas por Apis mellifera L. e algumas espécies de Trigonini (Apidae) em Piracicaba (SP) Bragantia, v. 58, n. 1, p, [11] Ramalho, M.; Kleinert-Giovannini, A.; Imperatriz-Fonseca, V. L. (1990) Important bee plants for stingless bess (Melipona and Trigonini) and Africanized honeybees (Apis mellifera) in neotropical habitats: a review Apidologie, v. 2, p [12] Krug, C. (2007), A comunidade de abelhas ( Hymenoptera apiformes) da mata com araucária em Porto União-SC e abelhas visitantes florais da aboboreira (Cucrbita L.) em Santa Catarina, com notas sobre Peponapis fervens (Eucerini, Apidae), Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, UNESC, Criciúma, 127 p. Campinas, Estado de São Paulo, Brasil Bragantia, v. 62, n. 23, p [15] Rodarte, A.T.A; Silva, F.O; Viana, B.F. (2008) A flora melitófila de uma área de dunas com vegetação de caatinga, Estado da Bahia, Nordeste do Brasil Acta bot. Bras, v. 22, n. 2, p [16] Luz, C. F. P.; Thomé, M. L.; Barth, M. O. (2007), Recursos tróficos de Apis mellifera L. (Hymenoptera, Apidae) na região de Morro Azul do Tinguá, Estado do Rio de Janeiro Revista Brasileira de Botânica, v. 30, n. 1, p [13] Marques, L. J. P. et al. (2011), Levantamento da flora apícola em Santa Luzia do Paruá, Sudoeste da Amazânia, Maranhão Acta Botânica Brasilica, v. 25, n. 1, p [14] Agostini, K.; Sazima, M. (2003), Plantas oranamentais e seus recursos para abelhas no Campus da Universidade Estadual de 8/8
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